Vayakhel, ויקהל

22/02/2014 00:16

Vayakhel, ויקהל

Aspectos da 22ª

O texto desta Parashá é:

Vayakhel, ויקהל-(ÊXODO 35:01 - 38:20) >>Sigf. Ordem no Tabernáculo

 

 

 

O texto da Haftará é:

 (Ez 45:16 - 46:18)

Salmo 92

 

Leitura da Torá: Parashat Vayakhel, ויקהל

 

    Inicia-se com Moshê reunindo toda a nação de Israel para transmitir-lhes tudo aquilo que D'us lhe ordenara sobre a construção e a montagem do Mishcan nas três porções prévias da Torá.
 
            Entretanto, Moshê primeiro os adverte novamente sobre a mitsvá fundamental de guardar o Shabat, lembrando-os que embora a construção do Mishcan seja de importância transcendental, não tem precedência sobre a observância semanal do Shabat. Apenas um dia antes, em Yom Kipur, Moshê desceu do Monte Sinai com o segundo conjunto de Tábuas nas mãos, informando ao povo que eles tinham sido perdoados por D'us do horrível pecado de adorar o bezerro de ouro. Em resposta ao chamado de Moshê, os Filhos de Israel vieram com contribuições generosas para a construção do Mishcan, produzindo uma abundância de suprimentos.
 
            Os artesãos são escolhidos e inicia-se a construção, e a Torá descreve em detalhes a fabricação de cada aspecto do Mishcan.
 

Começar um incêndio

 
 
            No início da Parashá Vayakhel, aprendemos sobre a proibição de acender o fogo e a regra geral de abster-se de trabalhar no Shabat. Muitos comentaristas se detêm sobre esta idéia e dizem que, quando nos abstemos do trabalho, temos tanto tempo livre que não sabemos o que fazer com ele.
 
            Imagine esta cena: enquanto está relaxando com amigos no terraço do quintal, a conversa se volta para observações sobre outras pessoas - "Você soube do que aconteceu com...?" ou então: "Fiquei sabendo que..."
 
            Quando as pessoas não têm nada melhor para fazer, é muito fácil e tentador começar uma conversa sobre Maurício, Daniel, Raquel ou Lea. O resultado é que "incêndios" começam assim. E antes que o primeiro fogo seja extinto, torna-se uma incêndio que pode ficar fora de controle.
 
            A fofoca e a maledicência transformam-se em uma bola de fogo que consume tudo e todos em seu caminho. O que a Torá está nos sugerindo é que não apenas devemos nos abster de começar um fogo real no Shabat, mas também impedir-nos de acender um fogo proveniente da boca, onde as fagulhas voarão para todos os lados.
 
            Devemos tentar conter-nos para não falar mal, e estarmos sempre conscientes para saber onde está o extintor de incêndio.
 
            Melhor sempre é não precisar usá-lo!
 

 

 

Moshê fala a Benê Yisrael sobre a construção do Mishcan
 
    Em Yom Kipur Moshê desceu do Monte Sinai e entregou as segundas luchot (tábuas) a Benê Yisrael.
 
    Um dia depois, Moshê reuniu o povo - homens, mulheres e crianças - para dizer-lhes que D'us lhes havia ordenado construir um Mishcan, Tabernáculo. Moshê anunciou: "D'us os perdoou por fazerem o bezerro de ouro. Sua Shechiná (presença) permanecerá novamente entre nós. Permanecerá no Mishcan, uma tenda sagrada, que Ele lhes ordena construir."
 
    A alegria tomou conta dos membros do Povo de Israel pelo anúncio de Moshê. A Shechiná (presença) estava retornando a eles! Desde o pecado do bezerro de ouro o povo havia estado triste; agora sentia-se novamente feliz. Mas antes de lhes dar instruções sobre a construção do Mishcan D'us pediu que Moshê os advertisse: "Embora a construção do Mishcan seja um trabalho sagrado, sempre deverá ser interrompido antes do início do Shabat. Nenhum trabalho poderá ser realizado no Mishcan durante o Shabat."
    Avot Melachot
 
    D'us ensinou a Moshê, e este ensinou ao povo, que os trinta e nove tipos de trabalho executados para construir o Mishcan se chamam avot melachot e que nenhum deles pode ser feito no Shabat. Se um judeu faz algumas das melachot proibidas no Shabat, apesar de ter sido advertido por duas testemunhas que o viram fazer a melachá, a Torá ordena aos juízes do Bet Din (tribunal) condená-lo à morte por sekilá (pedradas).
 
 Se fez a melachá proibida porque se enganou, tem que trazer um corban chatat (oferenda). Naturalmente, há muito mais de trinta e nove tipos de melachá que são proibidas no Shabat; há centenas. Estes 39 tipos são apenas categorias, cada uma das quais inclui muitas outras atividades semelhantes. Mas estes 39 tipos se realizavam quando Benê Yisrael construiu o Mishcan.
 
As leis de Shabat devem ser estudadas cuidadosamente por todos os judeus, para que estes não cometam uma proibição no Shabat por falta de conhecimento.
 
O Mishcan é construído
 
Moshê informou aos judeus: "Betsal'el se encarregará da construção do Mishcan e Oholiav será seu assistente. Não pensem que foi minha idéia designar Betsal'el, ou que eu quis dar-lhe um cargo importante por ser bisneto de minha irmã Miriam. Foi D'us quem o indicou à frente da tarefa da construção do Mishcan".
 
Começaram as tarefas de construção. Betsal'el e Oholiav estavam à frente e indicavam aos homens e mulheres que desejavam ajudar o que deviam fazer. Alguns homens fabricavam os ganchos ou aros para as cortinas, outros cortavam a madeira para levantar as paredes, enquanto outros fundiam o ouro e a prata para depois fabricar os objetos necessários para o Mishcan. As mulheres eram muito hábeis ao retorcer o pêlo de cabra para fabricar cortinas. Sabiam como fiar o pêlo do lombo das cabras sobre os animais vivos. Assim, o pêlo se manteria limpo e puro.
 
O mais sagrado de todos os objetos do Mishcan era o aron (arca). Betsal'el era o principal trabalhador na construção do aron, e realizou esta tarefa com todo o cuidado e precisão. (Segundo outra opinião, Betsal'el não permitiu que ninguém o ajudasse na construção do aron, e o fez totalmente sozinho).
 
O aron construído sob a direção de Betsal'el era tão santo que nunca foi destruído. Jamais se construiu um segundo aron. O rei Shelomô (Salomão), que construiu o Bet Hamicdash (Templo Sagrado) em Jerusalém pôs o aron de Betsal'el no Côdesh hacodashim (Santo dos Santos). Uns cinqüenta anos antes da destruição do Bet Hamicdash, o rei Yoshiyáhu escondeu o aron debaixo do Bet Hamicdash. E não houve nenhum aron no segundo Bet Hamicdash. Quando se construir o terceiro Templo Sagrado, D'us nos devolverá o aron de Betsal'el.
 
Enquanto se construía o Mishcan, Moshê Rabênu se mantinha extremamente ocupado. Passava todos os dias pelos lugares onde trabalhavam as pessoas que se ocupavam de alguma parte do Mishcan. Somente Moshê havia recebido de D'us o projeto e o desenho de cada objeto, de modo que era sua responsabilidade assegurar-se de que ninguém cometesse erros.
 
D'us dotou todos aqueles que contribuíram na construção do Mishcan de sabedoria especial, para que cada objeto resultasse numa obra perfeita, exatamente como lhes havia ordenado.
 
O povo judeu demorou três meses para terminar a construção do Mishcan.
        Esta semana lemos a Porção final de Shemot, um livro que começa com o povo judeu escravizado pelo faraó no Egito e agora termina com a compleição da construção do Mishcan no deserto.
 
        Os comentaristas referem-se a este segundo livro como o Livro da Redenção, e este é seu tema desde o início da Parashá Shemot até o final de Pecudê. A Redenção não foi conseguida somente ao escapar da escravidão; receber a Torá no Monte Sinai deu um propósito a esta liberdade, e o repouso da Presença de D'us entre Sua nação (o resultado da conclusão do Mishcan) assinala o clímax da salvação.
 
        
 
Ordem no Tabernáculo
 
 
            "Não tenho tempo!" Esta declaração é a frase mais comum na sociedade atual. Temos muitas coisas para fazer durante o dia, e quando cai a noite estamos inevitavelmente atrasados com nossas tarefas. Como poderemos administrar melhor nosso tempo e realizar mais todos os dias?
 
            A respeito da construção do Mishcan, a porção desta semana da Torá declara: "Betsalel, filho de Uri que era filho de Chur, da tribo de Judá, fez tudo que D'us ordenou a Moshê" (Shemot 38:22). Este versículo provoca uma grande dúvida: Como Betsalel pôde fazer tudo que D'us ordenou a Moshê? Betsalel não estava presente quando D'us instruiu Moshê a construir o Mishcan!?
 
Rashi, um do maiores comentaristas da Torá, explica que o versículo nos ensina que, através de Ruach Hacôdesh, inspiração Divina, Betsalel sabia até mesmo as coisas que Moshê não lhe dissera. Embora não estivesse presente quando D'us deu as ordens a Moshê, Betsalel ainda foi capaz de construir o Mishcan exatamente de acordo com as especificações de D'us. Rashi prova que Betsalel soube de tudo através do Ruach Hacôdesh pelo fato de que quando Moshê disse a Betsalel para primeiro fazer os utensílios do Mishcan, e apenas então construir a estrutura do Mishcan em si, Betsalel corrigiu Moshê e informou-o de que deveria ser feito do outro modo.
 
        O Kli Yakar concorda com Rashi que o versículo de fato nos ensina que Betsalel sabia como construir o Mishcan através de seu próprio Ruach Hacôdesh. Entretanto, ele refuta a prova de Rashi e insiste que, na realidade, Moshê disse tudo a Betsalel, na ordem correta.
 
Por que é importante saber se a estrutura do Mishcan ou os utensílios foram feitos em primeiro lugar?
 
         É explicado que assim vemos a importância de colocarmos tudo em sua ordem correta. Jamais teremos tempo suficiente a cada dia para cumprir tudo aquilo que gostaríamos. Portanto, devemos estabelecer prioridades em nossa vida, para que possamos realizar tanto quanto possível com o tempo que nos foi reservado.
Moshê informa Benê Yisrael de como foram utilizadas as doações
 
            Betsalel, Oholiav e seus ajudantes haviam terminado de fazer o Mishcan e todos seus objetos. Somente faltava costurar os bigdei kehuná, as vestes dos cohanim.
 
            Moshê decidiu: "Calcularei exatamente a quantidade total de ouro, prata e cobre que foi doada, e informarei ao povo para qual objeto do Mishcan se utilizaram estes materiais. Não quero que ninguém suspeite que guardei uma parte de ouro ou prata para mim."
 
            Moshê reuniu todos e se sentou. Colocou Betsalel e Oholiav a seu lado como testemunhas.
 
Anunciou: "Calculei as quantidades totais de material que vocês doaram para o Mishcan e vou dizer-lhes para que objeto foram utilizados: Vocês doaram um total de 29 kikar (300 shêkel) e 730 shêkel de ouro. Doaram 100 kikar e 1775 shêkel de prata. Os 100 kikar de prata foram empregados para os 100 soquetes do Mishcan - um kikar para cada soquete".
 
            Nesse ponto Moshê parou e não continuou a falar. Não podia, porque ainda havia restado 1775 shêkel de prata, e Moshê não conseguia lembrar-se quais objetos haviam sido feitos com eles. Moshê ficou muito preocupado. Talvez alguém pensasse que ele havia desviado o restante da prata? Mas D'us ajudou Moshê, pois era o mais confiável e honesto dos homens, e Ele não queria que uma suspeita infundada recaísse sobre Moshê.
 
            "Os 1775 shêkel foram usados para os ganchos de prata e os ornamentos de prata em cima dos pilares do pátio!" - soou uma Voz Celestial. Cada pilar do pátio tinha um gancho de prata preso ao topo, no qual as cortinas que rodeavam o pátio eram presas com argolas.
 
            Moshê ficou tão feliz por D'us tê-lo livrado das falsas suspeitas que entoou quinze louvores a D'us:
 
"Tu serás louvado com cânticos e louvores; júbilo e música; força e domínio; vitória, grandeza e poder; elogios e glória; santidade e majestade; bênçãos e agradecimentos."
 
            Repetimos estes quinze louvores na prece de Yishtabach toda manhã.
 
            Moshê continuou a dizer ao povo: "Vocês doaram um total de 70 kikar e 2.400 shêkel de cobre. O cobre foi usado para fazer o altar de cobre, sua grade de cobre, e seus objetos. Foi também usado para fazer as cavilhas, os adanim, de cobre do pátio e as cavilhas do portão de entrada". Moshê também explicou ao povo que as lãs que haviam doado tinham sido usadas para fazer coberturas especiais para envolver os objetos do Mishcan antes de cada viagem.
 
Betsal'el, Oholiav e seus ajudantes costuram as bigdei kehuná
 
            Os únicos objetos que ainda faltavam para o Mishcan.eram as vestes dos cohanim. Betsalel, Oholiav e seus ajudantes as fizeram exatamente como D'us havia ordenado a Moshê. Eles teceram o êfod, o avental do cohen gadol, de uma meada com cinco linhas de diferentes cores. Uma das linhas era de ouro: este era obtido cortando o ouro em lâminas finas e depois em linhas.
 
            Betsalel e Oholiav teceram os choshên, o peitoral, cortaram as doze pedras preciosas que portava e gravaram sobre elas os nomes das doze tribos. Em seguida inseriram as pedras preciosas no material tecido. Betsalel e Oholiav também fizeram as demais bigdei kehuná seguindo exatamente as instruções de D'us: a cutonet, a camisa longa; o me'il, a jaqueta com sininhos; os chapéus, mitznêfet e migba'at; o avnet, cinturão, e o tsits, a faixa.
Um relato:
 
Como os bigdei kehuná (vestes) salvaram o Bet Hamicdash da destruição
 
            O reino do jovem imperador Alexandre Magno era imenso: governava sobre algumas partes da Europa, Ásia e África. E se propunha a conquistar todo o mundo! Seria muito ofensivo para o exército de Alexandre submeter-se ao pequeno país de Êrets Yisrael.
 
Alexandre Magno sentiu-se incomodado com os soldados judeus, certa vez que lhes pedira para ajudá-lo em uma guerra. Os judeus se negaram, pois haviam feito um trato com outro imperador, o rei da Pérsia. Responderam, pois, a Alexandre, que não podiam enviar-lhe ajuda, caso o fizessem estariam violando o tratado com o rei da Pérsia.
 
            Porém, um grupo de inimigos dos judeus, os Cutim (samaritanos), que viviam em Êrets Yisrael, enviaram soldados em apoio a Alexandre Magno. E os Cutim falaram mal dos judeus a Alexandre Magno:
 
"Os judeus pretendem rebelar-se contra ti!" - protestaram ao imperador. "Destrua seu Templo Sagrado e a cidade rebelde na qual encontra-se situado: Jerusalém!"
 
            Alexandre acreditou em suas palavras e concordou em destruir o Bet Hamicdash.
 
Quando os judeus souberam disto, todos em Êrets Yisrael se entristeceram. Avisaram ao Cohen Gadol, Shimon, que Alexandre estava para destruir o Bet Hamicdash. Shimon sabia que somente uma medida drástica impediria que o exército de Alexandre conquistasse Jerusalém.
 
            Shimon logo ficou sabendo que Alexandre e seus homens marchavam para Jerusalém. Vestido com as oito vestes de Cohen Gadol saiu ao encontro de Alexandre. Ia acompanhado das grandes figuras de Jerusalém e de jovens cohanim com tochas acesas. Shimon e seu grupo marcharam durante toda a noite e na manhã seguinte se aproximaram dos homens de Alexandre.
 
"Quem são estas pessoas?" - perguntou o imperador aos Cutim.
 
"São os judeus que se rebelam contra ti, Majestade", responderam.
 
            Quando Alexandre se encontrou frente a frente com Shimon, aconteceu algo espantoso: o imperador famoso no mundo inteiro, perante quem todos se inclinavam, desceu do cavalo e fez uma profunda reverência ante o adornado e resplandecente tsadic (homem justo).
 
Seus homens não acreditaram no que viam.
 
"Por que tu, Alexandre Magno, deverias te inclinar perante este judeu?" - perguntaram ao imperador. Alexandre explicou: "Na noite antes de cada batalha, se este homem me aparecesse em sonhos, ganharíamos esta batalha no dia seguinte. Este homem, que parece um anjo, ajudou-me a ganhar minhas guerras!"
 
Alexandre perguntou a Shimon: "Por que saíste ao meu encontro?"
 
            Shimon respondeu" "Soubemos que desejas destruir nosso Bet Hamicdash. Porém, não compreendes que é neste Templo Sagrado que rezamos sempre a D'us para que tenhas êxito nas tuas batalhas. Nossos inimigos te enganaram e te deram falsas informações sobre nós!"
 
"Quem são teus inimigos?" - perguntou Alexandre.
 
"Os Cutim", respondeu Shimon.
 
"Neste caso," disse Alexandre, "decreto que faças com eles o que quiseres."
 
            O Bet Hamicdash e Jerusalém salvaram-se da destruição graças a Alexandre ter ficado tão impressionado pelo aspecto de Shimon, vestido com suas gloriosas bigdei kehuná (vestes).
 
            Em geral, não é permitido usar as bigdei kehuná fora do Bet Hamicdash. Mas neste caso, Shimon abriu uma exceção, pois o Templo e as vidas dos judeus corriam perigo. Segundo outra opinião de nossos Sábios, as vestes usadas por Shimon eram exatamente iguais na aparência às bigdei kehuná, mas não eram sagradas. Eram apenas uma imitação das vestes dos cohanim, mas não haviam sido feitas para que os cohanim as usassem no Bet Hamicdash.
Moshê arma o Mishcan
 
            O povo de Israel levou até Moshê as partes do Mishcan que havia feito. Quando Moshê as conferiu, viu que Benê Yisrael havia feito tudo exatamente como D'us tinha lhes ordenado. Abençoou-os do seguinte modo: "Que a Shechiná (Santidade) de D'us habite no Mishcan que vocês fizeram!"
 
        As tarefas relacionadas com o Mishcan foram terminadas a 25 de Kislêv do ano 2448. Não obstante, D'us ordenou a Moshê: "Aguarda outros três meses antes de armá-lo." Como D'us pulou o dia 25 de Kislêv e não dedicou o Mishcan neste dia, disse: "Farei uma dedicação diferente nesta data de 25 de Kislêv; os Chashmonaim renovarão o Segundo Bet Hamicdash; será o primeiro dia de Chanucá".
        D'us ordenou a Moshê que aguardasse até Rosh Chôdesh Nissan para armar o Mishcan, pois Nissan é um mês de júbilo. Em Nissan, Avraham ficou sabendo que Yitschac nasceria; em Nissan, os judeus foram redimidos do Egito e em Nissan seremos redimidos no futuro.
 
        Quando chegou o momento de armar o Mishcan os grandes homens de Klal Yisrael trataram de levantar suas vigas. Mas para sua grande surpresa, não puderam fazê-lo. Assim que as encaixavam, se soltavam! Foram, pois, a Betsalel e Oholiav e lhes disseram: "Talvez vocês devam armar o Mishcan já que foram vocês que o construíram." Betsalel e Oholiav também tentaram armá-lo, mas as vigas se soltavam.
 
        Por que D'us permitiu que isso sucedesse? Viu que Moshê estava com o coração apertado, pois não lhe havia permitido construir nenhum objeto do Mishcan. D'us decidiu que, em troca, concederia a Moshê a honra de armar todo o Mishcan.
 
            "Veja D'us", - disse Moshê: " Ninguém consegue armar as vigas do Mishcan!"
 
            "Não se preocupe", D'us respondeu a Moshê: "Tente você".
 
            Um milagre aconteceu: Moshê foi pegando as vigas do Mishcan e parecia que ele as estava armando, mas na verdade elas estavam se encaixando sozinhas.
 
        Quando as paredes e a cobertura do Mishcan estavam armadas, Moshê trouxe as luchot (tábuas) que havia guardado numa caixa de madeira em sua tenda, e as pôs no aron. Então, cobriu o aron com o capôret (coberta). Colocou o shulchan (mesa) no Mishcan e pôs o lêchem hapanim (pão) sobre o shulchan (mesa). Colocou a menorá junto ao shulchan. No pátio do Mishcan, pôs o mizbêach haolá (altar) e o kiyor (lavabo). Assim que o Mishcan estava armado sobre a terra, D'us ordenou aos anjos do céu: "Armem um Mishcan no céu, idêntico ao da terra!"
 
        A Shechiná (Santidade) desce e se estabelece no Mishcan
 
        Em Rosh Chôdesh Nissan, quando o Mishcan estava armado e pronto, as nuvens de D'us o rodearam por todos os lados e por cima. O interior também estava preenchido por uma nuvem, e nela repousava a Shechiná de D'us. Assim, D'us demonstrou a seu povo que se havia estabelecido no Mishcan. Em seguida, a Shechiná de D'us pousou no aron do Côdesh Hacodashim (Santo dos Santos).
        Sabem o que significa a palavra Mishcan?
 
            Origina-se da raiz "lishcon", descansar. Mishcan significa descanso para a Shechiná.
 
        A Torá, no princípio desta Parashá, chama o Mishcan de Mishcan Haedut do testemunho. Que tipo de testemunho era? O que atestava?
 
            O Mishcan era uma prova de que D'us havia perdoado Benê Yisrael por ter feito um bezerro de ouro. D'us havia retirado Sua Shechiná quando eles pecaram; Suas nuvens de glória desapareceram e reapareceram no dia em que começaram a trabalhar no Mishcan. O Mishcan era um sinal de amor de D'us pelo Povo de Israel; um sinal de que Ele estava sempre entre eles.
 
Construir o Mishcan é tão importante como criar o mundo
 
            O Mishcan de D'us era tão importante como a criação do mundo. Vemos na Torá que ambos se assemelham:
 
            _  No primeiro dia da Criação D'us estendeu o céu como uma cortina. De maneira análoga, D'us ordenou: "Estendereis cortinas sobre o Mishcan".
 
            _No segundo dia da Criação D'us disse: "Que se estabeleça o céu para separar as águas superiores das águas inferiores." No Mishcan, o parôchet (cortina) separava o Côdesh Hacodashim (Santo dos Santos) do côdesh.
 
            _No terceiro dia da Criação D'us ordenou: "Que se reúna toda a água". No Mishcan D'us ordenou: "Fareis um kiyor (lavabo) onde juntareis água."
 
            _No quarto dia da Criação, D'us ordenou: "Que o sol, a lua e as estrelas fiquem fixas no céu." No Mishcan havia uma menorá de ouro que irradiava luz.
 
            _No quinto dia da Criação, D'us criou os peixes e as aves. No Mishcan (tabernáculo) havia keruvim (anjos) com as asas abertas.
 
            _No sexto dia, D'us criou Adam e o pôs no Gan Eden. No Mishcan, D'us ordenou: "Que Aharon seja Meu Cohen Gadol e entre na seção do Côdesh Hacodashim."
 
            Poderíamos dizer que de certa forma, Aharon foi ainda maior que o primeiro homem, Adam. Pois quando Adam pecou, D'us o expulsou do Gan Eden; porém, apesar do pecado do bezerro de ouro, D'us permitiu a Aharon entrar no Mishcan.
 
            _O sétimo dia, Shabat, foi bendito por D'us e santificado. Da mesma maneira, quando o Mishcan estava terminado, Moshê bendisse os judeus e ungiu o Mishcan e seus receptáculos com shêmen hamishchá (óleo para unção) para santificá-lo.
 
            Também comparamos o Mishcan com o mundo ao comparar a seção Côdesh Hacodashim (Santo dos Santos) com o céu e a seção côdesh com a terra. A Shechiná de D'us repousava no aron do Côdesh Hacodashim, assim como repousa nos céus. E a seção côdesh tinha um shulchan, uma mesa com comida, do mesmo modo que a terra produz alimentos.
 
            Por que D'us ordenou que se construísse o Mishcan de maneira semelhante à terra? Para demonstrar que, graças a avodá (serviço) que os cohanim realizavam no sagrado Mishcan, D'us manteria o mundo com vida. Precisamente o zechut (mérito) do Mishcan fazia o mundo existir.
 
 
E ele fez o castiçal de puro ouro
  
Lemos na porção desta semana da Torá, Vayakhel. "E seis braços saíam dos lados: três braços do castiçal de um lado, e três braços do castiçal no outro lado."

Surpreendentemente, existe uma falsa idéia sobre a menorá que ficava no Templo sagrado. Esta falsa idéia, cuja origem está em fontes não-judaicas, infelizmente penetrou nos círculos judaicos, resultando num entendimento incorreto sobre a genuína aparência da menorá.

Na verdade, os seis braços laterais do candelabro de sete braços subiam diagonalmente numa linha reta a partir do centro; não eram, como habitualmente retratados, arredondados em formato de cuia. O que torna este erro ainda mais lastimável é por ter derivado do famoso Arco de Tito (que seu nome seja obliterado para sempre).

O Imperador Romano, procurando imortalizar sua destruição do Segundo Templo Sagrado e sua pilhagem dos vasos do Templo, encomendou uma obra para assegurar seu lugar na história. Sua profanação da menorá, no entanto, não é uma representação acurada daquela que foi roubada do Templo Sagrado. Tito quis aperfeiçoar o original e portanto o "embelezou", arredondando seus ramos.

A palavra hebraica para "ramo" – "kane" – alude ao verdadeiro formato da menorá, pois seu significado literal é "um junco" – planta que cresce à beira da água, num ramo ereto e sem curvas.
Os braços da menorá eram retos

É da maior importância que esta falsificação antiga, que infelizmente foi adotada em muitas sinagogas e salas de estudo, seja corrigida de uma vez por todas, e o verdadeiro formato da sagrada menorá seja representado acuradamente.

Outro aspecto interessante da menorá eram suas "taças". Três taças, no formato de flor de amêndoa, estavam em um ramo, com um puxador e uma flor; e três taças, no formato de flor de amêndoa, no outro lado… no candelabro em si havia quatro taças, no formato de flor de amêndoa, com seus puxadores e flores" – num total de 22 taças ao todo. Em seus desenhos, estas taças viradas para baixo – o fundo da taça em cima, a abertura mais larga na base!

O que podemos aprender da incomum configuração das taças?

O propósito da menorá era o de iluminar – não apenas o interior do Templo Sagrado, mas o mundo inteiro. Este conceito está refletido também no fato de que as janelas do Templo Sagrado foram construídas para ser estreitas na parte interna e mais largas no exterior da estrutura, dessa forma canalizando a luz da menorá para fora, para o mundo em geral.

Similarmente, uma taça de boca para baixo representa o ato de derramar e prover o sustento, um simbolismo do papel judaico como uma "luz entre as nações"
 

O Formato

O símbolo da Menorá de sete braços em semicírculo é um dos mais conhecidos no mundo judaico. A maioria das chanukiyot também foram elaboradas seguindo o modelo deste símbolo. Porém, pesquisas recentes em fontes e manuscritos antigos nos levam à conclusão de que o tradicional formato em arco não era o formato da Menorá do Templo Sagrado. A Menorá original possuía braços retos, em diagonal, não arqueados, que saíam da haste central que servia também como suporte.

A Torá traz um indício bem claro. No livro do Êxodo (XXV:32) estão detalhadas as instruções para a confecção da Menorá: "Seis hastes saem de seus lados: três hastes do candelabro do primeiro lado e três hastes do candelabro do segundo lado." No texto bíblico e também na língua hebraica de então e de hoje, "canê" (haste) significa um tubo reto, nem torto nem arqueado. (Interessante notar que a palavra "canê" - significando originalmente um bastão ou tubo reto - passou para outras línguas com esta mesma conotação: para o grego, latim, francês arcaico, inglês e até para o português sem mudança no significado.)

Outras Fontes

A fonte mais clara e precisa para determinar o formato da Menorá é Maimônides. Em seu manuscrito das explicações da Mishná, Maimônides desenhou de próprio punho o formato da Menorá do Templo Sagrado - com braços retos e diagonais (imagem ao lado).

Há outra referência em transcrições antigas do livro de Maimônides que abrange todas as leis: o Mishnê Torá. Durante séculos, antes do advento da imprensa, os livros eram copiados manualmente. Nestes manuscritos antigos constam as palavras "Este era seu formato" e logo abaixo o desenho da Menorá - sempre com braços retos. Em alguns dos manuscritos, o desenho foi suprimido, provavelmente por incapacidade do escriba em copiar o desenho com precisão. Em seu lugar, foi mantido um espaço em branco abaixo dos dizeres "Este era seu formato".

Com o surgimento da impressão com caracteres hebraicos, o desenho foi definitivamente extinto dos livros de Maimônides. É de se supor que as primeiras gráficas não possuíam meios técnicos para reproduzir um desenho. Por isso, abriram mão do desenho e também omitiram do texto as palavras "Este era seu formato", que apareciam no original. Desde então, o livro Mishnê Torá, de Maimônides, tem sido impresso sem o desenho e sem alusão ao fato de que Maimônides havia desenhado esta figura em seu livro.

Além de Maimônides, também Rashi, em seu comentário sobre a Torá, assim descreve o formato da Menorá: "Seis braços da Menorá saem de seus lados - para cá e para lá em diagonal, vão subindo até atingir a altura da Menorá que é a haste central e, uma a uma, vão saindo da haste central acima da outra." Inferimos desta linguagem que os braços não eram arredondados e arqueados, mas retos, em diagonal.

Uma descrição semelhante aparece no livro "História da Guerra entre os Judeus e os Romanos", de autoria de Flavius Josephus. Lá (tradução de Dr. Simchoni, livro 7, cap. 5) está mencionado: "Deveras, era diferente o formato desta Menorá das demais que conhecemos, pois da base eleva-se um "tronco" (suporte, haste) central do qual saem as ramificações mais finas, que se assemelham a um forcado tridente."

Se é assim, como é possível que a Menorá difundida seja justamente a de formato arredondado e não a diagonal?

O Arco de Tito

Presume-se que o formato arqueado da Menorá foi extraído do relevo da menorá que aparece no Arco de Tito, em Roma. Os desenhos de lá perpetuam o saque dos objetos do Templo Sagrado e sua remoção para Roma, a mando de Tito, o general romano que destruiu o Templo Sagrado.

Mas ao que tudo indica, a menorá do Arco de Tito não é a Menorá sagrada original do Templo, pois no relevo do Arco a menorá está sem os pés. Porém, a Menorá original possuía pés, conforme descrito no Talmud (Tratado Menachot 28b).

Portanto, podemos concluir que a menorá do Arco de Tito não é a principal, mas uma das outras que havia no Templo, como por exemplo, uma das dez menorot que o rei Salomão fez quando construiu o Templo ("fez Salomão todos os utensílios... e as menorot, cinco à direita e cinco à esquerda em frente ao Santuário" - Reis I - VII: 48-49. "Fez as dez menorot de ouro de acordo e colocou cinco à direita e cinco à esquerda" - Crônicas II 4:7.

Uma opinião de nossos Sábios sustenta que, antes de Tito invadir o Templo Sagrado, os sacerdotes esconderam os objetos mais importantes num local secreto, de maneira que a Menorá levada para Roma era uma das outras.

 
O início da Parashá Vayakhel assemelha-se a um inventário do Depósito do Monte Sinai. 
 
Uma lista detalhada dos equipamentos é fornecida, e não apenas menciona-se as matérias primas, como também os indivíduos que doaram os itens. Um grupo que se destaca especialmente é o dos doze príncipes, cada um representando uma das doze tribos de Israel.

Aprendemos que "os príncipes levaram as pedras para o shohan, e as pedras para o peitoral" (Shemot 35:27). Rashi declara que os príncipes declararam que fariam sua doação ao Mishcan por último, a fim de suplementar qualquer carência de bens doados. Entretanto, como as contribuições das nações foram mais do que suficientes para a construção, nada sobrou para os príncipes doarem, exceto as pedras acima mencionadas. Aprendendo com seu erro, foram os primeiros da fila meses depois a levarem presentes para a consagração do Mishcan.

O Midrash enfatiza que durante a construção do Mishcan, Moshê não queria aceitar conselhos dos príncipes. Portanto, eles sentaram-se passivamente a um lado, deduzindo que Moshê os chamaria quando precisasse de conselho ou ajuda. Entretanto, quando ouviram o anúncio no acampamento de Israel de que as doações não mais seriam necessárias, os príncipes ficaram preocupados de que tivessem perdido a oportunidade de participar na construção do Mishcan. Por esta razão, assumiram um grande compromisso financeiro ao doar as pedras preciosas para o peitoral do Cohen Gadol.

Este comentário parece problemático. Não poderia ser que Moshê, o mais humilde de todos os homens, insistisse que os príncipes se sentassem preguiçosamente durante a construção do Mishcan? Seria Moshê arrogante demais para aceitar conselhos dos mais destacados representantes das doze tribos?

Embora Moshê possa ter sido um grande líder, certamente não foi um empreiteiro experiente. Além disso, o próprio Moshê mais tarde disse a seu sucessor, Yehoshua, que quando este tomasse as rédeas da liderança deveria pedir o conselho dos anciãos da nação, e seguir suas opiniões e sugestões. A este conselho, D'us respondeu a Yehoshua que o fardo da liderança estava sobre seus ombros: "Pode haver apenas um líder a cada geração" (Comentário de Rashi sobre Devarim 31:7). Moshê pensou que Yehoshua não era tão capaz quanto ele, Moshê, de liderar o povo judeu?

 Moshê e Yehoshua enfrentaram dois tipos diferentes de situação. Moshê estava ocupado construindo objetos sagrados. Nesta empreitada não há lugar para idéias humanas. Tudo é construído segundo as especificações esboçadas por D'us na Torá. Até mesmos os planos de Betzalel, o arquiteto do Mishcan, foram inspirados por estipulações Divinas. A participação de Moshê na construção do Mishcan também foi ditada por D'us, conforme D'us disse a Moshê: "Deves construir o Mishcan conforme o modelo que te mostrei na montanha" (Shemot 26:30).

Moshê acreditava que, ao contrário da construção do Mishcan, a missão principal de Yehoshua, de estabelecer o povo na terra de Israel, não fora completamente ditada pela Torá. Na verdade, o próprio Moshê ouviu as exigências do povo judeu no deserto mandando espiões para pesquisar a terra de Israel antes entrarem nela. Portanto, sentiu que ao conquistar Israel, Yehoshua poderia aceitar conselhos de outras pessoas ao seguir a orientação dos anciãos.

Entretanto, contrário a Moshê, D'us declarou que os assuntos referentes à colonização de Israel são de natureza similar aos assuntos a respeito do Mishcan. Apenas D'us pode dar ordens sobre o acampamento na Terra Santa, e não pode haver deliberação humana neste problema. Sendo assim, quando Moshê disse a Yehoshua para procurar a orientação dos mais velhos, D'us por Sua vez disse a Yehoshua exatamente o oposto, ao declarar que pode haver apenas um líder para cada geração – o próprio Yehoshua, sem os anciãos.

A assembléia do Mishcan destaca um aspecto do relacionamento que o povo judeu tem com D'us. Embora não houvesse nenhuma idéia humana na planta do Mishcan, cabia a Moshê e ao povo judeu no deserto construir a morada de D'us. Ao invés de criar os utensílios sagrados por si mesmo, D'us pede ao homem que empregue seu próprio esforço na criação e decoração do Mishcan.

Da mesma forma, D'us nos deu a Torá para que a usemos como um manual de instruções para construir nossas vidas. Fica a nosso critério desenvolver-nos de forma a enfrentar as provações e tribulações da vida. Felizmente, assim como Moshê teve sucesso na construção do Mishcan por seguir a ordem de D'us, foi-nos assegurado que seguindo a Torá passo a passo, nós também teremos sucesso em nossa própria construção pessoal. 
O Labutar
 
Um dos maiores paradoxos de uma vida de fé diz respeito à necessidade de trabalhar para o sustento. Se D’us é a fonte de todas as bênçãos, por que labutar para ganhar a vida? E se trabalhamos, como podemos evitar que é somente o nosso trabalho que produz resultados materiais? Parecemos divididos entre a absoluta passividade e a negação do envolvimento de D’us no mundo. Assim, aquele que crê engaja-se naquilo que poderia ser chamado de "trabalho passivo".

Nos versos introdutórios de Vayakhel, Moshê instruiu o povo de Israel: Em seis dias o trabalho será feito; mas o sétimo dia será para vós sagrado, um Shabat dos Shabatot a D’us…

Não "Trabalharás em seis dias", mas "Em seis dias o trabalho será feito". A forma passiva sugere que mesmo durante os seis dias de trabalho da semana, quando o judeu tem permissão e é obrigado a trabalhar, ele deveria estar ocupado, mas não preocupado com seus esforços materiais.
É assim que o ensinamento chassídico interpreta o versículo (Tehilim 128:2): "Se comeres o trabalho de tuas mãos, serás feliz e tudo irá bem contigo." O que o Rei David está implicando, dizem os mestres chassídicos, é que o trabalho no qual a pessoa se engaja para suas necessidades materiais (portanto "se comeres") deve ser apenas "de tuas mãos" – uma atividade do homem exterior, não um envolvimento interior. As "mãos" e "pés" da pessoa deveriam atender a seus esforços materiais, ao passo que os pensamentos e sentimentos permanecem conectados com as coisas Divinas. Este é o mesmo conceito que o implicado no versículo "Em seis dias o trabalho será feito". A pessoa não faz o trabalho; ele é "feito" – como se por sua livre vontade. O coração e a mente estão em outra parte, e somente as faculdades práticas da pessoa estão envolvidas no trabalho.

Uma pessoa compromissada com a Torah trabalha não para :ganhar o sustento", mas somente para criar um keli (recipiente) para receber as bênçãos de D’us . É isso que a Torá quer dizer com "E o Senhor teu D’us te abençoará em tudo que fizeres". O homem não é sustentado por seus próprios esforços, mas pela bênção de D’us ; é que D’us somente deseja que Sua bênção se realize em, e através, de "tudo aquilo que fizeres". O trabalho do homem simplesmente fornece um canal natural para a Divina bênção do sustento, e o homem deve sempre lembrar-se que nada mais é que um canal. Embora suas mãos preparem o canal, sua mente e coração devem permanecer concentrados na origem da bênção.
Os mestres chassídicos levam este conceito um pouco mais além. Na verdade, dizem eles, o homem não deveria realmente ter permissão de trabalhar. Pois sobre D’us está escrito: "Eu preencho os céus e a terra" e "A terra inteira está repleta de Sua glória". A reação apropriada à natureza sempre presente de D’us seria ficar em absoluta passividade. Agir de outro modo seria ser culpado daquilo que o Talmud chama de "fazer gestos perante o rei".

Se uma pessoa em pé na frente de um rei fizesse outra coisa exceto devotar atenção ao soberano, certamente arriscaria sua vida. Portanto, é somente porque a própria Torá permite, na verdade ordena" "Em seis dias o trabalho será feito" e "O Senhor teu D’us te abençoará em tudo que fizeres", que o trabalho é permitido e desejável.

No entanto, ir além do nível de envolvimento sancionado pela Torá – além do "trabalho passivo" ou "fazer um recipiente" – o que seria, em primeiro lugar, demonstrar uma falta de fé em que o sustento humano vem de D’us ; e em segundo lugar, seria o mesmo que "fazer gestos perante o rei" – um ato de rebelião perante D’us .



O Shabat Duplo

Isso explica a expressão shabat shabaton – "um shabat dos shabatot" – usado por Moshê nos versículos acima. O Shabat não é um dia de repouso seguindo seis dias de trabalho ativo. Ao contrário, é um shabat dos shabatot", um Shabat seguindo seis dias que são eles mesmos "shabats", por assim dizer – dias de trabalho passivo, nos quais o trabalho da pessoa somente engaja o ser exterior com o verdadeiro enfoque da atenção voltado a um local mais elevado.

De fato, um verdadeiro dia de descanso pode apenas ser um que se segue a uma semana como essa. Citando o versículo "Seis dias trabalharás, e farás todo teu trabalho", os Sábios dizem: "No Shabat, a pessoa deveria considerar como se todo seu trabalho estivesse completo." Este é o verdadeiro repouso – no qual alguém está totalmente livre de todos as preocupações do dia de trabalho. Se, no entanto, durante os seis dias, uma pessoa tiver se preocupado com assuntos materiais, no sétimo dia as ansiedades a invadirão; mesmo que seu corpo pare de trabalhar, sua mente não estará repousando. Por outro lado, se ele concedeu ao trabalho seu lugar correto durante a semana, a luz do Shabat o iluminará, e será shabat shabaton – um Shabat duplo. Pois o Shabat permeará então sua semana inteira, e quando o próprio dia chegar haverá uma dupla santidade.

O Dia Após Yom Kipur

Isso explica também o contexto no qual Moshê dirige os versículos acima à congregação de Israel reunida.

Nossos Sábios elaboram sobre como a construção do Mishcan (Tabernáculo) expiou e retificou pelo pecado do Bezerro de Ouro. Ostensivamente similares (tanto o Bezerro quanto o Mishcan foram uma "consagração" da matéria física, especialmente o ouro) na verdade o Mishcan era exatamente o oposto do Bezerro: o Bezerro de Ouro foi um endeusamento do material, ao passo que o Mishcan foi uma subjugação do material para servir ao Divino. Assim, no dia após o primeiro Yom Kipur, logo depois de D’us ter concedido o completo perdão ao pecado de Israel, Moshê transmitiu as instruções de D’us ao povo, para construir-Lhe uma "morada" no meio deles; naquele mesmo dia, as pessoas doaram seu ouro, prata e cobre para a construção do Mishcan.

Primeiro, no entanto, Moshê reuniu o Povo de Israel e ordenou-lhe em nome de D’us : "Em seis dias o trabalho será feito; mas o sétimo dia será para vós um dia sagrado, um Shabat dos Shabatot para D’us ." Isso implica que, como o Mishcan, este mandamento é uma refutação do pecado da idolatria, e o expia.

É traçado a origem da idolatria no fato de que a Divina providência é canalizada através de forças e objetos naturais. Os idólatras originais reconheciam que o sol, a lua e as estrelas derivavam de D’us seu poder para nutrir a terra, mesmo assim atribuíram significado divino a eles. Seu erro foi considerá-los como objetos de adoração, ao passo que nada mais são que os instrumentos de D’us , como "um machado nas mãos do lenhador".

Num certo sentido, a preocupação excessiva com os negócios e o mundo material é também uma forma de idolatria. Pois isso, também, envolve o erro de atribuir significado àquilo que nada mais é que um recipiente da bênção Divina. A preocupação materialista com coisas materiais é uma forma de inclinar a cabeça, de adoração mal dirigida. Somente quando a pessoa vê seu esforço pelo dia de trabalho pelo que realmente é – uma forma de criar um canal natural para as bênçãos de D’us – seu trabalho tomará a forma passiva e o foco de seus pensamentos será somente D’us.


Eis como a idolatria – seja em sua forma mais evidente ou formas mais sutis – é expiada. Seis dias de trabalho passivo no sentido de distanciamento mental e a percepção de que o trabalho humano é somente um instrumento de D’us , culminando e sendo inspirado por "um shabat dos shabatot" que se concentra totalmente na fonte de suas bênçãos – são a correção e a negação dos instintos de idolatria.

 

"Não tenho tempo!" Esta declaração é a frase mais comum na sociedade atual. Temos muitas coisas para fazer durante o dia, e quando cai a noite estamos inevitavelmente atrasados com nossas tarefas. Como poderemos administrar melhor nosso tempo e realizar mais todos os dias?

 

A respeito da construção do Mishcan, a porção desta semana da Torá declara: "Betzalel, filho de Uri que era filho de Chur da tribo de Judá, fez tudo que D'us ordenou a Moshê" (Shemot 38:22). Este versículo provoca uma grande dúvida: Como Betzalel pôde fazer tudo que D'us ordenou a Moshê?

Betzalel não estava presente quando D'us instruiu Moshê a construir o Mishcan!?

Um Sábio, explica que o versículo nos ensina que, através de ruach hakôdesh, inspiração Divina, Betzalel sabia até mesmo as coisas que Moshê não lhe dissera. Embora ele não estivesse presente quando D'us deu as ordens a Moshê, Betzalel ainda foi capaz de construir o Mishcan exatamente de acordo com as especificações de D'us.

 Betzalel soube de tudo através de ruach hakôdesh pelo fato de que quando Moshê disse a Betzalel para primeiro fazer os utensílios do Mishcan, e apenas então construir a estrutura do Mishcan em si, Betzalel corrigiu Moshê e informou-o de que deveria ser feito de outro modo.

 

Por que é importante saber se a estrutura do Mishcan ou os utensílios foram feitos em primeiro lugar?  

>> Assim vemos a importância de colocarmos tudo em sua ordem correta. Jamais teremos tempo suficiente a cada dia para cumprir tudo aquilo que gostaríamos. Portanto, devemos estabelecer prioridades em nossa vida, para que possamos realizar tanto quanto possível com o tempo que nos foi reservado.

 
O Shabat é a alma do tempo e infunde santidade em qualquer aspecto da Criação.

D’us consagrou o Shabat, ao fazer de seu conteúdo a essência do Universo. Este é o conceito sugerido pelos sábios sobre o que motivou D’us a criar esse dia. Eles o explicam por meio de uma parábola.

Certa vez, um rei ordenou que lhe fizessem um anel de sinete. Seus ourives o confeccionaram com um aro incrustado com gemas cintilantes. Era uma jóia de rara beleza – mas faltava-lhe o selo real. Qualquer que fosse o valor do anel, não poderia ser usado como sinete, a não ser que nele estivesse gravado o brasão real.

Analogamente ocorre com o Universo. Pode ser o paraíso naturalista, o desafio de um cientista, a mina de ouro de um ricaço – mas o Rei dos reis queria que fosse Seu anel de sinete. Queria que demonstrasse Sua Majestade ao fundir todos seus atavios combinados num só veículo, para proclamar Sua glória. Ao mundo recém-formado faltava o selo do Rei. Então, Ele lhe deu o Shabat – dia que proclama: "O mundo tem um Criador e um propósito!" Com o Shabat, o selo de D’us foi incrustado na Criação e Sua intenção foi cumprida.

Originalmente, D’us pensou em criar o homem no Shabat. D’us não é um construtor humano que se permite o luxo da improvisação. Sua intenção e Seu desempenho nunca se contradizem. Se parecem estar em conflito é só porque cada um representa uma faceta diferente da mesma unidade. A princípio, D’us pensou em criar o homem no Shabat porque sua alma pertence à santidade do dia. Mas Ele o criou no sexto dia por tratar-se de uma criatura cujo corpo físico pertence ao mundo dos animais, vegetais e minerais da terra. O ser humano, de fato, foi criado no sexto dia para entrar imediatamente no sétimo; era uma ponte entre os seis dias seculares e o sétimo, sagrado, porque essa aparente dicotomia é o propósito de sua existência. A intenção de D’us e de Sua obra completavam-se mutuamente: uma expressa a missão do homem; a outra refere-se às condições de sua vivência.

De todas as criaturas no Universo, somente o homem é capaz de conceber santidade. As formas de vida material e animal podem tornar-se sagradas, mas só se o homem consagrá-las. O Shabat é, na verdade, o selo de D’us, mas só o homem pode imprimir esta imagem sobre o Universo.
 
 
Os 39 trabalhos proíbidos no shabat
 

O Shabat é um presente Divino, um dia destinado a renovação de nossas forças e energias e diretriz da semana que irá começar. Para alcançar essa inspiração, e descanso espiritual, a Torá instituiu uma série de trabalhos (melachá, pl., melachot), os quais somos proibidos de fazer no Shabat.

A tarefa proibida de realizar no Shabat não é necessariamente um trabalho pesado. Pode ser o simples ato de apertar o botão do interruptor para acender uma luz, que não requer muito esforço. Na maioria dos casos, é um trabalho por meio do qual cria-se algo que não existia antes, como uma nova faísca de eletricidade.

Assim como D’us terminou a Criação em seis dias e "descansou" no sétimo, nós, que nos espelhamos n'Ele, nos privamos de "criar" no dia de Shabat, demonstrando claramente que acreditamos que só Ele é o Criador.

Não existe na Torá uma descrição explícita dos trabalhos proibidos no Shabat. Porém, nossos sábios chamam a atenção para o fato de que o mandamento de cuidar para não fazer trabalho no Shabat antecede imediatamente a ordem da construção do Santuário no deserto. Como cada detalhe na Torá foi projetado para nos transmitir uma lição de vida, nossos sábios concluíram que o Shabat antecede os trabalhos necessários para a construção e funcionamento do Mishcán. Portanto, a intençnao da Torá é nos ensinar que no Shabat não devemos realizar estas tarefas especÌficas, exceto em caso de risco de vida, pois salvar uma vida precede qualquer proibição de Shabat.

O Santuário foi construído de madeira, revestido de ouro, coberto por fora com peles de animais e internamente por cortinas costuradas com fios de pelo de cabrito. Assim, todos os trabalhos ligados ao plantio, tecelagem, costura, curtimento, construção, escrita, cozimento e transporte de objetos de um local a outro, dispensado na construçã do Santuário, são proibidos no Shabat.
Os trabalhos no Mishcán eram destinados às seguintes tarefas: onze para o feitio do pão (desde semear o trigo até assar o pão); treze para a confecção dos tecidos (desde a extração da matéria-prima à tecelagem); sete para o preparo dos couros (desde o abate do animal ao curtimento); sete relativos à montagem do Santuário; e um ao carregamento de suas partes e objetos.

Somam-se no total 39 trabalhos, denominados "trabalhos matrizes" ("avot melachot"). Nossos sábios, identificaram o caráter básico de cada um - por sua finalidade ou pelo modo como é feito - e apontaram uma série de outros atos aos quais esses aspectos se aplicam; consequentemente, estão incluídos nos trabalhos proibidos pela Torá, sendo derivados e/ou ramificações dos trabalhos matrizes. Além disso, há vários trabalhos que nossos sábios nos restringiram de fazer, para ter no Shabat uma atmosfera menos ligada ao cotidiano e também para não transgredir qualquer proibição da Torá. Vale notar que os acréscimos dos sábios às leis da Torá têm aprovação Divina, pois a própria Torá nos ordena obedecer os sábios.

Os 39 trabalhos matrizes proibidos no Shabat estão enumerados a seguir, acompanhados de exemplos práticos para ilustrar como e onde se aplicam hoje em dia:


1. "Arar" - cavar a terra, tornando-a mais propícia ao plantio.

Exemplos práticos desta proibição: revolver a terra com ajuda de animal, arado ou trator; arrastar um banco pesado ou brincar com bolas de gude sobre o solo.


2. "Semear" - ato para estimular o crescimento da planta.

Exemplos práticos desta proibição: jogar sementes frutíferas na terra; dispor flores num vaso com água; colocar adubo ou inseticida numa planta.


3. "Colher" - desenraizar uma planta do local onde cresceu.

Exemplos práticos desta proibição: cortar grama; colher frutas. Nossos sábios proibiram subir em àrvores ou embalar-se numa balança pendurada num galho.

4. "Agrupar a colheita" - agrupar cereais, frutos ou vegetais no local onde cresceram.

Exemplos práticos desta proibição: agrupar laranjas que caíram da àrvore; fazer um buquê de flores.
Esse trabalho só se aplica a derivados da terra e no local onde nasceram. Portanto, é permitido juntar livros no jardim ou maçãs espalhadas na cozinha.


5. "Debulhar" - separar a parte utilizável (desejada) dos produtos da terra da inutilizável (indesejada), usando força ou pressão. Antigamente, para separar a semente da casca do cereal, usava-se uma tábua especial amarrada a um animal, que arrastava-a sobre os grãos, separando-os.

Exemplos práticos desta proibição: fazer suco de uva; ordenhar vaca; espremer suco de fruta cítrica; tirar ervilha da casca (se a casca não for comestível).
É permitido espremer suco de limão diretamente sobre salada ou peixe para temperá-los, se estes não contêm nenhum líquido.


6. "Dispersar o grão ao vento" - jogar sementes ao vento para separar a parte utilizável (desejada) da não utilizável (indesejada). Mais uma forma que usava-se antigamente para separar as cascas dos grãos era jogar o cereal ao vento; assim a palha que é mais leve voava enquanto os grãos caíam no solo.

Exemplos práticos desta proibição: cuspir em direção ao vento; assoprar em amendoins para que as cascas voem e se separem.

7. "Selecionar e separar" alimento não utilizável (indesejado) do utilizável (desejado) ou separar de acordo com diferentes tipos.

Exemplos práticos desta proibição: separar a cebola (que não se quer comer) da salada; separar uma fruta estragada das demais; usar um descascador; descascar frutas ou legumes (mesmo com faca ou a mão) com antecedência; selecionar alimento sólido de uma sopa por meio de escumadeira; classificar utensílios, brinquedos ou livros de acordo com tamanhos e tipos.
É permitido descascar frutas ou legumes com faca ou a mão (não com descascador), desde que seja pouco tempo antes ou durante a refeição.

8. "Moer" - desfazer algo sólido em pedaços muito pequenos.

Exemplos práticos desta proibição: ralar legumes, picar verduras em pedaços pequenos, amassar batata cozida com amassador; amassar banana ou abacate com garfo; serrar madeira com interesse na serragem. Nossos sábios proibiram tomar remédios ou vitaminas em Shabat, exceto em caso de doença.
É permitido amassar com garfo alimento que não cresce na terra (como ovo cozido) ou esfarelar pão ou bolo.

9. "Peneirar" - separar alimento utilizável (desejado) do não utilizável (indesejado) por meio de peneira, coador ou similar.

Exemplos práticos desta proibição: peneirar farinha; coar vinho num coador especial; peneirar areia.

10. "Fazer massa" - formar massa consistente, misturando ingredientes.

Exemplos práticos desta proibição: fazer mingau (cereal em pó + leite), gelatina (pó + água), creme de chocolate (cacau ou chocolate em pó + margarina) ou cimento (cal + água); misturar purê de batata com manteiga ou margarina; misturar maionese com ketchup, formando consistência pastosa (se for líquida, é permitido).
É permitido misturar cereal em flocos com leite. Ao fazer mingau de cereal em pó para beber, deve-se colocar primeiro o leite no prato e depois acrescentar o cereal, formando uma massa líquida (não sólida).

11. "Assar/cozinhar/fritar" - colocar alimento sobre fogo ou qualquer fonte de calor, como chama aberta, chapa elétrica, brasa, chapa de metal pré-aquecida ou até em banho-maria na panela que já esteve por cima do fogo ou da chapa. Exige-se muita prudência ao aquecer alimentos no Shabat para não chegar a transgredir esta proibição, que inclui inúmeros detalhes.

Exemplos práticos desta proibição: esquentar alimento sobre fogo; misturar alimento que ainda está na panela onde foi cozido (exceto água); tampar panela (que está sobre a chapa) se a comida não estava totalmente cozida na entrada do Shabat; abrir torneira de água quente.
Para ter comida quente no Shabat, deve-se deixar previamente os alimentos por cima de um fogo coberto por uma chapa de metal ou numa chapa elétrica (costuma-se cobrir os botões para não regulá-los distraidamente); É permitido aquecer alimento sólido(sem molho ou gordura) por cima (mas não dentro) de panela que se encontra nesta chapa. É permitido cozinhar diretamente no calor do Sol, mas não sobre algo que foi previamente aquecido pelo Sol; portanto, pode-se esquentar um ovo no calor dos raios do Sol sobre prato, panela ou frigideira fria (se o utensílio foi previamente esquentado no Sol, é proibido), mas é proibido utilizar água quente de aquecedor solar.

12. "Tosquiar" - aparar pelos que cresceram no corpo do animal ou do homem.

Exemplos práticos desta proibição: depenar ave; cortar cabelo; cortar ou roer unhas; passar pente ou escova nos cabelos (que podem arrancar os cabelos) tirar sobrancelhas.

13. "Lavar" - tornar tecido ou roupa mais limpo.

Exemplos práticos desta proibição: tirar qualquer mancha; deixar tecido de molho; colocar roupa na máquina; torcer pano molhado; pendurar roupa molhada para secar.
É permitido jogar água sobre objeto de couro sem esfregá-lo.

14. "Desembaraçar a lã não trabalhada". A lã extraída do carneiro quando tosado encontra-se embaraçada e repleta de elementos estranhos como terra e areia. Antigamente passava-se uma espécie de pente para retirar impurezas e desembaraçá-la.

Exemplos práticos desta proibição: pentear fios de lã, linho ou algodão.

15. "Tingir" - alterar ou fortificar a coloração.

Exemplos práticos desta proibição: tingir tecidos; alterar cores através de recursos químicos; pintar qualquer objeto com rolo, pincel ou spray; passar batom nos lábios ou maquiagem nos olhos ou no rosto; enxugar as mãos num tecido com sujeira que pode acabar coloridindo o tecido como alimentos entre os quais morango, vinho, etc.
É permitido alterar a coloração de alimentos para melhorar seu sabor. Pode-se usar guardanapos de papel para enxugar as mãos.

16. "Fiar" - esticar e enrolar manual ou mecanicamente lã ou outra matéria prima já penteada e tingida.

Exemplo prático desta proibição: enrolar fios do tsitsit.

17. "Esticar o fio para prepará-lo para tecer" - esticar os fios entre os dois extremos da roca (máquina de fiar).

Exemplo prático desta proibição: esticar fios (numa direção) em moldura de tear manual, como para iniciar a tecer um tapete.

18. "Passar o fio entre dois anéis". No tear, os fios são passados por vários anéis que se alternam entre si, subindo e descendo, para compor o tecido.

Exemplos práticos desta proibição: fazer uma peneira; entrelaçar cesta de vime ou cadeira de palha.

19. "Tecer" - entrelaçar fios no sentido horizontal por entre fios esticados verticalmente. Com este trabalho confecciona-se o tecido propriamente dito.

Exemplos práticos desta proibição: fazer tricô ou tapeçaria; trançar corda ou fios.

20. "Desfazer os fios a fim de retocá-los".

Exemplos práticos desta proibição: puxar fio solto na roupa; retirar tapete da moldura onde foi confeccionado.

21. "Atar" - dar nó que não se desfaz facilmente.

Exemplos práticos desta proibição: fazer nó de marinheiro; apertar nó de tsitsit; fazer nó duplo; trançar dois fios para formar corda; juntar dois cordões com um nó, formando um só cordão.
É permitido fazer nó de gravata ou amarrar o sapato (mesmo se não for desfeito dentro de 24 horas), pois na verdade trata-se de laço, que não é considerado nó.

22. "Desatar" - desfazer um nó (o qual não teria sido permitido fazer no Shabat).

Exemplos práticos desta proibição: desatar fio que junta par de meias novas; desfazer nó duplo; desatar corda, separando os fios individualmente.
Se um laço no sapato complicou-se e acabou formando um nó, é permitido desfazê-lo de forma não usual (com shinui) se tiver que tirá-lo.

23. "Costurar" - unir dois tecidos ou materiais em geral.

Exemplos práticos: fazer bainha de roupa; colar papéis com fita adesiva ou cola; puxar e/ou enrolar fio de botão que está caindo para torná-lo mais firme.
Zíper ou velcro não são considerados costura e, portanto, é permitido abrir ou fechá-los no Shabat.

24. "Rasgar intencionando suturar" - rasgar qualquer material para uni-lo depois.

Exemplos práticos desta proibição: descoser a fim de costurar novamente; abrir envelope colado ou lacrado.
É permitido rasgar saquinho de papel ou plástico para retirar o alimento de maneira que o saquinho não será reaproveitado (com cuidado para não rompê-lo no meio de letras impressas nem descolá-lo).

25. "Caçar" - aprisionar um animal vivo e impedir que se livre.

Exemplos práticos desta proibição: perseguir animais com cachorro de caça; tampar uma garrafa onde um mosquito entrou; espalhar ratoeira.
É permitido prender e/ou matar animais (como cobra ou serpente) quando são ameaça iminente à vida da pessoa.

26. "Abater" - Tirar a vida de um animal.

Exemplos práticos desta proibição: fazer o ritual da shchitá; borrifar inseticida; pescar; espalhar veneno contra animais ou insetos; causar hematoma; tirar sangue de pessoa ou animal.
É permitido aplicar repelente sobre o corpo, pois não se está matando os insetos, e sim impedindo que se aproximem.

27. "Pelar o couro" - retirar pele de animal morto.

Exemplo prático desta proibição: separar couro em camadas.
É permitido retirar a pele do frango cozido (próximo ou durante a refeição), pois é considerado parte do alimento.

28. "Curtir o couro" - preparar couro, usando sal, cal, ou outros meios.

Exemplos práticos desta proibição: engraxar sapato de couro mesmo com graxa incolor; salgar a carne crua após o abate; colocar legumes para curtir; devolver um pepino azedo meio curtido para salmoura.
É permitido temperar uma salada, próximo à refeição, colocando outros temperos antes ou junto com o sal.

29. "Alisar o couro" - retirar pêlos e imperfeições do couro.

Exemplos práticos desta proibição: lixar algo; alisar argila; colar vela com chama de fogo (mesmo nos dias festivos); passar creme na pele.
Em caso de doença é permitido aplicar pomada (de forma não habitual – com shinui) numa ferida, sem alisá-la (mesmo que se alise por si só).

30. "Demarcar o couro" para cortá-lo.

Exemplos práticos desta proibição: traçar linhas para escrever sobre elas; fazer pontilhado para saber onde dobrar ou cortar o objeto.

31. "Cortar" seguindo uma certa medida.

Exemplos práticos desta proibição: cortar um desenho seguindo o pontilhado; arrancar folhas de caderno; apontar lápis; cortar papel higiênico ou saquinho plástico de um rolo; separar lenço de papel quando um está preso ao outro; serrar madeira ou metal; cortar pano; separar páginas de um livro quando estas não foram cortadas na gráfica.

32. "Escrever" ou esculpir letras, figuras ou sinais que sirvam como códigos de comunicação.

Exemplos práticos desta proibição: escrever com dedo sobre líquido que derramou na mesa, num vidro embaçado ou na areia, carimbar, unir peças de quebra cabeças; bordar letras ou figuras.
Nossos sábios proibiram uma série de ações em que é quase automático o uso da escrita, como negociar (pois implica em fazer contrato); medir ou pesar algo; dar um presente; trabalhar no Shabat em troca de um salário diário; fazer contas de matemática; ler no jornal propaganda sobre compra e venda de móveis ou imóveis.
É permitido medir febre com termômetro.

33. "Apagar" - anular qualquer escrita ou código comunicável com a intenção de reescrever no mesmo local.

Exemplos práticos desta proibição: apagar lousa escrita com giz; apagar com borracha; cortar embrulho onde há letras escritas; cortar letras carimbadas ou coladas em frutas.
Nossos sábios proibiram ler listas de qualquer tipo para não chegar a apagar algo da lista.
É permitido comer alimentos cujas letras são parte do próprio alimento, como biscoitos (neste caso, as letras e o alimento são considerados um único elemento). Porém, quando o alimento e as letras são compostas de materiais diferentes, como letras escritas com creme sobre um bolo de chocolate, as letras devem ser retiradas por completo antes de cortar o bolo.

34. "Construir" - ação ligada à montagem ou construção.

Exemplos práticos desta proibição: todas as tarefas relativas à construção, como cavar, encaixar portas e janelas, furar ou bater prego na parede, etc.; montar tenda; abrir guarda-chuva; montar qualquer utensílio; fazer queijo; fazer trança de cabelos; usar spray para fixar penteado.

35. "Destruir ou demolir" com a intenção de reconstruir no local.

Exemplos práticos desta proibição: retirar telhas do telhado; arrancar prego da parede; arrombar porta; desfazer tenda; desfazer caixa de madeira; desmanchar trança de cabelos.

36. "Acender fogo" - aumentar, prolongar ou propagá-lo.

Exemplos práticos desta proibição: riscar fósforo; acender chama de gás; ligar luz elétrica (por isso é proibido abrir porta de geladeira que automaticamente acende a luz interna; a lâmpada da geladeira deve ser desativada ou afrouxada antes do Shabat); acrescentar azeite numa lamparina; ligar motor do carro; acelerá-lo; obter faíscas através do atrito entre duas pedras; refletir a luz do Sol em lente de aumento para queimar papel.

37. "Apagar fogo" ou diminui-lo.

Exemplos práticos desta proibição: apagar fogo através de vento (abrindo janela), areia ou sopro; abaixar fogo ou chama de gás; desligar luz elétrica; retirar azeite de uma lamparina; desligar motor do carro.
Nossos sábios proibiram ler à luz de azeite, pois estando concentrada na leitura a pessoa pode esquecer que é Shabat e mexer no pavio ou no azeite para enxergar melhor.

38. "Terminar a manufatura de qualquer objeto" (denominado "bater com martelo", pois o ferreiro termina sua obra com uma última martelada) - dar o "toque final" para que um objeto possa ser utilizado.

Exemplos práticos desta proibição: afiar faca; desentortar garfo; colocar cordão num sapato novo; retirar fios deixados por costura; cortar uma lasca de madeira para usar como palito de dentes; encaixar pé que se soltou da cadeira; apertar parafuso para recolocar lente de óculos.
Nossos sábios proibiram mergulhar qualquer utensílio no micve; nadar; remar; tocar instrumentos musicais.

39. "Transportar de propriedade particular para pública e vice-versa" - transportar, jogar, entregar, empurrar ou fazer qualquer tipo de transferência de uma área de propriedade pública para uma de propriedade privada ou vice-versa, a não ser vestir roupas e outros adornos como kipá, óculos de grau, jóias, etc. Também é proibido carregar qualquer objeto num perímetro equivalente à distância de 1,92 m, em área de propriedade pública.

Exemplos práticos desta proibição: sair para a rua com lenço ou chave no bolso; mastigando bala ou chiclete; com botão solto na roupa; com óculos de leitura ou de sol; entregar ou jogar um objeto pela janela ou porta de residência particular para alguém que se encontra na rua ou vice-versa.
Se a pessoa encontra-se numa propriedade pública e se dá conta que está com algum objeto no bolso, não deve parar; se o objeto não for de valor, deve deixá-lo cair enquanto continua andando (sem dar uma parada); se for de valor, deve continuar andando até voltar à propriedade particular de onde saiu com o objeto no bolso, sem parar no caminho.
É permitido levantar um grampo de cabelo que caiu na rua e recolocá-lo no cabelo se não ultrapassar 1,92 m ao fazê-lo.
Além destes 39 trabalhos matrizes há outras tarefas proibidas por ordem rabínica para que o Shabat seja completamente diferente de um dia comum da semana. A seguir veremos alguns exemplos:

a. A proibição de transformar um sólido em líquido; assim, não se pode desmanchar gelo na mão para beber o líquido que se forma, embora seja permitido colocar gelo num copo com água para gelar a água; não se pode usar um sabonete sólido, pois se transforma em líquido. É permitido usar sabonete líquido.

b. A proibição de manusear objetos proibidos, como máquina fotográfica, instrumento musical, caneta, vela, fósforo, tesoura, etc. Também é proibido manusear animais em geral.

c. A proibição de fazer algo que, embora não seja proibido por si só, pode parecer proibido aos olhos do observador; por exemplo, ligar um aparelho num timer antes do Shabat (quando usualmente não é usado assim), como para forno de microondas, aparelho de televisão, rádio, etc. (é permitido usar um timer para luz elétrica, aquecedor ou ar condicionado.)

d. A proibição de realizar no Shabat tarefas que destoam da santidade do dia; por exemplo um moÌnho cujo dono é judeu não pode funcionar no Shabat; não é permitido assistir TV, ao passar por um aparelho que esteja ligado mesmo que este não nos pertença.

e. A proibição de falar no Shabat sobre assuntos mundanos; por exemplo, programar no Shabat um trabalho que será feito durante a semana (se esta é tarefa proibida de se realizar no Shabat).
Neste artigo colocamos apenas um pequeno resumo das leis que regem os trabalhos proibidos no Shabat. Para conhecê-los mais detalhadamente é necessário um estudo mais profundo. Um rabino deve sempre ser consultado.


Sentir e cumprir o Shabat é algo ímpar e incomparável, sobre o qual está escrito que o Shabat é chamado "um gostinho do Olám, Abá, Mundo Vindouro".

 
Porque é importante estudar sobre o Mishcan
 
        Embora hoje não tenhamos mais Mishcan nem Bet Hamicdash, é uma grande mitsvá estudar a planta e a forma do Mishcan e todas suas partes e receptáculos.
 
        Nossos Sábios nos dizem que o profeta Yechezekel recebeu uma nevuá, profecia de D'us. Nesta nevuá lhe era mostrado a planta do Terceiro Bet Hamicdash, que será construído depois da chegada de Mashiach. D'us descreveu a Yechezekel a planta exata do Terceiro Bet Hamicdash; todas suas partes e medidas.
 
        Yechezekel perguntou ao Criador: "Por que tenho que transmitir aos judeus esta profecia? De qualquer forma não podem construir o Bet Hamicdash agora. Deixe-me aguardar e lhes relatarei quando chegar o momento de construi-lo." Mas D'us respondeu a Yechezekel: "Não, não quero que aguardes. Se Benê Yisrael estudar agora os planos para a reconstrução do Bet Hamicdash, vou recompensá-los como se realmente o tivessem construído!" O mesmo se aplica a nós. Se estudarmos as plantas do Mishcan e do Bet Hamicdash, D'us nos recompensa como se estivéssemos realmente construindo uma sagrada Morada para Ele.
        O que podemos fazer para que a Shechiná (Santidade) retorne a nosso meio
 
            Na época em que existiam o Mishcan e o Bet Hamicdash, a Shechiná de D'us descia do céu e descansava no aron do Côdesh Hacodashim (Santo dos Santos). Depois da destruição do Bet Hamicdash, a Shechiná de D'us afastou-se deste mundo.
 
O que podemos fazer, pois, para que a Shechiná volte a ficar entre nós?
 
            A resposta poderá ser encontrada em Pirkê Avot (3:6, em alguns sidurim é 3:7).
 
            "Se dez pessoas se sentam juntas e estudam a Torá, a Shechiná de D'us vem repousar sobre elas. E também se cinco, três ou somente duas pessoas estudam juntas a Torá, a Shechiná repousa sobre elas. E até mesmo se um só judeu - em qualquer lugar da terra - se senta para estudar a Torá, a Shechiná repousa sobre ela."
 
Quanto mais pessoas sentarem e estudarem juntas a Torá, tanto maior será a medida de Shechiná que desce e pousa sobre elas. Cada um de nós tem o poder de fazer com que a Presença Divina retorne à terra de imediato!