Chayei Sarah, חיי שרה

17/01/2014 03:26

Aspectos da 5ª

O texto desta Parashá é:

Chayei Sarah, חיי שרה - (Gênesis  23:01 - 25:18) >> Vida de Sara

 

 

 

 

O texto da Haftará é:

A haftará que acompanha esta porção é:

Salmo 45

Chayê Sharah (חיי שרה)

 
 

 

Esta parashá inicia-se com a morte de Sara aos 127 anos. Avraham decide encontrar uma esposa para seu filho Yitschac e envia seu servo à sua família, que encontra uma moça, Rivka (Rebeca) que se torna esposa de Yitzhak. Avraham acaba falecendo com a idade de 175 anos e a porção encerra-se com a descrição dos descendentes de Avraham.

   

Leitura da Torá: Chayei Sarah, חיי שרה   

6

Vida de Sara

 

 Leitura do texto

 

  Chayê Sara começa com a morte de Sara na idade de 127, e a busca de Avraham (Abraão) por um local apropriado que fosse digno de sua grandeza. Avraham recusa-se a aceitar a generosa oferta de Efron (um membro da nação chitita que vivia na terra de Israel) de dar-lhe Mearat Hamachpela na cidade de Hebron sem custo algum, e Avraham termina por pagar uma enorme soma de dinheiro pelo lote, onde finalmente sepulta sua amada esposa.

 

    Avraham envia seu fiel servo, Eliezer, de volta a seu país de origem e à sua família, a fim de encontrar uma esposa conveniente para Yitschac. Chegando à cidade de Aram Naharaim, Eliezer alinhava um plano pelo qual conseguirá selecionar uma moça recatada e generosa, apropriada para o filho de seu amo.

Eliezer reza a D'us para que Ele lhe conceda sucesso nesta missão, fazendo o plano funcionar. Decide ficar à beira do poço da cidade, esperando que uma moça lhe ofereça e a seus camelos, água para beber. Esta pessoa, que dar-se-ia ao trabalho de puxar água para um estranho e seus dez camelos, indo além do cumprimento do dever, certamente possuiria um grande caráter.

 

    Rivka passa pelo teste, e após receber presentes enviados por Avraham, ela leva Eliezer à casa de seu pai. Eliezer conta os eventos do dia à família da moça e pede a Rivca que volte com ele para desposar Yitschac. Ela aceita, e eles se casam.

Com o papel de Avraham como pai do povo judeu completado, e o manto da liderança passado à próxima geração, a porção se encerra com uma breve genealogia dos outros filhos de Avraham com sua esposa Keturá (que muitos comentaristas afirmam ser na verdade Hagar) e sua morte com a idade de 175

 

    Certa vez perguntei a um rabino em nossa yeshivá local se ele fizera quaisquer planos para a aposentadoria. Respondeu-me sucintamente: "Pretendo me aposentar quando D'us me aposentar. Até lá, não tenho planos de aposentadoria."

    Pensei sobre aquela conversa ao estudar a Porção Semanal da Torá. A Torá nos diz que Avraham (Abraão) era velho, avançado em anos (Bereshit 24:1). Literalmente, a Torá usa o termo que Avraham era "entrado em dias."

    Os comentaristas interpretam isso como significando que Avraham era capaz de fazer cada dia de sua vida ter um significado, mesmo em idade avançada. Além disso, ele podia se lembrar daquilo que conseguiu em cada um dos dias de sua vida, pois cada um deles foi um dia de conquistas; e mesmo quando envelheceu, sua paixão pelas boas ações não arrefeceu. Ainda conseguia encontrar energia e sabedoria para trazer um significado à sua existência cotidiana.

 

    As consistentes conquistas de Avraham durante sua longa vida, apesar das vicissitudes do tempo e da adversidade que teve de enfrentar, fornece um modelo a cada um de nós.

    Ao envelhecermos, não precisamos nos tornar menos produtivos, ou ficar mais lentos intelectual ou espiritualmente, nem temos de nos acostumar a dias inúteis e atividades improdutivas. Tendo Avraham como fonte de inspiração, podemos tornar estes últimos, os dias de ouro de nossa vida.

 

 

 

A Morte de Sara

 

    Depois da Akedá (sacrifício de Yitschac), Avraham voltou para sua tenda em Beer Shêva, mas não encontrou lá sua esposa Sara.

"Onde está Sara?" - perguntou aos seu servos. Estes o informaram:

"Sara viajou para Chevron (Hebron)."

Avraham foi em busca dela. Quando chegou a Chevron, ficou sabendo da triste notícia: sua mulher havia falecido.

 

O Midrash explica: Como Sara faleceu

 

    O anjo mau, Satan, apareceu perante Sara depois que Avraham havia partido rumo ao monte Moriyá junto com Yitschac, para oferecê-lo como sacrifício.

Satan tinha o aspecto de um homem comum. Suas roupas estavam empoeiradas como as de um viajante que anda pelas estradas. Contou a Sara:

"Encontrei-me com seu marido, Avraham, e não imagina o que estava fazendo. Construiu um altar e pôs seu filho Yitschac sobre ele. Yitschac chorava implorando por piedade, mas Avraham se recusou a atender às comoventes súplicas de Yitschac. Amarrou as mãos e os pés do filho e o matou."

    Sara começou a chorar. Pôs cinzas sobre a cabeça. "Meu filho Yitschac!" - exclamou ela. "Quem dera tivesse morrido em seu lugar. Mas sinto-me reconfortada e consolada porque sei que foi cumprida a palavra de D'us. D'us é justo em tudo que faz. Mesmo que meus olhos derramem lágrimas, meu coração está feliz por Avraham ter obedecido à ordem de D'us."

 

    Sara desmaiou de emoção, mas logo depois se sentiu melhor. Disse às servas:

"Viajarei a Chevron para descobrir alguma coisa mais sobre o que ocorreu com Yitschac!"

No caminho, Sara perguntava a todos que encontrava:

"Vocês viram Avraham e Yitschac?" Mas ninguém soube lhe dizer nada.

Quando Sara chegou a Chevron, Satan voltou a apareceu-lhe outra vez. Disse-lhe:

"Antes, menti a você. A verdade é que, apesar de Avraham ter amarrado seu filho Yitschac sobre o altar, não o matou no final."

Sara sentiu-se dominada por tanta felicidade com esta notícia maravilhosa que não pôde suportá-la. O coração parou de bater e ela morreu.

 

 

Avraham guarda luto por Sara

 

    Sara tinha cento e vinte e sete anos quando morreu. Viveu cada um de seus anos com integridade, aceitando todos os decretos de D'us com alegria. Mesmo aos cem anos de idade, era livre de pecados como alguém de vinte anos (que pode ser considerado livre de pecados porque com esta idade ainda não está sujeito à punição celeste).

Avraham lamentou muito sua morte. Com profundo pesar, exclamou:

"Todos devem chorar a morte desta grande tsadeket, porque D'us abençoou todas as pessoas por seu mérito.

"Sara serviu a D'us durante toda sua vida. Constantemente preparava comida para hóspedes e também os ensinava a crer em D'us.

"Durante toda sua vida, a nuvem da Shechiná (Presença Divina) pairava sempre sobre sua tenda. D'us abençoava sua massa de modo que sempre tinha pão em abundância; as velas que acendia na véspera do Shabat permaneciam acesas até a véspera do Shabat seguinte. Agora que ela não está mais aqui, tudo isto cessou."

Sara foi a primeira das quatro matriarcas, compromissadas com o Ensino da Toráh. Foi uma das sete profetisas conhecidas.

 

    As sete profetisas foram:

• Sara

• Miriam (irmã de Moshê)

• Devorá (a juíza)

• Chana (mãe do profeta Shemuel)

• Avigail (esposa do rei David)

• Chulda (que profetisava para as mulheres à época em que Yirmiyáhu profetisava para os homens)

• A Rainha Ester

Sara era tão grande que D'us falava diretamente com ela; enquanto que com outras profetisas Ele falou apenas através de mensageiros. Ela foi uma tsadeket de tal envergadura que até os anjos estavam sob seu comando. Quando ordenou ao anjo: "Golpeie", este afligiu o Faraó e toda sua casa com pragas.

Quando o rei Shelomô (Salomão) compôs a canção Êshet Cháyil, tecendo louvores à Mulher Virtuosa, aludiu a Sara. Todos os versos da canção, do primeiro ao último, referem-se a ela,...

....uma vez que cumpriu toda a Torá, do começo ao fim.

 

Avraham compra a Gruta de Machpelá

 

    Avraham conhecia o local onde desejava sepultar Sara. Havia uma gruta, perto de Chevron, onde Adam e Chava estavam enterrados. Era um lugar sagrado, chamado "Gruta de Machpelá."

Avraham se propôs a comprar a gruta de seu proprietário, que se chamava Efron. Primeiro, porém, queria pedir permissão para à tribo de Efron, os Benê Chet:

"Por favor, deixe-me comprar um pedaço da propriedade para uma sepultura," pediu a eles.

Os membros da tribo Benê Chet responderam:

"És um homem famoso, um príncipe de D'us. Daremos a ti qualquer propriedade onde desejas sepultar teus mortos."

Avraham curvou-se para agradecer a D'us. Pediu aos membros da tribo:

"Por favor, peçam ao proprietário da Gruta de Machpelá, Efron, que a venda para mim."

Quando Efron ouviu que Avraham queria comprar sua gruta, foi pessoalmente falar com ele.

"Meu senhor," disse para Avraham. "Não quero dinheiro algum pelo campo onde está a gruta. Dou-a para você de graça."

"Não," protestou Avraham, "prefiro comprá-la."

 

    Avraham sabia que Efron não falava a sério quando prometia dar-lhe a gruta de presente. Efron era um homem avarento e, em seu coração, realmente queria dinheiro em troca da gruta.

    Portanto, Avraham insistiu: "Apenas diga-me o preço e o pagarei."

"Bem, se você insiste, direi o preço." replicou Efron. "É uma quantia muito pequena - apenas quatrocentos shecalim de prata."

Na verdade, não era em absoluto uma quantia pequena - era um preço muito, muito alto. O avarento Efron cobrava de Avraham um preço exorbitante, apesar de, a princípio, ter prometido dar a gruta de graça.

 

    Avraham, porém, não regateou com Efron. Queria pagar pelo lugar sagrado o preço integral para que ninguém mais tarde afirmasse que a Gruta de Machpelá, na realidade, não lhe pertencia.

Avraham pagou a Efron quatrocentos shecalim. Depois, sepultou Sara.

Mais tarde, quando Avraham morreu, também foi enterrado na Gruta de Machpelá.

Há três lugares chave pelos quais nossos antepassados pagaram a não-judeus em dinheiro, para assegurar-se de que seriam legítimos donos das propriedades e com isso não poderiam ser acusados, mais tarde, de ter se apropriado destes ilegalmente:

• A Gruta de Machpelá, cuja transação é registrada pela Torá.

• O local do Bet Hamicdash (Templo Sagrado, em Jerusalém) foi comprado pelo Rei David de Aravna, do povo de Yevussi.

• O lugar de sepultamento de Yossef em Shechem (Nablus) foi adquirido por seu pai Yaacov.

 

 

O Midrash explica: Como a Gruta de Machpelá recebeu este nome

 

    Você sabe o significado do nome "Gruta de Machpelá"?

Quer dizer "A Gruta dos Duplos." (A palavra "Machpelá" tem a mesma origem de "caful" que significa "duplo").

 

O que era "duplo" nesta gruta?

Há muitas explicações. Abaixo encontramos algumas delas:

1. Havia um "segundo pavimento" sobre a gruta, sendo assim realmente, uma gruta dupla. (Porém somente o andar de baixo servia como local de sepultamento).

2. Não só Sara foi sepultada nesta gruta como também seu marido Avraham, mais tarde, quando faleceu. Yitschac e sua mulher Rivca também seriam sepultados lá, e assim o foram Yaacov e uma de suas esposas, Léa. Outro casal havia sido enterrado na Gruta de Machpelá, muito antes: o primeiro homem, Adam (Adão) e sua esposa, Chava (Eva).

 

    Como os sepultos na Gruta eram casais ou "duplos", a Torá a chama de Machpelá, significando "A Gruta dos Duplos."

Após a morte de Yitschac, a Gruta de Machpelá passou à posse de seus filhos, Yaacov e Essav. Havia sobrado lugar para só mais um casal. A questão era se Essav com uma de duas mulheres ou Yaacov com uma de suas mulheres seriam sepultados ali.

    Yaacov perguntou a Essav: "Que preferes, uma pilha de dinheiro de nosso pai Yitschac ou um lugar na Gruta Machpelá?"

    Essav pensou: "Por que hei de perder tanto dinheiro para ganhar um lugar de sepultamento? Por enquanto, ficarei com o dinheiro, mais tarde arranjarei um lugar de sepultura de graça."

    Essav aceitou o dinheiro de Yaacov e, com isso, perdeu o direito à Gruta de Machpelá para sempre. Mas como veremos depois (na Parashat Vaychi) Essav quis, apesar de tudo, ser sepultado na Gruta de Machpelá.

3. Quando D'us quis sepultar Adam, o corpo deste não entrava na gruta. Adam media cem amot de altura. D'us teve que dobrar o corpo de Adam para que coubesse na gruta. Esta era chamada de "Machpelá / Dupla" porque D'us dobrou o corpo de Adam.

Apesar de a gruta ser pequena, D'us queria que Adam fosse sepultado lá por ser um lugar sagrado.

Atualmente conhecemos a localização exata da Gruta de Machpelá. Fica na cidade de Chevron (Hebron), em Israel. Os judeus rezam lá para D'us e Ele ouve suas orações em mérito de nossos antepassados que ali jazem.

 

 

 

O Midrash nos conta: Como surgiram os sinais de velhice

 

    Apesar de Avraham ser idoso, tinha a aparência jovem. Até a época de Avraham, as pessoas não tinham sinais exteriores de envelhecimento. Aparentavam ser jovens até a morte. Yitschac era muito parecido com o pai, e não se conseguia identificá-los com facilidade. Avraham disse a D'us: "Mestre do Universo! Se Yitschac e eu entrarmos juntos num local, as pessoas não saberão a quem prestar honras. Se o Senhor alterasse a aparência de um homem em idade avançada, as pessoas saberiam a quem honrar."

"Muito bem," replicou D'us. "Pediste algo bom. Serás o primeiro a ver seu pedido atendido!" Apareceram, então, sinais de envelhecimento em Avraham.

 

Avraham pede a Eliêzer para achar uma esposa para Yitschac

 

Em sua velhice, Avraham tinha tudo o que podia desejar, com uma exceção: seu filho Yitschac não estava casado.

Avraham chamou seu fiel servo Eliêzer e disse-lhe:

"Meu filho Yitschac precisa de uma esposa. Confio a você a tarefa de encontrar-lhe uma.

"Porém, não escolha uma das moças dos canaanitas, porque todos eles foram amaldiçoados por Nôach (como foi mencionado na Parashat Nôach)."

"Em vez disso, vá até minha família em Charan e procure lá uma boa e digna esposa para Yitschac. Apesar dos membros da minha família adorarem ídolos, sei que são bondosos e sinceros. Por isso, uma moça de minha família terá, para começar, bons traços de caráter. Ela poderá aprender a servir a D'us e transmitir a seus filhos."

Eliêzer partiu para Charan. Avraham deu-lhe uma carta em que dizia que tudo que possuía pertencia a seu filho Yitschac. Se Eliêzer mostrasse a carta para os parentes da moça, eles, com certeza, permitiriam que casasse com Yitschac.

Eliêzer chegou a Charan antes do fim do dia. Isto foi um milagre. Normalmente, a viagem para Charan levava muitos dias. D'us fê-lo chegar lá rapidamente para ajudar Yitschac a casar-se sem demora.

 

Eliêzer põe Rivca à prova, ao lado do poço

 

    C. Diariamente, os habitantes de Charan enviavam suas filhas ao poço para lhes trazerem água e, por isso, Eliêzer sabia que lá encontraria todas as moças de Charan.

    Eliêzer rezou a D'us: "Por favor, ajude-me a encontrar a moça adequada para Yitschac!

"Yitschac necessita de uma esposa hospitaleira, que receba cordialmente os numerosos hóspedes que sempre vêm à nossa casa, que seja rápida em servi-los e tenha paciência com eles. Yitschac também precisa de uma esposa justa e compreensiva.

"Hei de testar uma das moças que estão chegando para tirar água do poço. Pedir-lhe-ei para me dar água. Se me responder: 'Beba e também darei água a seus camelos', saberei que é bondosa e hospitaleira. Interpretarei isto como um sinal de que Tu, D'us, a escolheste como esposa de Yitschac. (Mas se disser: 'Por que devo extrair água para ti?' 'Podes tirar água do poço por si mesmo!' ou 'Pede a uma das outras moças,' então ela não é a esposa generosa e amável que estou procurando)."

    D'us aceitou a oração de Eliêzer. Fez com que Rivca viesse ao poço. Ela jamais saía para tirar água do poço. Era de nobre linhagem e seu pai, Betuel, governava a região. Geralmente Rivca enviava criadas para estas tarefas. Agora, porém, os anjos de D'us dirigiram Rivca ao poço, a fim de conduzi-la a seu destino como esposa de Yitschac.

    Eliêzer observou a maneira pela qual todas as moças tiravam água. E então reparou que uma delas não precisava abaixar seu balde para dentro do poço. Ocorria um milagre e a água subia até ela. Eliêzer pensou: "Esta moça deve ser uma tsadeket, se D'us faz este milagre por ela!" Correu até ela e pediu-lhe:

"Por favor, dê-me alguns goles d'água do seu jarro."

 

Rivca passa no teste

 

    Rivca respondeu para Eliêzer respeitosamente: "Beba, meu senhor."

Quando Eliêzer terminou de beber, ela acrescentou: "Agora também darei a seus camelos toda a água que necessitam"

Eliêzer viu que esta era uma moça excepcionalmente bondosa e hospitaleira. Ela se ofereceu para dar água a dez camelos - uma difícil tarefa! Correu para o poço e encheu seu jarro repetidas vezes para ajudar um homem que lhe era estranho.

(A excepcional bondade de Rivca pode ser melhor apreciada se atentarmos à enorme quantidade de água que ofereceu-se para trazer: não apenas um jarro de água para cada camelo - o que ocasionaria que voltasse ao poço dez vezes para encher a ânfora - mas água o suficiente para que os camelos ficassem saciados.         Sabe-se que camelos bebem enormes quantidades de água de uma vez, armazenando-a em seu estômago por vários dias. Rivca cumpriu a vasta empreitada com agilidade e rapidez, sem se incomodar com o fato de Eliêzer não levantar um dedo para ajudar uma menina pequena, e ainda manter-se de lado ociosamente, enquanto ela trabalhava sozinha.)

 

    Eliêzer ficou esperando porque queria descobrir mais uma coisa: será que no final a moça pediria dinheiro pelo seu grande trabalho?

Porém, Rivca não tinha tais intenções. Quando terminou de dar de beber aos camelos, preparou-se para partir.

Rapidamente, Eliêzer ofereceu-lhe presentes caros. Estava convencido de que D'us havia enviado a moça certa.

    Eliêzer deu à futura noiva de Yitschac um aro de ouro com um diamante que pesava meio-shêkel, e dois braceletes dourados, cada um pesando dez shecalim.

Estes presentes eram uma profecia sobre o futuro. Demonstravam que Rivca se tornaria a mãe do povo compromissado coma Toráh. O diamante de meio-shêkel indicava que cada pessoa envolvida coma a Torah contribuiria ao Templo com meio-shêkel por ano. Os dois braceletes, que seria a entrega das duas tábuas, e o peso de dez shecalim indicava que sobre essas tábuas os Dez Mandamentos seriam gravados.

Eliêzer perguntou a Rivca: "Você é filha de quem? Há lugar para mim na casa de seu pai?"

Rivca respondeu: "Sou filha de Betuel. (Betuel era sobrinho de Avraham). Temos lugar em casa para que durmas e também comida para teus camelos."

Eliêzer agradeceu a D'us: "Obrigado, D'us, por ter me conduzido à moça certa da família de Avraham."

 


Eliêzer na casa de Betuel

 

    Rivca correu para casa para contar à mãe sobre o homem desconhecido da família de Avraham que precisava de um lugar para dormir e que havia lhe dado esses presentes.

    Rivca tinha um irmão maldoso, Lavan (Labão). Quando viu a irmã usando um aro de ouro e pulseiras, pensou: "Se esse homem deu presentes tão valiosos para Rivca em troca de um pouco d'água, o que não me daria se o convidasse a entrar."

Lavan correu até Eliêzer e disse: "Bem-vindo à nossa casa! Temos lugar suficiente para ti. Também tirei os ídolos da casa!"

Lavan sabia que nenhum membro da casa de Avraham entraria em um local onde houvesse imagens de ídolos.

A família de Lavan serviu a Eliêzer uma refeição. Mas quando ele sentou-se à mesa, não começou a comer de imediato. Disse:

"Primeiro, quero explicar porque estou aqui.

"Meu senhor, Avraham, é muito rico. Tem um filho excelente, Yitschac. Qualquer moça de Canaã se sentiria feliz em casar-se com ele. Mas meu senhor deseja que se case somente com uma moça de sua própria família. Por isso me enviou aqui."

Eliêzer contou-lhes como conheceu Rivca perto do poço e terminou perguntando: "Concordam em dar Rivca como esposa para Yitschac?"

"Estamos de acordo, porque vemos que D'us fez tudo isto acontecer," respondeu Lavan, irmão de Rivca.

    O pai de Lavan, Betuel, também estava presente. Betuel deveria ter respondido antes. Porém Lavan não honrava seu pai, e por isso respondeu antes dele.

Betuel era um homem mau. Pôs diante de Eliêzer um prato de comida envenenada. Queria que Eliêzer morresse para ficar com o ouro e objetos preciosos que este trouxera.

    Mas enquanto Eliêzer falava, um anjo trocou as porções de Eliêzer e Betuel, e assim, este comeu a comida envenenada. Betuel morreu nesta mesma noite.

 

Eliêzer leva Rivca para Yitschac

 

    Na manhã seguinte, ambos, Lavan e sua mãe, disseram a Eliêzer: "Queremos que Rivca fique em nossa casa mais um ano antes de partir."

Mas Eliêzer respondeu: "Não, quero que ela venha comigo agora mesmo!"

Perguntaram, então para Rivca: "Queres ir com este homem?"

 

"Sim, quero ir," respondeu. Estava feliz em deixar o irmão malvado e a casa repleta de ídolos e casar-se com o tsadic Yitschac.

Quando Rivca e Eliêzer chegaram às vizinhanças de Avraham em Canaã, Yitschac estava justamente voltando da reza de Minchá. Ele sempre rezava num certo campo onde havia silêncio e podia concentrar-se.

Nossos patriarcas instituíram as três preces diárias:

 

• Avraham - a oração matutina, Shacharit

• Yitschac - a oração da tarde, Minchá

• Yaacov - a oração noturna, Arvit

Rivca ergueu os olhos e viu um homem que parecia um tsadic. Havia um anjo sobre ele que o protegia.

Rivca desceu do camelo e cobriu seu rosto recatadamente com um véu.

"Quem é este homem?" - perguntou a Eliêzer.

"É meu senhor, Yitschac" - respondeu Eliêzer.

Eliêzer relatou a Avraham e Yitschac como D'us o ajudara a encontrar uma esposa para Yitschac.

Yitschac levou Rivca para a tenda de Sara. Percebeu, então, que ela era uma mulher justa, como fora sua mãe Sara. Pois, novamente, a luz ardia da véspera de um Shabat até o seguinte, a massa era abençoada de modo que sempre havia o suficiente, e a nuvem de D'us pairava sobre a tenda, tal como acontecia durante a vida de Sara.

Yitschac estava feliz por ter encontrado uma esposa digna.

 

O Midrash explica: Por que Sara mereceu esses milagres

 

    Sara era meticulosa na observância das três mitsvot dadas especificamente às mulheres: acender as velas do Shabat, separar a chalá da massa, e cumprir as leis relacionadas à pureza familiar. Em troca, D'us a recompensou com três bênçãos:

• Por ser cuidadosa em tirar a chalá, sua massa foi abençoada.

• Como recompensa por cumprir a mitsvá de acendimento das velas, suas luzes ardiam da véspera de um Shabat até o próximo.

• Por seguir as leis de Taharat Hamishpachá, Pureza Familiar, a nuvem da Shechiná pairava sobre sua tenda, pois o estado de pureza atrai a Presença Divina.

Todos os três sinais reapareceram para Rivca porque ela cumpria essas mitsvot com a mesma dedicação de Sara.

 

 

Avraham casa-se novamente com Hagar, que ostenta o novo nome de Ketura

 

    Enquanto Eliêzer estava em sua jornada, Yitschac também viajara. Fora buscar Hagar, para que se casasse novamente com seu pai. Yitschac pensou: "Meu pai está preocupado com meu casamento, enquanto ele próprio não tem uma esposa!"

Assim como Avraham cumpriu a ordem de D'us separando-se de Hagar e mandando-a embora, também assim o fez, casando-se novamente com ela, sob o comando de D'us.

    A Torá relata que Avraham desposou uma mulher de nome Ketura, mas na verdade, casara-se novamente com Hagar. Se Ketura era a mesma pessoa que Hagar, por que a Torá atribui-lhe um nome diferente?

    Após ter deixado a casa de Avraham, Hagar voltou à idolatria da casa de seu pai. Mais tarde, porém, fez plena e sincera teshuvá, mudando completamente sua personalidade. D'us, então, deu-lhe outro nome, "Ketura." Este novo nome foi escolhido por indicar seus atos positivos:

• Ela segregou-se, e absteve de relacionar-se com outros homens durante todos os anos em que esteve separada de Avraham (keter = isolou-se).

D'us ordenou a Avraham que tomasse novamente Hagar como esposa porque sabia que ela merecia unir-se a Avraham.

 

 

Avraham morre e é sepultado por Yitschac e Yishmael

 

    Avraham morreu quando já era um ancião que tinha tudo o que podia desejar. Viu, inclusive, seu filho Yishmael fazer teshuvá antes de morrer.

Yitschac e Yishmael sepultaram-no na Gruta de Machpelá, ao lado de Sara.

    D'us recompensou Yishmael, por ter vindo do deserto, especialmente para prestar as últimas honras em respeito a seu pai. Em retribuição, D'us honrou-o, enumerando a progênie de Yishmael, nos últimos versículos desta parashá.

 

Os louvores à Avraham

 

    Quando Avraham faleceu, todos os grandes povos dentre as nações enlutaram-se. "Ai do mundo, que perdeu seu líder, e ai do navio que perdeu seu capitão!"

Durante sua vida Avraham rezara por mulheres estéreis, e estas engravidaram; pelos doentes, e ficaram curados. Até navios navegando no longínquo oceano foram salvos, pelo mérito de Avraham.

    Apesar de o mundo inteiro negar a existência de D'us, conseguiu ser o único em sua crença, e afirmar a Onipotência de D'us. Por causa disso foi chamado de Avraham "Ha'ivri" (o hebreu), significando o homem que permanece de um lado (ever = lado), enquanto o mundo inteiro une forças contra ele.

Quando Avraham morreu, D'us louvou-o da seguinte maneira: "Avraham era um tsadic tão grande que, se não fosse por ele, Eu não teria criado o Céu e a Terra."

Por dois mil anos após a Criação do Mundo, D'us estava aborrecido com as pessoas que adoravam ídolos. Quando Avraham nasceu, D'us se alegrou, pois Avraham ensinou a dezenas de milhares de pessoas a servirem-No

Avraham sabia como curar doentes com diversos tipos de remédios (segulot). Acima de tudo, curava aqueles cuja "mente estava doente," os que não acreditavam em D'us. Ele os ensinava a acreditar no Criador.

    Avraham foi posto à prova por D'us dez vezes e superou todas elas.

Compreendeu e seguiu a Torá muito antes da Outorga da Torá, ensinando-a a seus filhos.

Não houve um dia sequer, em toda a sua vida, em que não realizou um ato de santificação do Nome Divino (Kidush Hashem).

 

 

 

        A porção desta semana da Torá intitula-se Chaiê Sara, literalmente "a vida de Sara". Começa, no entanto, com o falecimento de nossa primeira matriarca: "E Sara faleceu em Kiryat Arba, que é Hebron, na Terra de Canaã."

        Segundo o texto místico judaico fundamental, o Zohar, Sara simboliza o corpo, enquanto Avraham simboliza a alma. Nesse contexto, o Zohar explica que o versículo descreve a morte do corpo. O fato de que "Avraham foi prantear e chorar por Sara " indica que a alma chora mesmo após a morte do corpo, pois permanece relacionada ao corpo.

        Anteriormente na Torá, quando Avraham questionou a decisão de Sara em afastar seu filho Ishmael, D'us disse a Avraham: "Tudo que Sara disser a você, ouça sua voz." Segundo o Zohar, então, pareceria que a alma deve escutar o corpo!

Qual é o "relacionamento funcional" entre a alma e o corpo?

    Mitsvot – mandamentos – são dadas à alma, mas somente às almas que foram trazidas a corpos. As mitsvot em si são cumpridas por intermédio de objetos materiais. Isso se aplica não apenas a mitsvot envolvendo um ato físico, mas também àquelas mitsvot que são essencialmente deveres do coração – como o amor e temor a D'us, ou deveres da mente, ou seja, a crença na unidade de D'us. Esta, também, deve ser realizada pelo coração e mente físicos.

    É possível meditar e contemplar todas as intenções de uma mitsvá e mesmo assim não cumprir realmente a mitsvá. Por exemplo, pode-se ter todas as devoções relacionadas ao tefilin, sem realmente colocar o tefilin, ou fazer tudo relacionado com as velas do Shabat sem realmente acendê-las. Obviamente, isso seria não apenas uma falha no cumprimento da mitsvá, mas uma verdadeira transgressão – ao negar a mitsvá. Por outro lado, se alguém cumpre uma mitsvá sem contemplar qualquer uma das devoções envolvidas, embora devesse ter tido estes pensamentos em mente, pelo menos cumpriu a mitsvá.

    Nossa maior preocupação, porém, é com o corpo. Embora isso não seja totalmente aparente agora, na Era Messiânica se tornará muito mais óbvio. De fato, neste tempo, a alma na verdade extrairá sua vitalidade do corpo.

 

"Ele desposou Rivka, ela tornou-se sua esposa, e ele a amou"

Bereshit 24:67

O que é amor? 

        Na porção da Torá desta semana, ouvimos que Yitschac casou-se com Rivka e então ele a amou. Parece fora da seqüência a que estamos acostumados. Não seria mais lógico para Yitschac primeiro amar Rivka e depois casar-se com ela?

    Talvez possamos aprender uma lição sobre o amor das ações de Yitschac. Na sociedade de hoje, dizemos a palavra "amor" de forma tão informal e banal. Usamos o termo indiscriminadamente, tornando-o sem sentido. Conte o número de vezes que você diz a palavra "amor" durante um dia, e ficará surpreso. Frases do tipo : "Amei aquele vestido" ou "Amo sorvete de chocolate com calda quente" são ouvidas a todo momento. Mas na verdade, pode-se amar um objeto inanimado? 
    Mesmo se dizemos amar uma pessoa, outro ser humano, nós o amamos realmente pelas razões certas? Ou idealizamos nossa própria definição de amor ao pensar: amo-a porque é linda", ou "amo-o pelo dinheiro que tem"? 

        Yitschac nos está lembrando do verdadeiro significado do amor. Muitas vezes, as pessoas se apaixonam, casam-se, e o relacionamento começa a azedar a partir daí. Yitschac nos ensina que ao invés de sermos apanhados pelo amor, deveríamos construir o amor. Um relacionamento entre marido e mulher deveria ser dinâmico. Não deveríamos "mergulhar" no amor, e depois vê-lo cair de intensidade. Este versículo nos diz que quando Yitschac se casou, o amor estava apenas começando. Seu amor por Rivka crescia a cada dia, não conhecendo amarras ou limitações. Seu amor era real; não era estático, nem tornou-se murcho, dependendo do que Rivka estava vestindo ou das circunstâncias em que estivessem. Era um amor duradouro, um amor que deveríamos tentar imitar.

 

 

       No final da Porção da Torá, Chayê Sarah, (Bereshit 23:1-25:18) lemos sobre o casamento de Yitschac e Rivca. Como este é o primeiro casamento a ser narrado em detalhes pela Torá, podemos esperar que transmita percepções sobre a essência do relacionamento no matrimônio.


    Um aspecto dos mais curiosos sobre o relacionamento entre Yitschac e Rivca é que pelos três anos anteriores ao casamento Yitschac literalmente desaparece. Um sumário sobre a vida de Yitschac nos deixa com uma lacuna de quase três anos. A Torá nos relata que ele tinha sessenta anos de idade quando seus dois filhos gêmeos, Essav e Yaacov, nasceram (Bereshit 25:26). 

    Segundo o Midrash, no entanto, o avô dos gêmeos, Avraham que faleceu aos 175 anos (ibid. v. 7), morreu no dia em que eles completaram treze anos (Midrash Rabá Bereshit 63:10) e 63:12); como Yitschac nasceu quando Avraham contava cem anos (Bereshit 21:5), isso significaria que Essav e Yaacov nasceram quase 63 anos depois do nascimento de Yitschac. Em outras palavras, quando Yitschac completou sessenta anos, perto de 63 anos já tinham se passado desde o tempo de seu nascimento. De alguma forma, ele tinha "perdido" três anos de sua vida.

      Uma das explicações oferecidas por nossos Sábios é que antes do casamento com Rivca (aos quarenta anos), Yitschac passou três anos no Jardim do Éden. Durante esse tempo, levou uma existência inteiramente espiritual, de modo que estes anos não são contados como parte de sua vida física.

        Embora poucos de nós possamos nos esforçar para imitar o exemplo de Yitschac em seu sentido supremo, as implicações são claras: um pré-requisito para o relacionamento do casamento é que a pessoa deve primeiro devotar um determinado período de tempo exclusivamente aos assuntos espirituais e Divinos, com o mínimo de envolvimento nos aspectos materiais da vida.O Edifício Impossível

    O próprio casamento parece ser exatamente o oposto disso: um tempo de mergulho intensificado no material. É um tempo no qual a pessoa começa a engajar o mais físico dos impulsos humanos; é também um tempo no qual é forçado a envolver-se, seriamente, em ganhar o sustento, muitas vezes às custas de objetivos mais elevados e mais idealistas. Na verdade, o Zohar considera o casamento como um segundo nascimento da pessoa; primeiro, a alma entra no corpo e assume uma existência física; depois, num ponto mais avançado da vida, a alma "desce" ao estado físico por intermédio do casamento. Mesmo assim (na verdade, como veremos, por causa disso), o casamento é a estrutura dentro da qual o aspecto mais Divino do potencial humano é realizado.

    A tradicional bênção dada ao noivo e à noiva é que eles mereçam "construir um edifício eterno." 
Pelo casamento vem a criação da vida humana – vida com o potencial de produzir mais uma geração de vida, que por sua vez proporciona outra, e assim por diante. O poder da reprodução nos apresenta uma impossibilidade lógica: como pode uma entidade finita conter dentro de si um potencial infinito? Na verdade, nossos Sábios disseram: "Há três parceiros na criação do homem; D’us, o pai e a mãe." D’us, o único ser realmente infinito, fez o impossível: imbuiu o homem finito com uma qualidade infinita. No casamento, duas criaturas finitas e temporais estabelecem um edifício infinito e eterno.

    Portanto, não é por acidente que a qualidade que o homem mais imita em seu Criador seja realizada somente por meio de uma "descida" até o material. Pois assim é com o próprio D’us: a infinita natureza de Seu poder é expresso mais fortemente com Sua criação do universo físico. Um ser verdadeiramente infinito não é limitado por quaisquer definições e parâmetros: ele é encontrado em todo e qualquer lugar, mesmo nos mais confinado e corpóreo dos ambientes. A criação dos mundos sublimes e abstratos por D’us não pode transmitir o infinito alcance de Seu poder na mesma maneira que pode Sua criação de – e Seu constante envolvimento com – nossa existência "inferior" e finita.

        O mesmo se aplica ao poder da criação investido no ser humano. Devido à sua natureza divinamente infinita, ele pode e encontra realização na área mais física da vida humana.

Prelúdio Espiritual

    O ser humano recebeu o livre arbítrio. Portanto, quando um homem e uma mulher unem suas vidas, cabe a eles decidir o que fazer com o Divino presente da procriação. Eles podem escolher desperdiçá-lo num relacionamento sem conteúdo espiritual – uma relação na qual eles se tornam apenas mais envolvidos com o material e somente no sentido mais básico e biológico. Ou eles podem optar em investir no esforço de construir um relacionamento altruísta e generoso, e um lar com uma família comprometida com os valores eternos estabelecidos pelo Criador da vida.

    Esta é a lição do desaparecimento de Yitschac da vida física antes de seu casamento. A fim de assegurar que a "descida" da pessoa até o casamento proporcione os resultados desejados, deve ser precedido por um período de preparação espiritual. Embora a missão do homem na vida seja o desenvolvimento positivo do mundo material, deve-se entrar na arena do material bem equipado com a visão espiritual do propósito Divino, e com a força espiritual para cumpri-lo

 

 

        O final da porção desta semana da Torá, Chayê Sara, nos fala do falecimento de Avraham e da ordem de sucessão de seus descendentes: "E Avraham legou tudo que possuía para Yitschac." Yitschac, único filho de Avraham com sua amada Sara, foi escolhido para continuar o novo caminho que ele tinha forjado no serviço de D’us.     Os filhos das concubinas de Avraham, no entanto, receberam apenas legados insignificantes da fortuna do pai: "Porém para os filhos das concubinas… Avraham deu presentes, e mandou-os para longe de Yitschac, seu filho."


Yitschac foi designado herdeiro do pai, apesar de ser mais jovem que Ishmael e os outros.
A Haftará desta semana contém um incidente similar que ocorreu próximo ao fim da vida do Rei David. Quando Adoniyáhu, o filho mais velho de David, procurou usurpar o trono do pai, Batsheva lembrou David do juramento que ele fizera de que Salomão, o filho mais novo, reinaria. O Rei David concordou em honrar a promessa e Batsheva declarou: "Que meu senhor, o Rei David, viva para sempre!"

Qual o significado destas duas escolhas? Quando Avraham designou Yitschac como herdeiro, concedeu-lhe o relacionamento especial que desfrutava com D’us, a "preferência" essencial que ele legaria a seus filhos depois dele. A opção de Avraham por Yitschac permitiu que toda pessoa compromissada com a Torah adquirisse aquele mesmo vínculo eterno com D’us por direito de nascimento, um elo imutável que jamais pode ser rompido.

        Similarmente, a declaração de Batsheva: "Que meu senhor, o Rei David, viva para sempre!" é uma expressão da promessa de D’us de que "o reinado jamais será tirado da descendência de David." O domínio sobre o povo compromissado com a Torah pertence somente aos descendentes do Rei David através de seu filho Salomão, um dos quais é o Rei Mashiach.

        A ligação comum entre estes dois incidentes é o princípio subjacente de que as ações de um D’us imutável são eternas e imutáveis. Assim como as experiências do Próprio D’us não mudam, assim também Suas opções são fixas e imutáveis. A declaração de Batsheva: "Que meu senhor, o Rei David, viva para sempre!" será plenamente cumprida quando o Rei Mashiach despertar e nos dirigir na Redenção Final.

    De fato, acreditamos que a integridade do povo Compromissado coma Torah está conectada ao conceito de soberania, pois foi somente depois que os descendentes do Rei David foram escolhidos para governar que a nação ficou em paz, o Templo Sagrado foi construído em Jerusalém e a Divina Presença de D’us habitou no Templo. Da mesma forma, a Redenção Final do povo somente começará quando o supremo Rei da Casa de David despertar, para iniciar a colheita dos Exílios e construir o Terceiro Templo Sagrado, definitivo e indestrutível, brevemente em nossos dias.

 

 

    Na vida, as pessoas freqüentemente pensam que os fatos acontecem por pura coincidência. Não percebemos que na verdade é a mão de D’us que faz com que as coisas aconteçam em momentos aparentemente não auspiciosos. 

    Na porção da Torá desta semana, temos um excelente exemplo deste fenômeno. Eliezer, após ser instruído por Avraham para encontrar uma esposa apropriada para Yitschac, reza a D’us para que guie os acontecimentos para que seja encontrado o par perfeito. Nem bem tinha ele formulado esta súplica quando Rivka apareceu, agindo de uma forma que demonstrou bondade, no beneficente tratamento ministrado a Eliezer e seus camelos. 

    A Torá relata: "E foi quando ele não tinha ainda terminado de falar que Rivka saiu de repente…" 
(Bereshit 24:15). Rabeinu Bachya enfatiza que a palavra hebraica para "ele" usada no versículo parece supérflua, e que ao invés de referir-se a Eliezer, "ele" refere-se a D’us. Desta maneira, este versículo conta como D’us intercedeu para assegurar-se de que Eliezer "encontraria" Rivka no momento oportuno. Além disso, os comentários explicam que devido ao recato de Rivka, ela raramente aventurava-se até o poço, mas D’us fez com que ela fosse, naquele dia específico.

    Se uma cena similar tivesse lugar nos dias de hoje, a pessoa poderia não perceber como este evento foi providencialmente dirigido. Os observadores poderiam ver um encontro entre duas pessoas como algo fortuito – um incidente casual de "rapaz encontra garota". Entretanto, é importante perceber que no esquema mais amplo das coisas, tal incidente não pode ser visto como sendo algo simples; A parceria (shiduch) de Yitschac e Rivka é um excelente exemplo de D’us trabalhando nos bastidores e direcionando os acontecimentos do mundo. 

    Talvez esta narrativa da Torá represente mais efetivamente o termo judaico "basheirt", geralmente usado em referência ao futuro cônjuge de alguém, que será encontrado na hora "apropriadamente estabelecida", e de forma mais geral referindo-se ao conceito de que tudo flui da vontade de D’us. 
    Desta maneira, a descrição do impressionante encontro entre dois dos mais importantes progenitores do povo judeu deveria nos sensibilizar, a fim de que percebamos que a cada fato da vida, a cada encruzilhada de incertezas, e a cada momento de interação, existem eventos que não são meramente acidentais, mas sim exemplos da ativa participação de D’us em nossas vidas do dia-a-dia. As coisas acontecem por uma razão; porém contando apenas com nossa limitada sensibilidade espiritual, nem sempre reconhecemos seu propósito.

 

 

    Os fatos relatados na porção Chayê Sará da Torá ocorrem todos após a morte de Sará. Não apenas isso - eles parecem todos sublinhar o fato da sua morte. Primeiro lemos sobre o sepultamento de Sará na Gruta Machpelá em Hebron. A seguir, temos a história da escolha de Rivca (Rebeca) para esposa de Yitschac e de como ela tornou-se a matriarca da família de Avraham em substituição à Sará. A Torá então relata o retorno de Hagar - a quem Sará havia banido da casa de Avraham.

    Mesmo assim, Chayê Sará significa "a vida de Sará" ! De que maneira isso pode se reconciliar com o conceito de que o nome de uma porção da Torá expressa seu tema e mensagem essenciais

 

    A vida como a conhecemos se estende além da morte? Isso depende daquilo que considera vida. Se a vida, para você, é conseguir o máximo que puder de seus recursos para si mesmo, você tem um tempo limitado no qual conseguir o máximo que puder, e então fecham-se as cortinas e acaba o espetáculo. Se vida, para você, significa fazer uma diferença na vida do próximo, então você viverá para sempre.

    Ocorre que muitas pessoas crêem na vida após a morte. Duas pesquisas levadas a cabo pelo Instituto Gallup concluíram que 79% dos americanos acreditam que depois que morrerem suas almas serão julgadas e mandadas ao céu ou ao inferno, e que 33% acreditam em fantasmas. Uma pesquisa pela Internet nos informa que 38% dos participantes crêem em reencarnação (embora apenas 26% ache que eles mesmos merecerão este privilégio).

    A mensagem destas pesquisas não está muito clara. Ao mesmo tempo em que demonstram um certo otimismo quanto à continuidade de nosso precioso "eu", sugerem também que nossa existência atual está fadada à obsolescência. Podemos viver como uma aparição fantasmagórica, ou ainda como o gato da vizinha; mas até um certo ponto, o senso comum concorda que a vida, como a conhecemos, chegará a um final.

A tradição judaica fornece um cenário mais encorajador. Embora o conceito judaico da vida futura inclua céu e inferno (mesmo que muito diferentes daqueles clubes de campo nas nuvens e fornalhas subterrâneas retratados nas caricaturas da imprensa), a reencarnação e mesmo dibuc, sua característica central é techiyat hametim, a vivificação dos mortos. Techiyat hametim declara que na era messiânica nossas almas serão devolvidas a nossos corpos ressurrectos. Em outras palavras, a vida com nossa própria alma habitando nosso próprio corpo - basicamente a vida que conhecemos atualmente - prosseguirá.

 

    Porém os sábios do Talmud vão mais longe que isso, declarando que há um nível no qual a vida se estende para além da morte, sem interrupção. "Moshê não morreu," declaram categoricamente; "Nosso pai Yaacov não morreu," apesar do fato de que os encomiastas elogiaram, os embalsamadores embalsamaram, e os coveiros sepultaram." A menos que se interprete estas declarações de modo alegórico, Rashi (Rabi Shelomô Yitschaki, 1040-1105, o mais notável dos comentaristas bíblicos e talmúdicos), explica: "Ele lhes parecia morto, mas na verdade estava 

 

    O mestre chassídico Rabi Schneur Zalman de Liadi explica que a vida, como a conhecemos, de fato pode sobreviver à morte; a questão é apenas que tipo de vida conhecemos antes da morte.

    Quando você se sente mais vivo? O que é a vida para você - uma boa xícara de café, o odor do pão assando, um passeio no parque em um dia banhado de sol? Ou é a experiência de ver um projeto no qual trabalhou por meses finalmente se concretizar, ou quando você se esforça para explicar algo a seu filho e subitamente vê a luz da compreensão brilhando em seus olhos?

    Os prazeres da vida são muitos e variados, mas podem ser divididos em duas categorias principais: a satisfação de um desejo ou necessidade pessoal, ou causar um certo impacto nas vidas dos outros. O primeiro tipo oferece muitos momentos gratificantes, mas nada pode se igualar à realização que vem quando você faz a diferença na vida de outras pessoas, quando o mundo torna-se diferente - melhor, mais sábio, mais sagrado - por causa de algo que você fez.

    A primeira categoria cessa com a interrupção da vida física. Se você está morto e enterrado, não há mais passeios no parque. Porém seu impacto no mundo continua. Se você ensinou algo a alguém, aquela pessoa agora o está ensinando a uma outra pessoa. Se você agiu bondosamente com alguém, a pessoa ainda se sente bem a respeito daquilo, ou é um ser humano melhor por causa disso, e está agindo de forma mais bondosa com outros. Se você fez do mundo um local melhor, este melhoramento agora está sendo aperfeiçoado para tornar o mundo um lugar ainda melhor.

    Então "a vida como a conhecemos" se estende além da morte? Isso depende daquilo que considera vida. Se a vida, para você, é conseguir o máximo que puder de seus recursos para si mesmo, você tem um tempo limitado no qual conseguir o máximo que puder, e então fecham-se as cortinas e acaba o espetáculo. Se vida, para você, significa fazer uma diferença na vida do próximo, então você viverá para sempre.

 

    Esta é a mensagem da leitura de Chayê Sará da Torá, na qual "A Vida de Sará" ocorre após sua morte. Ostensivamente, os eventos de Chayê Sará enfatizam o fato de que Sará não é mais; entretanto, na verdade proclamam que Sará está viva.

    Juntamente com Avraham, Sará foi pioneira no assentamento judaico da Terra de Canaan; como está descrito no capítulo introdutório de Chayei Sará, seu sepultamento na Gruta de Machpelá representou a primeira posse real de um pedaço de solo na Terra Santa. Sará devotou sua vida à criação da primeira família compromissada com a Toráh; a história da escolha de Rivca demonstra como a sucessora de Sará personificou os ideais sobre os quais Sará fundou o lar Compromissado com a Torah. Mesmo o retorno de Hagar expressa a extensão do impacto de Sará na história judaica; o banimento de Hagar e Ishmael feito por Sará foi para remover uma ameaça à integridade de Yitschac como herdeiro de Avraham. A volta de Hagar, como descrita nos versículos de encerramento de Chayê Sará, conseguem exatamente aquilo - estabelecer Yitschac como aquele que manteve viva a tocha do legado de Avraham.

Dessa maneira, o nome Chayê Sará expressa a verdadeira importância desta porção da Torá. De fato, nenhuma das porções anteriores da Torá que relatam os eventos da vida de Sará antes da morte podem merecer o nome "A Vida de Sará." Descrevem o que, por si mesma, pode ser vista como uma vida temporal - uma vida com início e fim, uma vida confinada a um corpo específico, com uma duração específica. O verdadeiro Chayê Sará vem à luz nos fatos que se seguiram à sua morte, quando a eternidade de sua vida é revelada.

 

    O que você faz se tem uma visão, e está determinado a ver aquela visão implementada na vida de cada homem, mulher ou criança na face da terra? Somente você pode fazer os outros verem aquilo que você vê, apenas você pode comunicar sua urgência, e somente você pode partilhar a motivação e determinação de fazer isso acontecer. Mas você é um único indivíduo. Como unir a distância, para não mencionar os desdobramentos culturais e psicológicos que o separam deles?

"Desde o tempo em que eu era uma criança que freqüentava o chêder," declara o Rebe numa carta que escreveu em seu 54º aniversário em 1956, "e até antes disso, começou a tomar forma em minha mente a visão da futura redenção: a redenção de Israel de seu último exílio, uma redenção tal que explicaria o sofrimento, os decretos e os massacres do exílio."

    A Redenção, está claro, não é apenas a visão de uma criança extraordinária crescendo em Nicolayev, uma cidade castigada por pogroms, na primeira década do século vinte. A visão de um mundo futuro livre de ignorância, sofrimento e conflitos - um mundo que incorpora e exibe a bondade e perfeição de seu Criador - é o tema de numerosas profecias bíblicas e da aspiração de uma centena de gerações de judeus. Mas nenhum homem na história recente fez desta visão o centro e a substância de sua vida, e conquistou tanto no rumo de sua concretização, quanto o Rebe o fez.

Ao assumir a liderança,  estabeleceu para si uma meta: atingir todas as pessoas na face da terra e inspirá-las a se voltar para a Torá como a luz guia através da qual atingiria a redenção pessoal e global. Para chegar a este objetivo, o Rebe inventou o shaliach.


O homem é uma criatura contraditória.

Por um lado, o ser humano é a mais individualista das criações de D'us. Outras formas de vida se satisfazem em saber se seu labor diário lhes assegura alimento e abrigo; nós queremos saber: "Meus talentos são devidamente utilizados?" e "Estou produzindo algo que seja reconhecidamente de minha autoria?" Outras criaturas labutam para sobreviver e perpetuar a espécie; nós nos esforçamos para conseguir também o reconhecimento, a plenitude e a "auto-realização."

Por outro lado, estamos constantemente buscando a união e a fusão com algo que seja maior que nós mesmos: uma comunidade da qual possamos fazer parte, uma personalidade ou causa a qual possamos nos submeter e servir. Em nosso âmago existe uma ânsia pela auto-renúncia - um desejo de evitar as armadilhas do ego e ser absorvido dentro do universal e do Divino.

Empregadores, líderes políticos e comandantes militares - qualquer um que precise motivar outras pessoas a cumprirem suas ordens - geralmente possuem um ou outro destes traços de personalidade. Um patrão poderia, por exemplo, encorajar a criatividade, a iniciativa e a obtenção de "o melhor de si" no local de trabalho. Ou poderia tomar uma atitude oposta, enfatizando o trabalho da equipe e a lealdade à companhia, desta forma canalizando a ânsia instintiva de seus funcionários por um identidade que transcenda o nível pessoal.

Cada abordagem tem suas falhas e limitações. Pois enquanto cada qual cultiva uma das qualidades humanas básicas acima citadas, também vai em direção contrária à outra propriedade, não menos fundamental, da alma humana.

E aqui entra a abordagem do shaliach.


Shaliach - a palavra significa "agente" ou "emissário" - é um termo haláchico (legal segundo a Torá) para uma pessoa habilitada por outra a agir em seu nome. O shaliach primeiro aparece na Torá na pessoa de Eliêzer, a quem Avraham encarregou de encontrar uma mulher para seu filho, Yitschac. Rivca (Rebeca) foi selecionada e prometida como esposa de Yitschac por Eliêzer - ela tornou-se legalmente esposa de Yitschac sem que o verdadeiro marido tivesse posto os olhos sobre ela, ou que tivessem trocado uma única palavra. Segundo o Talmud, "o shaliach de alguém é como se fosse ele próprio."

Existe um modelo haláchico (o eved ou "escravo") para alguém que renunciou à sua vontade, personalidade e à própria identidade em favor daquela de seu "amo." Existe também o modelo do "empregado" (sachir), que assume a obrigação de realizar uma certa tarefa para alguém mais, mas cuja identidade e personalidade permanecem separadas e distintas da personalidade e identidade de seu "empregador." O shaliach é singular, no sentido de que ele ou ela retém uma grande nível de autonomia no cumprimento de sua missão, e ao mesmo tempo torna-se uma extensão virtual da pessoa que o incumbiu (o meshaleach).

 

    shaliach não renuncia a seu intelecto, vontade, desejos, sentimentos, talentos e "estilo pessoal" em favor daquele que representa; ao invés disso, utiliza-os no cumprimento de sua missão. O resultado disso não é um vínculo mais fraco entre os dois, mas o contrário: o meshaleach está agindo através do shaliach por completo - não apenas através das ações físicas do shaliach, como também através da personalidade do shaliach, que tornou-se uma extensão da personalidade domeshaleach.

 

    No papel de shaliach, está intrínseco o desafio de trazer sua própria iniciativa, talentos e criatividade à tarefa, que brotassem das inclinações e pontos fortes específicos do shaliach, e das necessidades e circunstâncias particulares de sua localidade.

 

    Nunca antes na história de nosso povo, um homem construiu um séquito tão grande em números, tão diverso, tão altamente motivado, e com tanto sucesso na continuação de sua visão. No âmago deste sucesso fenomenal está um aparentemente benigno caso legal, usado pela primeira vez há mais de 3600 anos, quando Avraham enviou Eliêzer para encontrar uma esposa para seu filho.


 

Versículo 24:42
 
"Hoje vim até o poço…" 
    Disse Rabi Acha: As conversas dos servos da família dos pais (i.e., dos Patriarcas) são mais desejáveis que o estudo de Torá das crianças, pois a história de Eliezer é contada por completo duas vezes na Torá, enquanto que muitos corpos da lei são transmitidos com uma simples alusão.
 
    Dois escritores procuraram Rabi Israel de Ruzhin para pedirem cartas de recomendação para suas respectivas obras. Um deles havia compilado uma brilhante tese talmúdica, cheia de idéias originais e profundas; o outro trouxe um livro de histórias extraídas das vidas dos justos. Rabi Israel deu precedência ao autor do livro de histórias, e apenas mais tarde tratou da obra talmúdica.

    Explicou o Ruzhiner: "A Torá também se inicia com contos dos justos – o Livro Bereshit – e apenas depois enumera suas leis e preceitos. Na verdade, a própria primeira mitsvá não aparece até boa parte do Livro Shemot!

"Estes dois escritores são homens de grande destaque e cada um deles presenteou-me com uma obra muito valiosa. Mas uma delas consiste das façanhas do autor na Torá, ao passo que o outro é um registro das façanhas de D'us neste mundo…"
 
 
Versículo 23:4
 
Peregrino e morador sou eu entre vós.
 

    Dentre os seguidores de Rabi Israel Báal Shem Tov, fundador do movimento chassídico, havia um judeu que cuidava da terra num pequeno vilarejo rural perto de Mezeritch. O fundador do chassidismo tinha uma empatia especial por estes simples judeus do campo, a quem tinha em alta conta pela sua integridade, honestidade e inequívoca fé em D'us. Assim, sempre que o aldeão mencionado ia passar um Shabat com seu Rebe, tinha uma recepção calorosa e cheia de afeição.

    Ao final de uma destas visitas, o Báal Shem Tov pediu-lhe: "Por favor, ao voltar para casa, pare em Mezeritch. Gostaria que levasse minhas recomendações a um de meus mais queridos e notáveis seguidores, o erudito e piedoso Rabi Dovber."

O aldeão ficou encantado em poder ser útil a seu querido Rebe. Assim que chegou a Mezeritch começou a procurar o grande Rabi Dovber, mas ninguém parecia saber de "o grande Rabi Dovber" entre os eruditos e místicos da cidade. Finalmente, alguém sugeriu que tentasse um certo Reb Ber, um professor empobrecido que vivia nos arredores da cidade.

    O aldeão foi levado à uma rua sem saída na parte mais pobre do lugar. Ao longo de ambos os lados da rua esburacada e cheia de lama, havia fileira após fileira de casebres, encostados um no outro para apoio. Lá encontrou a casa do professor, um velho e desmantelado barraco com painéis quebrados ocupando a maior parte de suas minúsculas janelas.

    Lá dentro, uma cena de pobreza de cortar o coração feriu seus olhos: um homem de meia-idade sentava-se sobre blocos de madeira, a uma 'mesa' que consistia de um prancha grosseira colocada sobre outros blocos de madeira. À sua frente, sentavam-se fileiras de crianças do Chêder em 'bancos escolares' - também uma montagem engenhosa de blocos e pranchas. Mas a majestosa face do professor não deixou dúvida na mente do aldeão que de fato encontrara o homem que estava procurando.

    Rabi Dovber saudou seu visitante calorosamente e pediu-lhe perdão - talvez quisesse voltar mais tarde, quando tivesse terminado de ensinar os alunos?

Quando o aldeão voltou naquela noite, a 'mobília' do barracão transformado em sala de aula havia desaparecido: as pranchas e blocos tinham sido rearrumados como 'camas' para o professor. Rabi Dovber sentava-se sobre o único bloco remanescente, imerso em um livro que segurava nas mãos. Rabi Dovber agradeceu ao hóspede por trazer-lhe notícias do Rebe e convidou-o a sentar-se, apontando para uma mesa transformada em cama ali perto.

Nesta altura, o aldeão não pôde mais se conter; ultrajado pela pobreza esmagadora, explodiu: "Rabi Dovber, que posso dizer? Como consegue viver desta forma? Estou longe de ser rico, mas pelo menos em minha casa existem, graças a D'us, as necessidades básicas: algumas cadeiras, uma mesa, camas para as crianças..."

"Verdade?", disse Rabi Dovber, "Mas por que não estou vendo sua mobília? Como consegue ficar sem ela?"

"O que quer dizer? Acha que ando por aí arrastando meus móveis comigo para onde vou? Ouça, enquanto viajo, arranjo-me com aquilo que está à mão. Mas em casa - no lar de uma pessoa, é inteiramente diferente!"

"Mas não somos todos viajantes neste mundo?" disse Rabi Dovber gentilmente. "Em casa? Ah, sim... em casa, é um problema totalmente diferente..."

 

 

 

Fonte:  Talmud
            Midrash
            Pirke avot
            Torah
            Bíblia