Acharei Mot, אחרי מות

11/04/2014 12:08

Aspectos da 29ª

O texto desta Parashá é:

Acharei Mot, אחרי מות -(Levictus 16:1-18:30) >>Sigf.Após a Morte

 

 

 

O texto da Haftará é:

 (Ezequiel  20:2-20)

Salmo 99

 

Leitura da Torá: Acharei Mot, אחרי מות

 

 

    Os mandamentos descritos na Parashá Acharê Mot (Vayicrá 16:1-18:30), seguem cronologicamente as mortes trágicas dos dois filhos mais velhos de Aharon, Nadav e Avihu, sobre as quais lemos na Parashá Shemini há algumas semanas. 

    A porção desta semana começa com uma longa descrição do serviço especial de Yom Kipur, a ser realizado no Mishcan pelo Cohen Gadol. O serviço incluía a confissão do Cohen Gadol em seu próprio nome e em nome de toda a nação; a seleção por sorteio entre duas cabras, uma das quais seria a oferenda pelo pecado nacional, e a outra seria empurrada de um penhasco no deserto, como portadora dos pecados do povo; e as complicadas cerimônias de aspersão de incenso e sangue a serem realizadas no Codesh HaKedoshim (Santo dos Santos). 

    Seguindo a ordem de que Yom Kipur e suas leis de jejum e abstinência de trabalho seriam observadas eternamente pelo povo judeu como um dia de perdão, a Torá proíbe a oferenda de corbanot fora das instalações do Mishcan. O sangue não pode ser ingerido, e durante o processo da shechitá (abate ritual), uma porção do sangue derramado deve ser coberta. A porção da Torá conclui com uma lista dos relacionamentos sexuais imorais e proibidos, e a ordem de que o povo compromissado com aa Torah mantenha e assegure a santidade da terra de Israel.

 

Instinto animal

    Na porção desta semana da Torá encontramos vários mandamentos que aparentemente têm pouco em comum. Começamos com uma listagem das leis e práticas de Yom Kipur, então passa para a proibição de comer sangue. Finalmente, a porção conclui com uma discussão dos relacionamentos proibidos. Desprezando a possibilidade de que estes mandamentos em particular foram jogados juntos ao acaso para formar a porção Acharê Mot da Torá, certamente seremos capazes de descobrir um tema comum, conectando estes vários tópicos.

    De forma bem interessante, vemos que a Torá proíbe o consumo do sangue de qualquer animal, mesmo aqueles que são casher. Desse modo, a Torá não apenas exclui a grande maioria das criaturas de nossa dieta, como limita nossa licença quanto aos permissíveis. Além disso, a Torá exige de nós um dia de total e absoluta abstinência de toda alimentação. As restrições e regras parecem quase esmagadoras.

    De fato, descobrimos uma estrutura muito similar a respeito dos relacionamentos proibidos. Na porção desta semana, a Torá lista para nós os indivíduos impróprios que não devemos escolher como companhia. Entretanto, isso não é tudo. A Torá regula severamente o relacionamento mesmo com as pessoas que nos são permitidas. Uma união adequada deve ser precedida por kidushin, a santificação do casamento. Um casamento mal sucedido deve ser terminado pela concessão de um documento de divórcio, ou guet. Relacionamentos extramaritais são vistos com desdém. Dessa forma, vemos que a Torá coloca severas restrições e limitações sobre os alimentos que comemos e sobre nossos relacionamentos.

        As semelhanças não param por aqui. A porção desta semana não é o único local em que encontramos estes dois tópicos agrupados juntos. De fato, o Rambam coloca as Leis dos Relacionamentos Proibidos e as Leis dos Alimentos Proibidos na mesma seção em seu código da Lei Judaica. O Rambam denomina esta seção, curiosamente, de kedushá. Embora "kedushá" seja geralmente traduzida como "santidade", muitos comentaristas assinalam que o termo também conota a noção de "separado" ou "distinto". 

    Dessa maneira, poderia parecer que o Rambam deseja nos transmitir que estas duas áreas da lei nos possibilitam separar e distinguir a nós mesmos. 

    Agora, finalmente as peças se encaixam nos lugares certos. Quando D’us criou o universo, colocou tanto o homem como o animal neste planeta. À primeira vista, o homem parece não ser diferente de qualquer outra criatura. Afinal, ambos se alimentam, ambos procriam, e ambos praticam as mesmas atividades físicas mundanas. Não somos, então, diferentes dos animais que perambulam pela terra? Os dons da fala, raciocínio e liberdade são todos indicativos de que o homem é na verdade diferente e separado dos animais. Entretanto, quando deixamos que nossos desejos animalescos reinem livremente, agindo sem quaisquer restrições, estamos na verdade demonstrando que não somos melhores que nosso cachorro ou gato de estimação. Quando continuamos a satisfazer nossas ânsias gastronômicas e a ser escravos de nosso apetite carnal, reduzimo-nos a um mero ajuntamento de carne e ossos. 

    Por este motivo, a Torá contém tantas proibições na área de ingestão de alimentos e relacões sexuais. A Torá nos prescreve o controle de nossos desejos básicos a fim de nos "separar" e "distinguir" de todas as outras criaturas. Demonstrando nossa força de vontade e nossa disciplina, podemos nos elevar acima de meros seres físicos. Não admira que após ter introduzido estas leis na porção da Torá desta semana – o jejum em Yom Kipur, abster-se de ingerir sangue, e evitar os relacionamentos proibidos – a Torá comece a porção da próxima semana com a admoestação "kedoshin te'heyu – serás santo e distinto", pois apenas santificando estes aspectos físicos de nossa vida podemos ter sucesso também em nossa busca espiritual.

 

 
O Côdesh Hacodashim 

    No dia em que os filhos de Aharon, Nadav e Avihu faleceram, D’us disse a Moshê: "Veja que seu irmão Aharon não repita o erro de Nadav e Avihu! Porque desejavam tanto aproximar-se de D’us, entraram no Côdesh Hacodashim, Santo dos Santos sem permissão. Por causa disso, foram punidos.

    Nenhum judeu, exceto o cohen gadol, deverá jamais entrar no Santo dos Santos. A Shechiná ali repousa. Mesmo Aharon, o cohen gadol, pode entrar ali apenas quatro vezes em Yom Kipur para fazer o serviço. Se entrar uma quinta vez, será punido por D’us." 

    Havia apenas uma pessoa que era diferente: D’us disse a Moshê: "Você, Moshê, é diferente. Pode entrar no local mais sagrado a qualquer hora que desejar, porque você é extremamente santo."
D’us ensinou Moshê o serviço especial de Yom Kipur. Explicaremos aqui algumas das leis principais:

Yom Kipur


    O próprio cohen gadol deveria realizar todo o serviço no dia de Yom Kipur

    Todos os corbanot de Yom Kipur eram oferecidos pelo próprio cohen gadol, não por qualquer outro cohen. Por que? Neste dia D’us perdoa os pecados do povo judeu. Por isso, os corbanot (sacrifícios) eram tão importantes que deveriam ser oferecidos pelo cohen mais sagrado de todos, o cohen gadol.
 

 

As roupas do Cohen Gadol

        Um cohen gadol usava oito vestes enquanto fazia o serviço. Destas oito, quatro não continham ouro.


    Em Yom Kipur, antes que o cohen gadol entrasse no Santo dos Santos, removia suas quatro vestes de ouro para que ficasse apenas com as quatro de linho branco. Por que?

    Como D’us perdoa os pecados do povo judeu em Yom Kipur, o cohen gadol deve ser muito cuidadoso para não permitir que o anjo acusador ache alguma coisa para criticar sobre Benê Yisrael. Se o cohen gadol vestisse vestes "de ouro", o anjo acusador apontaria para o ouro e lembraria D’us : "Benê Yisrael fez um bezerro de ouro!"

    Uma outra razão pela qual o cohen gadol vestia apenas túnicas de linho ao entrar no Santo dos Santos era que vestes de linho são brancas. O branco sugere pureza e perdão. Isso demonstra que o cohen gadol está pedindo a D’us que perdoe os pecados de Benê Yisrael.

 

O nome sagrado de D’us 

    O nome de D’us é tão sagrado que quando lemos a Torá ou quando rezamos, não pronunciamos as letras do nome de D’us como são escritas. Ao invés disso, dizemos A-donai, que significa "Meu Mestre."

    Entretanto o cohen gadol em Yom Kipur tinha que pronunciar o nome Divino – Yud Hey Vav Hei – por completo. Ele pronunciava este nome dez vezes em Yom Kipur. 

    Quando as pessoas no pátio ouviam o sagrado nome de D-us sair da boca do cohen gadol, todos se prostravam e respondiam: "Baruch Shem Kevod Malchutô Leolam Vaed"– "Bendito seja o nome (de D’us ) que Seu glorioso reino perdure para toda a eternidade."

    Sempre que o nome de D’us era mencionado, este era louvado. Esta era uma regra do Bêt Hamicdash: quando o grande nome de D’us era pronunciado, deveria ser louvado.

    O Santo dos Santos era a parte mais sagrada do Bet Hamicdash , porque a Shechiná repousava entre sobre a arca. A Shechiná é tão sagrada que a pessoa não pode vê-la completamente enquanto vive. O grande tsadic, Moshê, pode ver a Shechiná apenas "por trás". O cohen gadol em Yom Kipur nunca viu a Shechiná claramente, porque quando queimava o incenso no Santo dos Santos, a fumaça enchia o aposento. Mesmo assim, apenas um homem muito santo sobreviveria ao entrar no Santo dos Santos.

    Antes que o cohen gadol entrasse, uma corrente de ouro era presa a seu pé. Ele era puxado para fora caso morresse lá.

    O cohen gadol ficava temeroso quando entrava no local mais sagrado.

O que lhe dava coragem era saber que grande zechuyot (méritos) o acompanhavam. D’us o protegeria especialmente por causa destes grandes méritos: a Torá, o brit-milá, o Shabat, a cidade de Yerushalayim e as Tribos de Israel.

 
Leis especiais de Yom Kipur 

    D’us disse a Moshê: "Todos os anos, em dez de Tishrê, o Povo de Israel deve guardar Yom Kipur. Yom Kipur é o dia no qual Eu perdôo seus pecados."

    Em Yom Kipur todo compromissado com a torah deve jejuar o dia todo.

    Após a destruição do Bet Hamicdash, o povo  perguntou a D’us: "Senhor do Universo! Não temos corbanot para oferecer em Yom Kipur. O que faremos?"

    D’us respondeu: "Agora vocês devem fazer a avodá (serviço) com seus lábios. Rezem a Mim ao invés de oferecerem corbanot! Suas tefilot me são tão caras quanto o serviço do Bet Hamicdash .
    Eis a razão pela qual passamos todo o Yom Kipur rezando e fazendo teshuvá. Pronunciamos viduy (confissão de nossos pecados) em todas orações.

    O dia de Yom Kipur tem o poder especial de apagar nossos pecados, mais do que qualquer outro dia do ano.

    Rabi Akiva costumava dizer: "Quão afortunados são vocês, Israel! Perante Quem se purificam? Diante de seu Pai nos Céus! D’us é chamado de micvê. Da mesma forma que um micvê purifica a pessoa que é tamê, assim D’us purifica vocês de sua tum’á." Em outras palavras, ao fazermos nosssa parte para nos purificar – quando dizemos viduy e fazemos teshuvá em Yom Kipur – então D’us remove de nós a impureza.

Uma história:
Não devemos adiar a teshuvá


    Na juventude, um judeu de nome Rêsh Lakish e dois de seus bons amigos eram salteadores de estrada. Costumavam render viajantes e roubá-los de seus bens.

    Certa vez Rabi Yochanan encontrou o jovem Rêsh Lakish e ficou impressionado com ele. "Você deveria desistir de sua ocupação pecaminosa e devotar sua força e sua mente ao estudo de Torá," disse-lhe.

    Rêsh Lakish ouviu Rabi Yochanan e disse aos amigos: "Começarei a estudar no Bet Hamicdash. Querem me acompanhar?" Mas seus amigos não se interessaram; preferiram permanecer assaltantes.

Quando Rêsh Lakish começou a estudar Torá, tornou-se cônscio da gravidade de seus erros. Jejuou, rezou, confessou seus pecados e prometeu a D’us que jamais retornaria a seus antigos dias de perversidade. D’us aceitou sua teshuvá e perdoou-o integralmente.


    Rêsh Lakish tornou-se tão profundamente interessado no estudo de Torá que permanecia constantemente na Casa de Estudos. Tornou-se um famoso mestre de Torá, conhecido também por sua confiança em D’us. Nunca guardava dinheiro, ao contrário, costumava dividi-lo entre os pobres.

    D’us fez com que Rêsh Lavish e seus dois amigos morressem no mesmo dia. 
Os dois companheiros puderam ver que Rêsh Lakish fora conduzido ao Gan Eden, enquanto os anjos carregavam suas almas até uma parte do Guehinom onde ladrões e assaltantes eram punidos.

"Senhor do mundo, isso não é justo!" gritaram ambos. "Conhecemos o Compromissado com a Torah, que foi levado ao Gan Eden – nós três costumávamos assaltar juntos! Merecemos tratamento igual!"
D’us respondeu-lhes: "Rêsh Lakish fez teshuvá e vocês não!"

"Então faremos teshuvá agora," responderam os dois.

"Tarde demais," declarou D’us. "A pessoa pode fazer teshuvá apenas durante a vida. Depois que morre, é recompensado somente pelo que fez durante sua vida."

O homem é comparado a um viajante que empreende uma jornada pelo oceano. Os víveres que preparou quando estava em terra, terá ao seu dispor no navio. Aquele que nada prepara, morrerá de fome.

Esta história nos ensina que, jamais deve adiar a teshuvá. Se souber que cometeu uma transgressão, deve tomar a resolução de jamais repeti-la. Entretanto, D’us selecionou um tempo especial para fazer teshuvá: Yom Kipur. Nesta época, D’us aceita teshuvá mais facilmente.

Porém há algumas transgressões não são perdoadas em Yom Kipur, mesmo que a pessoa faça teshuvá:

1 – Ofensas cometidas com a certeza de que serão perdoadas em Yom Kipur – se alguém diz: "Cometerei pecados durante todo o ano, porque sei que D’us me perdoará assim que eu fizer teshuvá em Yom Kipur," essas transgressões não serão perdoadas. 

2 – Ofensas feitas ao próximo, a menos que lhe peça perdão – Se um judeu pecou contra D’us, por exemplo, se realizou trabalho proibido no Shabat, D’us o perdoa após fazer teshuvá. Mas se um judeu ofende o próximo judeu – por exemplo, insulta um amigo – sua teshuvá não é suficiente. Deve também procurar o amigo e pedir-lhe perdão.


    Então, quando fizer teshuvá – a qualquer tempo, e particularmente antes de Yom Kipur – assegure-se de pedir perdão à cada pessoa que tenha ofendido.

    O Midrash esclarece como nossos ilustres Sábios pediam perdão uns aos outros:

    Rabi Yirmiy’áhu teve um desentendimento com Rabi Abba, e decidiu aplacá-lo. Quando chegou à casa de Rabi Abba, sentou-se no degrau da porta de entrada.     Neste exato momento a empregada saiu. Estava carregando água suja e derramou um pouco sobre Rabi Yirmiy’áhu.

"Estou me transformando em lixo aqui," disse ele. "É melhor ir-me embora." Dito isso, começou a caminhar para casa.

    Neste ínterim, Rabi Abba ouviu o que a empregada fizera e correu atrás de Rabi Yirmiy’áhu para desculpar-se com ele. Quando Rabi Yirmiy’áhuiu o viu, voltou-se para pedir desculpas.
Mas Rabi Abba disse: "Nada disso, eu é que devo pedir perdão e não o contrário, porque você foi maltratado em minha casa."

Perdoaram-se mutuamente e tornaram-se amigos outra vez
 
Corbanot - Sacrifícios

    Adam e Nôach, bem como nossos patriarcas – Avraham, Yitschac e Yaacov – construiram altares sobre os quais ofereciam corbanot a D’us. Mas, uma vez construido o Bet Hamicdash, D’us ordenou: "Nenhuma pessoa pode oferecer-Me um corban sobre um altar fora do Mishcan (ou do Bet Hamicdash )."

    Caso eles tivessem recebido permissão de construir altares em qualquer lugar,  logo teriam imitado as nações não-judias que construiram tais altares para ídolos. Já que, sempre deveria ir ao Mishcan ou ao Bet Hamicdash para fazer sua oferenda, não chegaria a oferecer sacrifícios a ídolos.

A Torá nos faz três advertências sobre a proibição de ingerir sangue ou comer um animal que não seja casher:

1 – Um compromissado com a torah não pode ingerir sangue de um animal: Como explicamos anteriormente, nossos Sábios decretaram que carne e frango devem ser salgados para extrair seu sangue.

2 – Não podemos comer nevelá: A nevelá é um animal que morreu por si mesmo, ou que não foi abatido exatamente como ordena a lei. Não podemos ingerir a carne do animal nestas condições. Podemos apenas comer a carne se no animal foi feita a shechita, o abate de acordo com a Halachá, Lei Judaica.

3 – Não podemos comer terêfa: Chamamos terêfa ao animal que foi ferido por outro animal. Também é chamado terêfa se um órgão vital está faltando, ou se o órgão está tão danificado que o animal não conseguiria sobreviver por mais doze meses. É proibido comer a carne de um animal terêfa, mesmo que tenha sido abatido de acordo com a Lei Judaica.


    A mitsvá de kisuy hadam – cobrir o sangue de animais selvagens casher e pássaros.

    D’us ordenou: "Se você abater um cervo ou pássaro, deve cobrir o sangue com terra por cima e por baixo do animal." Entretanto, não é necessário que o sangue de animais domésticos que abatemos seja coberto.

    Como a vida de uma pessoa depende do sangue, a Torá ordena que tenhamos respeito por todo tipo de sangue. Assim como devemos enterrar uma pessoa morta porque seria desrespeitoso não cobrir seu corpo com terra, assim devemos respeitar o sangue de animais silvestres e aves casher, cobrindo-o.

O Midrash nos relata por que animais selvagens merecem ter seu sangue coberto.

Você certamente se recorda da história de Kayin e Hevel, filhos de Adam. Kayin assassinou o irmão porque estava com inveja dele.

Quem enterrou Hevel?

O Midrash nos conta que os pássaros e os animais da selva cavaram um buraco e puseram o corpo de Hevel dentro.D’us recompensou-os pela boa ação. O shochet recita uma berachá (bênção) ao abater qualquer animal ou ave casher. Vacas, ovelhas e cabras merecem apenas aquela berachá feita sobre eles. Entretanto, animais selvagens casher (como o cervo) e aves, recebem uma segunda berachá como recompensa por sua boa ação: antes de cobrir seu corpo coberto com sangue o shochet – ou algum outra pessoa compromisado com a Torah, que esteja presente – fala uma berachá adicional.
 
 
Casamentos proibidos

    Moshê advertiu o Povo de Israel: "Quando vocês viveram no Egito, viram que os egípcios tiveram relações incestuosas com parentes próximos. Irmão com irmã, a mãe com filho. Quando você chegar à terra de Canaã novamente verão os Canaanitas se relacionarem com parentes próximos. Vocês, como povo sagrado, não podem imitar este comportamento perverso. Mantenham-se distantes de todos os matrimônios que proibi."

    Aqui estão alguns dos casamentos proibidos:

    Um compromissado com a Torah não pode desposar a mãe, madrasta, irmã, filha, neta, tia, ou nora. Não pode casar-se com uma mulher e pegar sua irmã, filha ou neta como segunda esposa. Entretanto, se sua mulher morre, ele tem permissão de desposar a irmã dela. Um compromissadao com a torah não tem permissão de contrair um matrimônio proibido, mesmo se for ameaçado de morte por não obedecer.

    Se ignorar as advertências da Torá e intencionalmente realizar um casamento proibido, D’us diz: "Punirei este com karêt". Karêt significa "cortar". Esta é a pior das punições possíveis, pois esta pessoa é cortada de D’us e do resto do povo Comprometido com a Toráh.

    A Torá adverte que, D’us não o permita, se muitos, cometerem esta transgressão, "A terra irá cuspi-los fora," o que significa que o povo judeu será expulso de Erêts Yisrael.

    Como um estômago delicado que não tolera comida estragada, Erêts Yisrael é tão santo que não pode abrigar judeus que cometem transgressões. Os canaanitas, que habitaram a terra antes de chegarem os judeus, foram expulsos porque cometeram terríveis pecados. Mas a falha de um povo consagrado por D’us é muito mais grave.

    D’us prometeu: "Aquele que cumprir Minhas mitsvot viverá por causa delas" (18:5).

    Isso não significa que a pessoa que cumpre as mitsvot não morrerá. D’us prometeu: "Aquele que cumprir Minhas mitsvot viverá – no Mundo Vindouro – por causa delas."

    Após a morte, D’us leva a alma ao Gan Eden onde a mantém até techiyat hamêtim, a época da resurreição dos mortos. Então, reconstituirá o corpo e devolverá a alma para habitar nele. A pessoa, então viverá para sempre, apreciando a glória de D’us o tempo todo. Esta é a mais grandiosa recompensa imaginável.
 
 
A Visão é 20/20
 
"Contemple – os dias estão chegando – a palavra de D’us – quando o arado encontrará o ceifador, e aquele que pisoteia as uvas encontrará aquele que traz as sementes…" (Haftorá para Acharê Mot – Amos 9:13).

    O Maguid de Dubno explica a linha profética acima referindo-se aos dias de Mashiach com a seguinte parábola: 

    Um habitante da cidade que jamais havia visto um fazendeiro em seu trabalho, presenciou um homem no campo que estava arando o solo e dispersando sementes nos regos recém-abertos. Imediatamente correu até o lavrador e repreendeu-o por jogar sementes tão boas dentro do solo, permitindo que apodrecessem. 

O fazendeiro respondeu pacientemente que o morador da cidade deveria esperar para ver o que terminaria por acontecer. Vários meses depois, o citadino ficou encantado por ver que as sementes haviam brotado em lindos trigais, mas ficou horrorizado quando o fazendeiro cortou os maravilhosos feixes. Percebendo a preocupação com o habitante da cidade, o lavrador assegurou-lhe que, no devido tempo, entenderia o que estava sendo feito. O agricultor então moeu o trigo, misturou-o com água, sovou a massa e colocou-a em um forno quente. Uma vez mais, reassegurou ao homem da cidade que deveria esperar pacientemente para ver como seria o produto final.

Quando examinamos e ponderamos nosso mundo aparentemente confuso e de cabeça para baixo, ficamos perplexos e aborrecidos pelo que parece ser uma existência injusta, onde o mal prevalece, e os justos vivem vidas de labuta e provações. Não podemos imaginar o que está ocorrendo por trás do pano porque estamos limitados pelo finito elemento do tempo, tornando-nos incapazes de visualizar o quadro por inteiro. Não estando acostumado com o processo de plantar as sementes, cultivá-las e permitir-lhes que se desenvolvam, vemos apenas as aflições do justo pelos elementos ao acaso da natureza, e não somos testemunhas do resultado definitivo, o ponto principal. 

Entretanto, isso não deveria fazer-nos desesperar. No futuro, tudo será revelado e nossa compreensão dos muitos acontecimentos no decorrer da história ficarão tão claros quanto o prazer do morador da cidade ao comer o pão quentinho e recém-assado, produzido após meses de trabalho duro. 

Nossa prece, como foi expressada pelo profeta Amos no versículo acima, é para que um dia consigamos o total esclarecimento, testemunhando tanto o início como o fim da história – para vermos o arado encontrar o ceifador, ficando juntos como um só.
 
 

Yom Kipur

 

    Dia de Yom Kipur. Toda a nação está refletindo sobre suas falhas no ano anterior, e planejando uma estratégia para aperfeiçoamento no ano vindouro. Todos estão na sinagoga rezando por um julgamento misericordioso. Ninguém está comendo ou bebendo, ninguém está usando sapatos de couro, e todos vestem-se de branco. Os rabinos nos dizem que em Yom Kipur atingimos um nível de pureza como aquele dos anjos. 

Que palavras uma pessoa esperaria ouvir emanando do púlpito? Considerando a gravidade e a solenidade do dia, a pessoa poderia esperar ouvir palavras de retribuição. Em vez disso, lemos na Torá algo que parece estar completamente deslocado. Não é chocante que no serviço vespertino de Yom Kipur leiamos a seção da porção da Torá desta semana sobre relações sexuais proibidas?
Por que, no dia mais santo do ano, lemos sobre estas proibições específicas?

Em seu comentário sobre o Talmud (Tratado Meguilá 31a), Rashi explica que a razão pela qual lemos especificamente esta seção é por causa que "as transgressões das proibições sexuais ocorre porque a má inclinação da alma da pessoa as desejam, e este desejo é avassalador." 
Lemos esta passagem específica pois somos constantemente desafiados pela promiscuidade e, muitas vezes, erramos. Especialmente em um dia e época em que estamos pensando em termos sagrados, precisamos ser lembrados de situações em que podemos falhar – particularmente na área das tentações físicas. Esta leitura específica, considerando a atmosfera do dia, deveria chocar-nos, e esperamos que esta surpresa perdure o ano todo, sempre que formos assolados por tentações.

O Talmud (Tratado Menachot 44a) relata uma história que exemplifica esta idéia. Um homem que era muito cuidadoso com a mitsvá do tsitsit ouviu dizer que a mulher mais linda do mundo por acaso era uma prostituta. Em sua fraqueza, marcou um encontro com ela. Quando chegou a hora aprazada, o homem chegou e a tentação de agir segundo seus desejos era enorme. Ao tirar a camisa, as franjas de seu tsitsit passaram por seu rosto, fazendo-o lembrar da proibição Divina e absteve-se de cometer este ato ilícito. A mitsvá ajudou-o a superar seu desejo baixo.

O propósito desta leitura em Yom Kipur é proporcionar a todos um lembrete que perdure por todo o ano vindouro. Os rabinos reconhecem a tendência do homem a racionalizar estes assuntos de relacionamentos sexuais, e eles portanto exigem que nesta época específica em que estamos pensando sobre uma maneira de aperfeiçoar-nos, devemos ser lembrados destas proibições.

Todos devemos examinar as razões pelas quais agimos de certo modo e analisar nossos motivos para ver se são nobres e sinceros. Todo mundo é um verdadeiro gênio quando se trata de racionalizar sua própria conduta, mas nem todos são suficientemente sensíveis para reconhecer esta racionalização. Os rabinos queriam assegurar-se que, no dia em que todos estão mais preocupados sobre sua conduta diária, nos lembremos do primeiro exemplo, quando as pessoas freqüentemente justificam seu comportamento perverso.

Versículo 18:5

Cumprirás Meus decretos e leis, que o homem deve fazer, e viver neles…

O mais importante

Quando  estava com dezoito anos de idade, caiu doente. O médico ordenou que  deveria comer logo após acordar. Mas , que não desejava comer antes da prece, rezava mais cedo e apenas depois fazia seu desjejum.

Um grande amigo, quando soube disso, disse: "Uma pessoa compromissada com a torah deve ser saudável e forte. Quanto aos preceitos da Torá, está escrito 'viva neles' – a pessoa deve infundir vida às mitsvot. E para infundir vida às mitsvot, a pessoa deve ser saudável e alegre."

 Concluiu: "Melhor comer para rezar, que rezar para comer."

 

Permitido ou não

 Sobre o flerte?

RESPOSTA:

    Flertar, por definição, é um comportamento com a finalidade de despertar interesse sexual. Mas no flerte, não se trata tanto de "como" ou mesmo "por quê" tanto quanto trata de "com quem?"

Tudo bem com o flerte — se for com a pessoa certa. E mesmo então, você tem de fazê-lo da maneira certa. Se demos a idéia que o melhor flerte é não flertar, você entendeu o espírito da coisa. Porque você não flerta para encontrar aquela pessoa especial — você encontra aquela pessoa especial e então flerta.

    O flerte, como o conhecemos, é divertido, mas fútil. É ser alguém que você não é para alguém que você não conhece, e aquele alguém faz o mesmo com você. É deixar que os hormônios subam à cabeça. É uma fachada. É falso. E tende a ser desmascarado, porque, para começar, nunca foi algo real. O flerte diz, vá de fora para dentro. O monoteísmo diz, vá de dentro para fora.

O flerte coloca as paixões antes das personalidades. O judaísmo coloca as personalidades antes das paixões. Flertar é atirar primeiro e perguntar depois. O judaísmo é perguntar primeiro e atirar depois.

"Mas conheço pessoas que simplesmente tiveram um estalo e se apaixonaram!" protesta você. Tudo bem, também conheço. E? E eles namoraram, demonstraram um interesse apaixonado, casaram-se e viveram felizes para sempre — certo? Mas isso não é flertar. Eles foram além do flerte. Levaram a sério. E flertar é tudo, menos sério.

Como posso flertar?

1 — Verdadeiro flerte

O verdadeiro flerte exige um ambiente controlado, como uma experiência científica. O flerte funciona em qualquer lugar, mas não leva você a lugar nenhum. O verdadeiro flerte é um tanto bobinho, mas tira você da rotina: é claro que pode-se fazer uma garota rir ou uma secretária dar um sorriso — mas só por isso ela vai se casar com você? Ah, ah. E além disso — e isso é importante — você não sabe nada sobre ela! Portanto, se está realmente interessado naquela pessoa, a melhor maneira de consegui-la é lançar a pedra fundamental — peça a um amigo para apresentá-los, então combine um encontro. A maneira ideal é usar o método da rede: diga a todos seus amigos que você está procurando um relacionamento. Seja o mais específico possível. Eles contam aos amigos deles, e alguém conhece ou encontra alguém de quem você realmente goste. Eles fazem a apresentação, e a partir daí é por sua conta. Isso salva você do flerte.

2 — Fale de seus dons com as mãos para trás

Flertar é ser outra pessoa. O verdadeiro flerte é ser você mesmo. Flertar é exibicionismo. O verdadeiro flerte é desmascarar. Flertar é bazófia, o verdadeiro flerte é honestidade. E apesar dos psicólogos da moda e dos conselhos de colunistas, o contato físico romântico não é uma boa idéia — se um relacionamento sério enraíza e floresce, haverá muito tempo para isso depois.

3 — Vá até o fim

"Mas nós nos amamos!" diz você. "Por que não tocar?" Vocês se amam, certo? Agora provem isso — casem-se. Antes disso, a Torá diz "mantenha as mãos longe" na Mitsvá Negativa nº 353. Isso mantém o casamento sagrado.

 
Eu sou homossexual e gostaria de participar dos serviçoa judaicos. Posso? Qual a visão do judaísmo sobre tal fato?

RESPOSTA:

Todo indivíduo pode adorar a D'us. Mesmo se a pessoa não vive 100% nos caminhos de D'us e da Torá, mesmo assim pode crer em D'us. Ao aumentar sua crença no Todo Poderoso, seu propósito de cumprir os Mandamentos Divinos se desenvolverá e se tornará fortalecido. Não existe nada que impeça a pessoa de adorar D'us Único.

Deve-se deixar claro, entretanto, que esta condição que você descreve está definitivamente proibida na Torá. Se é proibida, isso significa que não é uma condição natural, como muitos acreditam que seja. Uma pessoa pode ter sido criada com uma determinada tendência, mas sua alma recebe a força para superar estas inclinações negativas. A condição acima é a mais negativa das inclinações. Ao ordenar a alguém que sobrepuje esta inclinação, a Torá dá à pessoa que acredita em D'us e na Torá, o poder espiritual para vencer esta tendência. Poderá assim conseguir positivar esta inclinação, casar-se de forma adequada como deseja a Torá e ter filhos bons e saudáveis.

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Certo dia eu estava indo para escola e vi um rabino com seu filho. Uma motorista ofereceu sua mão para ajuda-lo a descer, e ele recusou falando que não poderia dar a mão para ela. Por que?
 

RESPOSTA:

O judaísmo sustenta que um toque não é um simples toque, um abraço não é um simples abraço, e um beijo não é um simples beijo. Em outras palavras, o contato físico, por mais inocente que seja, tem o poder de aproximar as pessoas. Como todo poder, ele pode ser usado positiva ou negativamente. Ele pode ser usado para criar intimidade entre duas pessoas que estão ligadas por um compromisso, como pode também causar uma ilusão de proximidade, com pessoas que não são nada próximas.

É por isso que reservamos este poder especial apenas para nossas "almas gêmeas" ou parentes próximos do sexo oposto. O toque é uma cola que tem poder de ligar as pessoas. Já que é assim, queremos reservar o tubo inteiro para aquele com quem queremos estar realmente ligados.

Muitas pessoas, ao ouvir a posição do judaísmo sobre este assunto, dizem que os religiosos são muito maliciosos, afinal, um toque não é nada. Porém, este é um engano. A religião conhece mais do que qualquer um de nós a natureza humana, e por isso nos instrui a preservar nossos poderes.

Se não sentimos mais a especialidade de um toque, é sinal de que a cola já está gasta porque foi desperdiçada por aí...

 
 

Em minha opinião, a pior piada prática pregada sobre a humanidade é que o homem pode tomar conta de si mesmo.

Quantas pessoas precisam morrer até percebermos que o homem nada sabe sobre a natureza humana, a sociedade e outros esforços humanos? Por que o século mais avançado de toda a história testemunhou o extermínio de mais de cem milhões de pessoas? Mais seres humanos foram assassinados neste século - e em nome do progresso, esclarecimento e justiça - que em todos os outros séculos juntos! (Não ignoro o fato de que terrível dano foi infligido em nome da "religião." O que desejo provar é que sem ela estamos ainda piores.)

Por que os livros escolares são escritos e reescritos a cada poucos anos? Por que é que novas maneiras de ensinar, ler e escrever estão constantemente sendo criadas e descobertas? E por que o homem continua tentando todos os tipos de governos e leis - achei que já estivesse fazendo isso por tempo suficiente para fazê-lo direito!

E ainda. Embora você possa sentir-se bem agora, e imaginar como as coisas poderiam ser melhores, deixe-me acrescentar dois detalhes:

1. Você não pode saber que "nova grande idéia" será pensada nos próximos dez anos. Religiões e filosofias precisam de pouco tempo para se espalharem. Por exemplo: Nazismo e Comunismo.

2. Todo o progresso que você aprecia é baseado em valores da Torá! Igualdade perante a lei, nenhuma discriminação, e tudo que há de bom.

A palavra que se destaca é "moralidade." A moralidade não pode ser baseada em nada feito pelo homem. Deve vir de fora do ser humano, por isso D'us nos deu a Torá. Isso é chamado de Absolutismo Moral, e contrasta com Relativismo Moral, no qual o homem faz tudo que quer e apenas reescreve as regras para tornar certo o que é errado, e vice-versa. Estando além de nossas mentes, a Torá acerta sempre. Eis então por que você deveria querer acreditar em D'us e na Torá: porque a crença em nossas mentes até agora só nos trouxe problemas sérios.

A verdade é, a menos que se diga ao homem aquilo que é certo, ele a inventará à medida que prossegue. Destruirá tudo que ficar em seu caminho. Nada o deterá. Não confio no homem para inventar doutrinas morais. Temo que, mais que qualquer outra coisa, a História Humana tem provado meu argumento.

 

 
 
Estudei que não há nenhum homem que nunca tenha pecado, então como
pode ser afirmado que os tsadikim ainda têm o semblante perfeito? Pois todos
cometem averot mesmo que não seja conscientemente.
 
RESPOSTA:
O Rei Salomão escreve em Cohelet 7:20: "Não existe um justo na terra que faça o bem e não falha (yechta)." Esta palavra 'yechta' tradicionalmente traduzida como 'pecado', também pode ser traduzida como 'falta' (veja Melachim I 1:21).

No Tanya é explicado que um verdadeiro tsadic não peca; o que pode ocorrer éque 'faltou' no seu serviço Divino, isto é, ele poderia ter feito melhor. Somente ao cometer uma falha, isto é, uma transgressão da vontade de Hashem, a face do homem perde o semblante Divino. 
 
 
                                        
 
Tempo Livre: O que você faz com o seu?
 
O que você faz quando está preso no trânsito? 

Escuta música, talvez. Ou então escuta uma entrevista no rádio. Política, esquerda ou direita. Conselhos. Notícias. Esportes. Talvez fale no celular. Resolvendo negócios, fazendo planos, falando com as crianças, adiantando seu trabalho, relatando o atraso que o trânsito causou, justo agora que você está perto da saída da avenida, o que de qualquer forma não ia adiantar, porque você está na pista mais distante. Ou talvez você apenas fique ali sentado, deixando a mente vagar a princípio, mas depois ficando mais e mais frustrado, em seguida mais e mais furioso.
E quando você fica preso no consultório médico? 

Na verdade, a questão aplica-se a qualquer escritório onde às vezes ficamos presos – repartição pública, comercial, legal – mas certamente onde mais ficamos presos é no consultório médico. Você lê revistas (antigas, já lidas e relidas, populares demais, técnicas demais, assuntos entediantes – e sempre faltando a última página da história? Você assiste a TV (perguntando-se por que ninguém muda de canal para algo mais interessante? Você observa os peixes no aquário? Ou você tenta dormir (geralmente entreouvindo as conversas ao seu redor)?


O que você faz quando está preso numa fila? (Você sabia que isso estava vindo.) Leva consigo um livro onde quer que vá, caso precise (ficar na fila do banco, no supermercado, no balcão de serviços, esperando uma licença e, é claro, no correio)? Leva um CD-Player e o liga? Ou fica olhando ao redor do aposento, contando isso (quantas tábuas no teto) ou aquilo (quantos telefonemas aquele funcionário fará antes de atender um cliente?) para passar o tempo? Tenta falar com a pessoa à sua frente, atrás de você ou o último da fila? Ou fica lá, a mente vagando a princípio, mas aos poucos ficando mais e mais frustrado, depois mais e mais furioso porque depois de cada cliente o funcionário desaparece por cinco minutos. Puf.

Passamos um tempão esperando, um tempão em compasso de espera (não me fale sobre telefones) um tempão parados em ponto morto – como um carro com o motor ligado, mas sem marcha engatada. Os minutos vêm, os minutos vão, os minutos passam.

Às vezes nós os usamos bem, às vezes não. Mas o tempo livre não precisa ser tempo desperdiçado, tempo vazio – ou mesmo tempo de negócios. Há uma maneira de transformar o tempo livre em tempo judaico.

Leia um capítulo de Tehilim. São curtos. Estão traduzidos. E cada versículo reverbera através dos reinos espirituais. Leia uma mishná, ou duas. Também estão traduzidas, com comentários. Frequente um shiur (há tantos com diferentes temas: será que nenhum desperta seu interesse? Ou todos? Arrume tempo!)

Quando começamos a recitar o Shemá à noite? Se duas pessoas encontram um talit, pegam-no e dizem que ambos o acharam, quem fica com ele? Como se cumprimenta outra pessoa? Leia uma Lei Judaica do Mishnê Torá. Maimônides nos transforma todos em eruditos. Leia um pouco do Tanya. Dê um download, imprima-o e carregue-o consigo. Aprenda sobre suas duas almas, o que significa amar seu próximo como a si mesmo, como lutar contra a preguiça ou depressão. Descubra a anatomia da alma. Chame-o de Judaísmo de "Um Minuto", ou se preferir, "Judaísmo Pronto para Usar".
 
 
 
MiMissão  impossível?
 
A Torá descreve um episódio em que D’us pede a Moshê que conte os levitas entre o povo de Israel, realizando assim um senso. 

O grande comentarista Rashi explica a frase presente na Torá, "Segundo a palavra de D'us", como uma indicação de que na verdade Moshê estava perguntando: "Como posso determinar o número de filhos em cada família? Devo entrar nas tendas das pessoas e invadir sua privacidade?" A isto, D'us respondeu: "Faça sua tarefa e Eu farei a Minha. Você deve ficar em frente à porta de cada tenda, e Eu lhe direi o número de crianças naquele lugar."

Poder-se-ia indagar: uma vez que a determinação do número de levitas dependia da Divina revelação, por que havia necessidade de Moshê fazer algo a respeito? Por que D'us simplesmente não lhe dizia quantos levitas existiam?

A resposta a esta pergunta é essencialmente a fórmula para os atos do ser humano neste mundo. Um D'us onipotente poderia fazer tudo, e não haveria necessidade de atos humanos para realizar coisa alguma. Por razões conhecidas apenas pela sabedoria Divina, o homem foi colocado na terra com uma missão que apenas ele pode cumprir, e é sua responsabilidade cumprir aquela missão. Se a realização desta tarefa parece estar além da capacidade do homem, isso não isenta o homem de fazer o máximo para atingir este objetivo. 

O ser humano deve fazer tudo que puder, e tudo aquilo que estiver fora de seu alcance torna-se responsabilidade de D'us. Este princípio é declarado em Ética dos Pais (2:16): "Não cabe a você completar a obra, porém você não tem liberdade para desistir dela."

"Faça sua tarefa, e Eu farei a Minha." 

Hoje nós, como Moshê naqueles tempos, não devemos nos abster de nenhuma mitsvá, mesmo que seu cumprimento pareça estar além de nossos meios. Somos obrigados a fazer aquilo que pudermos, e deixar o restante nas mãos de D'us.
 
 
  

Durante uma recente excursão, fiquei surpreso ao ver-me cercado por um mar de "amanhãs". Não, não se tratava de uma visita a uma maternidade, nem à classe do maternal de uma escola, onde o brilhante potencial de crianças pequenas nos proporciona um tangível sendo do "amanhã", i.e., o futuro, vital e promissor. Embora seja verdade que eu sempre sinta o entusiasmo do "amanhã" quando estou com os pequeninos, a sensação que estou descrevendo vinha exatamente do lado oposto do espectro - o cemitério.

Todas juntas, as pedras tumulares contam a história de amanhãs que jamais virão, e juntos, muitos de nós estamos esboçando epitáfios similares para nós mesmos.

Meus deveres oficiais como rabino de uma comunidade levam-me, mais vezes do que eu gostaria, aos silenciosos campos onde as gerações que nos precederam foram para descansar. Se a pessoa olha em torno e escuta atentamente o sossego, há uma inquietante consciência de uma multiplicidade de (na falta de uma palavra melhor) "amanhãs" - uma profusão de coisas que poderiam ter sido, deveriam ter sido, talvez fossem, teriam sido... mas para "amanhã."

Tendo crescido em Milwaukee, e trabalhado por 40 anos no rabinato, consigo olhar em torno, não importa qual o cemitério que estou visitando, e reconhecer muitos nomes familiares, pessoas de quem me recordo da minha infância ou depois. Muitas vidas vividas em grande distinção. Os restantes, em geral, foram cidadãos de bem, devotados à família e à comunidade, judeus que deixaram um legado de trabalho e integridade. É por este último grupo que fico tão entristecido. Porque não apenas me lembro de quem foram, mas de quem poderiam ter sido, se não tivessem dissipado seus "hojes" em troca de seus "amanhãs".

É claro que todos fazemos isso; a procrastinação é tão antiga quando a própria humanidade. Porém o mero dilúvio daquilo que o passado adiou para "amanhã" elevou-se como uma densa névoa sobre o campo, lançando uma sombra pesada e longa sobre o solo.

Minhas reflexões levaram-me de volta ao presente, à família, meus amigos, e a mim mesmo. Cada um de nós tem muitas coisas que preza e espera realizar durante a vida. Invariavelmente, são conquistas importantes, do tipo que se constitui em legados duradouros. O que fazemos sobre estas aspirações? Adiamos para "amanhã" - é claro! Hoje estamos muito ocupados, muito sobrecarregados, e muito exigentes. Com uma constância infalível, amanhã será um outro hoje, repleto e agitado com exigências que descaradamente se recusam a ser adiadas.

Pateticamente, as eternas verdades da vida, aquelas que deveriam clamar por nossa atenção e insistir para serem reconhecidas, esperam silenciosa e pacientemente nas alas de nossa consciência, para serem finalmente convertidas no tecido vivo da existência. Todas juntas, as pedras tumulares contam a história de amanhãs que jamais virão, e juntos, muitos de nós estamos esboçando epitáfios similares para nós mesmos.

O início de um novo ano representa uma oportunidade única para transformar nossos "amanhãs" em "hojes", assumindo o sério compromisso de conquistar as metas que julgamos sagradas. Fazer "o primeiro em primeiro lugar" nos possibilitará sentir a energia de estar vivo e tornar realidade a liberação de nosso potencial.

Em minha lista pessoal para o ano que já se iniciou, o "hoje" está no primeiro lugar da lista. Gostaria de insistir respeitosamente para que cada um refletisse sobre as muitas bênçãos que nos alcançarão se tivermos a tenacidade e a determinação para transformar nossos "amanhãs" em "hojes".

     

Ser inteligente e correto são dois conceitos com os quais convivemos diariamente. Cada um de nós, à nossa própria maneira, tenta viver de modo tal que reflita tanto profundidade intelectual quanto comportamento virtuoso. Muitos acreditam que habilidade intelectual produz a ação correta, e de fato, o indivíduo inteligente tem a oportunidade de avaliar suas ações para assegurar-se que o resultado será correto.

Porém é possível que habilidade intelectual seja a base da ação correta? E quanto àqueles que não foram abençoados com uma mente rápida? As pessoas mais lentas estão fadadas a ser "os perversos" de nossa geração?

Sobre este tópico, há uma famosa parábola judaica que ilustra claramente o relacionamento entre inteligência e integridade.

Certa vez, dois eruditos estavam sentados discutindo vários tópicos da Torá. O anfitrião trouxe uma chávena de chá a cada um dos distintos sábios. Em seguida, voltou com um prato contendo dois deliciosos biscoitos, um para cada visitante.

Um dos biscoitos era obviamente maior que o outro, e o menor deles estava um tanto esmigalhado. Cada um dos eruditos olhou para o prato e constatou a desigualdade. As regras da etiqueta exigem que a pessoa que se serve primeiro, como prova de finesse, deve pegar o menor, demonstrando assim consideração e estima pelo amigo. Não somente isso, como também era costume que o erudito mais notável se servisse em primeiro lugar. No entanto, não seria de bom tom declarar-se um erudito mais importante, pois isso trairia a fachada de humildade que cada sábio mantém sobre si mesmo.

Cada um deles queria o biscoito maior, e portanto nenhum ousava servir-se primeiro.

Ambos os eruditos esperaram pacientemente que o outro pegasse o biscoito, Porém nenhum esticou a mão para apanhá-lo.

"Rabi Yankel, por gentileza, o senhor é um renomado erudito, queira servir-se primeiro."

"Não, meu caro Rabi Schmendel, sou como o pó de suas botas. Deve servir-se antes de mim."

E assim foi, cada qual tentando convencer o outro a servir-se em primeiro lugar.

Sentaram-se então em silêncio por alguns instantes. Finalmente, um dos sábios esticou a mão e agarrou o biscoito grande.

Enquanto o levava até a boca, o outro exclamou: "Não acredito que o senhor cometeu ato tão inconveniente! O senhor, um verdadeiro erudito de Torá, de família tão distinta, como pôde comportar-se de maneira degradante, pegando o biscoito maior?!?"

"Ora, caro amigo, o que teria feito em meu lugar?"

" Se eu tivesse me servido primeiro, obviamente teria pegado o biscoito menor" - explicou o amigo.

"Hummm" retorquiu o primeiro - "neste caso, do que reclama? Não recebeu o biscoito menor?"

A moral:

Vivemos segundo diversas regras e costumes. A diferença entre pessoas simples e homens inteligentes é que o simplório não tem os argumentos para justificar sua transgressão. Uma pessoa inteligente pode fazer com que seu erro não pareça ser um erro, e um indivíduo extremamente sagaz pode nos convencer que, não somente aquilo não foi uma transgressão, como na verdade foi um ato correto. E uma pessoa excepcionalmente inteligente pode nos fazer acreditar que, não somente nenhum erro foi cometido, e ele não apenas é um homem íntegro, como na verdade aquilo foi feito única e exclusivamente para nosso próprio benefício.

Durante a Inquisição Espanhola, muitos dos eruditos converteram-se ao Cristianismo, ao passo que as pessoas simples deram a vida para santificar o Sagrado Nome de D'us, sofrendo mortes horríveis e proclamando Shemá Yisrael enquanto a alma abandonava seu corpo sofrido. Aquelas pessoas inteligentes convenceram a si mesmas que era melhor converter-se que morrer, que sua conversão era apenas uma fachada. Os indivíduos mais simples não puderam se convencer disso - a conversão era estritamente proibida.

Obviamente, D'us criou os homens com capacidades intelectuais variadas. Ele espera que nós, não importa se intelectualmente aguçados ou vagarosos, nos comportemos de maneira íntegra.

Nossa tarefa é não sermos levados por pessoas habilidosas que tentam nos fazer acreditar que suas ações são corretas. E mais ainda, cabe às pessoas realmente inteligentes não se deixarem convencer por sua própria inteligência de que estão sempre corretas. Uma pá é uma pá, e um pecado é um pecado.

Bondade Celestial

Há um século, vivia na cidade russa de Polotsk um lojista simples, que atendia pelo nome de Reb Yisrael. Era seguidor de Rabi Menachem Mendel de Lubavitch, o terceiro líder de Chabad. Certa vez, durante uma visita à cidade de Lubavitch, ele ouviu do Rebe um discurso de filosofia chassídica, explicando como nosso Patriarca Avraham era caridoso tanto no que se refere a dinheiro, quanto a questões espirituais e físicas. O Rebe continuou dando uma profunda explicação mística para demonstrar como os atos físicos de caridade de Avraham neste mundo material de certa forma eram mais elevados que a Bondade Celestial.

Reb Yisrael não entendeu toda a dissertação, mas assimilou aquelas poucas palavras sobre Avraham, que passou a repetir sem parar até que as gravou na memória. Quando chegou em casa, os chassidim se reuniram para dar-lhe as boas vindas, na recepção que era costumeira para aqueles que voltavam de Lubavitch. perguntaram a Reb Yisrael se talvez ele poderia repetir o discurso que o Rebe tinha feito. Reb Yisrael replicou que não podia, mas tinha na memória umas poucas palavras sobre a caridade de Avraham, e passou a repeti-las.

Depois da recepção, Reb Yisrael voltou para sua loja, como de costume.

Nachman e Yossef, também lojistas em Polotsk, eram amigos de Reb Yisrael. Este decidiu que iria até a loja de Nachman para pedir-lhe um empréstimo. Ele não precisava do dinheiro, mas tendo ouvido do Rebe grandes elogios à caridade (que inclui emprestar dinheiro sem juros) ele desejava dar ao amigo Nachman a oportunidade de cumprir esta grande mitsvá. Nachman e Yossef seguiram seu exemplo: todos os dias, eles pediam emprestado e pagavam pequenas quantias de dinheiro uns dos outros.

Da próxima vez que Reb Yisrael foi a Lubavitch, Rabi Menachem Mendel saiu da sinagoga e perguntou a um dos chassidim mais antigos: "Quem é aquele senhor ali?" olhando na direção de Reb Yisrael. O chassid não soube responder, pois Reb Yisrael não era muito conhecido como um dos chassidim. Terminou por descobrir que aquela pessoa era um lojista de Polotsk. Rabi Menachem pediu que Reb Yisrael fosse levado a seu escritório.

Quando Reb Yisrael entrou, o Rebe indagou-lhe sobre seu trabalho e seu horário de todos os dias. Reb Yisrael respondeu que se levantava às cinco todas as manhãs, recitava Tehilim, tomava uma xícara de chá, cortava madeira, e depois ia até a sinagoga para rezar. Depois das preces, ele estudava um capítulo da Torá, ia para casa fazer seu desjejum e em seguida ia até sua loja na praça do mercado. Na parte da tarde, ia novamente à sinagoga, para recitar as preces vespertinas, estudava mais um pouco, rezava durante o serviço noturno e voltava para casa.

O Rebe não ficou satisfeito. "Ora, e quanto a tsedacá?" inquiriu.

"Sou um homem pobre e não posso me dar ao luxo de dar tsedacá" – replicou Reb Yisrael. Após mais perguntas feitas pelo Rebe, porém, veio à tona o estranho costume de Reb Yisrael, tomar emprestado e devolver pequenas quantias.

Mais tarde, o filho de Rabi Menachem Mendel, Shmuel, perguntou ao pai "O que está procurando nele?"

O Rebe replicou: "Eu vi, ao redor deste simples lojista, Reb Yisrael, uma radiância, um pilar de luz tão grande quanto aquele da Bondade Celestial."