Shlach, שלח לך

11/06/2014 01:00

Aspectos da 37ª

O texto desta Parashá é:

Shlach, שלח לך-( Numbers 13:1–15:41) >>Sigf.Voltar ao início

 

 

 

 

 

O texto da Haftará é:

 

  • A haftará desta parashá é Livro de Josué 2:1–24

     

Salmo 64

 

 

Leitura da Torá:Shlach, שלח לך

 

Shelach começa com o incidente principal do mau relatório dos espiões sobre a Terra de Israel. Enquanto o povo judeu se prepara para entrar na Terra de Israel, doze importantes líderes são enviados para pesquisar a Terra Prometida, dos quais dez retornam e fazem um relatório negativo ao povo, dizendo que seria impossível ao povo judeu conquistar as poderosas nações que lá viviam.

Recusando-se a dar ouvidos ao relatório positivo de Caleb e Yeoshua, a nação inteira chora e reclama por toda uma noite de total histeria. D'us ameaça o povo judeu de extermínio, quando então Moshê suplica com sucesso para que não sejam totalmente aniquilados. Mesmo assim, D'us declara que serão punidos com quarenta anos vagando pelo deserto, e durante este tempo toda aquela geração morrerá. Percebendo seu grave erro, um grupo insiste em avançar imediatamente na direção do país, contra a vontade de D'us, sendo completamente aniquilado pelas famosas nações de Amalec e Canaã.

A Torá então muda para a descrição das libações de vinho que acompanhavam muitas das oferendas levadas ao Mishcan (Tabernáculo). Após ensinar os detalhes da chalá - (não confundir com o pão que comemos no Shabat), esta refere-se à porção a ser separada de cada fornada de massa e doada a um Cohen - a Torá menciona várias leis tratando da proibição de adoração de ídolos, e o infeliz caso do homem que recebeu a pena de morte por profanar o Shabat.

A Parashá Shelach termina com o terceiro parágrafo da prece do Shemá, contendo a mitsvá de colocar tsitsit, que serve como um constante lembrete para nós, de D'us e Seus mandamentos.

        O caso trágico dos espiões é um dos mais frustrantes e intrigantes eventos dos registros da Torá. Frustrante, porque como observadores casuais, sentamos com nossas mãos atadas enquanto a história dolorosamente se desenvolve, trazendo com ela resultados tão desastrosos que as ondas de choque continuam a assombrar-nos até hoje. Intrigante, porque é quase inimaginável que uma nação que testemunhou coletivamente a glória e o poder do braço estendido de D'us quando ele os libertou do cativeiro do Egito pudesse questionar Sua capacidade de colocá-los na Terra Prometida. Como justificamos sua perda de fé e qual a conseqüência que isso tem para nós hoje?

        A Porção da Torá encerra-se com o mandamento de adornar todas as vestes de quatro cantos com os cordões de tsitsit. Rabi Mordechai Gifter faz uma fascinante observação sobre a descrição da Torá explicando a função dos tsitsit. Somos ordenados a meditar sobre os tsitsit, que nos lembram do restante das mitsvot, para que não nos deixemos levar pelas paixões de nosso coração ou pelos desejos de nossos olhos (Bamidbar 15:39).

        Rashi explica que o coração e os olhos necessitam proteção especial, pois são naturalmente inclinados a levar a pessoa ao pecado. O processo do pecado, continua Rashi, primeiro envolve os olhos percebendo um objeto de desejo. O coração então se inflama com uma ânsia pelo objeto, e juntos, o coração e os olhos impelem o corpo à ação.

        Rabi Gifter pergunta: "Se a armadilha do pecado é primeiro armada pelos olhos e depois pelo coração, como afirma Rashi, por que então a Torá os escreve na ordem oposta, declarando que os tsitsit são uma prescrição contra seguir o coração e depois os olhos?"

        De forma clássica, entendemos a posição hierárquica do homem como o último a ser criado, como sendo um símbolo do papel dominante que o gênero humano representa face a face com o universo. O palco está montado: todas as matérias primas estão em ordem, e o homem é jogado em cena para domar a força bruta, elevando-a quando a coloca a seu serviço. Entretanto, num sentido mais metafísico, talvez a colocação do homem seja para indicar que toda a criação em si não tem qualquer finalidade, é um estado totalmente incompleto até que o homem seja por fim criado.

        Nós, seres humanos, somos peculiares. Já aconteceu de você comentar com alguém um evento ou experiência e, ao comparar suas impressões, descobrir que vocês dois têm interpretações completamente diferentes do fato? Você sentiu-se esclarecido, estimulado, e interessou-se completamente na ocasião, ao passo que seu amigo ficou "ligado" nas falhas dos detalhes e achou tudo aquilo trivial e desinteressante. A realidade é, de fato, bastante elástica. Toma a forma de seja qual for a interpretação que desejamos lhe dar. Nossa atitude e conceito próprio ditam a maneira pela qual nos relacionamos com os estímulos externos, e que tipo de valor ou significado lhes atribuímos.

        Em um sentido mais alto, o Homem é um parceiro de D'us na criação porque cada um de nós, segundo nossa personalidade única e formação do caráter, "criamos" nosso próprio mundo no qual vivemos.

        Rabi Gifter explica: "É verdade que os olhos são os primeiros a induzir a pessoa a pecar; entretanto, os olhos verão apenas aquilo que o coração quiser ver!" Tsitsit exige que façamos uma reflexão sobre nossos deveres do coração, que questionemos e desafiemos nossos valores, esclarecendo o modo de ver a nós mesmos. Colocar tsitsit nos ajuda a definirmo-nos, ao identificar a causa que abraçamos. Assim como o mensageiro do elegante hotel da cidade é identificado como pertencendo ao quadro de empregados (e de fato tem um grande senso de dignidade e honra) pelo uniforme e insígnia que veste, o tsitsit serve para marcar-nos como leais servos do Todo Poderoso Criador do universo. São vestes da realeza.

        Falando por si mesmos, os espiões revelaram a decadência que precipitou este acontecimento desastroso. Em seu relatório para o povo, incluíram um gracejo auto-depreciativo que parecia um tanto desafinado com o tom e andamento de sua história. Em meio à descrição da Terra de Israel como um país cujo clima produz nações de proporções gigantescas, acrescentaram: "Éramos como gafanhotos a nossos próprios olhos e também aos olhos deles" (Bamidbar 13:33).

        O fato de os habitantes considerarem os judeus insignificantes como insetos certamente provocou sentimentos de apreensão e pavor. Entretanto, e quanto a seus sentimentos de inferioridade? O que achavam que esta declaração conseguiria?

        A resposta é clara como água: o povo judeu não perdeu a fé em D'us; perdeu a fé em si mesmo! Perderam a saudável perspectiva correta sobre qual era seu verdadeiro valor, ou de quem eram realmente. Se tivessem compreendido o imenso amor que D'us lhes devotava, teriam acreditado ser beneficiários merecedores do mais precioso dos presentes, a Terra de Israel. Em vez de olhar para si mesmos como gigantes que sem esforço poderiam esmagar as tribos canaanitas, viram uma nação de miseráveis e desanimados gafanhotos, que não mereciam o amor que lhes era concedido.

        A verdade é que D'us nos ama mais do que jamais saberemos. Como um pai compassivo, Ele nos deseja apenas o melhor. É nosso trabalho sermos Seus filhos; temos de acreditar apenas em nós mesmos e refletir sobre a nobre identidade da qual os tsitsit servem como um constante lembrete. Enquanto usarmos Seu "emblema real", orgulhosamente denominando-nos Seus filhos fiéis, então somos Seus filhos e Ele abrirá para nós Seu amor ilimitado.

        O amor de D'us com certeza vem com cordões amarrados!

 

 

Os judeus pedem a Moshê que envie espiões a Israel

        

        O povo  estava agora num local a sudoeste de Israel. Sabiam que em breve subiriam a montanha localizada na fronteira de Israel.

        Acotovelando-se animadamente, aproximaram-se de Moshê com um pedido. A única tribo que não juntou-se à multidão foi a de Levi.

"Deixe-nos enviar espiões à nossa frente," pediu o povo a Moshê, "para investigar a Terra. Aconselhar-nos-ão sobre a rota a ser tomada. Também nos informarão quais cidades podem ser facilmente conquistadas, para que saibamos onde atacar primeiro."

        É óbvio que não necessitavam de espiões para reconhecer a Terra. A Nuvem de Glória e a Arca de D'us viajavam na frente do povo. Preparavam o caminho para o povo, e indicavam para onde ir.

        Os judeus, portanto, citaram vários argumentos a fim de convencer Moshê da necessidade de exploradores.

"D'us prometeu levar-nos à Terra repleta de tudo de bom e bens preciosos," disseram-lhe. "Antes de nossa chegada, os canaanitas com certeza esconderão de nós todos os bens valiosos. Por isso, é uma boa idéia enviar agentes secretos para observar os habitantes e investigar seus esconderijos secretos.

"Mais que isso, D'us prometeu expulsar os habitantes de Canaã aos poucos. Precisamos decidir quais cidades atacar e conquistar primeiro. Os espiões também averiguarão a língua nativa. Se soubermos sua língua, podemos ser treinados para espioná-los durante a guerra, a fim de descobrir suas estratégias."

        O povo , na verdade, queria enviar espiões por causa das dúvidas que rondavam sua cabeça:

1. Apesar de D'us ter-lhes assegurado que Israel era uma terra boa, ninguém daquela geração a tinha visto. Não estavam convencidos de que a terra era especial o bastante para garantir uma guerra de grandes proporções (a guerra da época de Yehoshua durou sete anos). Os judeus queriam confirmação através de relatos de testemunhas oculares de que a Terra Prometida era de fato boa.

2. Comparados aos numerosos e bem treinados exércitos das sete nações que habitavam Canaã, o povo  tinha apenas um punhado de guerreiros sem preparo algum. Como poderiam ousar enfrentar inimigo tão temido em terreno desconhecido, sem saber exatamente seu número, o poderio de seu exército, e outros detalhes relevantes ao combate?

D'us condenou o povo pela falta de fé em Sua palavra, proclamando, por conseguinte, que aquela geração não entraria em Israel.

A Tribo de Levi, todavia, não requisitara espiões, e nenhum espião desta tribo fora enviado, conseqüentemente, os leviyim entraram na Terra Prometida.

        Quando Moshê ouviu o pedido do povo, replicou: "Jamais darei um passo antes de consultar D'us. Concordarei apenas se Ele sancionar seu plano."

Moshê perguntou ao Todo Poderoso: "Consentes em enviar espiões à Canaã?"

"Se você assim o desejar," respondeu D'us, "não o impedirei. Todavia, Moshê, envie espiões por você mesmo, não por Mim."

Quando o dono do vinhedo percebeu que a vindima estava indo muito bem e que as uvas daquela safra resultariam em vinho doce e delicioso, ordenou a seus trabalhadores: "Tragam todas as uvas ao meu celeiro!"

Contudo, de outra vez, quando experimentou uvas de outra estação, percebeu que resultariam em vinho ácido. Portanto, disse aos trabalhadores: "Podem levar todas essas uvas aos seus próprios celeiros!"

        Similarmente, D'us previu que os espiões não dariam certo, "azedariam"; por isso, não usou a frase: "Envie espiões para Mim" (como dissera, por exemplo, "Junte para Mim setenta homens; traga a Mim os leviyim"). Em vez disso, consentiu com as palavras: "Envie espiões por você mesmo."

Apesar de D'us saber que os espiões falhariam em sua missão e trariam punição a à geração inteira, não os proibiu de viajarem a Israel por diversas razões. Dentre elas:

1. Se recusasse o pedido dos israelitas, poderiam supor que a Terra não era verdadeiramente tão boa como Ele prometera. A profanação do Nome de D'us de acreditarem que o Todo Poderoso decepcionou-os era pior que a eventual punição da geração.

2. Apesar do Todo Poderoso prever todos os eventos futuros, Ele concede livre arbítrio a cada um. Apesar da exigência dos judeus de enviar espiões estar errada, os espiões tinham a opção de trazer um relato positivo e tornar a missão um sucesso.

De fato, Moshê consultou D'us no que concerne a cada espião individualmente, se tratava-se ou não de um tsadic, e D'us confirmou acerca de cada um: "Ele é um indivíduo de valor."

        No princípio desta parashá, os espiões, são descritos como "anashim," homens distintos, indicando que quando principiaram sua missão, ainda eram todos virtuosos.

Os doze homens escolhidos eram os doze melhores do povo.

        Quando Moshê informou aos judeus que D'us concordara com a empreitada, esperava que o povo respondesse que não necessitavam de espiões. Afinal, o fato de que a permissão fora concedida significava que Israel deve ser uma boa Terra.

Moshê tinha esperança de que sua aquiescência dissuadisse o povo de insistir no pedido. Os sábios discorrem uma parábola:

Alguém quer comprar um asno, mas diz que quer primeiro testá-lo. O vendedor, entusiasmado, concorda. "Posso levá-lo tanto para montanhas como para vales?" - pergunta o comprador.

"Claro!" - responde o vendedor.

Vendo que o vendedor estava tão confiante na coragem e astúcia do animal, o comprador decide que não tem nada a temer, e não faz o teste. Compra o asno e fica muito satisfeito.

Da mesma forma, Moshê pensou que sua prontidão em concordar com o pedido do povo o convenceria de que não havia nada a temer.

Ele estava errado; eles queriam ouvir sobre a Terra da boca de seus iguais. Assim, Moshê enviou os espiões.

Moshê chama seu aluno Hoshea pelo novo nome: "Yehoshua"

        Um dos espiões escolhidos por Moshê era o notável aluno Yehoshua. Na verdade, seu nome sempre fora "Hoshea". Antes da viagem dos espiões, Moshê mudou seu nome para "Yehoshua". Adicionou a letra extra Yud ao início do nome. (Moshê utilizou-se do Yud que D'us havia retirado do nome de Sarai, a primeira matriarca, ao mudar seu nome para Sara.)

        A Torá refere-se a ele como "Yehoshua" antes mesmo deste incidente, em honra a Moshê, que lhe deu este nome.

Por que Moshê fez isso? Temia que os espiões pudessem não levar a incumbência a cabo de maneira correta. E assim, adicionou a "Hoshea" a letra Yud, que vale como nome de D'us, como se para dizer: "Que D'us o salve dos perversos planos dos espiões!"

        Por que Moshê preocupou-se especialmente por Yehoshua?

Como lemos na parashá passada, era de conhecimento geral, através da profecia anunciada por Eldad que, após o falecimento de Moshê, Yehoshua o sucederia. Moshê pensou que Yehoshua pudesse juntar-se aos espiões por causa de sua grande modéstia. Uma vez que fora decretado que Moshê faleceria antes de entrar na Terra, Yehoshua poderia aquiescer ao plano deles a fim de prolongar a vida de Moshê, adiando, assim, o momento em que ele próprio assumiria o manto da liderança.

        A troca do nome de Yehoshua denota que, mesmo antes da missão começar, Moshê suspeitava que não terminaria bem. Não obstante, permitiu que os espiões fossem, pois o povo assim queria, e D'us não nega ao povo o direito ao livre-arbítrio.

Moshê instrui os espiões

        Moshê jamais vira pessoalmente a Terra Prometida, mas tinha fé explícita na garantia de D'us de que era uma Terra na qual "jorravam o leite e o mel."

Por isso, forneceu instruções detalhadas aos espiões, que os fariam retornar, pensou, com um relato extremamente favorável. O povo então viajaria à Terra em júbilo.

Esclareceu extensamente os espiões nos seguintes pontos:

1. Deveriam tomar a rota designada a mostrar-lhes a fertilidade da Terra, sua produtividade e clima favorável.

2. O sul de Israel é sua parte menos fértil. (Por esta razão as vizinhanças de Hebron foram escolhidas como cemitério.) Não obstante, até mesmo esta região era sete vezes mais frutífera que a cidade mais produtiva na fértil terra do Egito. Moshê instruiu os espiões para que começassem investigando esta região, e então prosseguirem para o norte, em direção a áreas cada vez mais produtivas, a fim de apreciar plenamente a fantástica abundância da Terra.

"Encontrem os louvores de Canaã," disse-lhes. "Vejam se os frutos são grandes e suculentos ou secos e mirrados (e não deixarão de notar quão saborosos são os frutos). Cortem alguns frutos de tamanho médio (para que os judeus vejam com seus próprios olhos que seus louvores e elogios não são exagerados)."

        Moshê direcionou os espiões num segundo ponto básico. Sabia que os judeus temeriam a guerra contra os poderosos exércitos de Canaã. Portanto, mostrou que mesmo que os canaanitas eram fisicamente fortes, D'us os subjugaria por causa de sua inferioridade espiritual.

"Descubram," ordenou Moshê aos espiões, "se o tsadic Iyov (Job), que lá reside, ainda está vivo. Se faleceu, os habitantes estão sem méritos espirituais, e certamente os sobrepujaremos. Mesmo que sejamos mais fracos, D'us nos ajudará, pois os canaanitas não têm méritos para protegê-los."

Moshê ensinou o Nome Divino de Doze Letras aos espiões, como proteção contra os perigos. (Alguns dizem que deu-lhes seu cajado.)

No dia 29 de Sivan os espiões partiram em direção à Terra Prometida.

Os espiões tornam-se corruptos

        Apesar de serem tsadikim no momento de sua indicação, corromperam-se assim que Moshê os enviou. Decidiram imediatamente trazer um relato negativo, como que para deter o povo judeu.

O que fez com que os espiões se tornassem corruptos?

Disseram uns aos outros: "Somos líderes do povo sob a liderança de Moshê. Assim que entrarmos em Israel, Yehoshua se tornará o líder. Então ele indicará um gabinete diferente de ministros. Por isso, detenhamos o povo no deserto, para assegurar que não seremos demovidos de nossos altos cargos e posições."

        Passaram os próximos quarenta dias planejando como tornar plausível que a Terra de Israel não fosse conquistada.

A narrativa dos espiões serve de exemplo de como o desejo por honra corrompe as pessoas.

        Similarmente na próxima parashá, Côrach rebelou-se porque aspirava por honra.

O desejo de uma pessoa por respeito e honra, na melhor das hipóteses, impede o serviço a D'us, ou pode corrompê-la totalmente.

        Tanto Yehoshua quanto Calêv opunham-se ao esquema dos espiões, porém enquanto Yehoshua expressava suas objeções, Calêv pensou que seria mais sábio ocultar seus pensamentos.

        Os espiões entraram em Israel pelo sul, e prosseguiram em direção ao norte. Sua presença certamente teria atraído a atenção dos canaanitas, e teriam sido mortos, se não fosse pela miraculosa proteção de Cima. D'us afligiu os governantes de cada cidade por onde passavam com uma praga. Os canaanitas, assim, ficaram preocupados em lamentar e enterrar seus mortos, e os estrangeiros passaram despercebidos.

        D'us fez com que Iyov falecesse no mesmo dia em que os espiões entraram na Terra. A perda de Iyov causou luto geral, distraindo novamente a atenção da população dos estrangeiros. Todavia, em vez de reconhecerem a Providência do Todo Poderoso, os espiões aproveitaram-se dos eventos para denegrirem Israel, reportando, mais tarde, ao povo: "É uma terra de epidemias. Onde quer que passássemos, víamos pessoas morrendo aos montes."

        Os espiões entraram nas vizinhanças de Hebron, onde fica a Gruta de Machpelá, mas estavam com medo de entrarem lá para rezar. Era de domínio público o fato de gigantes viverem naquela área.

       Apenas Calêv ignorou o perigo. Resolveu visitar o local sagrado onde nossos patriarcas estão enterrados, raciocinando: "Como posso evitar envolver-me com a conspiração dos espiões? Yehoshua está protegido pela oração de Moshê, eu, porém, devo implorar a D'us que me ajude."

        Por conseguinte, entrou na Gruta para rezar. A Shechiná entrou junto com ele, para informar os patriarcas que chegou a hora de seus descendentes conquistarem a Terra.

        Calêv atirou-se sobre os túmulos dos patriarcas e orou: "Pais do mundo! Imploro por misericórdia, que eu seja salvo dos planos dos espiões!"

        O fato de que um homem com a força de caráter de Calêv achou necessário rezar na Gruta, prova que atentação para ver os aspectos negativos da Terra era muito forte, mesmo partindo de homens da estatura dos espiões.

        Por causa da oração de Moshê, Yehoshua não teve necessidade de unir-se a Calêv em Hebron. Sempre que Yehoshua contemplava o nome que Moshê lhe dera, sua fé se fortalecia.

        Eles escolheram, contudo, frutas monstruosas, super desenvolvidas, a fim de mais tarde contar ao povo que um país que produz frutas tão estranhas era bizarro, e pessoas comuns não sobreviveriam lá.

        Os espiões colheram um galho de videira do qual pendia um cacho de uvas extremamente pesado. Eram necessárias oito pessoas para transportá-lo. O nono espião carregou figos, e o décimo, uma romã. Todavia, Yehoshua e Calêv, que perceberam que os espiões utilizariam esses frutos para denegrir Israel, não carregaram nada.

        (O cacho de uva que eles portaram na volta foi suficiente para fazer vinho para os sacrifícios que seriam ofertados durante os próximos quarenta anos de permanência no deserto.)

        Durante todos os quarenta dias de viagem, os espiões engendraram e ensaiaram um discurso que agitaria a comunidade inteira.

        Geralmente, uma excursão através de Israel duraria mais de quarenta dias. Contudo, D'us sabia que os judeus expiariam com um ano deserto por cada dia que os espiões ficaram na Terra. Por pena dos judeus, Ele condensou a rota dos espiões e, portanto, a subseqüente punição do povo.

A volta dos espiões

        Os espiões voltaram no quadragésimo dia, na noite de 9 de Av. Antes de entrarem em suas tendas, aproximaram-se da casa de estudos.

Viram Moshê, Aharon, o San'hedrin (Corte Suprema) e o povo estudando as leis de chalá (separar um pedaço de massa) e orlá (a proibição de ingerir frutos nos primeiros três anos após o plantio de uma árvore).

"Vocês não precisam estudar tais leis, que se aplicam somente em Israel," disseram zombeteiramente ao povo. "Jamais conseguirão pô-las em prática."

        Os espiões despejaram seu discurso cuidadosamente preparado. Primeiro, elogiaram e louvaram Israel. Sabiam que suas perversas afirmações só seriam aceitas se primeiro dissessem a verdade.

"Achamos que Israel é uma terra extraordinariamente fértil, realmente," principiaram. "A qualidade de que dela jorram o leite e o mel é literalmente verdade. As árvores estão carregadas de tâmaras doces e suculentas, das quais pinga o mel. As cabras têm tanto leite que o excesso flui ao chão. Assim, vimos verdadeiros riachos de leite e mel. Vejam os suculentos frutos que trouxemos.

"Agora, examinem os frutos de perto. Já viram uvas tão gigantescas? Não são estranhas? Bem, este país abriga habitantes monstruosos, exatamente como produz frutos monstruosos.

O deus nacional dos filisteus. Existiam templos consagrados ao deus Dagom nas cidades históricas de Gaza e Asdode (Juízes 16.21 a 30; I Samuel 5.5,6; I Crônicas 10.10). Dagom era o deus da agricultura. Tal é indicado pelo fato de terem sido mandados pelos filisteus, ao Deus de Israel, cinco ratos de ouro, semelhantes aos do campo, como sacrifício expiatóriopelo pecado; o rato do campo simbolizava, talvez, aquele Deus que tinha castigado os adoradores de Dagom. Há, provavelmente, alguma ligação ao facto de que a praga era, na sua origem, uma doença transmitida pelos ratos.

YHVH permitiu que a arca fosse tomada, para desperta e humilhar Israel e conduzi-lo ao arrependimento. Mas a tomada da arca resultou em demonstração do poder de YHVH entre os filisteus. havendo recebido a Arca como presa da guerra, osfilisteus depositaram-na diante do seu ídolo, Dagom, como tributo de agradecimento pela vitória. A imagem de Dagom ,por sua vez, compunha-se de metade de peixe e metade de homem, denotando a origem marítima desse povo, oriundo da ilha grega de Creta. No dia seguinte ao voltarem os sacerdotes filisteus ao templo de Dagom, descobriram que o seu ídolo estava caído de bruços no chão. Os sacerdotes recolocaram Dagom no lugar, mas, no dia seguinte, foi encontrado de novo caído diante da Arca, com as mãos e a cabeça cortadas (I Samuel 5.4).

Antigo Testamento se refere também a Dagom no episódio em que a Arca da Aliança foi colocada diante de Dagon (quando roubada pelos filisteus), que posteriormente, sob influência de Deus ali representada pela Arca a imagem de Dagon teve suas mão e cabeça amputadas, e posteriormente desencadeando uma "epidemia" no povo filisteu, que presume-se ser a peste bulbônica (I Samuel 5.5).

 

"É impossível conquistá-la, pois seus moradores são fortes, e as cidades fortificadas. Não podemos entrar por lado nenhum sem nos depararmos com temíveis inimigos. No sul vive Amalec..."

À mera menção do nome "Amalec", o povo tremia.

Os espiões mencionaram Amalec primeiro (apesar dos canaanitas e emoritas serem mais fortes que Amalec), pois sabiam quanto temor este nome instilava no povo.

Os espiões continuaram: "Os canaanitas residem a leste e a oeste, e os emoritas e seus parentes, também poderosos guerreiros, nas montanhas, ao norte. Assim, todas as fronteiras estão cercadas por poderosas nações."

Até aqui, os espiões não contaram nenhuma mentira abertamente. As cidades canaanitas eram, de fato, muito bem fortificadas, e os habitantes verdadeiramente poderosos. Também era verdade que havia gigantes entre eles. Contudo, a sugestão dos espiões, de que a Terra era impossível de ser conquistada não constituía um fato real, porém uma opinião pessoal. (Não lhes foi pedido que opinassem se a Terra era ou não conquistável. Se quisessem externar seus pontos de vista, deveriam tê-las mencionado a Moshê em particular.)

Os espiões continuaram: "Éramos pequenos como gafanhotos comparados a estes gigantes. Certa vez sentamos todos em uma casca de romã atirada por um deles. Sentimo-nos como gafanhotos!"

Ao ouvirem a descrição de "exércitos inimigos invencíveis", o povo começou a perder a coragem. Por isso, Yehoshua levantou-se para contradizer as palavras dos espiões.

Os espiões, porém, não deixariam que desse voz a sua opinião.

"Quieto!", gritaram. "Você não tem o direito de falar! Você tem filhas, mas não filhos. Você não teme que seus filhos sejam recrutados para o exército. Não queremos que nossos filhos sejam mortos!"

Calêv percebeu que deveria valer-se de um método diferente. Levantou-se sobre um banco e gritou de maneira provocativa: "Este foi o único ato que o Filho de Amram (Moshê) perpetrou para nós?"

Esperando que Calêv os apoiasse, os espiões silenciaram a multidão. As vozes aquietaram-se. Todos esperavam ansiosamente pela próxima sensação.

Obtendo atenção geral, Calêv concluiu: "Moshê fez muito mais! Ele não partiu o Mar Vermelho para nós? Não nos deu a maná? Por que estão com medo de conquistarem Canaã se Moshê assim ordenar? Moshê jamais nos iludiu ou induziu em erro. Se ele assim o diz, podemos prevalecer sobre nossos inimigos. Mesmo se a Terra estivesse situada nos próprios céus e Moshê nos obrigasse: 'Construam escadas e subam até lá,' deveríamos segui-lo. Nosso sucesso baseia-se em obedecê-lo, pois o que quer que Moshê diga é a vontade de D'us."

Ao ouvirem as palavras de Calêv, os espiões apressaram-se em contradizê-lo.

"Não é como você está dizendo," proclamaram. "Não podemos prevalecer sobre essas pessoas, pois são mais fortes que nós."

A fim de impedir o povo de acreditar em Calêv, os espiões trataram de caluniar a Terra: "É uma Terra que devora seus habitantes," clamaram falsamente. "É cheia de epidemias. Onde quer que passássemos, víamos pessoas morrendo. Uma vez que os habitantes são tremendamente fortes, não estavam morrendo de qualquer fraqueza física. Outrossim, o clima prejudicial da Terra destrói qualquer um que lá habite."

Moshê retrucou: "Ouviram o que Calêv disse: Yehoshua também concorda com ele! Não dêem ouvidos à maledicência dos outros espiões!"

Mas o povo não queria mudar de idéia. "São dez contra dois!" - disseram a Moshê. "Acreditamos nos dez espiões. Além disso, Yehoshua e Calêv não negaram que as cidades são fortificadas e que encontraram gigantes!"

Moshê, então argumentou: "Tudo o que eu já lhes disse não é invenção minha, mas uma ordem direta de D'us. Se estou prometendo que Ele os levará à Terra e destruirá todos seus inimigos, a garantia é do próprio D'us. Aquele que realizou todos estes milagres até agora continuará a operar milagres mesmo depois que vocês entrarem em Israel."

Os judeus choram sem motivo

    Os dez espiões viram que os judeus tinham se acalmado com as palavras de Calêv e Moshê. Decidiram tentar uma tática diferente para atrair as pessoas a seu modo de pensar. Naquela noite, cada um dos dez homens voltou a sua tenda, fingindo estar doente. Vestiram mortalhas brancas, choraram e lamentaram-se. Suas famílias ficaram alarmadas e lhes perguntaram o que os afligia. "Não podemos esquecer o que vimos na terra de Canaã," disseram eles. "Estamos certos de que vamos morrer, é por isso que choramos e nos lamentamos." As famílias juntaram-se a eles e logo foram seguidas por vizinhos e amigos. Pais diziam pesarosamente a seus filhos: "Ai de vocês! Breve nossos inimigos, os emoritas, serão seus governantes!" Em pouco tempo, todos os homens da congregação estavam chorando e soluçando. As mulheres, contudo, não tomaram parte dos lamentos e prantos.

Os líderes do San'hedrin reclamaram a Moshê: "Não questionamos a justiça de D'us - se Ele decreta a morte sobre nós, aceitaremos. Mas por que Ele nos mata através das espadas dos idólatras de Canaã? Preferíamos ter morrido no Egito ou falecermos aqui no deserto."

"Será como desejam," respondeu D'us. "Vocês falecerão no deserto."

A noite de lamentação era a noite de 9 de Av. Disse o Todo Poderoso: "Vocês choraram sem motivo; portanto Eu lhes providenciarei uma razão para chorarem neste dia. Nove de Av se tornará uma época de luto nacional. Nesta mesma data, tanto o Primeiro quanto o Segundo Templo Sagrado serão destruídos."

Naquele 9 de Av foi decretado que ambos os Templos seriam deitados por terra e que os judeus seriam exilados, como está escrito (Tehilim 106:24-27): "E eles desprezaram a Terra desejada; não acreditaram em Sua palavra. Murmuraram em suas tendas, e não escutaram a Voz de D'us. Por isso, Ele jurou fazê-los cair no deserto. E fazer com que seus descendentes caíssem entre as nações, e fossem dispersados entre as terras."

As reclamações continuaram na manhã seguinte. Sempre que havia reclamações podia ser ouvido um grito vindo de um grupo de dissidentes: "Deixem-nos indicar novos líderes e voltar ao Egito!"

A frase: "Voltemos ao Egito" também implicava "ao estilo de vida egípcio," sem Torá e mitsvot. Constituía assim uma rebelião contra o Todo Poderoso.

Quando Moshê, Aharon, Yehoshua e Calêv ouviram essas palavras, temeram a punição imediata de D'us, e imploraram-Lhe misericórdia. Yehoshua e Calêv rasgaram suas vestes em angústia. Moshê e Aharon caíram sobre suas faces para rezar e expressar seu apelo para que o povo não se rebelasse contra D'us.

Moshê e Aharon estavam perplexos e sem palavras, mas Yehoshua e Calêv contradiziam os espiões veementemente. Proclamavam: "A Terra que investigamos é muito, muito boa!"

Não exageraram ao descreverem Israel como extremamente boa.

O rei assírio Sancheriv incumbiu seu general Ravshacay a persuadir os judeus a se renderem. Tentou convencê-los de que se beneficiariam instalando-se num país diferente, em vez de viver num estado de constante insegurança e prontidão para o combate em Israel. Prometeu aos judeus: "Eu os levarei a uma terra como a sua, uma terra de grãos e vinho, uma terra de pão
e vinhedos, uma terra de oliveiras e mel, onde viverão e não morrerão..." (Melachim II, 18:32). Ravshacay referia-se a um país extremamente fértil na África.

Não foi tolice do general prometer aos judeus "uma terra como sua própria terra"? Se alguém convence uma mulher a tornar-se sua esposa, será que diz: "Sou tão rico quanto seu pai; prometo-lhe a mesma carne e vinho a que estava acostumada"? Em vez disso, não deveria oferecer um padrão mais elevado de vida que aquele ao qual estava acostumada? Então por que Ravshacay não prometeu levar os judeus a uma terra melhor que sua pátria?

Contudo, nem sequer Ravshacay poderia alegar que qualquer terra fosse superior a Israel. Tal afirmação teria sido ridicularizada como uma mentira óbvia. O fato de Ravshacay (um inimigo dos judeus que queria denegrir Israel) não ousar diminuir a Terra percebe-se sua superioridade amplamente reconhecida.

Todas as nações do mundo desejavam possuir Israel. Nos tempos antigos, um rei que não possuísse um palácio lá não era considerado importante.

Yehoshua e Calêv tranqüilizaram o povo: "Se temerem apenas D'us, Ele os ajudará a conquistar a Terra. Realmente emanam dela o leite e o mel, pois seus frutos são gordos como leite, e doces como mel.

"Seu temor em relação à força dos canaanitas é uma é uma falta de fé no próprio D'us. O Todo Poderoso os expulsará na sua frente, exatamente como os tirou do Egito. Se acreditam Nele, terão êxito.

"Nós também vimos gigantes mas, diferentemente dos outros espiões, não ficamos com medo. Percebemos que a sentença de morte Celestial estava inscrita em suas faces. Não percebem que a força física dos canaanitas é irrelevante? A quota de pecados dos canaanitas já está completa, e não possuem mais méritos para protegê-los. O único grande tsadic que tinham, Iyov, cujo mérito os protegia, faleceu."

Contudo, o povo recusava-se a dar ouvidos a Yehoshua e Calêv.

Proclamaram: "Vocês não são dignos de confiança. Você, Yehoshua, deseja entrar em Israel porque se tornará líder; e você, Calêv, apoia-o porque é seu amigo íntimo. Nossos outros irmãos, os espiões, defendem nossos interesses melhor que vocês."

Os judeus decidiram ameaçar Yehoshua e Calêv atirando-lhes pedras. Imediatamente a Nuvem de Glória de D'us desceu para protegê-los. Os judeus perceberam que agiram errado e pararam.

D'us falou com Moshê bastante irado: "Por quanto tempo ainda este povo continuará a Me provocar? O que quer que Eu planeje é para seu benefício, porém constantemente escolhem reclamar.

• Eu os tirei do Egito, porém reclamaram no Mar Vermelho.

• Dei-lhes a Torá no Monte Sinai, e logo depois fizeram um Bezerro de Ouro.

• Eu lhes dei o alimento Celestial, a maná, e reclamaram dele.

• Fiz com que a nobreza de Canaã perecesse enquanto os espiões passavam através da região, para que não os molestassem. Em troca, caluniaram a Terra, dizendo: 'é uma Terra que devora seus habitantes.'

"Não há mais esperança de imbuir nesta geração a fé e temor por D'us necessários para viver em Israel. Deixe-Me destrui-los através de uma praga.

"A fim de cumprir Minha promessa aos patriarcas, Eu multiplicarei seus descendentes, Moshê, e farei deles uma grande nação!"

D'us estava prometendo a Moshê que iria formar uma grande nação a partir de sua semente e dar-lhe a Terra Prometida, cumprindo assim a promessa que fizera aos patriarcas, pois, afinal de contas, Moshê era descendente deles.

Mas Moshê disse: "Se uma cadeira que só tem três pernas não pode ficar firme, como pode um banco de uma só perna ter alguma esperança de ficar em pé? Se o mérito de três patriarcas não é suficiente para salvar seus filhos, como apenas meu mérito protegerá meus filhos ao pecarem?"

Moshê defende o povo judeu

Moshê, o pastor altruísta, fez seu melhor para defender os judeus. Apesar do povo ter se rebelado até mesmo contra Moshê, dizendo: "Retornemos ao Egito", Moshê como de costume, apressou-se para suplicar por eles.

"Se matares o povo em vez de levá-los à Terra," argumentou com o Todo Poderoso, "as nações gentias, não sabendo que Tu estás punindo os judeus por seus pecados, proclamarão: 'Por que o Todo Poderoso aniquila um povo que Ele ama e em cujo meio Ele habita? Deve ser porque Ele não tem poder para lhes dar a Terra de Canaã.'"

"Filho de Amram," replicou D'us, "Acaso as nações não conhecem Minha força porque ouviram sobre os grandes milagres que Eu realizei no Mar Vermelho?"

Moshê respondeu: "Elas dirão: 'Apesar de Ele derrotar um rei, Faraó, Ele não é capaz de conquistar os trinta e um reis de Canaã, Por conseguinte, assassinou Seu povo no deserto.'

"E agora, D'us, que Sua Misericórdia prevaleça sobre Sua ira. Cumpra Suas palavras, que Você é paciente e tolerante mesmo com iníquos. Não atente para o que eu disse antes."

A que conversa anterior referia-se Moshê?

Ao ascender ao Céu para receber as Tábuas da Lei, encontrou D'us escrevendo as palavras: "D'us é paciente e tolerante."

Perguntou: "Esta frase quer dizer que Você é indulgente quando um tsadic (justo) peca?"

"Não apenas com tsadikim," respondeu D'us. "Refere-se também a perversos."

"Por que és paciente com os iníquos?' - questionou Moshê. "Deixe-os perecerem."

"Chegará o dia," redargüiu D'us, "em que ficarás feliz com este Atributo da Misericórdia, e recorrerás a ele."

Quando os judeus pecaram no incidente dos espiões foram classificados como " perversos", porque pecaram repetidamente. Por isso Moshê apelou a D'us para ser tolerante com eles.

"Não disseste que devo ser paciente apenas com os tsadikim?" - perguntou D'us a Moshê.

"E Tu não me garantiste que És paciente também com os perversos?" - lembrou-Lhe Moshê.

Moshê disse a D'us: "Tua verdadeira força é revelada ao mundo quando exerces a paciência (pois o verdadeiro poderoso é aquele que consegue controlar-se).

"Mesmo que os judeus tenham causado Tua ira testando-O agora pela décima vez, lembre-Te de que Avraham, na décima prova com a qual o testaste, conquistou sua compaixão por seu filho Yitschac e estava disposto a sacrificá-lo. Em troca, deixe que agora Sua Misericórdia conquiste Tua ira. Então ficará claro que Tu és poderoso."

Moshê apelou ao Atributo divino da Misericórdia. D'us lhe prometera que Ele sempre responderia favoravelmente a esses Atributos. Há Treze Atributos da Misericórdia Divina, mas Moshê apelou apenas a seis, naquele momento. Sentiu que os judeus não fizeram teshuvá por sua rebelião contra D'us. Por isso, não ousou pedir por perdão completo, mas apenas por adiamento da punição, para impedir a destruição completa e imediata.

"D'us," exclamou, "que é tolerante e abundante em Misericórdia; Que perdoa iniqüidade e transgressão, Que perdoa aqueles que voltam a Ele e pune os que não o fazem, mas, em vez de destrui-los, distribui o pecado dos pais para três ou quatro gerações de seus descendentes - não decrete a morte sobre os Filhos de Israel!"

D'us replicou: "Apesar de não perdoar o povo judeu completamente, Eu os perdoarei, conforme suas palavras. Em vez de aniquilá-los imediatamente, Eu punirei esta geração com a eventual morte no deserto, e distribuirei o resto da punição sobre as próximas gerações."

A punição da Geração do Deserto

"Esta geração," jurou Ele, "que viu Meus milagres no Egito e no deserto, e não obstante testaram-Me dez vezes, não entrarão na Terra. Diga ao povo que Eu juro que cumprirei seu pedido. Pediram para falecer no deserto, e falecerão. Todos os homens com idade entre vinte e sessenta anos - aqueles que podem ser recrutados para o exército, mas recusaram-se a enfrentar os canaanitas em combate - morrerão com a idade de sessenta anos, e cavarão suas próprias sepulturas.

"Seus filhos carregarão o resto da punição vagando pelo deserto por quarenta anos, até que todos os homens da geração que deixou o Egito atinjam a idade de sessenta anos e pereçam."

De que maneira as palavras de D'us se realizaram?

Todo ano, na noite em que os judeus tinham pecado, 9 de Av, chorando sem um bom motivo, quinze mil judeus morriam.

Assim, ficava perfeitamente claro que todos que morriam em Tish'á Beav (9 de Av) - e ninguém morria em qualquer outra data - estavam sendo punidos pelos seus erros.

Na véspera de Nove de Av, àqueles que atingiram a idade de sessenta anos, Moshê proclamava: "Vão, cavem suas sepulturas!"

Cada judeu cavava sua própria sepultura, e lá descansava na noite de Tish'á Beav. Os que sobreviviam não podiam deixar seus túmulos de manhã até que Moshê proclamasse: "Todos os que estão vivos, levantem-se!"

Os membros daquela geração, que ouviram a Voz de D'us no Monte Sinai, pareciam-se com anjos, apesar de seus pecados. Na morte, seus corpos não se decompuseram.

Na véspera de Tish'á Beav do quadragésimo ano no deserto, ocorreu um acontecimento maravilhoso. Como de costume, os homens cavaram sua própria sepultura, porém na manhã seguinte descobriram que ninguém falecera. Não obstante, não ousaram acreditar que a mortandade findara, uma vez que muitos homens que tinham vinte anos à época do decreto de morte ainda estavam vivos. Por isso, pensaram que haviam errado ao calcular o início do mês. Voluntariamente, voltaram a seus túmulos pelas seis noites seguintes.

Ao verem a lua cheia aparecer em 15 de Av, tiveram certeza de que era o meio do mês. Perceberam então que o severo decreto fora abolido.

Celebraram o dia 15 de Av como Yom Tov (Dia Festivo): com grande alegria. Esta é uma das razões pelas quais celebramos anualmente esta data como um dia de júbilo.

Na verdade, os quarenta anos de peregrinação no deserto beneficiaram os que entraram na Terra. Quando os canaanitas ouviram que os judeus estavam a caminho da Terra, derrubaram suas árvores e queimaram as casas, para que os que estavam entrando encontrassem um país devastado e deserto. D'us deteve os judeus no deserto até que os canaanitas tivessem novamente cultivado o solo e reconstruído suas casas.

Mais ainda, D'us disse: "Se Eu trouxer o povo a Israel imediatamente, cada um correria para seu campo e seu vinhedo e devotaria todas as energias para cultivá-los. Segregarei os judeus no deserto por um período de quarenta anos, durante o qual estudarão Torá enquanto comerão a maná. Então, entrarão em Israel purificados."

O decreto de morte não incluía os seguintes grupos:

• Yehoshua e Calêv.

• As mulheres da geração do deserto. Elas não participaram dos pecados do povo, porém foram sempre leais a D'us e a Moshê.

• As crianças com menos de vinte anos.

• Os homens com idade acima de sessenta anos.

• Os membros da Tribo de Levi, uma vez que não participaram no pecado do bezerro de ouro, no dos espiões, e em outras rebeliões.

Todos esses grupos entraram em Israel.

A punição dos espiões e a recompensa de Calêv e Yehoshua

Os dez espiões que caluniaram a Terra morreram pouco tempo depois. Tiveram uma morte terrível. Por terem pecado com a língua, D'us alongou as línguas deles até chegarem ao ventre. Vermes rastejaram para fora de suas línguas, penetraram nos intestinos, e lhes causaram a morte.

Por que os espiões mereceram uma punição tão terrível?

1. As pessoas deveriam aprender com a própria experiência; mas nem sempre o fazem. D'us disse: "Os espiões não podem usar a desculpa de que não perceberam a seriedade de lashon hará (maledicência). Todos sabiam da punição de Miriam por ter falado sobre seu irmão Moshê (conforme se encontra na parashá anterior). Mesmo assim, recusaram-se a aprender a lição. Falaram lashon hará sobre Mim e Israel."

2. Como foram punidos através de suas línguas, os judeus puderam observar seu castigo e aprenderam uma lição importante: se os espiões tiveram uma morte terrível por falar mal de uma terra, quanto mais deve-se ter cuidado para não falar mal de uma pessoa viva.

3. Não foi concedido aos espiões a oportunidade de fazer teshuvá, pois incitaram o povo a pecar. Alguém que faz com que outros pequem é considerado muito mais culpado que aquele que peca sozinho.

Quando a Tribo de Yehudá recebeu seu território, sob a liderança de Yehoshua, Calêv recebeu o território nas cercanias de Hebron, por ordem Divina, como recompensa.

Yehoshua recebeu as porções do Mundo Vindouro que haviam sido reservadas aos espiões. A letra Yud (cujo valor numérico é dez) foi acrescida a seu nome original, Hoshea, indicando que mereceu a recompensa espiritual dos dez espiões.

Por que D'us deu a Yehoshua recompensa maior que a Calêv?

A magnitude da recompensa é proporcional à severidade da tentação. Calêv descendia de Yehudá, que tinha controle sobre sua língua. Era, portanto, naturalmente inclinado a resistir ao lashon hará, sem ter de esforçar-se muito. (Não obstante, rezou por ajuda dos Céus nos túmulos dos patriarcas, pois estava em má companhia, o que pode ser perigoso, mesmo para um tsadic.)

Yehoshua, por outro lado, era descendente de Yossef, que falou mal de seus irmãos a seu pai. Por isso, herdou uma fraqueza inerente no que tange a este pecado. Uma vez que lutou contra a tentação, sua recompensa foi proporcionalmente maior.

Quando os homens da geração ouviram o juramento do Todo Poderoso de que deveriam falecer no deserto, e ao testemunharem a morte dos espiões, lamentaram-se muito pelo seu pecado.

Uma visão chassídica sobre a falha dos espiões

O Rebe explica porque homens notáveis como os espiões não quiseram entrar na Terra Santa:

Enquanto os judeus habitavam no deserto, estavam envolvidos apenas com assuntos espirituais como o estudo da Torá. Todas suas necessidades físicas: alimento, bebida e roupas eram providos milagrosamente por D'us. Os espiões não queriam ter envolvimentos mundanos que seriam essenciais ao entrarem em Canaã. Estes líderes perceberam que os judeus teriam que trabalhar a terra, envolver-se em atividades comerciais e afins. Com certeza, estas atividades seriam guiadas pela Torá: o povo não praticaria o roubo, a calúnia a maledicência, não se intrometeria nos assuntos do próximo, etc. Também cumpririam os preceitos de maasser (dízimo), Shemitá (o ano sabático), terumá (a cota dos cohanim), etc. Todavia, o tempo deixado para o estudo e a prece seria mais escasso.

A alegação dos espiões era: "Por que deveríamos mudar o tipo de trabalho espiritual no deserto, pelo trabalho na terra de Israel? Lá, na Terra Santa lidaremos com os frutos da terra - não com a maná dos Céus; lá teremos que lidar com os canaanitas, diferente do deserto onde somos uma nação reclusa."

Os espiões concluíram que a terra Santa tornar-se-ia um "país que devora seus habitantes" - que acabaria consumindo e devorando sua espiritualidade e santidade.

Os espiões estavam errados!

"A terra é extremamente, extremamente boa". Embora o trabalho em Israel se concentrasse em assuntos simples, isso é o desejo de D'us - que mesmo as coisas mundanas da vida tivessem um cunho de Judaísmo, de terem sido realizadas por um judeu da maneira adequada, ordenada Divinamente. Isso é mais caro ao Todo Poderoso que o elevado estudo da Torá no deserto.

Hoje nos encontramos em um difícil exílio. É impossível estudar Torá oito horas por dia; tudo o que podemos fazer é participar de aulas de Torá comunitárias - muitas das quais não são profundas, mas tratam de leis simples ou histórias de nossos sábios, etc.

 

Não devemos desanimar.

"A terra é extremamente, extremamente boa." Se superarmos o desânimo e as dificuldades e nos conduzirmos de maneira judaica, mesmo nos assuntos mais simples e corriqueiros da vida, cumpriremos a suprema vontade de D'us tão eficazmente quanto através do profundo estudo da Torá no deserto. E se o fizermos com alegria, será ainda mais precioso aos olhos de D'us.

Um grupo de judeus sai para lutar sem permissão

Finalmente os judeus entenderam que haviam pecado. Deveriam ter discordado dos espiões e continuado a confiar em D'us.

Alguns deles disseram: "Pecamos por não ter confiança em D'us. Deixe-nos fazer teshuvá agindo de maneira diferente. Subiremos à montanha na fronteira de Israel e atacaremos as nações que lá habitam!"

"Não devem fazer isto!" - protestou Moshê. "D'us já decidiu que os homens desta geração morrerão no deserto e não conquistarão Israel. Por isso, D'us não estará com vocês na batalha. Vocês serão mortos pelos inimigos!"

Mas não deram ouvidos a Moshê. "Subiremos à montanha e começaremos a lutar agora!" - insistiram os judeus. "Isto mostrará como estamos arrependidos por termos dito que seria melhor retornar ao Egito."

Naturalmente, estavam errados. Poderiam ir à guerra apenas com a permissão de D'us.

Assim que chegaram à montanha, os amalequitas e os canaanitas que lá viviam desceram marchando. Atacaram os judeus e começaram a matá-los.

Mas D'us realizou um milagre: qualquer soldado inimigo que matasse um judeu morria imediatamente, como uma abelha morre após soltar seu ferrão sobre sua vítima.

As leis da oferenda de farinha e vinho

Após o incidente dos espiões e a punição infligida à geração, prevalecia um espírito de depressão e pesar.

O povo reclamou: "Talvez nossos filhos cometam algum outro pecado, então também não entrarão em Israel. Nosso povo jamais chegará à Terra."

D'us ordenou a Moshê: "Vá e dê força e ânimo aos judeus!"

"Mestre do Universo," perguntou Moshê, "como os consolarei?"

"Ensinando Torá," retrucou o Todo Poderoso. "Instrua-os na mitsvá de libações e a mitsvá de separar a chalá da massa. Essas mitsvot aplicam-se principalmente em Israel. Assim, os judeus ficarão inspirados com a confiança de que seus filhos chegarão definitivamente a Israel."

Moshê então, ensinou ao povo judeu que os sacrifícios individuais de olá e shelamim, e os sacrifícios comunitários de shelamim trazidos com os dois pães em Shavuot, devem ser acompanhados tanto por uma oferenda de farinha como de uma libação.

A oferenda de farinha que acompanha os sacrifícios acima mencionados, consiste de farinha, óleo e sal. Era completamente queimada sobre o altar. As quantidades de farinha e óleo variavam de acordo com o tipo de sacrifício que era realizado.

A oferenda vertida, uma medida de vinho, variando de acordo com o tipo de sacrifício animal que era oferecido, era trazido com cada olá e shelamim. Era vertido nos orifícios de drenagem na base do altar. No caso de uma oferenda comunitária, os leviyim cantavam enquanto o vinho era vertido.

A lei de separar uma porção da massa

Enquanto estavam no deserto, os judeus não separavam uma porção de massa. A mitsvá só se tornou obrigatória após terem entrado em Israel.

Daquele momento em diante, sempre que alguém fazia uma quantidade específica (um omer) de massa de uma das cinco espécies de cereais (trigo, cevada, aveia, espelta ou centeio) precisava separar uma parte da massa, chamada de chalá. A chalá era sagrada e entregue ao cohen.

A mitsvá de separar a chalá realmente só se aplica em Israel numa época em que a maioria do povo judeu habita lá. Contudo, nossos sábios comandaram que a chalá seja separada mesmo fora de Israel, e mesmo em nossa época, para que essas leis não sejam esquecidas. Hoje em dia queimamos a chalá e não a damos aos cohanim, porque os cohanim encontram-se impuros.

Para criar o primeiro homem, D'us juntou um pouco de terra de cada parte do mundo, e recolheu água de todos os oceanos, formando uma argila. A partir desta "massa" Ele formou Adam (Adão). Por isso, nossos sábios denominaram Adam "a chalá do mundo". Quando Chava (Eva) ofereceu-lhe o fruto proibido, fez com que Adam perdesse sua pureza original.

A mitsvá de separar a chalá tem o potencial de trazer de volta a pureza de espírito perdida através do pecado de Adam. Desta maneira, ao cumprir esta mitsvá, a mulher retifica o pecado de Chava.

Uma bênção no lar

É significativo que a mitsvá de separar a chalá da massa, foi outorgada à mulher judia. Como esteio do lar, a mulher não apenas prepara o sustento físico para a família; mas cumprindo esta mitsvá, ela também confere uma mensagem espiritual ao alimento.

A mitsvá de separar a chalá incorpora a crença de que todo nosso sustento realmente chega até nós através das mãos de D'us. Do mesmo modo que não podemos ingerir o pão a não ser que tenhamos separado a chalá, assim também uma porção de nosso sustento é sempre reservada para caridade, que é dada livremente - "do bom e do melhor."

Nossos sábios dizem a respeito da mitsvá de separar a chalá: "Isto fará com que a bênção paire sobre sua casa." A mulher, tão influente na formação dos valores e atitudes dos membros da família, traz bênçãos sobre seu lar e família através desta mitsvá, e instila fé em D'us nos que a rodeiam.

A mitsvá de separar a chalá simboliza toda a prática da cashrut, enfatizando a elevação do físico e mundano a reinos de santidade.

As mulheres judias tradicionalmente assaram suas próprias chalot, como parte da preparação para Shabat e Yom Tov, apreciando e valorizando a oportunidade de cumprir esta mitsvá. Esta mitsvá é especialmente significativa na véspera de Shabat. Antes de separar a chalá, muitas mulheres depositam algumas moedas numa caixinha de tsedacá destinada aos necessitados, especialmente aos estudantes de Torá, em Israel.

Separar a porção de chalá é fácil, porém requer uma compreensão das medidas e outros critérios envolvidos. Nem todas as massas precisam da separação da chalá. Os parágrafos seguintes fornecem um guia dos requisitos para a separação da chalá.

Requisitos da farinha e líquidos para a separação de chalá

Há três possibilidades no que tange à separação da chalá: separar a chalá com a bênção; separar a chalá sem bênção ou não separar de modo algum. A chalá deve ou não ser separada, dependendo do tipo e quantidade de farinha e líquidos que a massa contém.

Tipo de farinha: Separa-se a chalá quando a massa é feita de um ou da combinação dos seguintes cinco grãos: trigo, centeio, cevada, aveia e espelta. Outros tipos de farinha como a de arroz, soja, milho e trigo-sarraceno (cashê), quando utilizados sem "os cinco cereais" não necessitam de separação da chalá. Se utilizados combinados com a farinha de um dos cinco grãos, um rabino deve ser consultado sobre as leis para separação da chalá.

A quantidade de farinha também determina a necessidade ou não de separação da chalá; em caso positivo, uma bênção é recitada.

Conteúdo líquido: A fim de se separar a chalá com bênção, a maior parte do conteúdo líquido da massa deve ser composta de água, contanto que os requerimentos da quantidade e tipo da farinha também estejam dentro dos parâmetros. Se a maior parte do líquido contido na massa for outro que não água (como óleo, ovos, mel, suco, etc.) separa-se a chalá sem bênção.

A fim de se separar a chalá, mesmo sem a bênção, deve-se misturar pelo menos um pouco de água na massa antes da farinha e líquidos serem bem misturados juntos. Se a receita não pede água, é correto pingar algumas gotas de água.

Quantidade de farinha: A quantidade de farinha utilizada determina se a chalá será separada com ou sem bênção, ou se nem será separada. Isto depende do peso da farinha. Abaixo seguem as medidas:

Requisitos da farinha em gramas:

• Não se separa chalá ao se utilizar farinha em quantidade inferior a 1230 gramas.

• Separa-se chalá sem bênção ao se utilizar quantidade de farinha pesando entre 1230 e 1666,6 gramas.

• Separa-se chalá com bênção ao utilizar uma quantidade de farinha superior a 1666,6 gramas.

  

Como proceder

Separa-se chalá depois que a farinha e os líquidos estão bem misturados juntos formando uma massa homogênea; enquanto esta ainda está inteira, antes de ser dividida e de se formarem os pães. Antes de separar o pedaço da massa, recita-se a seguinte bênção:

Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu lehafrish chalá. (Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus Mandamentos e nos ordenou separar parte da massa.)

Remove-se então um pequeno pedaço de aproximadamente 28,8g da massa. Imediatamente após separar a chalá, quer com recitação da bênção ou não; diz-se: "Harê zê chalá" (Isto é chalá).

Atualmente, já que não podemos dar a massa aos cohanim, nem utilizá-la para nós mesmos, o costume mais difundido é queimar este pedaço em separado (por exemplo, envolto em papel alumínio), sobre o queimador do fogão.

Apesar da separação da chalá ser uma das três mitsvot especiais da mulher, qualquer pessoa acima da idade de Bar ou Bat Mitsvá pode cumprir a mitsvá, quando necessário.

Separando a chalá depois de assar a massa

Há casos em que a chalá é separada depois de se assar a massa:

• Se a massa for líquida impossibilitando a separação de chalá antes de assá-la, como a receita de diversos bolos.

• Se alguém se esqueceu de separar a chalá antes de assar.

Separa-se a chalá colocando-se todos os pães ou bolos já assados numa caixa ou recipiente, cobrindo-se todos com um pano. Tira-se então um pedaço de um dos pães ou bolos, e, quando exigido, recita-se a bênção.

Deve-se realizar este procedimento antes de se utilizar ou ingerir os produtos assados.

Massa de bolos, biscoitos, etc.

A separação da chalá ao se assar bolos, biscoitos, e confeitaria em geral, quando se assa grandes quantidades de massa, que não seja para pão ou chalá, aplicam-se as leis de separação de chalá.

Os tipos e quantidades de farinha e líquidos são os mesmos que os relativos aos pães. Sendo que a água consiste na menor parte dos líquidos na maioria das receitas de bolo, mesmo se uma receita pedir mais de 1666,6 gramas de farinha, separa-se a chalá sem bênção.

Separação da chalá em massas cozidas ou fritas: Se alguém sova uma massa com a intenção de cozinhá-la ou fritá-la (por exemplo, para macarrão ou sonhos), deve-se separar a chalá sem bênção.

O povo judeu encontra um homem que fez um trabalho proibido no Shabat

Moshê ensinou aos judeus as mitsvot de guardar o Shabat assim que começaram a travessia do deserto, mesmo antes de receberem a Torá.

Subitamente, um povo inteiro ouviu que durante vinte e quatro horas a cada semana estavam proibidos de cozinhar, assar, escrever, apagar, construir, demolir edifícios, e de todos os outros trabalhos não permitidos no Shabat.

Moshê estava preocupado de que alguns judeus cometeriam erros ou se esqueceriam, fazendo um trabalho proibido. Por isto, antes que chegasse o primeiro Shabat, ele designou indivíduos cuja função era patrulhar o acampamento durante o Shabat, assegurando-se que nenhum judeu realizaria um trabalho proibido.

No primeiro Shabat, os responsáveis ficaram satisfeitos. Todo o povo de Israel cumpriu conscientemente as leis de Shabat. Mas no segundo Shabat, tiveram uma visão chocante: um judeu estava apanhando gravetos de um campo.

Durante o Shabat, é proibido juntar plantas (como também cortar madeira e carregar em público). Este trabalho é denominado hameamer.

"Pare!" - gritaram os guardas. "É Shabat! Aquele que profana o Shabat é condenado à morte!" Mas o homem replicou: "Não me importo," e continuou a juntar os gravetos. Quando os guardas viram que o homem estava transgredindo o Shabat de propósito, prenderam-no e o levaram perante Moshê.

"Ele profanou propositadamete o Shabat," disseram a Moshê.

Moshê disse: "Este judeu deve ser punido com a morte."

Entretanto, não estava seguro sobre qual o tipo de sentença de morte o tribunal deveria pronunciar. "Coloque o homem na prisão até que eu pergunte a D'us," ordenou ele.

Moshê perguntou a D'us: "Que tipo de morte merece alguém que intencionalmente profanou o Shabat?"

D'us respondeu: "É punido com o apedrejamento."

O homem foi então punido.

Esta punição impressionou todos os judeus que a testemunharam. Perceberam como é grande a santidade do Shabat. A partir de então, fariam tudo para cumprir todas suas leis.

Conforme uma opinião de nossos sábios, este homem era um tsadic de nome Tselofchad. Ele cometeu o pecado com uma intenção positiva. Pensou: "Os homens desta geração ouviram de D'us que morrerão no deserto. Agora poderiam pensar: "Como as mitsvot foram outorgadas principalmente para serem cumpridas em Israel, e não chegaremos lá, não precisamos levá-las tão a sério." Por isto, Tselofchad decidiu sacrificar sua própria vida a fim de mostrar a todos o castigo de alguém que profana uma das mitsvot.

A mitsvá de atar tsitsit às vestimentas com quatro cantos

A parashá termina com a obrigação de lembrar todos os mandamentos; pois é uma falácia pensar que o judaísmo pode assentar-se apenas sobre a fundação de mandamentos tão primários quanto acreditar em D'us e observar o Shabat, vitais como o são.

A mitsvá de tsitsit (franjas) é um veículo que possibilita ao judeu lembrar-se de todos os preceitos da Torá.

A passagem abaixo faz parte da leitura do Shemá. A Torá nos ordena a lembrar do Êxodo do Egito todos os dias (Devarim 16:3). Os sábios instituíram que esta mitsvá deve ser cumprida durante as preces diárias, através da recitação de versículos da Torá. Escolheram, portanto, esta passagem para ser agregada ao Shemá pois, além da menção do Êxodo, contém diversos outros conceitos básicos.

Quando um judeu coloca tsitsit, considera-se como se tivesse cumprido todas as mitsvot da Torá. Aquele que cumpre a mitsvá do Shabat, também, é como se tivesse cumprido todas as mitsvot da Torá. Por esta razão, a Torá traz a história do homem que profanou o Shabat e a mitsvá de tsitsit próximas uma da outra.

"E falou D'us a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que façam para si tsitsit nos cantos de suas vestimentas, por todas as suas gerações."

O que significa a palavra tsitsit?

1. Tsitsit são "franjas". Referem-se aos fios que devem ser feitos com o propósito explícito da mitsvá (lishmá), tecidas segundo as especificações da lei judaica, e atadas às vestimentas de quatro cantos.

2. A palavra tsitsit não se refere apenas às franjas em si, mas ao que estas franjas evocam naqueles que as vestem. A palavra "hetsits" (relacionada a 'tsitsit') quer dizer olhar, observar algo intencionalmente. O tsitsit exorta aquele que o usa a olhar atentamente para as franjas a fim de se lembrar de todos os mandamentos.

Qual a importância dos cantos?

Os cantos das roupas são acessíveis e visíveis, o que é essencial no contexto deste mandamento, uma vez que as franjas devem ser vistas a fim de servirem como lembretes.

Só é obrigado a atar tsitsit às roupas se a pessoa vestir uma roupa de quatro cantos. Não obstante, a mitsvá é tão grande que nossos sábios ensinaram que um judeu deve vestir um traje de quatro cantos com tsitsit diariamente, a fim de cumpri-la. Ele também deve educar seus filhos a cumprirem a mitsvá de tsitsit.

Vestir tsitsit confere santidade ao judeu. D'us ordenou: "Envolvam-se em vestimentas parecidas com as dos anjos." Os tsitsiyot são atados às quatro asas dos anjos chamados de Chayot. A palavra canfê e canaf (que significam cantos e também asas) alude às asas dos anjos.

Por que a Torá diz: "por todas as suas gerações"?

Quando alguém é sincero acerca de utilizar até mesmo suas vestimentas como meio de conseguir devoção a D'us, pode imbuir seus filhos e as gerações posteriores com a mesma dedicação.

As pessoas nunca devem subestimar o efeito que suas ações podem ter sobre outros, especialmente sobre os que lhe são próximos, e conseguem perceber se seus atos são ou não motivados pela dedicação genuína.

"E nas franjas de cada canto prenderão um cordão azul-celeste."

Um dos oito fios deve ser de lã pura e tingido de azul, com a tinta obtida do sangue da criatura marinha de nome chilazon. Este fio não pode ser tingido com tinta azul obtida de qualquer outra fonte. O fio azul do tsitsit sugere o Trono de Glória Celestial Superior.

Os fios brancos e o azul devem se mesclar de maneira a formarem uma única franja, pois a combinação dos dois elementos constitui uma única mitsvá.

Conforme legisla Maimônides, se o fio azul não é acessível, sua ausência não impede a realização da mitsvá, com todos os fios brancos.

A identidade exata da criatura que é a fonte desta tinta azul não é conhecida hoje, de modo que o fio azul é atualmente impraticável. Nossos tsitsiyot, portanto, são compostos apenas de fios brancos. Não obstante, são casher. A cor branca é símbolo de perdão do pecado.

"E serão para vós por tsitsit, e o olhareis e recordareis de todos os preceitos de D'us, e as cumprireis."

O Todo Poderoso nos presenteou com uma mitsvá que tem o propósito de nos lembrar de todas as Suas outras mitsvot: a dos tsitsit. O objetivo das franjas é que o judeu deve olhar para elas, lembrar-se de D'us e desistir de pecar.

Como os tsitsiyot ajudam o judeu a lembrar-se de suas obrigações com o Todo Poderoso?

1. As franjas são como uma insígnia real, lembrando seus portadores de que estão sempre a serviço do Rei. Quando um judeu caminha usando tsitsit, os anjos proclamam: "Honra seja dada ao filho do Rei!"

2. Um não-judeu perguntou a Rabi Binyamini: "Que costume tolo vocês judeus observam?! Por quê penduram fios tecidos com nós nos cantos de suas roupas?"

"Eu explicarei de uma maneira simples," replicou Rabi Binyamin. "Nosso mestre Moshê queixou-se ao Altíssimo que um homem profanou o Shabat porque naquele dia não estava usando o tefilin, que lembra o judeu de seu laço entre D'us e o povo judeu. (Naquela época, os judeus usavam os tefilin o dia inteiro, exceto em Shabat, quando não deviam usá-los.) D'us disse então a Moshê: "Eu te darei uma mitsvá que se aplica até em Shabat e Yom Tov. Ordene que cada judeu coloque tsitsit, fios tecidos e com nós, a suas roupas, a fim de se lembrarem das mitsvot."

"Pois saiba que estamos agindo como as pessoas que dão nós em seus lenços a fim de lembrá-los de certas coisas."

3. Cada detalhe da mitsvá foi projetado para lembrar-nos de que, como servos do Todo Poderoso, somos obrigados a cumprir Seus mandamentos.

• Os tsitsit são atados a um canto em cada uma das quatro direções para nos lembrar de nossa obrigação, aonde quer que nos voltemos.

• O valor numérico da palavra tsitsit é 600. Se acrescentarmos a esse número os 8 fios e 5 nós (em cada canto), teremos o total de 613, um lembrete das 613 mitsvot.

Além disso, cada canto tem cinco nós para lembrar-nos dos Cinco Livros da Torá. Os oito fios em cada canto lembram que o judeu deve cuidar dos órgãos que podem levar ao pecado: olhos, ouvidos, narinas, mãos, pés, órgãos reprodutivos e o coração, ou emoções.

4. O versículo acima diz que os tsitsit ficam nas roupas para que se possa vê-los e assim lembrar-se dos mandamentos.

Os sábios interpretam esta frase "para que possas vê-Lo", referindo-se não ao tsitsit, mas a D'us (Talmud, Menachot 43b), pois cumprindo este mandamento com as intenções apropriadas, a pessoa pode aprender a ver e perceber que D'us dirige o mundo. Assim, de fato, a pessoa O vê e se lembra da obrigação de ser leal a Ele.

"E não seguireis atrás de vossos corações e de vossos olhos, através dos quais vos desviareis."

O coração e os olhos são como espiões do corpo, em busca de pecados ansiados por sua natureza animal. O coração deseja, e os olhos procuram, e o corpo peca.

A mitsvá de não ir atrás de "nossos corações" nos proíbe de ter pensamentos de heresia, e não ir atrás de "nossos olhos", de ter pensamentos de imoralidade.

Esta mitsvá se aplica em todas as épocas, tanto a homens quanto a mulheres. Somos ordenados a manter nossas mentes sempre livres de conceitos proibidos.

Somos convocados a evitar qualquer pensamento que possa nos iludir a desenraizar um fundamento da Torá. A inteligência humana é limitada, e nem todos podem certificar-se da verdade, de modo que alguém pode destruir-se se seguir seus pensamentos aleatórios. Por isso, a Torá ordena que não se pode seguir atrás dos corações e olhos, a fim de que não se desvie de acreditar em D'us.

É significativo o fato de que a parashá começa e termina com o conceito de explorar e espionar. Os espiões que foram reconhecer a Terra foram procurar perigos que justificassem suas próprias idéias preconcebidas.

Calêv e Yehoshua viram a terra e nela encontraram justificativa para a garantia de D'us de que a Terra era muito boa, enquanto seus companheiros viram apenas confirmações para seus medos. Desta feita, a Torá nos adverte para não nos deixarmos levar pelos engodos que apelam ao coração e aos olhos. Em vez disso, o judeu deve ser governado por sua inteligência e fé.

"Para que vós vos lembreis e cumprais todos os Meus Mandamentos, e sejais santos para vosso D'us."

Apenas vestir os tsitsiyot não protege o judeu do pecado. A não ser que a pessoa use o tsitsit conscientemente para aceitar a autoridade das mitsvot de D'us, ela se parece com uma pessoa que faz um nó em seu lenço para lembrar-se de algo - mas não sabe do que.

Por que a mulher é isenta desta mitsvá?

1. A mitsvá de tsitsit vigora apenas durante o dia, pois o versículo diz: "e olhareis"; daqui nossos sábios aprendem que esta mitsvá é cumprida somente quando há possibilidade de enxergar os tsitsit, i.e. de dia. Por conseguinte, mulheres são isentas desta mitsvá, como o são de todas as mitsvot limitadas pelo tempo.

(Na prática, os tsitsit são usados pelos homens continuamente, até ao dormir, para que ao acordar pela manhã, quando a mitsvá é obrigatória, estes já estejam sobre o corpo.)

2. O tsitsit nos lembra de todas as mitsvot de D'us ("lembrem-se e cumpram todos os Meus mandamentos"). Como as mulheres não são obrigadas a cumprir todas as mitsvot, não precisam usar tsitsit.

A Torá conclui que meramente lembrar não é suficiente ("para que vocês lembrem e cumpram"). A pessoa deve cumprir, realizar todos os mandamentos, e não escolher algum entre esses; deve-se lembrar de todos os mandamentos e cumpri-los com o mesmo zelo e meticulosidade.

Como ensinam os sábios: "Seja tão escrupulosos ao cumprir um mandamento 'menor' como ao cumprir um 'maior', pois você não sabe a recompensa para os respectivos mandamentos." (Avot 2:1).

Tal percepção torna a pessoa sagrada, e é esta santidade o propósito de D'us ao tirar o povo judeu do Egito.

"Eu Sou o Eterno D'us, vosso D'us, que vos tirei da terra do Egito para ser vosso D'us. Eu Sou o Eterno, vosso D'us."

Esta passagem conclui com a afirmação, freqüentemente repetida, de que Ele nos tirou do Egito e como conseqüência, somos obrigados a aceitá-Lo como nosso D'us.

Fomte:   Midrash

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