Ki Tissá

23/01/2014 17:00

Ki Tissá

Aspectos da 21ª parashá: כי תשא>> Ki Tissá

O texto desta Parashá é: Exôdo Tetsavê - Êxodo 30:11-34:35 >> Quando contares

 

O texto da Haftará é: ( Yejezkel Ezequiel 28:25–29:21);

            D'us descreve a Moshê o kiyor de cobre (lavatório e base) na qual os Cohanim santificarão suas mãos e pés antes de servirem no Mishcan. É também discutido o azeite para unção que seria usado para santificar os vários utensílios para uso normal. A isso segue-se a receita para o ketoret, insenso aromático a ser queimado duas vezes ao dia. D'us designa Betsalel, da tribo de Yehudá, e Oholiyav, da tribo de Dan, a supervisionar a construção do Mishcan que está para ser iniciada. A mitsvá do Shabat é então repetida para advertir a nação de que mesmo a construção do Mishcan não suplanta a observância do dia semanal de descanso.

 

            A Torá retorna à narrativa da Revelação no Monte Sinai, e descreve o terrível pecado do bezerro de ouro. D'us atende às preces de Moshê para que os filhos de Israel sejam poupados da aniquilação por sua grave transgressão, e Moshê desce da montanha com as duas Tábuas dos Dez Mandamentos.

            Ao testemunhar uma parcela da população dançando ao redor do Bezerro de Ouro, Moshê quebra as Tábuas e queima o ídolo, iniciando o processo de arrependimento. Como resultado da queda do povo de seu patamar espiritual elevado, D'us anuncia que Sua presença não pode residir entre eles.

        Moshê é forçado a mudar temporariamente a tenda para fora do acampamento, para que D'us continue a se comunicar com ele. Moshê novamente sobe à montanha para rezar a D'us para que perdoe o povo judeu, e lhes devolva o status de povo escolhido. Moshê finalmente retorna com o segundo conjunto de tábuas e um pacto renovado com D'us; sua face aparece resplandecente como resultado da revelação Divina.

 

 

 

            Ao examinar esta Porção da Torá, é interessante notar que a mitsvá de construir o Mishcan veio após a Revelação do Monte Sinai. O ponto focal do Mishcan era a Arca Sagrada, que continha as duas Tábuas. Não faria mais sentido primeiro preparar o local para colocar as Tábuas e então recebê-las? Por que o Mishcan não foi construído primeiro?

        Desta dúvida aparentemente simples, emerge uma poderosa lição de vida. Quando vamos à loja de presentes judaicos mais próxima, freqüentemente passamos muito tempo examinando o belo trabalho nos estojos das mezuzot, mas gastamos o mesmo tempo inspecionando a qualidade do rolo que vem dentro do estojo? Muitas vezes nos preocupamos com o propósito secundário, esquecendo totalmente o objetivo principal. Gastamos tempo e dinheiro adquirindo um talit muito fino e uma bolsa de tefilin, mas não mostramos o mesmo entusiasmo pelo conteúdo que ali está.

            Ao colocar a construção do Mishcan após a revelação no Monte Sinai, a Torá está nos lembrando a não perder de vista este propósito. As Tábuas e os Dez Mandamentos nelas gravados são o mais importante: a Arca Sagrada que os contém é secundária. Mais tempo deveria ser gasto aprendendo e honrando a Torá que aprimorando a Arca que a contém. Será a cobertura da chalá ou a chalá nosso maior foco de atenção, a bela sinagoga como santuário ou as preces que lá são ditas? Não devemos jamais deixar de lado nossa prioridade de cumprir as mitsvot de D'us ao máximo de nossas capacidades.

 


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A contagem do povo de Israel

            Após o pecado do bezerro de ouro, o povo judeu é contado. D'us ordenou a Moshê que contasse o povo de Israel.

            A mitsvá de contá-los foi, na verdade, dada a Moshê mais tarde, após o pecado do bezerro de ouro. No entanto, é recordada na Torá antes da narrativa do pecado.

            Muitos judeus morreram na praga ocorrida logo após o pecado do bezerro de ouro e D'us queria determinar o número dos sobreviventes.

Um fazendeiro apreciava muito o seu bem cuidado e maravilhoso rebanho. Porém, um dia, uma peste atingiu as ovelhas e muitas delas pereceram. Depois da devastação ter se aplacado, o proprietário ordenou aos seus pastores: "Contem minhas ovelhas para ver quantas sobreviveram!"

            Apesar de que D'us certamente sabia o número de sobreviventes e portanto não precisava de um censo, Ele estabeleceu a mitsvá (preceito) para o benefício do povo judeu.

            Após o pecado do bezerro de ouro, os povos zombaram: "Vejam esta nação que, quarenta dias após terem pronunciado 'faremos e ouviremos,' no monte Sinai, fabricaram um bezerro de ouro! Seu pecado é imperdoável; D'us nunca mais os aceitará como Seu povo!"

            Para refutar esta afirmação, D'us ordenou: "Contem as cabeças do povo de Israel!" D'us empregou a palavra 'seú', que significa também "Levante as cabeças!" Ele explicou a Moshê que através da contribuição de uma moeda para o tesouro do Tabernáculo (através das quais eles seriam contados), os judeus resgatariam suas vidas, que foram perdidas no pecado do bezerro de ouro. Assim, o procedimento de contagem mediante moedas doadas "levantaria suas cabeças" - isto é, concederia a eles o perdão pelo pecado.

            Quando Moshê ouviu as ordens de D'us, ficou apreensivo, achando que cada judeu teria de contribuir com uma moeda muito valiosa.

            "Não é como você pensa, Moshê", D'us assegurou-lhe. "Vocês não terão que Me pagar com moedas que valem cem, cinqüenta, nem mesmo trinta pedaços de prata. Tudo o que peço de cada judeu é que doe uma pequena moeda que valha meio-shekel!"

D'us produziu uma moeda de meio-shekel, demonstrando a Moshê seu tamanho e sua forma, instruindo-o: "Este é o tipo de moeda que eles devem dar!"

            As moedas de meio-shekel deste censo foram fundidas e moldadas como encaixes, que foram usados para suportar as vigas do Tabernáculo.

            A doação de meio-shekel de cada judeu não foi uma mitsvá instituída unicamente para aquela vez, em consequência do pecado, mas sim, foi estabelecido como uma doação anual permanente. Destas coletas eram comprados os animais para as oferendas da comunidade, para que todo o povo de Israel pudesse ter uma parte nelas.

            Quando o Templo Sagrado existia, era realizada uma proclamação a cada ano no primeiro dia de Adar em todas as cidades de Israel, recordando a todos para que preparassem um meio-shekel para o Templo Sagrado. A coleta em si ocorria entre 1 de Adar e 1 de Nissan.

            Por que o mês de Adar foi escolhido como época de coleta dos shekalim do povo de Israel?

            D'us previu que o malvado Haman daria para o rei Achashverosh dez mil kikar de prata em troca da permissão para exterminar os judeus em Adar. Disse D'us: "Que as doações dos Meus filhos precedam-no, para que sejam salvos das mãos dele."

Os shekalim atendiam a dois propósitos: como renda para o Tabernáculo e o Templo Sagrado, e como meio de fazer o censo, pois D'us proibiu contar os judeus diretamente, dizendo a Moshê: "Não conte o povo de Israel diretamente, pois a bênção Divina não paira sobre algo que foi contado ou medido."

            Quando os reis judeus costumavam fazer o censo da população, cuidavam para não transgredir a proibição de contar pessoas diretamente. O rei Shaul, no começo do seu reinado, quando eram pobres, contou o povo através de pedrinhas. Mais tarde, quando o reinado tornou-se rico, foram substituídas por uma ovelha por cada judeu.

 

 

A ordem de fazer um lavatório

            D'us ordenou que uma grande pia especial de cobre com bicos (kiyor) fosse construída e colocada no pátio do Tabernáculo, entre o Ohel Moed (Côdesh) e o altar exterior. Este lavatório era enchido com água a cada manhã para que os cohanim pudessem abluir suas mãos e seus pés antes de iniciar o serviço Divino. Por que D'us ordenou aos cohanim que lavassem mãos e pés antes de iniciar seu trabalho no Santuário?

            Poderíamos responder que D'us queria assegurar-se de que suas mãos e pés estivessem limpos. Esta explicação é verdadeira, mas também existe uma razão mais profunda para esta ordem.

            Ao verter água de uma vasilha sagrada sobre suas mãos e pés antes do serviço Divino, tais partes do corpo se santificavam.

            Será que não era necessário santificar também o resto do corpo? O corpo dos cohanim já se tornavam sagrados ao vestirem suas roupas sacerdotais. A água, então era utilizada para santificar mãos e pés que ficavam descobertos.

 

A ordem de preparar o óleo para unção e o incenso

                O óleo para unção foi preparado por Moshê da seguinte maneira: D'us ditou para ele a lista de especiarias, especificando seu peso e volume. Cada especiaria foi moída separadamente. Então, as especiarias foram misturadas e socadas em água para que o seu aroma fosse absorvido pela água. Óleo de oliva era adicionado à água e a mistura era fervida até que a água evaporasse e somente sobrasse óleo perfumado. Aquele óleo, (o óleo para unção) foi preservado num frasco para ser usado na unção dos Sumo Sacerdotes e reis da dinastia de David. Na consagração do Tabernáculo, todos os seus utensílios também foram ungidos com este óleo.

            Apesar de Moshê ter preparado somente a quantidade de pouco mais de quatro litros, esta quantidade milagrosamente foi o suficiente para todas as próximas gerações. Este mesmo óleo ainda foi usado na época do segundo Templo Sagrado. O frasco contendo o óleo foi ocultado na época da destruição do Templo. Ele nos será devolvido na era de Mashiach.

            Moshê preparou o incenso, misturando onze das melhores especiarias, apontadas por D'us. Somente uma dentre as especiarias emitia um odor repulsivo. D'us queria ensinar aos judeus que deveriam incluir igualmente os indivíduos transgressores em momentos de jejuns e orações comunitários.

            As especiarias deveriam ser moídas, misturadas e um punhado delas era queimado diariamente no altar de incenso.

            Era proibido produzir uma mistura de especiarias nas mesmas exatas proporções do incenso, se a mistura fosse destinada para uso particular.

 

 

Betsal'el é designado construtor do Tabernáculo e Aholiav, seu assistente

            Quando Moshê, foi informado da futura construção do Tabernáculo, durante sua estadia no Céu, este tinha a impressão de que teria que construí-lo com suas próprias mãos. Quando ele estava prestes a deixar o Campo Celestial, D'us revelou-lhe: "Apesar de ter lhe apresentado o diagrama do Tabernáculo e a estrutura de todos os seus componentes, não és o artesão que o construirá. Teu papel é de ser um líder e não um artífice!"

"Quem será o construtor do Tabernáculo?" perguntou Moshê.

"Betsal'el filho de Uri, filho de Chur, foi designado para esta tarefa", informou O Eterno.

Betsal'el era o neto de Chur, que foi assassinado durante o incidente envolvendo o pecado do bezerro de ouro (como veremos adiante). A construção do Tabernáculo através do neto de Chur serviu como perdão pelo linchamento de Chur. Betsal'el era o bisneto de Miriam, irmã de Moshê. Ela foi recompensada com um descendente sábio e entendedor, que sabia como construir o Tabernáculo, em mérito do temor a D'us que a levou a prontificar-se a desobedecer a ordem do Faraó de assassinar os judeus recém-nascidos quando trabalhava como parteira no Egito.

Naquele tempo, Betsal'el tinha somente treze anos de idade. Por isso, Moshê perguntava-se como alguém tão jovem poderia receber a imensa tarefa de erigir um Tabernáculo.

De acordo com a regra de que é correto consultar a comunidade antes de lhe nomear um líder, D'us perguntou para Moshê: "Será que Betsal'el lhe parece digno para este encargo?"

            "Se ele é digno aos Teus olhos", replicou Moshê, "certamente o é aos meus."

            Quando, mais tarde, Moshê apresentou Betsal'el para o povo como o arquiteto do Tabernáculo, ele por sua vez perguntou ao povo: "Vocês concordam com o fato de Betsal'el ser o construtor?"

            "Se ele é digno aos olhos de D'us e aos seus", replicou o povo judeu, "certamente o é aos nossos."

            Betsal'el foi inspirado com sabedoria Divina e compreensão para ser capaz de ser bem sucedido nesta missão.

            Assim como foi mostrada a Moshê uma visão da estrutura detalhada de cada utensílio do Tabernáculo, assim também foi concedida a Betsal'el uma visão Celestial da forma e desenho de cada objeto.

 

             Betsal'el era um fiel artífice, que se empenhou em seguir à risca as instruções Divinas. Por isso a Torá o recompensou, anexando seu nome a cada um dos objetos do Tabernáculo citados na parashá.

    

            Moshê ordenou a Betsal'el: "Primeiramente construa a arca, depois os outros utensílios, e finalmente a tenda do Tabernáculo."

            "Meu mestre, Moshê", objetou Betsal'el, "ao construir uma casa, será que não se constrói primeiramente a estrutura externa para abrigar sua mobília? Se eu construir a arca primeiro, onde é que a colocarei, depois de ficar pronta? Será que D'us não lhe disse para primeiro construir o próprio Tabernáculo, e só depois a arca e os outros acessórios?"

"Você tem razão", admitiu Moshê. "Você pode ser denominado como aquele que esta na sombra de D'us, pois possui a sabedoria para compreender o significado secreto das Suas palavras."

            Daí o nome "Betsal'el", composto pelas palavras "Betsel E-l - aquele que estava na sombra do Altíssimo."

            D'us ordenou a Moshê para nomear Aholiav da tribo de Dan como assistente de Betsal'el. Aholiav não fazia nenhum trabalho independente, mas ajudava Betsal'el em cada fase da construção. D'us juntou como artesãos Betsal'el, membro da tribo de Yehudá, e Aholiav, da tribo de Dan. Yehudá era o mais exaltado dos filhos de Yaacov e Dan era o menos importante. Juntando-os, D'us quis dizer aos judeus que, aos Seus olhos, o grande e o pequeno são iguais.

            Uma pessoa menos capaz que serve D'us com todo seu potencial é considerada no mesmo nível que uma pessoa privilegiada, pois D'us julga um homem de acordo com as intenções do seu coração.

D'us adverte Moshê que os judeus não devem violar o Shabat para construir o Tabernáculo

            D'us advertiu Moshê: "Os judeus podem pensar que a construção do Tabernáculo é uma mitsvá tão importante que devem continuar construindo no Shabat. Porém, isto é proibido. Advirta-os que qualquer trabalho necessário para construir o Tabernáculo não poderá ser realizado no Shabat. Os judeus devem guardar a santidade do dia e abster-se de trabalhar, agora e para sempre. O dia de Shabat é um sinal entre Eu e o povo judeu de que são Meu Povo."

A mitsvá de Shabat é tão importante que se todos os judeus guardassem dois Shabat com todas as leis correspondentes, Mashiach viria de imediato!

 

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Depois de quarenta dias no Céu, Moshê recebe duas tábuas de safira

            Depois do recebimento da Torá, Moshê permaneceu no Céu durante quarenta dias estudando a Torá diretamente de D'us.

            Ao cabo dos quarenta dias, D'us deu a Moshê duas tábuas de safira de tamanho e forma idênticas. Nelas, D'us gravara os Dez Mandamentos.

            Por que o povo de Israel recebeu os Dez Mandamentos inscritos em tábuas, em vez de um pergaminho Divino contendo toda a Torá?

Quando uma pequena criança começa a escola, o professor lhe apresenta o alfabeto escrevendo as letras no quadro negro. Somente mais tarde, quando o alfabeto já lhe for familiar, receberá livros para estudar.

           D'us introduziu os judeus à Torá primeiramente pondo-os a par dos Dez Mandamentos (que contêm os conceitos básicos da Torá), e somente mais tarde foi-lhes dado um pergaminho de Torá inteiro.

           Em vez de inscrever todos os Dez Mandamentos em uma só tábua, D'us escreveu-os em duas tábuas separadas. A primeira tábua continha os mandamentos envolvendo o homem e seu Criador, e a segunda tábua lidava com os mandamentos ligados à relação do homem com o seu próximo.

            As letras não eram gravadas superficialmente sobre as tábuas, mas foram talhadas através de toda a espessura da pedra. Isso, para que fosse possível ler pelos dois lados. As letras hebraicas Mem (final) e Samech formam um quadrado e um círculo completos, respectivamente. Já que suas porções internas não tinham nenhuma sustentação, poderiam cair. No entanto, elas permaneciam em seu lugar milagrosamente.

 

 

O pecado do bezerro de ouro

            Antes de subir ao Céu para receber as tábuas, Moshê assegurou ao povo: "Eu retornarei dentro de quarenta dias, antes do meio-dia." Entrementes, ele apontou seu irmão Aharon e o filho de Miriam, Chur, para encarregarem-se do povo de Israel.

Agora já era o décimo-sexto dia de Tamuz, o último dos quarenta dias, e o meio-dia já havia passado. Onde Moshê poderia estar?

            De acordo com os cálculos do povo, os quarenta dias já haviam passado. Eles incluíram, erroneamente, na sua contagem o dia da partida de Moshê. Na verdade, porém, ele deveria regressar somente no dia seguinte.

            O povo judeu, um povo formado por seiscentos mil homens, sem contar mulheres, crianças e bebês, encontraram-se no enorme e terrível deserto, habitat de animais ferozes, cobras e escorpiões, sem o seu grande líder que servia de ligação entre eles e D'us.

            O Satan apareceu perante o povo, inquirindo: "Onde está Moshê?"

"Está no Céu", respondeu o povo judeu.

"Mas o meio dia já passou e ele ainda não regressou", desafiou-os. Suas palavras foram ignoradas.

"Moshê faleceu!" zombou o Satan. O povo, porém, não deu atenção as suas palavras.

            O Satan começou então a lhes mostrar visões terríveis, fazendo aparecer o caixão de Moshê. O povo judeu viu o corpo de Moshê suspenso entre o Céu e a Terra. Era uma imagem tão nítida e real que eram capazes de apontar para ela com seus dedos.

            A explicação verdadeira para aquela visão foi que Moshê, como resultado de sua estadia no Céu, foi transformado em um ser espiritual. O Satan mostrou para o povo a vestimenta física da qual havia se despido.

            Então exclamaram: "Quem sabe se Moshê retornará? D'us pode tê-lo feito permanecer no Céu para engajar-se em discussões de Torá com ele, ou talvez os anjos o mataram!"

            Os egípcios convertidos aproximaram-se de Aharon, Chur e dos setenta anciãos, reivindicando: "Já que Moshê desapareceu nas alturas, a congregação inteira está destinada a morrer! Dê-nos um substituto!"

            A maioria dos membros do povo de Israel não tencionava usar a imagem como ídolo. Supunham que a Shechiná (Divindade) pousaria na imagem, e que esta os ajudaria a aproximar-se de D'us, assim como Moshê sempre se acercara deles. Porém, foi um erro. Nos Dez Mandamentos, D'us ordenou: "Não se pode venerar imagens" nem mesmo com o propósito de servir D'us.

"Queremos um líder que nos garantirá um status igual ao dos judeus de nascença!"

            Chur, o filho de Miriam e sobrinho de Moshê e Aharon, ficou de pé e exclamou: "Será que esta é a gratidão que possuem por todos os milagres que D'us realizou para vocês? Apenas por que Moshê não está aqui desejam fazer esta imagem? Moshê voltará! Mas mesmo que não volte, não lhes está permitido fazer imagens! Não os deixarei fazê-la!"

"Seus pescoços deveriam ser cortados por uma exigência como essa!", trovejou.

            Chur explicou para o povo que era desnecessário procurar por algo no qual a presença Divina pairasse, pois o povo de Israel, diferentemente de todas as outras nações, eram guiados pessoalmente por D'us.

            O povo se agitou ante as palavras de Chur. Alguns começaram a lutar com ele, e finalmente o mataram.

D'us disse: "Chur, destes a vida para santificar Meu nome. Mereces uma grande recompensa por isso! Teus filhos serão grandes homens e príncipes do povo judeu."

            E assim aconteceu. O neto de Chur, Betsal'el, foi designado construtor do Tabernáculo, e dentre seus descendentes estavam o rei David e outros reis.

            Os convertidos egípcios viraram-se para os anciãos, exigindo um novo líder, porém estes negaram.

            Os convertidos egípcios finalmente foram ter com Aharon, exigindo: "Dê-nos um líder, pois nós não sabemos o que aconteceu com este homem, Moshê!"

            Aharon se encontrava em posição difícil. Se dissesse: "Não posso permitir", como Chur o fizera, alguns da turma poderiam matá-lo também. Aharon raciocinou: "Se eles me assassinarem também, não terão perdão pelo seu crime. O pecado de fabricar uma imagem é menor se comparado com um crime tão hediondo!"

            Se Aharon não ficasse à frente do povo, as coisas poderiam ficar piores.

Portanto, pois, que Aharon decidiu: "Não me resta outro remédio: É melhor aceitar. Porém demorarei muito para fazer uma imagem. Espero que Moshê volte antes de terminar."

            D'us sabia que Aharon consentiu porque, graças ao seu grande amor para o povo de Israel, queria salvá-los da destruição.

            Para protelar e atrasar o plano, Aharon ordenou: "Tragam-me os brincos de suas esposas e crianças." Ele presumiu que as mulheres relutariam em compartilhar suas jóias. Poderiam surgir discussões entre marido e mulher, e com isto, tempo precioso seria ganho.

            As mulheres, realmente, recusaram-se a compartilhar as suas jóias, não por estarem ligadas a elas, mas porque recusaram-se a dedicá-las para a formação de uma imagem.

            Sua fidelidade a D'us foi recompensada; as mulheres receberam o Rosh Chôdesh como um dia festivo especial para si mesmas, para ser celebrado por elas através das gerações.

            É costume das mulheres absterem-se de trabalho específicos em Rosh Chôdesh, como lavar roupas e costurar.

            Fora as mulheres, toda a tribo de Levi absteu-se de contribuir com qualquer ouro para fazer o bezerro, e assim também fizeram os líderes das tribos e os justos do povo de Israel.

            Apesar da recusa das mulheres, o plano de Aharon falhou porque os homens estavam ávidos em contribuir com ouro. Eles arrancaram os brincos rapidamente e Aharon jogou o ouro no fogo para derretê-lo e mais tarde moldá-lo e esculpi-lo com uma ferramenta. (Aharon usou o processo mais lento possível para a formação do metal, esculpindo-o com uma ferramenta em vez de colocá-lo num molde.)

            Agora os magos egípcios se puseram a trabalhar. Com sua magia, converteram a imagem em um bezerro. Subseqüentemente, um bezerro vivo emergiu do fogo, balindo e andando.

            Apontando para ele, os egípcios convertidos gritaram: "Estes são os seus deuses, Israel, que os tiraram do Egito!"

            As reações do povo de Israel diante do bezerro foram variadas. Alguns consideraram-no um intermediário sobre o qual a presença Divina pairaria.             Outros tiveram a intenção de servir o próprio bezerro. Alguns o acolheram como uma oportunidade de abandonar a estrita disciplina moral da Torá e usar esta imagem como um pretexto para licenciosidade.

            O povo quis construir um altar no qual oferendas poderiam ser sacrificadas, e tinham a intenção de rezar para D'us pedindo que um fogo Celestial descesse sobre ele. Aharon, porém, exigiu que a construção do altar fosse deixada a cargo dele, proclamando: "Será uma honra maior para o altar se eu construí-lo sozinho!" Na verdade, seus pensamentos eram: "Se eles o construírem, cada um trará uma pedra e ele logo ficará pronto. Eu, porém, demorarei na sua construção até o anoitecer, para que nenhum sacrifício seja oferecido até amanhã. Até lá, Moshê já terá retornado!"

            Ele concordou em construir este altar pois preferia ser pessoalmente culpado a deixar que o povo judeu fosse punido mais tarde pelo pecado de construí-lo.

            Aharon declarou numa voz triste: "Amanhã terá um festival para D'us!" Ele frisou claramente que o festival era em honra de D'us, e não do bezerro.

Na manhã seguinte, os egípcios convertidos despertaram cedo. Beberam vinho, e naquele estado de intoxicação, serviram ao bezerro como se fosse um deus, oferecendo-lhe a maná que caíra naquele dia. Assim, eles contrariaram o Altíssimo com a maior bondade que Ele lhes outorgara.

            (Isto não nos surpreenderá se considerarmos que nós, freqüentemente, agimos desta mesma maneira incongruente, ao empregarmos nosso cérebro e membros, ambos presentes Divinos, para desafiar a Sua vontade.)

            Ao mesmo tempo em que o povo estava praticando idolatria, D'us, nos Céus, estava ocupado gravando os Dez Mandamentos para eles nas duas tábuas de safira, como um presente para o Seu povo, que garantiria a eles vida eterna.

            Os egípcios convertidos induziram os primogênitos do povo judeu a também fazer sacrifícios para o bezerro. Os primogênitos, por causa disso, perderam seu direito de realizar o serviço Divino. Este privilégio foi transferido para a tribo de Levi.

            A idolatria do bezerro levou à libertinagem e obscenidade.

            Apesar de que foram os egípcios convertidos quem idolatraram o bezerro, todo o povo de Israel foi incluído no veredicto culposo de D'us, já que eles fracassaram em protestar contra os pecadores.

            D'us poderia ter destruído todo o povo de Israel nesta ocasião, se não fosse a memória de Avraham, Yitschac e Yaacov.

 

 

A defesa de Moshê em nome do povo de Israel

 

                Após o pecado do bezerro de ouro, D'us dirigiu-se a Moshê, no Céu, com duras palavras: "Desça!", ordenou, "Não podes mais manter sua posição exaltada como um líder! Eu te elevei em honra do Meu povo. Eles, no entanto, pecaram quarenta dias depois da outorga da Torá. Quão desventurada é a noiva que se corrompe quando ainda debaixo do pálio nupcial (chupá)!"

                Esta reprovação baqueou Moshê; seu rosto anuviou-se. Ele queria deixar os Céus, mas estava tão atordoado em detrimento de sua preocupação pelo povo, que foi incapaz de achar a saída, andando às cegas.

            D'us censurou-o, dizendo: "Quando o povo de Israel partiu do Egito, quiseste que os egípcios convertidos viessem junto. Eu Me opus, mas és bom e modesto e imploraste para que os aceitasse, apesar de serem indignos. Agora estas pessoas fabricaram o bezerro de Ouro e induziram o povo ao pecado!"

            "Pode ser que fizeram um bezerro", disse Moshê, "mas eles certamente não se curvaram perante ele!"

            "Eles se curvaram", disse D'us.

            "Então eles podem ter se curvado, sem ter oferecido nada", persistiu Moshê.

            "Eles sacrificaram oferendas", disse-lhe D'us.

            "Neste caso, eles não o devem ter aceito como uma divindade", argumentou Moshê.

            "Os egípcios convertidos disseram 'Estes são seus deuses, Israel!'", contradisse D'us.

            Moshê ficou chocado com esta revelação. Frente a notícias tão arrasadoras, perdeu a fala.

Foi o próprio D'us Que indicou a Moshê como proceder, através de uma reprimenda: "Deixe-Me em paz, e Eu os destruirei!" Destas palavras, "Deixe-Me em paz", (apesar de que Moshê ainda não pronunciara sequer uma palavra em prol do povo), Moshê compreendeu que deveria rogar pelo povo de Israel.

D'us lhe disse: "Eles merecem destruição; cheguei à conclusão que eles são obstinados!"

            D'us ofereceu para fazer de Moshê um grande povo, no lugar do povo de Israel, que seria destruído.

            A razão pela qual D'us jogou acusações severas e ameaças contra o povo de Israel, foi com o intuito de despertar Moshê para rezar mais sinceramente em prol deles. De fato, Moshê apresentou uma defesa de mestre para o povo de Israel e seus argumentos conseguiram o nosso perdão e nossa proteção até os dias de hoje.

            "Por favor, D'us" rogou Moshê, "não fiques tão aborrecido com Teu povo! Se o destruíres, os egípcios afirmarão: 'Tínhamos razão! Sempre predissemos que D'us não poderia manter vivo um povo num deserto solitário e temível, sem comida nem bebida. Desde o princípio, sabíamos que todos morreriam ali.             Quando D'us viu que não tinha condições de manter os judeus vivos e de guiá-los a Israel, matou-os todos no deserto!' Que terrível profanação do nome Divino seria todas as nações acreditarem que Tu, D'us, não és suficientemente poderoso para conduzir os judeus à Terra de Israel e por isso os eliminaste. Não permitas que as nações afirmem isso!

"Ademais, mesmo que os judeus tenham pecado, acaso não merecem viver pelo mérito de seus antepassados - Avraham, Yitschac e Yaacov? Tu, D'us, prometeste aos antepassados que seus descendentes seriam tão numerosos como as estrelas!

"Sei que os judeus transgrediram um dos Dez Mandamentos ao fazerem uma imagem, mas lembra-Te que puseste Avraham à prova dez vezes e ele passou por todas. Permitas, pois, que o mérito de Avraham proteja os judeus agora. E se Tu pensas que os judeus merecem ser queimados por seus pecados, recorda que Avraham estava disposto a deixar-se queimar em uma fornalha por amor a Ti. Salva, pois, os judeus de serem queimados pelo mérito de Avraham.

"Se pensas que o povo judeu merece ser morto pela espada, pensa no mérito de Yitschac. Yitschac permitiu que seu pai o amarrasse ao altar no monte de Moriyá e estava disposto a ser sacrificado com uma faca. Deixa, pois, que o mérito de Yitschac salve os judeus! E se desejas castigar o povo judeu fazendo-o perambular por terras estranhas, recorda o mérito de seu antepassado, Yaacov, o justo que perambulou por vários países. Perdoa os judeus pelo mérito de Yaacov."

                Moshê recusou a oferta de D'us para ele ser o patriarca de uma nova nação judia, discutindo: "Mestre do Universo, se uma cadeira com três pernas balança, como pode uma cadeira de uma só perna permanecer de pé? Se os méritos dos seus três patriarcas, Avraham, Yitschac e Yaacov foram insuficientes para salvar o povo judeu da Tua ira, como posso eu, um só homem, esperar que os proteja? Se os meus descendentes pecarem no futuro, meu mérito certamente não será o suficiente para salvá-los da morte! Mais ainda, não posso aceitar a Tua proposta, pois terei vergonha de Avraham, Yitschac e Yaacov. Eles poderão pensar: 'Que líder de comunidade egoísta! Ele aproveita a situação para elevar a si mesmo em vez de implorar pelo perdão de sua comunidade!' Desista de levar em frente Teu plano de extermínio!"

Através de suas preces, Moshê salvou o povo da destruição iminente, mas ele desceu dos Céus sem ainda ter obtido perdão.

Somente mais tarde, depois da destruição do bezerro, punição dos pecadores e mais outros quarenta dias de orações passados por Moshê no Céu, é que D'us perdoaria o povo.

Moshê deixou o Céu em estado de terror, carregando em uma só mão as maravilhosas tábuas de safira que, apesar do seu tremendo peso, eram leves em sua mão, pois transportavam-se a si mesmas.

 

 


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Moshê salva o povo de Israel da destruição

No 19º dia de Tamuz, Moshê subiu ao Céu mais uma vez, lá permanecendo por quarenta dias, até o dia 29 de Av, implorando perdão a D'us.

Ele rezou: "Mestre do Universo, o Senhor mesmo levou-os ao pecado, já que os carregaste de ouro e prata durante o Êxodo do Egito. Um leão só dá uma patada se uma bandeja cheia de carne for colocada ao seu lado."

Moshê, então, apresentou seus argumentos a favor do povo com tanta intensidade que sentiu seu corpo todo ferver. Ele estava realmente doente de preocupação pelo pecado do bezerro de ouro.

"Por que, D'us, Tua ira deve arder contra o Teu povo que tiraste do Egito? Eles nunca tiveram a intenção de fazer do bezerro um ídolo; eles o fizeram com o intuito de criar um intermediário sobre o qual Tua presença pudesse pairar. Mesmo ao fazer o bezerro, eles não Te desprezaram; eles queriam me substituir.

"Mais ainda, leve em consideração o fato de eles terem vivido entre os egípcios, que eram idólatras."

Um pai decidiu que chegara a hora do seu filho começar a ganhar a vida. Ele alugou uma loja em uma área nada respeitável e trouxe-lhe os produtos necessários para que este se transformasse num vendedor de perfumes e cosméticos. Ao indagar um pouco mais tarde sobre o bem-estar do seu filho, foi informado de que este se associara com as libertinas da vizinhança. A ira do pai não tinha limites. "Vou matá-lo por isso!", exclamou. Mas um amigo da família rogou: "Como é que ele poderia ter se portado de outra maneira? Ele é jovem e inexperiente. De todas as possíveis profissões, você escolheu para ele a de um vendedor de perfumes e colocou-o num ambiente corrupto!"

Similarmente, Moshê implorou a D'us: "Não fique irado - Tu os tiraste do Egito, uma terra onde todos adoravam cordeiros. Eles estavam simplesmente imitando os costumes do Egito! Estão acostumados aos ritos daquele país e ainda não se habituaram aos Teus caminhos! Espere um pouco, e eles com certeza farão atos que serão agradáveis perante Ti!

"Se os destruir, os egípcios acreditarão que seus astrólogos predisseram a verdade ao afirmar que o povo de Israel pereceria no deserto. Deixe que a Tua cólera se extinga e revogue o decreto do Teu povo!"

Moshê estava pronto a perder a própria vida pelo povo, fazendo um trato com D'us: "Se não perdoá-los, apague meu nome do Teu livro."

Finalmente, Moshê fez uso da mais poderosa arma de defesa, o mérito dos patriarcas. Voltando-se em direção à caverna de Machpelá, exclamou perante os patriarcas: "Ajudem-me nesta hora, quando seus filhos estão prestes a serem abatidos como cordeiros!" Os patriarcas levantaram-se e posicionaram-se diante dele.

Dirigindo-se a D'us, Moshê orou: "Lembre-se de Avraham, Yitschac e Yaacov, Teus servos para os quais jurastes em Teu Sagrado Nome, 'Eu multiplicarei sua semente como as estrelas do céu!' Lembre as doze tribos sagradas, Teus servos, e salve o povo judeu em seu mérito!"

Ao cabo de quarenta dias de incessante oração, D'us finalmente concordou em perdoar o povo de Israel - não em seu próprio mérito, mas por conta dos seus antepassados. Disse D'us: "Levante-se e lidere o povo de Israel até a Terra Santa! Meu anjo, e não Minha presença, irá à frente de vocês. Decidi que, em vez de destruir o povo de Israel de uma vez, removerei os efeitos do seu pecado gradualmente através das gerações. Sempre que cair uma punição sobre o povo judeu por conta de seus pecados, incluirei nela um pouco da punição pelo pecado do bezerro de ouro.

Após Moshê ter orado durante quarenta dias, D'us concordou em não castigar o povo de Israel. Disse: "Ao invés de castigá-los, agregarei uma pequena parte do castigo pelo pecado do bezerro de ouro a cada castigo que impuser aos judeus no futuro."

Moshê, então, retornou ao seu povo. Apesar de ter evocado a piedade Divina, salvando assim o povo da destruição, Moshê ainda não obteve perdão pelo pecado.

Por que o povo judeu cometeu o pecado do bezerro de ouro

A grandeza da Geração do Deserto não pode ser subestimada. D'us a escolheu dentre todas as outras para receber a Sua Torá, sabendo que eles eram justos. Eram fortes em espírito e controlados em sua má inclinação.

Se é assim, por que é que eles tropeçaram no pecado do bezerro de ouro? Por que D'us não os protegeu do pecado, como Ele usualmente procede com os justos?

D'us permitiu que o pecado do bezerro acontecesse para servir como sinal de esperança e encorajamento para os judeus no futuro. O incidente do bezerro de ouro provaria que, não importa o quão distante uma comunidade se desvie do caminho da Torá, nunca estará longe demais para fazer teshuvá. Se, depois de um pecado tão grave como este, o povo judeu foi aceito novamente por D'us, nenhuma comunidade poderá afirmar que caiu baixo demais para retornar a D'us.

É preciso também ter em mente que o grau de dificuldade de um teste é proporcional à grandeza da pessoa (ou da geração). Quanto maior for o nível espiritual, mais severa será a provação: o povo judeu foi submetido a um grande teste. Era exigido que abandonassem o raciocínio humano e que se ativessem à palavra de D'us. (Eles foram testados para ver se colocariam sua fé absoluta nas palavras do profeta de D'us, Moshê. Este prometera que retornaria, portanto era esperado deles que acreditassem, apesar das suas razões lógicas para assumir que Moshê não voltaria, tendo portanto uma justificativa visível para procurar um substituto.)

A subseqüente condenação do pecado da geração por D'us era relativa às suas grandes capacidades. D'us culpou toda a comunidade por não ter protestado. Na verdade, somente os convertidos egípcios (três mil pessoas, ou cinco por cento da população) serviu ativamente ao bezerro de ouro.

Depois do pecado do bezerro, Moshê remove sua tenda para fora do acampamento

Depois do pecado do bezerro, ao ouvir que a presença Divina não permaneceria mais no meio do povo para guiá-los, Moshê raciocinou: "O discípulo deve seguir o exemplo do seu mestre. D'us está aborrecido com o povo judeu, retirou-se do meio deles. Portanto, devo fazer o mesmo."

Ao deixar o acampamento, a presença Divina o seguiu e pairou sobre a sua tenda. Todo aquele que solicitasse D'us deveria ir até a tenda de Moshê. Sempre que Moshê saía de sua tenda, o povo se levantava em respeito a ele, exclamando, admirados: "Vejam este grande homem que tem a garantia de que, aonde quer que ele vá, a presença Divina o seguirá!"

Sempre que o povo de Israel via a nuvem da presença Divina descendo sobre a tenda de Moshê, ajoelhava-se perante ela. Depois que D'us terminava de passar as instruções para Moshê, este retornava ao acampamento para transmiti-las aos anciãos.

Pela maneira deferente com a qual todo o povo se prostrava perante a presença Divina, D'us viu o quanto almejavam o retorno da Sua presença. Por isso, disse a Moshê: "Se tanto o mestre como o aluno demonstram sua cólera para com o povo de Israel, como eles sobreviverão? Retorne ao acampamento!"

"Não retornarei", redargüiu Moshê..

"Se é assim, seu discípulo Yehoshua irá substituí-lo!", disse-lhe D'us.

"Sabes que a minha decepção com eles foi em Tua honra!", replicou Moshê.

Mesmo assim, ele retornou ao acampamento, porém tentou revogar o decreto Divino de que a Presença Divina não mais guiaria o povo de Israel. "Não aceito Tua decisão de que um anjo nos guiará", disse para D'us. "Se for assim, prefiro não sair mais daqui! Não prometeste guiar-nos pessoalmente, apesar de saber do futuro pecado do bezerro? Como então podes dizer agora que mandarás um mensageiro à nossa frente? Se nos tratas desta maneira, não mais seremos distintos de todas as outras nações. Eles são guiados por um anjo da guarda; agora Tu pretendes que nós também sejamos guiados por um anjo? Como posso aceitar esta mudança de liderança?"

D'us concordou com o pedido de Moshê, demonstrando que um justo possui a grandeza de anular um decreto Divino. D'us postergou Seu decreto de mandar um anjo à frente do povo de Israel até a época do sucessor de Moshê, Yehoshua.

 

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Moshê pede para entender os caminhos Divinos

Quando D'us aceitou a oração de Moshê, este percebeu que aquele era um momento de benevolência Celestial. Por isso, aproveitou a oportunidade para apresentar um pedido adicional a D'us:

"Por favor, mostre-me o plano segundo o qual Tu manipulas os acontecimentos do mundo. Mostre-me a futura recompensa que está reservada para os justos!"

"Saiba", disse D'us, "que nenhum olho humano, nem mesmo o do maior profeta, pode contemplar a última recompensa do mundo vindouro. Eu, porém, lhe demonstrarei uma fraca reflexão dos prazeres espirituais do Paraíso. Enquanto Minha Glória passar, cobrir-te-ei com minha nuvem. Você verá uma fração da Minha Glória, porém não poderá vê-la inteiramente enquanto você estiver vivo."

Moshê teve uma visão dos diferentes tesouros reservados aos justos. Eles passaram perante seus olhos. Finalmente, D'us lhe mostrou um enorme tesouro.

"De quem é este?", perguntou Moshê.

"Este é o tesouro daqueles que não têm méritos, mas que lhes outorgo Minha graça, já que sou piedoso."

Aquele tesouro era imenso, pois a maioria das pessoas não são merecedoras da recompensa que D'us lhes outorga.

Moshê aprende de D'us as treze qualidades da misericórdia

Moshê disse a D'us: "Ensina-me a orar pelo povo de Israel depois que pecam. Os judeus quase foram destruídos depois que fizeram o bezerro de ouro. Quero saber qual é a melhor forma de despertar Tua misericórdia no futuro."

D'us respondeu: "Ensinarei a ti Minhas qualidades de misericórdia. Ensina-as aos judeus e diga-lhes: 'Quando invocarem Minhas treze qualidades de misericórdia hei de perdoar vossos pecados e serei misericordioso convosco.'"

Eis aqui o que D'us ensinou Moshê a orar:

"Ado-nai, Ado-nai E-l Rachum [ve]Chanun Êrech apáyim [ve]Rav chêssed [ve]Emet, Notser chêssed laalafim, Nossê avon [va]Fêsha [ve]Chataá [ve]Nakê"

Estas palavras significam:

1. Ado-nai - Sou um D'us misericordioso com as pessoas antes que pequem (mesmo que saiba que logo pecarão).

2. Ado-nai - Sou igualmente misericordioso com as pessoas depois de pecarem, se fizerem teshuvá (arrependimento).

3. E-l - Julgo a cada pessoa autenticamente.

4. Rachum - Sou misericordioso com os pobres e oprimidos e os salvo de seus opressores.

5. Chanun - Sou generoso mesmo com aqueles que não o merecem.

6. Êrech apáyim - Demoro a castigar, mesmo a um malvado. Sou lento a castigá-lo pois lhe dou tempo para fazer teshuvá.

7. Rav chêssed - Minha qualidade de bondade é tão grande, que posso salvar uma pessoa do castigo mesmo que seus pecados sejam mais numerosos que seus méritos.

8. Emet - Pago a recompensa que prometi àqueles que merecem.

9. Notser chêssed laalafim - Se uma pessoa cumpre uma mitsvá recompenso seus filhos até duas mil gerações posteriores.

10. Nossê avon - Perdôo até uma pessoa que pecou porque seu instinto mau o persuadiu a fazer o mal, se faz teshuvá.

11. Fêsha - Perdôo até uma pessoa que pecou com a intenção de causar-me aborrecimento, se fizer teshuvá.

12. Chataá - E perdôo o pecado cometido intencionalmente.

13. Nakê - Se um pecador faz teshuvá, suspendo seu castigo e voltarei a ser bondoso com ele.

Além de ensinar a Moshê treze qualidades de misericórdia, D'us lhe ordenou que repetisse ao povo judeu a advertência de não forjar imagens. Não queria que voltassem a pecar como o haviam feito com o bezerro de ouro.

D'us também ensinou a Moshê mais leis sobre as festividades: Pêssach, Shavuot e Sucot. E introduziu Rosh Hashaná e Yom Kipur, momentos de julgamento e perdão. Advertiu Moshê: "O povo judeu guardará somente as festividades de D'us e não estabelecerá suas próprias festividades como o fez quando pecou com o bezerro de ouro."

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Moshê permanece no Céu por quarenta dias para receber as segundas tábuas

D'us ordenou a Moshê que esculpisse um segundo par de tábuas. "Já que você quebrou as primeiras tábuas, é seu dever de esculpir as novas.", disse-lhe D'us.

D'us lhe revelou uma jazida de safira dentro da terra abaixo de sua tenda. Moshê usou aquela safira para esculpir as novas tábuas. D'us presenteou Moshê com o material restante. Moshê ficou muito rico. Ele não coletara nenhum dos despojos do Egito na hora do Êxodo; em vez disso, estava ocupado localizando o caixão de Yossef e preparando-o para a jornada no deserto. Por isso, agora foi recompensado por D'us com riquezas.

Moshê se tornou um homem muito rico. Mas ele não considerava as riquezas importantes. Sabia que o dinheiro acompanha a pessoa apenas enquanto vive (e às vezes, até o perde antes). Porém, há uma forma de riqueza que permanece junto a uma pessoa para sempre: seu conhecimento da Torá. Esta é a verdadeira riqueza que Moshê valorizava.

D'us ordenou a Moshê que subisse ao cume do monte Sinai cedo pela manhã, sozinho, dizendo: "As primeiras tábuas foram dadas ostensivamente, em meio a uma demonstração pública. Por isso foram quebradas. Estas segundas tábuas devem ser dadas de forma discreta e sem alarde."

Moshê subiu ao monte Sinai no primeiro dia de Elul e permaneceu no campo Celestial por quarenta dias. Esta foi a sua terceira estadia no Céu (perfazendo um total de cento e vinte dias).

Durante estes quarenta dias no Céu, D'us ditou para ele toda a Torá e lhe ensinou sua explicação oral.

No dia 10 de Tishrei, D'us perdoou o povo de Israel pelo pecado do bezerro, dando a Moshê as segundas tábuas nas quais Ele escrevera tudo novamente. D'us designou este dia como um dia de perdão para todas as futuras gerações: o chamado Yom Kipur.

O rosto de Moshê resplandece

Quando Moshê regressou do Monte Sinai em Yom Kipur com as segundas tábuas, os judeus se afastaram dele, temerosos. Pois seu rosto brilhava com um resplendor tão forte como se emitisse raios de sol. As pessoas não se atreviam a aproximar-se. "Talvez Moshê seja um anjo de D'us", exclamaram.

Seu receio era por conta do pecado do bezerro; antes do seu pecado, eles eram capazes de visualizar o fogo de glória Divino no Monte Sinai sem medo. Tendo pecado, no entanto, eles tremiam mesmo diante dos raios que brilhavam na face de Moshê.

Moshê chamou os anciãos, e lhes disse: "D'us os perdoou pelo pecado do bezerro de ouro e lhes deu novas tábuas. Os anciãos perguntaram a Moshê por que seu rosto brilhava, e descobriram que Moshê nada sabia sobre isso. Nem sequer percebera que lhe havia acontecido algo de especial. Quando o povo viu os anciãos falarem com Moshê, finalmente se atreveram a chegar perto.

Por que D'us fez o rosto de Moshê resplandecer

 

 

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comentários

 

ue é pecado?
 
   
 
 
 
 
 
 

Como a maioria das coisas, a resposta depende de para quem você pergunta.

O Midrash (Yalcut Shimoni sobre Tehilim 25) descreve uma espécie de "mesa-redonda" na qual esta pergunta é apresentada a quatro autoridades diferentes - Sabedoria, Profecia, Torá e D'us - cada um dos quais fornece uma diferente definição de pecado.

Segundo a Sabedoria, o pecado é um ato prejudicial. De acordo com a Profecia, é morte. Torá o vê como uma tolice. E D'us o vê como uma oportunidade.


A visão filosófica do pecado é que é uma má idéia, como caminhar descalço sobre a neve ou comer muitos alimentos engordurados. Se você faz coisas más, as consequências serão más.

Isso quer dizer que Alguém fica sentado, tabulando os pecados e distribuindo os castigos? Bem, de certa forma, embora não seja algo tão simplista como um D'us vingativo acertando as contas com Suas pequenas criaturas terráqueas por ousarem desafiar Suas instruções. A gangrena em um membro congelado é a punição enviada por D'us por aquela caminhada sobre a neve? Problemas no coração são a vingança de D'us por causa de uma dieta rica em colesterol? Definitivamente sim, se você aceita que tudo que acontece foi porque D'us queria que acontecesse. Mas o que realmente significa é que D'us estabeleceu certas "leis da natureza" que descrevem os padrões de Seus atos sobre nossa existência. Há leis físicas da natureza - aquelas que os cientistas avaliam e formulam hipóteses a respeito. Há também leis espirituais da natureza, que ditam que os atos espiritualmente benéficos produzem benefício espiritual, e ações espiritualmente prejudiciais causam dano espiritual. E como nossa existência física deriva e espelha nossa realidade espiritual, o comportamento moral e espiritual de uma pessoa terminará por afetar sua vida física também.

Dessa maneira, o Rei Salomão (que é a fonte da perspectiva da "Sabedoria" no Midrash acima mencionado) declara no Livro dos Provérbios (Mishlê): "O mal persegue a iniqüidade."

"Profecia" vai um passo além disso. O pecado não é apenas um ato prejudicial - é o ato prejudicial por excelência. A Profecia (que representa o apogeu do esforço do homem para comungar com D'us) define "vida" como uma conexão com D'us. O Pecado - o homem afastando-se de D'us - é uma ruptura desta conexão.

Sendo assim, o pecado é a morte.

A Torá concorda que o pecado seja um ato prejudicial. Concorda também que é uma ruptura do fluxo de vida do Criador para a criação. De fato, a Torá é a fonte tanto da perspectiva da Sabedoria como da Profecia sobre o pecado. Mas a Torá também vai além de ambos, ao reconhecer que a alma do homem, voluntária e conscientemente, jamais faria algo tão tolo.

O pecado, diz a Torá, é um ato de insensatez. A alma "perde a cabeça", e num momento de irracionalidade e confusão cognitiva faz algo contrário a seu verdadeiro desejo. Então o pecado pode ser transcendido, quando a alma reconhece e identifica a tolice de sua transgressão, e reafirma sua verdadeira vontade. Então o verdadeiro "eu" da alma transparece, revelando que o pecado foi de fato cometido apenas pelo "eu" mais externo e maleável da alma, ao passo que seu "eu" interior jamais esteve envolvido.


E o que diz D'us? D'us, é claro, inventou as leis da natureza (tanto físicas como espirituais) e a Sabedoria que reconhece como elas funcionam. D'us é a fonte da vida, e é Ele quem decreta que a vida deveria fluir para a alma humana através de um canal construído (ou rompido) pelas ações do homem. E D'us nos deu a Torá e suas fórmulas para a sanidade espiritual, auto-conhecimento e transcendência. Portanto, D'us é a fonte das primeiras três perspectivas sobre o pecado.

Mas há uma quarta perspectiva que vem unicamente de D'us: o pecado como uma oportunidade para o "retorno" (teshuvá).

Teshuvá é um processo que, em sua forma máxima, nos possibilita não apenas transcender nossas falhas como também redimi-las: literalmente, voltar no tempo e redefinir a natureza essencial de um ato passado, transformando-o de mau em bom.

Para conseguir isso, primeiro temos de sentir o ato de transgressão como algo negativo. Temos de agonizar com a total devastação que produziu em nossa alma. Temos de reconhecer, rejeitar e renunciar à sua insensatez. Apenas então poderemos voltar atrás e alterar aquilo que fizemos.

Então, o pecado é uma ação má e prejudicial? É a própria face da morte? É mera estupidez, para ser posta de lado por uma alma inerentemente pura e sábia? É uma oportunidade potente para a conquista e o crescimento? Na verdade, é tudo isso. Mas apenas pode ser a quarta perspectiva se for também as três primeiras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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