Noach, נח

17/01/2014 02:41

Aspectos da 2ª

O texto desta Parashá é:

Noach, נח - (Gênesis  6:8 - 12) >> Noé

 

 

 

O texto da Haftará é:

A haftará que acompanha esta porção é:

      • Para os Monoteístas Yachid: Isaías 54:1–55:5

    .

Salmo 29

 Noach, נח

   Nôach (נח)

Esta parashá toma o nome de Noach (N) que ao contrário da restante da humanidade teria permanecido justo diante da maldade do ser humano e graças a isto teria sobrevivido junto com sua família do cataclismo causado pelo Dilúvio juntamente com animais selecionados para garantir a sobrevivência das espécies. Após a cessação do Dilúvio, Noach e sua família teriam repovoado a terra e dado origem à todos os povos da atualidade. A descendência de Noach no entanto seria alvo de um castigo divino ao tentarem mover uma guerra contra D-us ao construir a Torre de Babel. Tendo seus idiomas confundidos, os povos foram dispersos pela face da terra.

Leitura da Torá: Noach, נח   

Noé

 

          A Parashat Nôach começa ao descrever o caráter elevado de Nôach (Noé) que contrastou com a perversidade. Como resultado da maldade do ser humano, D'us envia um dilúvio para destruir todas as criaturas vivas, poupando apenas Nôach, sua família, e pelo menos um par de cada espécie de animal, que vivem na arca durante o prolongado dilúvio.

         Quando as águas refluíram, quase uma ano após o início das primeiras chuvas, Nôach envia um corvo e uma pomba, para determinar se a terra está suficientemente seca para que possam deixar a arca e estabelecer-se na terra novamente. D'us promete que jamais destruirá a humanidade novamente por um dilúvio, e designa o arco-íris como um sinal deste pacto eterno.

        Nôach planta uma vinha, bebe de sua produção, e embriaga-se. Neste estado de intoxicação, vergonhosamente desnuda-se em sua tenda. Embora seu filho Cham lide de maneira inadequada com o pai, os outros dois filhos de Nôach, Shem e Yefet, cobrem o pai de maneira respeitosa. Quando fica sóbrio, Nôach reage abençoando Shem e Yefet, e amaldiçoando Cham e seu filho Canaan.

        Passam-se as gerações e o mundo é repovoado. O povo tenta empreender uma guerra contra D'us construindo a Torre de Babel, e D'us reage misturando os idiomas e dispersando as pessoas por todo o planeta.

A porção da Torá conclui com uma nota encorajadora, o nascimento de Avraham, Abraão, e seu casamento com Sara.

"E de todo o vivo, de toda a criatura, dois de tudo, trarás à arca..."

Com esta instrução, Nôach é ordenado a preservar cada espécie que existia sobre a terra. Embora esta certamente pareça ser a coisa certa a ser feita, parece também ser uma tarefa impossível. Com as dimensões da arca limitadas a proporções relativamente modestas, parece altamente improvável que todos os animais encontrassem espaço na embarcação. Como, então, esperava-se que Nôach pudesse cumprir tal ordem?

Felizmente, Nôach não precisava se preocupar. Como o grande Ramban explica, as medidas da arca, embora de acordo com as leis da natureza, de maneira alguma poderiam abrigar todas as espécies existentes na terra, D'us neste caso suspendeu estas leis, de forma a preservar Sua criação. Com este milagre, cada animal tinha amplo espaço dentro da arca.

Entretanto, imediatamente nos deparamos com outra dificuldade: como a necessidade de um milagre parece inevitável, por que D'us deu a Nôach instruções tão precisas sobre medidas e outros detalhes da arca? Por que fazer Nôach se dar tanto trabalho? Por que não permitir a Nôach que construísse uma simples jangada feita de duas pranchas de madeira?

Uma vez mais, o Ramban fornece a solução. Embora um milagre fosse realmente necessário para o bem de todos aqueles animais aguardando para entrar na arca, o Criador desejava "minimizar" aquele milagre do modo que fosse possível. Sendo assim, Ele instruiu Nôach a construir um navio grande e sólido que pudesse ao menos suportar muitos dos animais. Apenas após a real capacidade da arca ter sido preenchida, D'us suspenderia as leis da natureza para criar amplo espaço para os animais remanescentes.

Claramente, esta explicação fornece uma lição óbvia. Como o próprio Ramban declara, o Criador não deseja que confiemos apenas em milagres. O homem não pode simplesmente sentar-se e esperar que D'us preencha todas suas necessidades. Ao contrário, a pessoa deve trabalhar e lutar para atingir seu objetivo. Apenas depois de a pessoa poder dizer honestamente: "Fiz tudo aquilo que podia," lhe é permitido esperar que D'us mude as regras.

Entretanto, parece haver uma mensagem mais profunda contida na explicação do Ramban. Rabeinu Bachya ensina que: "D'us criou o mundo para funcionar de acordo com as leis naturais do universo." Quando olhamos para o mundo, nada notamos de especial à primeira vista, apenas as mesmas velhas plantas, árvores e outras entidades funcionando normalmente. Sem lhes conceder um pensamento mais demorado, o mundo parece tedioso e mundano. A ordem natural do universo não desperta uma centelha de entusiasmo dentro de nós. Apenas quando nos detemos a examinar o universo mais detalhadamente é que o mundo ganha novo significado.

O ciclo de vida do ser humano, as obras do cosmos, o relacionamento entre os animais e seu ambiente - todos mostram a beleza, as maravilhas e a magnificência da natureza. Os cientistas continuam a se maravilhar ante a precisão e a exatidão com a qual o mundo funciona.

De repente, aquelas leis que pareciam tão sem sentido há um momento, agora inspiram um senso de reverência para com as criações de D'us. Por isso, Ele deseja manter a ordem natural do mundo sempre que possível. Suspender as leis da natureza seria introduzir um elemento de caos na espetacular e sensacional harmonia do mundo existente.

Muitas pessoas se perguntam por que Ele não realiza milagres para nós hoje em dia. A resposta não se encontra em um complicado argumento filosófico, mas num simples abrir de olhos a um mundo totalmente novo, pois os milagres acontecem todos os segundos de todos os dias, bem à nossa volta.

 

 

Torre de Babel (pintura de Pieter Bruegel).

Nôach (Noé) é um justo em sua época

Durante as dez gerações que se seguiram a Adam e Chava (Adão e Eva), a Terra foi povoada. Mas, infelizmente, as pessoas começaram a idolatrar os astros julgando que fossem deuses, reis soberanos do universo. Rezavam para o Sol e para a Lua, para imagens de madeira ou pedra e cada vez mais surgia uma infinidade de outros objetos a serem adorados e glorificados. Foi então que D'us irou-se.

D'us, o verdadeiro Criador do universo, poderia ter castigado imediatamente os pecadores, mas não o fez. Aguardou, pois tinha esperança de que as pessoas se arrependessem de praticar a idolatria e servissem somente a um D'us único, reconhecendo Sua grandeza.

Porém, as pessoas não melhoravam; ao contrário, cada geração pensava em maneiras de obter novos ídolos e novas maneiras de servi-los. As pessoas que viveram na décima geração após Adam desceram a um nível mais baixo ainda; além de servir aos ídolos, seu comportamento imoral os rebaixou de tal modo que agiam como animais, e não como seres humanos criados à semelhança do Criador. Praticavam atos imorais, matavam e roubavam uns aos outros, não se importando com a vida nem com a propriedade alheia. Praticavam estes atos abertamente em público, pois não fazia diferença alguma, já que ao serem julgados em um Tribunal, o próprio juiz e testemunhas - por serem igualmente inescrupulosos - nem se davam ao trabalho de punir os culpados.

Uma pessoa mais forte fazia questão de oprimir o mais fraco. Se houvesse alguém querendo desposar uma moça, surgia um homem mais forte declarando que ela lhe pertencia e casaria com ela antes.

Só havia duas pessoas que praticavam a justiça aos olhos de D'us: Nôach e sua mulher Naama. Eles souberam ensinar seus três filhos a serem igualmente justos. Quando Nôach viu que todos os vizinhos eram perversos, raciocinou: "Se permanecer próximo a eles, também me tornarei perverso pelo convívio."

Por este motivo, Nôach decidiu morar num local conhecido apenas por ele e sua família. Passava o tempo estudando os livros sagrados. Possuía o livro que os anjos tinham escrito para Adam e um outro livro sagrado que recebera de seu bisavô, Chanoch. Através destes livros, Nôach aprendeu como rezar e servir a D'us. Enquanto Nôach se elevava e crescia em santidade, o mundo lá fora tornava-se cada vez mais depravado, chegando a um nível que não merecia mais existir. Foi então que D'us revelou a Nôach:

"Até agora, fui paciente. Esperei que esta gente perversa melhorasse sua conduta, mas é inútil. Estão sempre pensando em cometer atos piores. Mesmo à noite, enquanto estão deitados em suas camas, fazem novos planos para praticar maldades no dia seguinte. Portanto, vou destrui-los, junto com os animais, pássaros, árvores, a relva e até mesmo o solo. Mas você, Nôach, e sua família, serão poupados."

 


 

 

Porque D'us mandou o dilúvio como castigo

D'us disse a Nôach: "Hei de cobrir o mundo com uma terrível inundação. Tudo que encontra-se abaixo do firmamento será destruído."

D'us poderia ter destruído o mundo enviando, ao invés do dilúvio, uma peste, animais selvagens, um incêndio ou ainda qualquer outra força destrutiva.

Por que, entre tantas outras formas de destruição, Ele escolheu justamente as águas?

Uma das respostas é explicada através da seguinte parábola:

O rei e as pessoas mudas

O rei estava de bom humor. Anunciou a seu ministro:

"Desejo alegrar algumas pessoas desafortunadas. Convide ao meu palácio um grupo de pessoas pobres e mudas. Trate-as generosamente! Dê-lhes comida requintada e vista-as lindamente."

O grupo de pessoas mudas foi convidado e todos passaram um tempo muito agradável. Jamais sonharam haver no mundo coisas tão prazerosas. Sua gratidão para com o rei não tinha limites. As infelizes criaturas não podiam falar, mas quando o rei passava, todos se levantavam e se curvavam, acenando com as mãos e mostravam a ele, na linguagem dos sinais, o quanto apreciavam o que estava fazendo por elas. Todas as manhãs, ao se levantarem, louvavam o rei na linguagem dos sinais.

O rei estava satisfeito por eles o honrarem deste modo. Estava tão contente que chamou o ministro e deu-lhe algumas instruções:

"Este grupo de pessoas mudas desfrutou de uma longa e agradável estadia em meu palácio. Despeça-os agora e convide em seu lugar um grupo de mendigos que falem. Eles louvarão meus atos nobres com palavras e não apenas com gestos e sentir-me-ei ainda mais honrado."

Então, um grupo de pessoas pobres e falantes foi convidado ao palácio e tratado com deleites que nunca haviam experimentado. Os mendigos estavam tão ocupados em divertir-se que esqueceram do rei a quem deviam sua boa sorte. Nenhum deles pronunciou uma palavra sequer de agradecimento e, quando o rei passava por eles, ignoravam-no completamente. Logo, os mendigos esperavam suas comodidades com naturalidade e exigiam prazeres como se lhes coubesse por direito. Certo dia, decidiram se apoderar do palácio e depor o rei. Enfurecido, este chamou o ministro:

"Expulse estes mendigos de meu palácio," ordenou ele. "Faria melhor convidando novamente os mudos; eles não podiam expressar sua gratidão com palavras, mas me honravam da melhor maneira possível. Estas pessoas falantes, porém, que poderiam me trazer tanta glória com o poder da fala, revoltam-se contra mim!"

A ordem do rei foi cumprida.

A chave para a parábola

Quando D'us criou o mundo, encheu-o com água. A água não podia louvá-Lo com palavras, mas fazia rolar suas ondas ruidosamente em alto e bom som, proclamando: "Como D'us é poderoso!"

D'us então disse:

"Se até a água canta Meus louvores, imagine o que farão os seres humanos que podem pensar e falar!"

Então o Criador removeu a água para os oceanos. Na terra seca, criou seres humanos dotados de inteligência. Porém, ao invés de louvar a D'us, revoltaram-se contra Ele, cometendo pecados. Ao invés de usar o cérebro e o poder da fala para objetivos positivos, tramavam atos maus, difamaram, insultaram e injustiçaram-se uns aos outros. Todas as gerações depois de Adam foram igualmente perversas. D'us observou seus atos tornarem-se cada vez piores e disse:

"Vou livrar-Me desta gente e trazer de volta a água que estava na terra no início da Criação. A água não pode pensar e nem falar, mas louva-Me, enquanto que as pessoas Me enfurecem com seus atos vis!"

Por esta razão, D'us trouxe o dilúvio à Terra, eliminando os perversos.

Nôach constrói a arca

D'us havia falado para Nôach sobre um poderoso dilúvio universal. Mas também assegurou a Nôach que ele e sua família estariam a salvo. Onde eles achariam um local seguro, que não pudesse ser invadido e destruído pelas águas? Nôach ouviu a resposta através desta ordem que veio de D'us:

"Construa para você uma arca (teva) de madeira. Ela flutuará sobre as águas."

Nesta arca especial, Nôach e sua família sobreviveriam à terrível inundação e estariam protegidos. Ela foi construída por Nôach seguindo todas as instruções recebidas por D'us:

"Construa a arca com trezentos amot (cerca de 180 metros) de comprimento, cinqüenta amot (cerca de 30 metros) de largura e trinta amot (18 metros) de altura. Deve ter três andares e conter trezentos compartimentos diferentes (segundo a opinião de alguns dos nossos Sábios, 900 compartimentos). Ponha uma janela para entrar claridade e construa o telhado inclinado para que a água escorra. Depois que estiver pronta, passe piche por dentro e por fora para evitar que a água entre por suas fendas."

Podemos imaginar a dificuldade na época para construir-se um barco nestas proporções. Nôach era completamente desprovido de instrumentos como serra elétrica ou brocas para desempenhar esta missão; construiu a arca manualmente. Levou cento e vinte anos para que terminasse sua obra.

Era precisamente o que D'us queria: dar a oportunidade para que os habitantes da terra se arrependessem de seus atos e fizessem teshuvá, retornassem ao bom caminho. Ele esperava que, durante estes cento e vinte anos, a notícia de que Nôach estava construindo uma arca se espalhasse pelo mundo inteiro para que desta forma fosse despertado o temor e arrependimento e apressasse as pessoas a corrigir suas falhas.

De fato, chegou aos ouvidos das pessoas a notícia de que um grande barco estava sendo construído por um homem.

"Por que você está construindo este barco? - perguntavam a Nôach.

"Estou construindo," explicava Nôach, "para me salvar do enorme dilúvio que D'us enviará sobre a terra. Ele exterminará todos vocês por causa de seus pecados."

As pessoas levaram a sério as palavras de Nôach? Nem um pouco. Suas vozes ribombavam com risos enquanto zombavam das palavras de Nôach.

"Quem se importa?" gritavam eles. "Somos tão fortes, que não tememos um dilúvio. Podemos subir nas árvores e nos telhados. Mesmo se as águas lá chegarem, seremos mais altos do que a inundação, porque somos gigantes."

De fato, as pessoas que viviam naquela época eram enormes.

 

Nossos Sábios explicam:

Porque as pessoas no tempo de Nôach não temiam uma inundação

Dois Sábios, Rabi Chiya e Rabi Yehudá, estavam passando por altas montanhas, entre as quais acharam ossos gigantescos.

"Estes ossos são restos mortais da geração do mabul (dilúvio)," disseram eles. "Vamos medi-los."

Cada osso era tão comprido que tinham que dar três passos para ir de um extremo ao outro!

"Agora compreendemos porque os contemporâneos de Nôach não tinham medo do dilúvio!" - exclamaram. "Eram verdadeiros gigantes! Acreditavam que nenhuma inundação pudesse ser tão grande a ponto de afogá-los, e achavam que evitariam que os poços profundos vertessem água apenas pisando sobre eles. Não é de admirar que tivessem certeza de sobreviver à maior das inundações."

D'us ordena a Nôach para trazer os animais para a arca e entrar com sua família

O som das marteladas espalhava-se no ar, o que não era motivo de alegria para Nôach, que sentia o fim da civilização aproximar-se a cada tábua colocada. Os avisos de Nôach eram sempre recebidos com risadas e palavras duras. Apesar disto, ele obedecia às ordens do Criador e continuou construindo até que o último prego estivesse no lugar.

Ao ficar pronta a arca, apesar de D'us sentir-se satisfeito por Nôach ter cumprido Sua ordem, estava infeliz por ter de destruir Sua criação. Disse então:

"Estou muito triste por ser forçado a destruir o mundo maravilhoso que criei em sete dias." E ordenou a Nôach: "Traga para a arca um macho e uma fêmea de cada animal não-casher e sete pares de cada espécie casher. Traga também suprimento de comida para um ano, para você e os animais."

Sete dias depois, a 17 de Cheshvan de 1656, começou a chover. D'us ordenou a Nôach e sua família: "Entrem na arca."

Nôach, sua mulher Naama e seus filhos Shem, Cham e Yefet, com suas esposas, entraram na arca.

A chuva era cada vez mais forte. Os oceanos, rios, lagos e riachos transbordaram até que a terra ficou inundada. Fontes quentes brotaram das profundezas da terra, partindo a crosta e jorrando água fervendo.

A água começou a subir cada vez mais alto. As pessoas compreenderam que as advertências de Nôach eram verdadeiras; subiram nos telhados e nas copas das árvores, mas as águas aumentavam cada vez mais. Muitos dos gigantes correram para escalar as montanhas. Mas as águas subiam mais e mais até que cobriram o topo das montanhas mais altas.

Algumas pessoas gritaram: "Vamos fugir para a arca para nos salvar!"

Mas, milagrosamente, D'us fez com que seus pés ficassem presos na água. Embora tentassem se mover para a frente, não conseguiam sair do mesmo lugar.

Alguns dos homens perversos gritavam: "Vamos virar a arca! Por que Nôach tem que se salvar?"

Mas, quando se aproximaram da arca, tiveram uma visão assustadora: leões surgiram rugindo ao redor da arca, prontos para devorar quem se aproximasse. D'us milagrosamente protegeu Nôach e sua família.

A chuva destruiu todos os seres vivos, homens e animais fora da arca. (Os peixes foram uma exceção, pois permaneceram vivos).

Nôach e sua família cuidam dos animais na arca

Não vamos pensar nem por um minuto que Nôach e sua família viviam confortavelmente e bem acomodados na arca enquanto o resto do mundo sofria lá fora. Eles tinham que alimentar milhares de animais que levavam na arca.

Tão logo Nôach adormecia, exausto após um dia de trabalho duro cuidando dos animais, era acordado por um grito estridente ou o rugido de um animal faminto. Num instante, Nôach arrastava-se cansado para fora da cama e começava a trabalhar, pois sabia que os animais dependiam dele para obter comida.

Seus filhos - Shem, Cham e Yefet - também passavam a noite acordados, os olhos vermelhos e cansados por falta de sono, pois também sentiam a grande responsabilidade de cuidar constantemente dos animais. Noite após noite, Nôach e sua família se privavam do sono reparador para atender aos chamados dos animais. Durante o dia também não era possível ter algumas horas de sossego, pois os zurros, latidos, rugidos e gorjeios não tinham fim.

Nôach e sua família também sofriam com o cheiro dos animais, que era forte e desagradável; entrava por suas narinas, irritando a garganta.

Além disso, ouviam o terrível estrondo das ondas furiosas do lado de fora da janela. Estavam assustados e tinham o coração paralisado de medo. Rezavam incessantemente, suplicando a D'us que os protegesse.

Por trabalharem tão intensamente com os animais e rezarem o tempo todo, Nôach e seus filhos se tornaram tsadikim (justos) ainda maiores. Agora realmente mereciam ser salvos.

D'us não permitiu que nenhum animal selvagem da arca fizesse mal a Nôach ou à sua família. Todos os animais selvagens da arca se portavam como se fossem mansos. Muitas vezes, Nôach pisava em cobras ou escorpiões, mas nunca foi picado. Apenas uma vez, Nôach estava atrasado com a comida do leão e este lhe deu uma forte patada na perna e Nôach saiu sangrando e mancando.

Nôach envia o corvo e a pomba

Quando Nôach e sua família voltaram para a terra firme, não havia árvore, grama ou pessoa alguma. Nôach e sua família eram os únicos seres humanos sobre uma terra que parecia um enorme deserto. Estavam assustados e tristes. Seriam capazes de construir um mundo novo?

D'us apareceu para Nôach e sua família e os abençoou, prometendo:

"Não temam! Hei de multiplicar vocês, e novamente haverá muitas famílias sobre a Terra. Não tenham receio de que os animais selvagens irão atacá-los porque são muito poucos. Irei protegê-los."

D'us permitiu a Nôach e a todos os homens comer a carne de animais. Até aquela época, só era permitido às pessoas comerem vegetais.

O sinal do arco-íris

Nôach pediu a D'us para que nunca mais mandasse outro dilúvio. O Criador prometeu-lhe:

"Nunca mais mandarei outra inundação que destrua o mundo inteiro.

"Como sinal de minha promessa, vou lhes mostrar o seguinte: De tempos em tempos, Meu arco-íris aparecerá nas nuvens. Este será um sinal de que me lembro da promessa de não trazer outra inundação."

Por isso, sempre que vemos um arco-íris, pronunciamos a bênção: "Baruch... zocher haberit veneeman bebrito vecayam bemaamarô"

"Abençoado és Tu, D'us, nosso D'us, Rei do Universo, Que lembras da promessa (de não destruir o mundo através de um dilúvio) e Que és fiel ao Teu acordo e mantém Tua palavra."

 

Nôach fica bêbado

Depois que Nôach saiu da arca, sentiu ser sua responsabilidade cultivar a terra deixada estéril pelo dilúvio.

Em primeiro lugar, Nôach plantou uma parreira. Quando as uvas ficaram maduras, espremeu-as e experimentou o vinho. Mas Nôach cometeu um erro: bebeu demais.

Nôach ficou bêbado e deitou no chão de sua tenda. Kenaan entrou e viu o estado de Nôach. Correu para fora e contou, rindo, para seu pai, Cham:

"Você sabia que o vovô está deitado no chão, bêbado? E está todo descoberto?"

O filho de Nôach, Cham, também riu e foi informar seus dois irmãos. Assim que Shem ouviu isso, disse:

"Vamos cobrir nosso pai."

Trouxe uma coberta e pediu que seu irmão Yefet o ajudasse a levar Nôach para a tenda. Os dois viraram os rostos para não verem seu pai descoberto.

Quando Nôach acordou da bebedeira, amaldiçoou o neto Kenaan e abençoou Shem e Yefet, que souberam honrar a seu pai.

Todos podemos errar algumas vezes, mesmo um pai. Porém, um filho deve honrar os pais e se portar sempre com respeito perante eles.

Os descendentes de Nôach

Os três filhos de Nôach - Shem, Cham e Yefet - tiveram filhos e muitos netos. Shem foi ancestral de Avraham (Abraão), antepassado do povo compromissado com a Torah.

 

 

                                                     

 

Por que não foi....

...destruída esta geração perversa como foi exterminada a geração do dilúvio? As pessoas que construíram a Torre de Babel agiram em paz e com amizade entre si; não havia discórdia entre eles como na geração do dilúvio. Isto era tão importante para D'us que, apesar de elas terem se revoltado contra Ele, não as destruiu.

A história a seguir mostra-nos a importância da paz e da amizade:

Uma história:

Alexandre, o Grande, e o povo altruísta

O poderoso imperador Alexandre, O Grande, viajou por muitos países. Certa vez visitou um reino longínquo atrás das escuras montanhas da África.

O rei daquele país deu as boas-vindas a Alexandre e ofereceu-lhe um lindo presente: pães de ouro sobre bandejas de ouro.

"Não vim aqui para ver teus tesouros," disse-lhe Alexandre.

"Então por que viestes?" - indagou-lhe o rei.

"Queria ver como julgas as pessoas no teu país," respondeu Alexandre. "Ouvi dizer que teu julgamento é justo e bom."

Enquanto conversavam, chegaram duas pessoas para serem julgadas pelo rei.

O primeiro homem estava tão transtornado que mal podia conter sua aflição.

"Comprei um campo deste homem," falou nervoso, "e nele encontrei um tesouro. Quero devolver-lhe o tesouro. Comprei somente o campo e não o tesouro. Não quero ficar com o que não me pertence!"

O outro homem, porém, se ateve a sua posição com firmeza.

"Vendi o campo com tudo o que contém," insistiu ele. "O tesouro é teu e não vou ficar com ele."

Os dois homens continuaram a discutir. Cada um insistia que o tesouro pertencia ao outro. Alexandre estava espantado:

"Como julgas este caso?" - perguntou, incrédulo para o rei.

O rei virou-se para o primeiro homem e perguntou:

"Tens um filho?"

"Sim," respondeu o homem.

"Tens uma filha?", perguntou para o segundo homem.

"Tenho," respondeu o segundo homem.

"Decido o seguinte," disse-lhes o rei. "Casem o filho dele com a filha do outro e dêem o tesouro para o jovem casal."

Alexandre ficou surpreso com esta decisão.

"Por que estás tão surpreso?" - perguntou-lhe o rei. "Não julguei bem? Como terias decidido em teu país?"

Alexandre respondeu:

"Provavelmente teriam prendido os dois homens e o tesouro seria confiscado pelo governo."

"As pessoas em teu país são tão ávidas por dinheiro?" - perguntou o rei, chocado. "O sol brilha em teu país e a chuva cai?"

"Certamente," respondeu Alexandre.

"Bem," concluiu o rei, "D'us não lhe dá sol e chuva pelo mérito das pessoas. Pessoas que brigam entre si e cobiçam as posses dos outros não merecem nem o sol, nem a chuva. D'us tem misericórdia dos animais e é só por mérito deles que cuida de seus país."

Avram protesta contra a adoração de ídolos

Dez gerações depois de Nôach nasceu Avram (Abrão).

Novamente, todas as pessoas no mundo adoravam ídolos. Serviam ao sol, à lua e a muitas espécies de ídolos.

O pai de Avram, Têrach, era um homem muito ocupado. Por isso, pediu ao tio de Avram, Nachor, que cuidasse do menino.

A casa de Nachor, assim como a de todos, estava cheia de imagens; algumas de prata, ouro e cobre e outras de madeira. Nachor ensinou a Avram:

"Curve-se perante os deuses, Avram, pois eles são muito poderosos. Se não servir-los corretamente, castigá-lo-ão."

"Como são poderosos?" - perguntou o menino. "Não podem falar nem se mover!"

"Cada um deles governa outra parte do mundo, Avram.", lhe explicou Nachor. "Nimrod, nosso rei, é um deus. É mais poderoso que todos os outros deuses."

"Como uma pessoa pode ser um deus, tio?", perguntou Avram.

"Fica quieto, menino, não deves falar assim." - respondeu Nachor. "Se Nimrod te ouvir, vingar-se-á. Ouve o que lhe digo."

O pequeno Avram não estava satisfeito. Ninguém respondia satisfatoriamente a suas perguntas. Quem havia criado o mundo? Quem o havia feito e a todas as pessoas que o rodeavam?

Talvez o sol fosse um deus, pensou, pois era tão poderoso, Iluminava o mundo e fazia crescer as plantas. Porém, Avram observou que o sol apenas nascia e se punha todos os dias seguindo um padrão pré-estabelecido. Não tinha a capacidade de criar outros seres. Seria a lua, então, um deus? Não, tanto o sol como a lua agiam como servos que obedecem a ordens de terceiros.

Porém a quem obedeciam? Avram tinha apenas três anos quando descobriu, por si mesmo, a resposta. Compreendeu que o sol, a lua, o vento, a chuva, e toda a natureza seguem as ordens de D'us. Ele é o Criador Todo-Poderoso. Pode não ser visível, porém, Avram entendeu que o mundo é dirigido por Ele.

Avram disse, então, a seu tio Nachor e ao pai Têrach que não se curvaria perante os deuses. Somente perante D'us. Insistiu que eles também deveriam deixar de prostrar-se aos deuses. Mas não lhe deram atenção.

Quando Avram cresceu, seu pai Têrach deu-lhe um saco cheio de ídolos e lhe disse: "Vá e venda-os no mercado".

Avram levou consigo um martelo. Quando um cliente se aproximava e lhe pedia um ídolo, Avram batia na cabeça do ídolo com o martelo.

"Você quer ficar com este?" - perguntava para o cliente.

Em seguida, dava um golpe na cabeça do próximo: "Ou prefere este?" - perguntava.

Quando as pessoas viram como os ídolos permaneciam imóveis mesmo quando eram golpeados na cabeça, desistiam da compra.

Outra vez, Avram levou um saco cheio de ídolos para o mercado. Chegando lá despejou todo seu conteúdo. Em seguida, destruiu os ídolos na frente de todos.

Certa vez Têrach viajou. Avram pediu para sua mãe: "Por favor, sacrifique uma ovelha e prepare uma comida saborosa. Quero oferecê-la aos deuses do meu pai para que se sintam agradecidos."

A mãe preparou uma comida deliciosa e Avram colocou-a na frente dos deuses.

"Comam", lhes disse. Mas nenhum dos deuses provou a comida.

Avram riu: "Talvez não gostem deste prato", disse aos deuses, "ou pensam que não lhes trouxe comida suficiente. Amanhã lhes servirei algo melhor".

No dia seguinte disse à mãe: "Os deuses não gostaram da comida de ontem. Por favor prepare uma refeição mais farta e melhor hoje!"

Sua mãe assim o fez. Avram pôs uma comida farta e deliciosa perante os deuses.

"Tomem", disse-lhes.

Sentou-se próximo aos deuses para observar se comiam, e assim ficou o dia todo. Nenhum dos ídolos se mexeu.

Nesta noite Avram estava furioso." Ai do meu pai e toda esta geração", exclamou. "Servem ídolos que não podem caminhar, nem mexer-se, nem escutar, nem enxergar ou cheirar".

Avram pegou o machado de seu pai, e destruiu todos os ídolos, com exceção do maior.

Neste momento, Têrach regressava de sua viagem, escutou os golpes do machado e o barulho de madeira e metal sendo destruídos.

"O que será isto?", exclamou. "Parece vir da sala do templo".

Correu para dentro. Avram acabava de terminar sua obra de destruição. Deixara apenas o ídolo maior, e havia colocado o machado em seus braços.

"Por que destruíste meus deuses?", gritou Têrach.

"Não fui eu", respondeu Avram. "Brigaram pela comida que lhes dei e o maior deles pegou o machado e quebrou os demais".

"Mentiroso!", replicou Têrach. "Não podem quebrar uns aos outros! Nem sequer podem mover-se!".

"Pai", disse Avram. "Então por que os serve? Por que deposita sua confiança nestes ídolos? Podem te salvar do perigo? Podem ouvir suas preces?"

"Estás cometendo um grave erro em adorar estas imagens. Tu e todos os outros esqueceram de D'us, o verdadeiro e único Criador do Céu e da Terra. Nossos antepassados também se esqueceram Dele e por isso D'us mandou o dilúvio. Por que então você deixa-O novamente aborrecido?"

Rapidamente, Avram pegou o machado, despedaçou o último e maior ídolo e saiu correndo da casa. Têrach estava furioso. Ele era um súdito leal do rei e a conduta de Avram não podia ser ignorada. Têrach foi ao palácio do Rei Nimrod e disse ao rei:

"Deves julgar meu filho por se revoltar contra os deuses."

Avram é trazido à presença do Rei Nimrod e posto na prisão

Nimrod mandou seus soldados prenderem Avram e trazê-lo ao palácio.

Nimrod perguntou a Avram, com severidade:

"Por que você quebrou os ídolos do seu pai?"

"Não fui eu," respondeu Avram. "O maior quebrou os demais."

"Vamos", repreendeu Nimrod. "Você realmente pensa que vou acreditar em tais histórias? Sei que os deuses não podem se quebrar uns aos outros; eles não se mexem."

Avram censurou Nimrod na frente de todos seus servos:

"Então por que os adora? Por que não serve a D'us Que governa o mundo, Que te criou, Que vai fazê-lo morrer e Que pode ressuscitá-lo? Ai de ti, rei perverso e bobo! Deverias mostrar o caminho certo para todos. Em vez disso, tu e teus servos fazem com que as pessoas pequem."

"Não sabes que por causa de pecados como os seus, D'us mandou o dilúvio para nossos antepassados? Se continuares servindo aos deuses, tu e todos que te seguirem também morrerão em vergonha e desgraça. D'us irá castigá-los."

"Chega!" - gritou Nimrod. "Para a prisão com ele!"

Avram foi lançado na prisão e mantido lá por dez anos.

Avram é jogado numa fornalha

Depois de dez anos difíceis, Avram foi novamente trazido à presença de Nimrod, que ainda esperava convencê-lo a se curvar aos ídolos.

"Agora vais te prostrar aos deuses?" - perguntou o rei para Avram.

"Só me curvo perante o Criador do Mundo," respondeu Avram.

"Eu sou o criador!" - afirmou Nimrod com orgulho.

"Podes ordenar ao sol para nascer a oeste e se pôr a leste?" - perguntou-lhe Avram. "Então acreditarei que você é o Criador."

Nimrod se virou para os sábios e para os príncipes a sua volta.

"Que castigo merece este homem?" - ele perguntou. "Julguem-no."

Todos responderam:

"O homem que despreza o rei e seus deuses deve ser queimado."

Para tal, foi preparada uma enorme fornalha na cidade de Kasdim. Com grande júbilo, os oficiais do rei a esquentaram durante três dias e três noites.

A notícia espalhou-se rapidamente. Chegou gente de todas as partes do mundo a Kasdim para presenciar o grande acontecimento. Frente a uma grande multidão de espectadores, Avram foi agarrado e jogado nas chamas.

D'us falou para os anjos:

"Avram foi fiel a Mim. Eu Mesmo vou salvá-lo."

O Criador então ordenou que as chamas não causassem mal algum a Avram, mas que apenas devorassem as cordas que o amarravam.

Para a multidão que observava o acontecimento, tudo parecia correr conforme o planejado. As chamas da fornalha subiam ao céu. Era um fim apropriado para um traidor, murmurava o povo; logo, nada sobraria dele.

A multidão se dispersou, mas os servos de Nimrod ficaram perto da fornalha até que as chamas terminassem seu trabalho. De repente, soltaram uma exclamação de surpresa. Os olhos se arregalaram de terror. Os queixos caíram de espanto. Pois Avram estava milagrosamente vivo dentro da fornalha, caminhando lá dentro! As chamas haviam queimado apenas as cordas que o amarravam, mas não chamuscaram suas roupas ou o corpo.

Agitados, os servos correram para informar o milagre ao Rei Nimrod. No começo, Nimrod não acreditou no que estava ouvindo, mas quando os servos confirmaram a notícia, Nimrod foi pessoalmente olhar dentro da fornalha.

Era verdade! Avram estava andando dentro dela como se passeasse num jardim!

"Saia, Avram," chamou Nimrod, com voz trêmula. "Prometo que não farei nenhum mal a você."

Avram saiu da fornalha são e salvo.

Tremendo, Nimrod e seus servos se inclinaram para Avram. Estavam convencidos de que ele deveria ser um deus!

"Foi D'us, o Criador do mundo Quem me salvou!" - explicou-lhes Avram. "Curvem-se perante Ele!"

Haran, o irmão mais moço de Avram, estava indeciso se deveria ouvir Avram e crer em D'us ou seguir o Rei Nimrod e se curvar perante os ídolos. Mas, quando Haran viu Avram sair vivo do fogo, anunciou confiante:

"Eu também creio em D'us!"

Os oficiais do Rei Nimrod agarraram Haran e o jogaram nas chamas. Mas ele não mereceu o grande milagre de ser salvo como o tsadic Avram.

 

Têrach, Avram e suas famílias mudam-se para Charan

Apesar de Avram ter sido salvo diante dos olhos de Nimrod, Têrach percebeu que o perigo ainda não havia passado. O perverso Nimrod poderia decidir matar Avram outra vez. E quem poderia saber se D'us realizaria outro milagre?

"Vamos deixar esta terra," aconselhou Têrach a Avram. "Iremos para a terra de Canaã onde Nimrod não governa."

Por que Têrach, de repente, achava que seu filho Avram deveria se pôr a salvo do Rei Nimrod? Não havia sido o próprio Têrach que pediu ao rei que castigasse Avram porque não ter acreditado nos ídolos?

Mas, após presenciar o grande milagre que aconteceu a Avram, Têrach mudou de idéia. Começou a acreditar que D'us era o Mestre do Mundo. Muitos anos depois, antes de morrer, Têrach abandonou definitivamente a adoração aos ídolos e fez completa teshuvá.

Avram concordou com a sugestão do pai de se mudar para a terra de Canaã.

Têrach, Avram e suas famílias partiram para Canaã. No caminho, passaram por um lugar chamado Charan. Têrach viu que lá estariam a salvo, pois aquele lugar estava fora dos domínios de Nimrod. Por isso Têrach decidiu:

 

Vivendo com o Rebe

 

Na Porção desta semana da Torá, Nôach, lemos que: "Nos seiscentos anos da vida de Nôach… todas as fontes de grande profundeza se partiram e as janelas do Céu foram abertas." O Zohar, o livro básico do misticismo judaico, explica que este versículo refere-se ao início do sexto século do sexto milênio da Criação (o ano 5500). Naquele tempo, as fontes Divinas de sabedoria se abriram, tanto nas esferas celestiais quanto no reino físico, e o mundo preparou-se então para entrar no sétimo milênio, a Era Messiânica.

O Zohar descreve os dois tipos de conhecimento que seriam revelados durante este período de tempo. O primeiro é a abertura dos "portais do conhecimento acima", referindo à Torá e à sabedoria de D’us, e o segundo as "fontes de conhecimento no reino inferior", referindo-se à ciência e nosso entendimento do mundo físico.

De fato, vemos que o mundo começou a passar por grandes mudanças nos anos de 1700, exatamente como o Zohar profetizou. Esta foi a época em que a filosofia chassídica começou a ser revelada, e descobertas e desenvolvimentos científicos iniciaram um ritmo frenético que continua até hoje.

O período de revelação da sabedoria, tanto Divina quanto secular, ocorreu como uma preparação para o sétimo milênio e os dias de Mashiach. É fácil entender como a revelação intensificada da Torá serve como preparação, pois a Era Messiânica é um tempo em que "o conhecimento de D’us cobre a terra como as águas cobrem o leito do oceano." Mas o que tem isso a ver com avanços científicos e a Revolução Industrial?

Uma inovação fundamental de Mashiach será que nossa percepção da realidade se alterará. A filosofia chassídica explica que depois que Mashiach se revelar, "toda a carne verá" – nosso corpo físico será conhecedor da Divindade que permeia e sustenta o mundo inteiro.

Avanços no conhecimento científico do mundo natural são uma preparação para este tempo. 
Descobertas médicas, astronômicas e nucleares têm sido reveladas ao homem, para que possa utilizar este conhecimento para servir a D’us. Como ocorre com tudo o mais, recebemos o livre arbítrio para utilizar estas descobertas, pois o conhecimento mais aprofundado acarreta maior responsabilidade. Quando um judeu emprega a moderna tecnologia para servir a D’us, cumprir mitsvot e aumentar o bem no mundo, está utilizando estas revelações de maneira adequada.

Nossa compreensão sobre o funcionamento do mundo físico aumentou, portanto podemos elevá-lo mais prontamente. Além disso, quanto maior nosso entendimento da ciência, maior será nossa compreensão sobre a suprema unidade de D’us e da Criação.

Vemos no progresso da história o desenvolvimento positivo do conhecimento, e como isso leva a um entendimento de D’us. Os avanços na moderna ciência continuam a provar a unidade de toda a Criação e, em última análise, de D’us.

Conformidade versus diversidade
Ao final da Parashat Nôach, somos informados sobre a infame Torre de Babel, a história da sociedade que se reuniu para construir uma torre monumental, com o topo chegando ao céu. D'us ostensivamente aborrecido, decide frustrar seus esforços confundindo as línguas a fim de que não possam mais entender uns aos outros, e dispersando-os através do mundo, desta maneira propiciando a formação de muitas civilizações diferentes.

Tradicionalmente, considera-se que os construtores da Torre tentaram afrontar e fisicamente desafiar D'us e Sua autoridade. Entretanto, Ibn Ezra não encontra razão para acreditar que o povo daquela época fosse tão tolo para pensar que, construindo uma torre alta lhes daria a chance de encontrar o Criador. Por isso, seu entendimento da história é radicalmente diferente. Ele explica que a intenção não era construir uma torre para servir de fortaleza, mas sim como sede central. O objetivo era fazer um nome glorioso para eles mesmos, estabelecendo um centro para toda a civilização que seria o coração da sociedade mundial.

Esta filosofia parece ser nobre e louvável. A união é extremamente importante para o desenvolvimento e sucesso de qualquer projeto. As pessoas naturalmente trabalham juntas quando há um objetivo comum ou um propósito final, e ter direções societárias promove uma sólida unidade social única. Se isto está correto, há um problema significativo com a explicação de Ibn Ezra. 

Por que a geração da Torre de Babel foi punida por suas ações? Poderia parecer que eles deveriam ter sido recompensados pela sua preocupação por todos e seu objetivo de unificar a população mundial. Se a intenção deles não era desafiar D'us, mas criar um centro para a humanidade, por que o Criador confundiria os idiomas e os dispersaria pelo mundo afora?

Embora esta ideologia de unificar a sociedade possa ser produtiva, pode também ser limitadora. 
Sem ficar exposto a outros grupos com diferentes histórias e filosofias, a pessoa perde perspectiva e objetividade. O problema que existiu na geração da Torre de Babel foi que eles tentaram intencionalmente limitar o crescimento e o desenvolvimento da sociedade. 

O Rashbam explica ainda que a razão pela qual D'us reagiu àquela geração, destruindo seus esforços, foi porque eles não estavam cumprindo ou buscando o objetivo Dele para o mundo. O primeiro mandamento dado à humanidade foi "cresçam e multipliquem-se e povoem a terra". Se o homem limita a civilização a um único centro, a conquista do mundo está também limitada. A reação Divina não foi uma punição, mas sim uma correção.

D'us dispersou todos pelo mundo e confundiu as línguas para tornar a completa unificação virtualmente impossível, conquistando efetivamente o mundo para o homem e possibilitando a diversidade.

Por esta interpretação do episódio da Torre de Babel, descobrimos que D'us deseja a diversificação do ser humano. Ter cada pessoa como uma imagem do próximo no espelho seria uma perda trágica para a sociedade, pois abafaria o gênio criativo das pessoas. 

O fato de a sociedade ter tantas diferenças de opinião pode ser visto como uma expressão positiva da singularidade do homem. Há muito a aprender das pessoas que são diferentes de nós, e tudo que é necessário é uma mente aberta, e um desejo de povoar a terra.
Chuva Leve
O quarto do meu filho está uma bagunça. A cama, por fazer, evidentemente – parece o final de uma feira de objetos usados. A manga de uma camisa limpa se enroscou inexplicavelmente na perna de um pijama usado. Meias – uma azul, uma preta e uma que provavelmente foi branca – estão saindo da manga de uma camiseta. Roupa de baixo semi-oculta sob um cobertor, que por sua vez se esforça para não cair no chão.

E o chão! Poderia bem servir como campo de treinamento para missões arriscadas dos fuzileiros. Carrinhos Matchbox enfeitam a paisagem, pequenas minas para pés ainda menores. Peças de meia-dúzia de jogos de tabuleiro atiradas no chão, como uma trilha de migalhas de pão que leva o viajante perdido em círculos. Os tabuleiros em si estão pendurados em prateleiras, tampos de escrivaninha, cabeceira da cama – qualquer lugar onde um pedaço de papelão possa ser socado. E bolas, claro, bolas de todos os tamanhos rolando para lá e para cá, onde quer que se ande. 
Mexa num cabide e uma bola de futebol ataca, saindo detrás de um terno. Ajeite os livros e uma bola de tênis pula de um sapato e bate num joelho. Dê um puxão numa gaveta e a bola de baseball que a estava emperrando pula para fora.

Sentado a um canto está a fonte da bagunça, alheio à própria desordem e desobediência. Mergulhado num vídeo-game, não vê o pai entrar. O pai, no entanto, vê a confusão, e vê uma criança irresponsável. Roupas caras, brinquedos dispendiosos, preciosos livros e objetos de família – tudo desprezado. As regras da casa – desrespeitadas.

Se a criança não dá valor àquilo que tem, se a criança pretende estragar todos os presentes, ignorar todas as regras, então as roupas, os brinquedos, os livros, tudo deve ser levado dali. Pois, em vez de ajudar a criança a ser produtiva, são uma distração e um prejuízo. O pai então arruma uma grande lata de lixo. Começa a apanhar os objetos do chão, um a um, e vai jogando – com bastante ruído – na lata de lixo; uma a uma, ele remove os pertences do filho de cima da escrivaninha, das prateleiras, da cama. Faz uma pausa para ver se o menino reage.

Cena 1:

O filho continua a jogar seu vídeo-game, ignorando o pai, testando o pai, desafiando-o. A princípio o pai põe os objetos na lata de lixo um a um. Depois pega um punhado. A criança ainda não reage. O pai coloca uma braçada de coisas no lixo. A criança observa pelo canto do olho, mas não se mexe. Não levanta um dedo do vídeo-game. Finalmente o pai varre tudo para a lata de lixo. Esvazia as gavetas e prateleiras. Tira os lençóis da cama. Por fim o pai agarra o vídeo-game, atira-o na lata de lixo e sai. O quarto está vazio. O quarto está limpo.

"O dilúvio se abateu por quarenta dias sobre a terra" (Bereshit 7:17).

Cena 2:


Quando o pai coloca o primeiro carrinho Matchbox na lata de lixo, o menino levanta o olhar. 
Quando o pai joga o primeiro cartão de baseball no lixo, o menino desliga o vídeo-game. Assim que o pai apanha o primeiro tabuleiro de jogo, o menino se levanta e tira-o da sua mão. Enquanto o pai assiste, o menino dobra as roupas, faz a cama. O menino arruma as prateleiras, põe os jogos em ordem, organiza os brinquedos. Finalmente, apanha os carrinhos Matchbox e o cartão de baseball, jogando-os fora. Finalmente, com um sorriso e uma lágrima, joga o vídeo-game na lata de lixo. O pai e o filho se abraçam. O quarto está limpo. Mas o quarto não está vazio.

"A chuva sobre a terra durou quarenta dias e quarenta noites" (Bereshit 7:12).

"Ele as enviou com misericórdia, portanto, se o povo se arrependesse, seriam chuvas de bênção; porém quando o povo não se arrependeu as águas se transformaram num dilúvio." Rashi.
Vivendo numa caixa
 

26 de setembro de 1991, uma tripulação de quatro homens e quatro mulheres entrou no Biosfera II, um ambiente hermeticamente selado, construído por cientistas como um modelo funcional da biosfera (a camada ao redor da terra que sustenta a vida). O Biosfera II - que desde então foi convertido num hotel/abrigo e centro de conferências - encerrado numa área de 3,15 acres e que incluía um deserto, um pântano, uma savana, uma floresta tropical e um oceano com 4 milhões de litros. Abrigava mais de 3.000 espécies, a maioria plantas e insetos, mas também peixes, répteis, pássaros e mamíferos. Foi isolada da terra por uma lâmina de aço inoxidável de 500 toneladas, e da atmosfera por 6.000 painéis de vidro. Os custos da construção excederam US$ 150 milhões.

Os oito "biosferianos" passaram dois anos encerrados na estrutura, extraindo alimentos, água e oxigênio de seu eco-sistema selado. Emergiram a 26 de setembro de 1993. A experiência produziu dois casamentos e sonhos de dados científicos que, acreditamos, têm ajudado nosso entendimento de como funciona nossa macro-biosfera.

Se os cientistas que dirigiram o projeto tivessem tido uma inclinação mais bíblica, poderiam ter denominado a estrutura de "Tevá II." A Tevá (caixa, em hebraico) era uma arca de três andares, 11.500 metros quadrados, construída em madeira e "selada interna e externamente com piche," que Nôach (Noé) construiu por ordem de D'us. Não sabemos qual foi o custo da Tevá, mas nossos Sábios contam que Nôach trabalhou por 120 anos em sua construção. A 17 de Cheshvan do ano 1656 da Criação (2105 A.E.C.), quatro homens e quatro mulheres (já casados) entraram na Tevá. Levaram com eles um macho e uma fêmea de cada espécie de mamífero e ave, sementes e mudas de vários tipos de plantas, e suprimento de comida e ração animal. O objetivo não era o de estudar a vida na terra, mas preservá-la do Dilúvio provocado por um mundo corrupto.

Por muitos meses, a Tevá flutuou sobres as águas que engolfaram a terra; quando o Dilúvio começou a amainar, parou sobre o pico do Monte Ararat. A 27 de Cheshvan de 1657, após 365 dias dentro de sua biosfera encaixotada, os oito "Tevianos" e seus companheiros animais e vegetais emergiram da Arca para reconstruir um mundo novo e melhor sobre os alicerces do antigo.

 

Nôach precisou enfrentar uma situação extrema - a destruição iminente de todos os seres vivos - e agiu prontamente, construindo uma enorme caixa que manteria e preservaria amostras de todo o espectro da vida na terra. Em escala menor mas não menos significativa, fazemos o mesmo, todos os dias de nossa vida.

Nós também enfrentamos "dilúvios" que ameaçam destruir tudo que é vital em nosso universo pessoal. E nós também reagimos construindo "caixas" para manter e preservar espécimes preciosas de nosso mundo interno.

Somos arrebatados diariamente pelas preocupações e exigências da vida material. Se não estamos nos escravizando a nossos empregos ou nos preocupando com contas a pagar, sempre há um aparelho eletrônico para consertar, limpeza para fazer ou o lixo que precisamos pôr para fora. Uma torrente de materialidade inunda a vida do homem moderno, preenchendo nossas horas e minutos, consumindo nossas habilidades, subvertendo nossas emoções, e quase fazendo submergir a centelha de espiritualidade em nossa vida.

Por isso construímos caixas. Uma caixa de tempo dedicada à prece a cada manhã; uma porcentagem de nossos ganhos dedicados à caridade; um pouco de energia reservado para alguma obra voluntária na comunidade. Selamos estas caixas, ciumentamente preservando estas ninharias de propósitos mais elevados em nossa vida da torrente de água que busca engolfá-las e as clama para si mesma.

Às vezes, o esforço parece um tanto fútil. Na mente consumida por seus negócios, apenas uma pequena porção do raciocínio é dirigida por alguns poucos minutos à Torá. De um coração agitado por preocupações financeiras, apenas um cantinho é reservado a sentimentos puros de amor a um ente querido. E quanto sobra para caridade após as contas terem sido pagas? Na melhor das hipóteses, apenas minúsculas "amostras" de nossos recursos são dedicadas a propósitos mais elevados.

Aí repousa a eterna lição da Arca. Nôach não pôde salvar o mundo todo - não tinha espaço, capacidade ou ordem para construir um abrigo de tais proporções. Por isso, construiu um santuário para uma amostra das várias formas de vida na Criação. Estas, entretanto, eram mais que simbólicas representações: por doze meses, tudo que havia da humanidade estava concentrado nos oito seres humanos dentro da Tevá; toda espécie de animal ou planta residia nas representações individuais trazidas para dentro de suas paredes. E quando a caixa selada foi aberta, seus ocupantes tornaram-se as sementes de um mundo novo e revitalizado.

A Divina ordem "Venha para a arca!" foi seguida, doze meses mais tarde, pelo comando Divino "Saiam da arca!" Este é nosso desafio: nutrir sementes de espiritualidade em meio a um mundo material, e então libertá-las para que exerçam influência em todas as áreas de nossa vida.

 
 
O início da leitura da Torá desta semana, Nôach, relata como D'us comunica a Nôach que, como ele era justo, ele e sua família seriam salvos. Embora toda a humanidade estivesse para ser punida pela sua maldade e aniquilada num terrível dilúvio, Nôach e seus descendentes não pereceriam.

Para aquele propósito, Nôach construiu uma arca seguindo as especificações Divinas e, quando a chuva veio, ele e sua família ali entraram. Junto com Nôach e sua família estavam na arca um par de todos os animais não-casher existentes, e sete pares de cada animal casher.

O que Nôach fez durante o ano em que passou na arca? Alimentava os animais, limpava suas gaiolas, cuidava das suas necessidades. Os animais não eram especialmente gratos. Nossos Sábios relatam que quando Nôach demorou a levar comida para um dos leões, a fera o arranhou. Esta é uma recompensa adequada para alguém que D'us chamou de justo?

Eis aqui uma lição fundamental. Pessoa alguma existe por si mesma. Fomos criados para um serviço. O ideal judaico não é um mundo onde "o justo se senta coroado com seu conhecimento". Esta é uma descrição do Mundo Vindouro, a vida futura, onde as almas se banham na Divina luz. Mas até a pessoa chegar àquele estado, deve trabalhar.

Todos recebemos uma missão – preparar o mundo para ser uma morada para D'us. E para ser completa, a morada deve abranger todo elemento da criação. Portanto, cada elemento de nosso ambiente é importante e merecedor de nossa atenção.

Resumindo, a pessoa não pode encerrar-se numa sinagoga ou casa de estudos e alegar que está criando uma morada para D'us. Pois se tudo que D'us desejasse fossem o estudo e a prece, Ele não teria criado um mundo físico. Ele teria nos feito seres espirituais com elevados potenciais de intelecto.

Ele não fez isso. Pelo contrário, nos fez mortais e nos colocou num ambiente material. Assim, nossa vida deveria ser dedicada à missão acima, cuidando de cada entidade criada dentro do mundo e revelando a centelha Divina que ela contém, e a intenção para a qual foi criada. A tarefa do homem na vida é pegar aquele ideal abstrato e torná-lo real.

O radical do nome hebraico Nôach está relacionado com os conceitos de descanso e satisfação. De fato, nossa porção da Torá prevê o supremo estado de repouso e satisfação que será tingido na era em que, segundo Maimônides, "não haverá fome nem guerra, inveja ou competição, pois as coisas boas fluirão em abundância."
 
 
A memória da água
 

Sua lembrança mais remota é de estar imerso em água. Você fazia parte de seu meio ambiente: você era sua mãe e sua mãe era você, você era o universo e o universo era você. Não havia eu, ela, isso ou aquilo, pois tudo se resumia num único ser.

Então chegou o dia em que você foi arremessado para fora das águas envolventes. Foi-lhe conferida uma unicidade e uma identidade, e a fusão com sua fonte tornou-se um lampejo de memória. Você agora revela-se em sua singularidade, seu ego é um escudo, arrancando sustento e objetivo de um ambiente distinto de si mesmo, e que você compartilha competindo com outros, também encouraçados.

Porém a lembrança permanece. E quando a estranheza de seu mundo torna-se demais para suportar, e a batalha com a solidão pesada demais para carregar, você busca consolo em seu passado aquático. A lembrança do útero o conforta, garantindo-lhe que não está realmente só, que por baixo de tudo isso você é parte do universo, com seu Criador.

 

Tendo isso em vista, a narrativa da Torá sobre o Dilúvio de Noé relata a trágica história de uma geração corrupta, erradicada da face da terra. Mas um axioma do ensinamento chassídico - especialmente como é expressado nas obras e palestras do Lubavitcher Rebe - é que cada palavra da Torá, em seu âmago, é uma pedra preciosa de bondade autêntica. Nosso mundo é um lugar onde a negatividade e mesmo o mal indisfarçável pode ocorrer, e a Torá, que se dirige a nosso mundo e o descreve, reflete isso. Mas como nos dizem nossos Sábios, a Torá precede o mundo, precede a Criação; em seu estado mais quintessencial, sua própria história e lei têm um significado positivo.

O Dilúvio de Nôach, em sua essência, é a imersão da terra no micvê do conhecimento Divino, no útero de sua singularidade primordial. E embora a terra terminasse por emergir das águas do Dilúvio, a lembrança permanece em seu solo e em suas rochas, em suas árvores e nuvens, e em todo ser que rasteja ou caminha sobre ela. Nosso mundo nunca está distante demais, separado demais, alienado demais, para apagar esta lembrança de submersão total dentro da totalidade toda abrangente de seu Criador.

 

Versículo 7:1

D'us disse a Nôach: "Vem, tu e tua família, para a arca."
A palavra hebraica para arca, teivá, também significa "palavra". 
"Vem para a palavra," diz o Todo Poderoso, entre nas palavras de prece e no estudo de Torá. Aqui encontrarás um santuário de sabedoria, significado e santidade entre as fortes correntezas da vida

 

Certo dia um visitante chegou à casa de Rabi Dovber, o Maguid de Mezeritch. O hóspede era um velho amigo de Rabi Dovber, que havia estudado com ele em seus dias de pré-chassidismo. 
Observou com grande interesse o comportamento de seu antigo companheiro de estudos, que desde então se tornara um seguidor do Báal Shem Tov, e havia assumido a liderança da 
comunidade chassídica após a morte do último.

O visitante estava particularmente impressionado pela quantidade de tempo que o Maguid devotava às preces. Ele próprio não se abstinha de rezar e refletir. Quando ele e Rabi Dovber estudaram juntos, haviam dominado os ensinamentos místicos dos cabalistas e rezavam com as meditações prescritas, ou cavanot, intenções, esboçadas nos escritos da Cabalá. Porém nunca em sua experiência, dedicara horas tão longas à prece.

"Não entendo," disse ele a Rabi Dovber, "eu também rezo com todas as cavanot. Porém, minhas 
preces não levam tanto tempo quanto as suas."

O visitante de Rabi Dovber era um dedicado erudito. Sua esposa tomava conta do negócio da família para que ele pudesse devotar todo seu tempo ao estudo de Torá. Apenas uma vez ao ano ele era forçado a deixar os estudos por umas poucas semanas: sua mulher lhe fornecia uma lista de mercadorias que precisava e ele viajava à Feira de Leipzig para negociar. 

"Ouça," disse Rabi Dovber a seu hóspede. "Tenho uma idéia para você. Por que desperdiçar preciosas semanas de estudo todos os anos? Este ano, fique em casa. Visualize a jornada a Leipzig com os olhos da mente: pense em cada estação ao longo do caminho, cada encruzilhada, cada estalagem. 

"Então, imagine que está na feira, fazendo sua ronda pelas barracas. Chame à sua mente todos os mercadores com os quais faz negócios, reinvente a pechincha e a barganha costumeiras que acontecem nestas ocasiões. Agora, coloque as compras em sua carroça imaginária e faça a viagem de volta. Toda a operação não deverá levar mais que umas poucas horas, e então poderá retornar aos seus queridos livros!"

"Tudo isso está muito bem," replicou o amigo de Rabi Dovber, "entretanto, permanece um probleminha. Preciso da mercadoria."

"O mesmo acontece com a prece e suas cavanot." – disse Rabi Dovber. "Visualizar este ou aquele sublime atributo de D'us na seção prescrita das preces, ou referir-se a uma certa nuance de emoção em seu coração à uma passagem em particular, está muito certo e muito bem. Porém veja você, eu preciso da mercadoria…"

Versículo 8:21

Pois a inclinação do coração humano é o mal, desde a sua juventude.

 

O "espertinho" aninhado no lado esquerdo do coração do homem, escreveu Rabi Yossef Yitschac de Lubavitch a um chassid, tem muitos disfarces. Às vezes pode mesmo aparecer numa túnica de seda e shtreiml… Rabi Yossef Yitschac continua, provando seu ponto de vista com a seguinte história:Rabi Menachem Nachun, Rebe de Chernobyl, era muito pobre e sofria muita pressão para alimentar sua família. Certo dia, um chassid aproximou-se e deu-lhe de presente 300 rublos.
Tanto a família do Rebe como o secretário que o servia e cuidava de seus assuntos ficaram extremamente aliviados. Finalmente poderiam ter um alívio das pesadas dívidas de pão, carne, peixe e outras premente necessidades domésticas.

Depois que o chassid portador do presente deixou a sala do Rebe, Rabi Menachem Nachun continuou a receber seus chassidim, até que fez uma pausa para as preces de minchá e maariv, respectivamente, da tarde e da noite. Após maariv, o Rebe isolou-se em sua sala, preocupado com algum assunto pessoal. Após um longo tempo, finalmente abriu a porta e pediu que um determinado chassid – um daqueles que recebera antes – fosse chamado de volta. 

Depois que o chassid saiu, o rebe continuou a receber seus visitantes até tarde da noite. Quando o último para a audiência já havia saído, o secretário do Rebe entrou para pedir dinheiro para despesas que se faziam necessárias. Sabendo da doação de 300 rublos, e confiante na sua capacidade de agora saldar pelo menos parte das dívidas, ele já havia feito uma lista detalhada do quanto caberia a cada credor.

Rabi Menachem Nachum abriu a gaveta na qual guardara o dinheiro maamad, referente ao que os chassidim lhe traziam para suas despesas pessoais. Havia os fundos pidyon, chamado assim por ser dinheiro trazido a ele destinado para caridade e que eram mantidos em uma gaveta separada para prevenir qualquer possibilidade de misturá-los. 

O secretário do Rebe viu uma gaveta repleta de moedas de cobre com algumas de prata misturadas. Quanto às cédulas de rublo, nem sinal.

O Rebe disse-lhe para pegar o conteúdo da gaveta maamad. O secretário contou a prata e o cobre, dentre os quais descobriu também três moedas de ouro. Juntas totalizavam 100 rublos.
O secretário lá ficou, incapaz de dizer uma palavra. Não desejava levantar o assunto dos trezentos rublos, mas o fato de que seria incapaz de saldar ao menos parcialmente as dívidas do Rebe apertava seu coração.

O Rebe percebeu seu desgosto e lhe disse: "Por que está tão aborrecido? Aquele que provê o pão para todos enviou-nos, em Sua infinita bondade, um presente imerecido. De muito longe, muitos de nossos irmãos – que eles vivam – trabalharam e lutaram para juntar e nos trazer esta soma."

O secretário era de fato um homem que merecia gozar da privacidade do Rebe de Chernobyl. Mesmo assim, não pôde mais se conter, pois as dívidas pesadas e a terrível pobreza que assolava a casa do Rebe o entristeciam profundamente. Como se por si mesmas, as palavras saíram de seu coração angustiado: "Mas onde estão os 300 rublos que foram trazidos? Junto com o que temos aqui, poderemos pagar parte daquilo que é devido…"

"Certo," disse o Rebe, "trouxeram-me 300 rublos. No momento em que os recebi, refleti: por que mereço uma soma tão grande? Então fiquei contente ao pensar que fora abençoado pelo Todo Poderoso, pois Ele tinha escolhido prover-me o sustento, para mim e para meus familiares de maneira tão abundante e honrosa. Mas quando pensei mais profundamente, fiquei muito agoniado: talvez eu estivesse recebendo este dinheiro no lugar de algum dom espiritual?

"Mais tarde, um dos chassidim que vieram para ver-me abriu seu coração desgostoso. Durante o ano que passou, não conseguiu pagar o professor de seus filhos, um homem muito pobre mas temente a D'us que continua a ensinar as crianças na esperança de receber algum dia. Este chassid já deve oito meses de aluguel pelo moinho e estalagem que aluga, e o dono da propriedade certamente vai despejá-lo em breve. E como se não bastasse tudo isso, arranjou um casamento para a filha mais velha e nada tem para o dote.

"Quando ouvi isso, ocorreu-me que talvez o Todo Poderoso tenha me dado o privilégio de ser um administrador da caridade. Talvez esta grande quantia me tenha sido confiada para que eu possa merecer mitsvot tão nobres como as de educar crianças, salvar o ganha-pão de toda a família e ainda casar uma noiva judia. Perguntei ao chassid a quanto montavam seus débitos e as despesas para o casamento e descobri que era a soma exata – 300 rublos!

"Entretanto, assim que decidi dar os 300 rublos a este chassid, me veio à mente outro pensamento: é certo dar toda esta soma a um único indivíduo? Pois veja bem, com tal quantia, a pessoa pode sustentar, no mínimo, seis famílias inteiras!

"Vi-me num dilema, pois ambas as opções – dar toda a quantia a apenas um chassid, ou dividi-la entre várias famílias necessitadas – pareceu-me justo e correto. Não podia me decidir entre elas, então tranquei minha porta a fim de meditar sobre o assunto e chegar à uma conclusão.

"Após meditar, vim a reconhecer que estas duas opiniões vinham dos dois 'juízes' dentro de mim, a 'boa inclinação' e a 'má inclinação', e que o argumento de dividir a soma entre várias famílias definitivamente não vinha de minha 'boa inclinação.' Pois se essa fosse minha boa inclinação falando, por que não falava imediatamente? Assim que recebi o dinheiro, deveria ter dito logo: 'Nachun, 300 rublos foram trazidos a você. Pegue o dinheiro e o divida em seis partes. Distribua cinco partes a famílias necessitadas e use a sexta para si mesmo.' Mas não, esta voz falou dentro de mim apenas após eu ter decidido doar toda a quantia.

"Isto o denunciou. Quando assumi a princípio que toda a soma era para mim, ele ficou em silêncio. Não admira: ele estava perfeitamente satisfeito com minha decisão. Apenas após o Todo Poderoso ter-me concedido o privilégio de perceber por que eu recebera este dinheiro, foi que ele acordou. 
"Obviamente, não disse: 'Fique com o dinheiro!' – Oh, não, ele é esperto demais para isso – ele sabia que eu reconhecera a fonte de tal desejo e o rejeitaria imediatamente. Então ele, o mestre da astúcia, vem com uma sugestão profundamente lógica – qualquer coisa para impedir-me de agir no papel que a Divina Providência tão claramente designou para que eu desempenhasse para livrar uma família do sofrimento. 

"Por isso, chamei o chassid de volta e entreguei-lhe os 300 rublos."

Versículo 11:5

"E D'us desceu para ver a cidade e a torre que os filhos do homem haviam construído."
Obviamente, D'us não teve necessidade de "descer" a fim de ver o crime deles; mas Ele desejou ensinar todos os futuros juizes que não se deve julgar o réu até que se possa ver e avaliar…

>>Não julgue seu próximo, a menos que esteja em seu lugar.

Pirkê Avot, 2:2

 

Em 5617 (1857) um incêndio destruiu grande parte da cidade de Lubavitch. O então Rebe, Rabi Menachem Mendel, iniciou uma campanha de reconstrução, e um pátio novo e ampliado foi construído para servir como edifício central do chassidismo Chabad Lubavitch.

Ao iniciar-se a escavação para o novo complexo, um farbrenguen festivo foi organizado. Longas mesas foram arranjadas no pátio, para acomodar a multidão de chassidim. Quando Rabi Menachem Mendel se juntou a eles, perguntou: "Desejam ouvir um discurso de ensinamento chassídico ou uma história?" 

Os chassidim replicaram que preferiam uma história. 

"Reb Yaacov," começou Rabi Menachem Mendel, "era um taverneiro empobrecido numa estrada no interior, e um chassid do 'Santo Ruzhiner', Rabi Israel de Ruzhin. Ele alugara a taverna de outro judeu, também chamado Reb Yaacov, que tinha um acordo com o nobre: ele alugaria toda a propriedade do nobre e, por sua vez, sublocaria os campos, as florestas, o moinho, a taverna e outros ativos a outros judeus.

"Os negócios na taverna iam mal e Reb Yaacov, o taverneiro, não conseguiu pagar o aluguel que era devido a Reb Yaacov, o mediador do acordo. Passaram-se os meses, as dívidas acumulavam-se, e o taverneiro via-se incapaz de pagar até mesmo o sinal. Finalmente, o intermediário perdeu a paciência e ameaçou despejar o inquilino mau pagador.

"O desgostoso taverneiro foi ver seu rebe, o Santo Ruzhiner, e reclamou que seu senhorio, Reb Yaacov, estava para privá-lo de seu lar e seu meio de vida. O Ruzhiner chamou o mediador e pediu-lhe para que perdoasse o débito a um judeu carente. Acontece que Reb Yaacov era um homem correto e compassivo: fez como o Rebe lhe pediu e ainda mais: não apenas perdoou ao taverneiro o seu enorme débito, como também reduziu os pagamentos mensais da taverna. Sua única exigência foi que o taverneiro prometesse de dali em diante pagar o aluguel em dia. 

"Porém os negócios na taverna continuaram a afundar e o pobre homem foi simplesmente incapaz de honrar sua promessa. O benevolente Reb Yaacov estendia-lhe mais e mais o prazo, até que finalmente perdeu a paciência com seu infeliz inquilino. Quando seus insistentes pedidos pelo pagamento produziram apenas desculpas e mais promessas, notificou o taverneiro que se não pudesse apresentar ao menos parte do dinheiro devido até o fim do mês, teria que desocupar os imóveis. 

"O pobre taverneiro, sem um copeque no bolso, viajou novamente até o Rebe e abriu seu coração. Mais uma vez o Ruzhiner apelou a Reb Yaacov, e novamente este último acedeu ao pedido do Rebe e perdoou a dívida. Sensível às dificuldades de seu inquilino, reduziu ainda mais o valor a ser pago a cada mês.

"Mesmo assim, a sorte do taverneiro apenas piorava. Seus débitos ainda acumulavam-se, novamente o intermediário pressionava para receber o pagamento, novamente recebeu a notificação, e outra vez correu a Ruzhin. Entretanto, desta vez os apelos do Ruzhiner foram em vão. 'O Rebe não é o dono de meu dinheiro,' disse Reb Yaacov. 'Já fiz mais que se poderia esperar de mim. Não posso mais arcar com essas dívidas sempre crescentes. Ou ele paga por completo ou alugarei a taverna a outro.' 

"Pouco depois, o taverneiro foi despejado do prédio, que abrigava sua moradia e seu falido estabelecimento. Anos mais tarde, Reb Yaacov, o mediador, faleceu, e sua alma foi a julgamento perante a corte celestial. Eram muitas suas virtudes, pois tinha sido um homem íntegro e compassivo. Conduzira seus negócios com honestidade e sensibilidade, e contribuíra generosamente com os necessitados. Porém uma mancha desagradável maculava sua vida justa: havia atirado um judeu às ruas, privando-o e à sua família com crianças pequenas de seu lar e meio de vida.

" 'Que mais poderia ter feito?' — objetou Reb Yaacov. 'Perdoei-o pelo dinheiro muitas vezes, e continuamente reduzi o aluguel. Além disso, esta corte não está qualificada para julgar-me neste assunto. 

" 'Por que diz isso?' perguntou o juiz superior.

" 'Aqui no céu, não se têm idéia do que é o dinheiro,' argumentou o réu — 'não entendem o que significa ganhar a vida, por isso não podem condenar o fato de que fiz o que fiz apenas porque o homem me devia dinheiro. Desejo ser julgado por uma corte que avalie o valor do dinheiro, que tenha vivenciado a labuta para sustentar a própria família.'

"A corte celestial concordou que Rabi Yaacov tinha razão. Assim, seu caso foi transferido às almas de duas grandes autoridades na Lei Judaica, Rabi Yossef Caro e Rabi Yohel Sirkisk. Os dois revisaram seu caso e acharam-no culpado.

"Mais uma vez Reb Yaacov protestou: 'Estes homens notáveis há muito deixaram o mundo físico e seus problemas de sustento. Séculos se passaram desde que eles pararam de se preocupar com dinheiro. Exijo que meu caso seja revisto por uma corte humana, com almas ainda emaranhada aos corpos e às necessidades dos corpos.' "

Neste ponto, Rabi Menachem Mendel falou a seus chassidim: "Bem, o que me dizem?" 
Os chassidim reunidos não sabiam o que responder. Novamente Rabi Menachem Mendel falou: "Confirmo que Reb Yaacov está no seu direito. Que me dizem? Mmm?"

"Finalmente, a multidão entendeu que o 'caso' estava sendo decidido. Juntamente com Rabi Menachem Mendel e proclamaram: 

"Girecht! (Ele está no seu direito!) Girecht! Girecht!"

 

 

 

 
Fonte: Chabad
            Talmud
            Midrash
            Pirke avot
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            Bíblia