Vayeira, וירא

17/01/2014 03:24

Aspectos da 4ª

O texto desta Parashá é:

Vayeira, וירא - (Gen 12:1-17:27) >> Aparece-lhe

 

 

 

O texto da Haftará é:

A haftará que acompanha esta porção é:

 
 

Salmo 11

Vayeira, וירא

   

  Esta parashá narra as promessas de D-us a Avraham e a sua descendência, que deveria ser obtida mediante Yitzhak (Isaac), filho gerado milagrosamente por Sara que era velha e estéril. O nascimento de Yitzhak leva a uma crise com Ishmael (Ismael) e sua mãe Hagar, uma escrava que havia sido dada como esposa a Avraham. Por recomendação de Sara e D-us, Avraham expulsa o filho e sua mãe. Nesta parashá é também narrada a destruição de Sodoma e Gomorra e a salvação de Lot por dois anjos. Inclui também a provação de D-us à fé de Avraham pedindo que este sacrifique seu filho Yitzhak. Avraham segue a determinação mas D-us impede o sacríficio no último momento.

 

Leitura da Torá: Vayeira, וירא   

Aparece-lhe

    A Parashá Vayerá inicia-se com a incrível demonstração de bondade por Avraham (Abraão), Áqueles que ele pensa serem três homens, mas que na verdade são anjos e o próprio Eterno - pesar de seu extremo desconforto pelo recente brit milá, circuncisão.

 

    O Eterno começa manifestando-se a Avraham assim: “Depois apareceu-lhe o IHVH nos carvalhais de Manre, estando ele assentado à porta da tenda, no calor do dia” (Gn 18:1). Parece que nada há de importante nestas palavras, mas o versículo começa dizendo que “Apareceu o Senhor...”. No hebraico esta frase está diferente: “Viu IHVH...”. A palavra traduzida por “apareceu” é o termo ra´a que significa ver, olhar, inspecionar; já a palavra que define o Eterno é o tetragrama (IHVH)! Isso significa que o Eterno viu a Avraham e se manifestaria a ele como aquele que “se torna aquilo que ele (Avraham) precisa”! Percebemos que o Eterno é o D-us que vê nossa necessidade e vem até nós a fim de suprir aquela necessidade para que nossa alegria seja plena n´Ele! Há um outro aspecto muito interessante aqui: o Senhor demonstra um cuidado e um carinho muito especiais por Avraham, pois vai até a sua tenda (casa) a fim de visitá-lo! Isso seria, no mínimo uma grande honra, se não uma grande surpresa, pois o D-us de Israel materializou-se a fim de ir à casa de seu servo para dar-lhe pessoalmente uma palavra que mudaria por completo sua vida!

 

    Os anjos entregam sua mensagem, declarando que Sara milagrosamente dará à luz a seu primeiro filho no prazo de um ano, com a idade de 90 anos (o próprio Avraham teria cem anos). Em seguida, eles seguem para a cidade de Sodoma. D'us informa a Avraham que as cidades de Sodoma e Gomorra serão destruídas por causa da perversidade, e Avraham responde com uma longa prece e dialoga com D'us pedindo pelo salvamento das cidades.

    Incapaz de encontrar dez cidadãos íntegros, D'us começa a destruir as cidades, mas não antes que os anjos salvem o sobrinho de Avraham, Lot e sua família, da destruição. Acreditando que o mundo inteiro havia sido destruído, as duas filhas de Lot embebedam o pai, para que ambas possam ficar grávidas dele, e cada uma acaba tendo um filho.

    Sara é raptada por Avimelech, o rei de G'rar, que não havia percebido que ela era casada. D'us reage castigando-o com uma peste, que o impede de tocá-la, e informa Avimelech que Sara é casada, quando então é imediatamente libertada.

    Sara concebe e dá à Luz Yitschac (Isaac), e Avraham faz uma grande comemoração. Sara vê Ishmael (o filho de Avraham com Hagar) como uma ameaça ao bem-estar espiritual de seu próprio filho. Relutante a princípio, Avraham segue a ordem de D'us, de dar ouvidos à esposa, expulsando Ishmael e Hagar de sua casa. Com Ishmael a ponto de morrer de sede no deserto, D'us escuta seus gritos e faz com que Hagar encontre um poço de água, e com isso o jovem é salvo.

    Avraham assina um pacto com Avimelech na cidade de Be'er Sheva, e vivem em paz por muitos anos. A porção da Torá conclui com a akeidá, o altar, o décimo e último teste de Avraham, no qual ele demonstra sua boa vontade em aquiescer à ordem do Criador, de oferecer seu amado filho Yitschac em sacrifício.

 

    Você está recostado em sua poltrona, relaxado e envolvido num excelente livro, bebericando um copo de limonada gelada. Apreciando totalmente este descanso muito valorizado, é subitamente interrompido pelo som do telefone. Hesitante, pega o receptor para ouvir a voz de seu amigo, David. Ele está se mudando hoje e precisa de ajuda para carregar algumas caixas. Não desejando perturbar seu tempo de folga com nenhuma espécie de trabalho pesado, você responde quase mecanicamente que não, pois está ocupado agora. Desligando o telefone, volta à trama absorvente do livro.

    A Torá, no início da porção desta semana, descreve com riqueza de detalhes como Avraham, quando visitado por três hóspedes, demonstrou enorme solicitude em servi-los e cuidar deles. Avraham "apressou-se a ir à tenda de Sara," para que ela pudesse preparar pão fresco, ele "correu até o rebanho" para preparar as melhores iguarias, e então "ficou de pé, perto deles, debaixo da árvore", enquanto comiam na sombra, assegurando-se de que cada necessidade lhes fosse fornecida (Bereshit 18:6-8).

   É observado  que, embora Avraham fosse um homem idoso e estivesse fraco por causa da circuncisão que fizera apenas três dias antes, e apesar de ter muitos servos que poderiam ter atendido os hóspedes, em sinal de respeito Avraham fez tudo sozinho, com grande zelo e entusiasmo.

    Ao final da porção da Torá há uma outra situação, na qual Avraham demonstra seu caráter zeloso. Na manhã em que Avraham levantou-se para realizar a akeidá, o sacrifício, a Torá relata que "ele se levantou cedo" para cumprir a mitsvá. Nesta difícil situação, quando Avraham recebeu ordem de levar o filho amado, pelo qual esperara ansiosamente por tantos anos, como uma oferenda, poder-se-ia pensar que a última coisa que a pessoa faria fosse acordar cedo para embarcar nesta missão! Mesmo assim, vemos que Avraham o fez. Como é possível?

    Uma vez mais, temos um exemplo da personificação de Avraham da qualidade de ser zeloso, rápido e entusiasta em cumprir as mitsvot, preceitos, de D'us. Avraham desenvolveu este traço a tal ponto que, mesmo nesta situação difícil e extremamente penosa, ainda foi capaz de superar o desejo natural de protelar, chegando mesmo a levantar-se cedo para fazer a vontade de D'us.

Isso nos ensina uma lição inacreditável, que justamente quando a situação é desconfortável, ainda temos a capacidade de cumprir uma mitsvá com zelo e entusiasmo, e especialmente quando a mitsvá não é tão difícil.

    Há um conceito bem conhecido na dinâmica humana conhecido como inércia - tendência natural da pessoa de tentar permanecer tão inativa quanto possível. Esta tendência intensifica-se quando se trata de cumprir mitsvot, porque há um freio natural, a má inclinação, que fará todo o possível para impedir que a pessoa faça uma ação que lhe possibilitará uma recompensa no Mundo Vindouro. Com isto em mente, temos uma pergunta: Como a pessoa adquire a característica de Avraham? Como subrepuja sua indolência natural para atingir a grandeza?

Há duas maneiras de fazer isso: concentrando-nos em todas as coisas que D'us realiza para nós, pois se pudermos reconhecer todo o bem que Ele nos concede, e as enormes maravilhas que realiza desde o dia em que nascemos até nossos últimos, sem dúvida nos apressaremos em fazer o possível para retribuir, com toda nossa capacidade, cumprindo a Torá e exaltando Seu nome.

    A segunda maneira,  é reconhecer a importância de cada minuto. Sabemos que cada palavra da Torá que a pessoa estuda é uma mitsvá por si mesma. Se a pessoa fala à velocidade normal, seriam aproximadamente duzentas palavras por minuto, portanto, se a pessoa fala sobre a Torá por um minuto, realiza duzentas mitsvot de uma só vez. Agora pense: se a pessoa estuda por quinze minutos, cumpre três mil mitsvot! Se aprender por uma hora, faz doze mil mitsvot! E se a pessoa estuda o dia inteiro? Que tal alguns dias? Todas as mitsvot vão se somando, e quanto mais mitsvot cumpre, mais recompensa recebe. Dentro de pouco tempo, terá a capacidade de cumprir milhões!

É através deste reconhecimento que adquirimos o desejo de utilizar cada momento da maneira mais completa, seja estudando Torá, ajudando o próximo. Porém, precisamos de uma presteza e zelo especiais para nos assegurar de que corremos para fazê-las, e ao mesmo tempo buscando a certeza de que são cumpridas adequadamente.

    A idéia de valorizar cada momento foi explicada numa parábola. Imagine se todos aqueles que estão no cemitério recebessem outra meia-hora de vida, para conseguir tanta recompensa celestial quanto lhes fosse possível. Veríamos pessoas correndo para lá e para cá, estudando Torá, visitando os doentes, rezando, consolando os enlutados e fazendo caridade, cada pessoa de acordo com sua habilidade. E se essas pessoas recebessem algumas horas de vida, ou mesmo alguns dias? Não tentariam utilizar o tempo para cumprir tantas mitsvot quanto lhes fosse possível? E quanto a nós - quem de nós sabe quanto tempo ainda lhe resta?

    A vida é como um cartão postal. Quando iniciamos uma viagem, escrevemos em letras grandes e espalhadas. Mas quando vemos que o espaço para escrever no cartão está acabando e ainda há tanto a dizer, começamos a escrever em letras cada vez menores, espremendo as palavras onde quer que haja um cantinho."

    Ocorre o mesmo com nosso cumprimento de mitsvot; não somos tão cuidadosos sobre fazer todo o possível porque achamos que há muito tempo à disposição. Mas com o passar da vida, percebemos como o tempo é escasso na verdade, e tentamos espremer tantas mitsvot quantas pudermos. Entretanto, se percebermos agora o valor do tempo, podemos utilizá-lo ao máximo de nossa capacidade.

Por isso, quando estivermos em casa, prazerosamente lendo um livro ou qualquer outra coisa que preferiríamos não interromper, devemos refletir novamente naqueles métodos de incrementar o cumprimento da mitsvá. Devemos nos lembrar como D'us é bom para nós, e o quanto devemos realizar para retribuir pelo menos uma fração disso. Devemos ter em mente a importância e valor de cada minuto e de cada mitsvá. Por fim, devemos considerar que não importa o desafio que seja o cumprimento de uma mitsvá, é um desafio maior que o foi para Avraham levar seu filho ao sacrifício?

Com este reconhecimento, que possamos merecer a realização de mais preceitos, elevando desta maneira nossa recompensa, tanto neste mundo como no Mundo Vindouro.

 

D'us aparece para Avraham e lhe envia três anjos

    Sabe o que Avraham costumava fazer todos os dias na hora do almoço?

Sentava-se à entrada de sua tenda e ali aguardava. Avraham pensava: "Se ao menos um viajante passasse... Queria convidá-lo para uma refeição!"

    O maior prazer de Avraham na vida era oferecer uma refeição para alguém faminto; pois era bondoso para todos. Quando seus convidados terminavam de comer, Avraham ensinava-lhes a agradecer a D'us. Contava tudo sobre D'us, que criou o mundo e que cuida dele a cada instante.

    Era o terceiro dia após berit milá de Avraham. Estava fraco, convalescendo e com dor. Apesar disso, antes da hora da refeição, sentou-se à frente de sua tenda, como de costume.

    Era um dia extremamente quente, de modo que os caminhos estavam desertos. Avraham estava desapontado: "Parece que hoje não poderei alimentar ninguém," pensou tristemente.

    D'us viu como Avraham estava infeliz. D'us disse: "Enviarei para Avraham  anjos, que terão a aparência de homens, para que possa convidá-los. Também hei de aparecer perante Avraham. Quero visitá-lo, porque está convalescendo do berit milá."

D'us pessoalmente visitou Avraham para ensinar-nos como é importante visitar os doentes.

 

Uma história: A importância de visitar os doentes

    Uma vez, um talmidin ficou gravemente doente. Todos os Sábios estavam ocupados, estudando e ensinando Torá. Nenhum deles teve tempo para visitar o doente.

    Quando o Moré Teruáh ficou sabendo que um de seus alunos estava de cama, doente e completamente sozinho, largou todo seu importante trabalho, seus estudos e aulas. "Vou visitá-lo", disse ele.

    Quando entrou no quarto do doente, Moré Teruáh notou que o chão estava cheio de pó.

"Varram!" - ordenou aos demais talmidins. Quando o quarto ficou limpo, o aluno doente se sentiu bem melhor, e agradeceu ao Moré Teruáh.

    A proprietária da casa viu que o famoso Moré viera visitar o talmidin que era seu inquilino. "Deve ser um discípulo importante!" - pensou.

Imediatamente, trouxe-lhe uma sopa nutritiva e começou a cuidar bem dele. Em pouco tempo, o talmidin, que tinha estado à beira da morte, se recuperou.

    "Agora vocês podem ver como é grande a mitsvá de visitar os doentes!" - ensinou o Moré Teruáh aos seus talmidins. "Em primeiro lugar, ao visitarmos uma pessoa doente, vemos o que ela necessita para poder ajudá-la. Mais ainda, um visitante que vê um homem doente e fraco deitado na cama, reza: 'Por favor, D'us, faça-o melhorar!' Desta maneira ajuda-o a ficar curado.

"Um visitante também anima a pessoa doente, e assim ela pára de pensar em suas dores e sofrimentos. De certa forma, o visitante leva embora uma parte da doença

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Avraham serve aos anjos. Eles predizem que Sara terá um filho

Quando Avraham notou três homens caminhando na estrada, encheu-se de alegria. Apesar de suas dores, levantou-se e correu ao seu encontro.

Avraham curvou-se perante eles. "Por favor não passem sem entrar na minha tenda", implorou. "Pedirei para alguém trazer água, para que vocês possam lavar o pó de seus pés. Então, poderão comer um pouco de pão, agradecer a D'us, e continuar seu caminho."

Os anjos concordaram.

Um deles, Refael, foi mandado por D'us para curar Avraham. Tão logo este anjo aproximou-se de Avraham, as dores que sentia por causa do berit milá desapareceram!

Avraham ordenou aos servos que trouxessem água.

"Depois de que lavarem os pés," disse aos anjos, "venham descansar sob a minha árvore. A refeição logo ficará pronta."

Nossos Sábios explicam: A árvore maravilhosa de Avraham

    Avraham tinha uma árvore especial. Ela testava todos os convidados. Se a pessoa que se sentava debaixo dela tivesse um coração puro, a árvore estendia seus ramos e proporcionava-lhe uma sombra deliciosa e refrescante. Mas a árvore não estendia os ramos sobre uma pessoa perversa, cujo coração estivesse profundamente ligado à idolatria.

    Avraham convidava todos seus hóspedes a sentar-se sob a árvore. Se a árvore desse sombra ao convidado, Avraham sabia que era uma boa pessoa. Então conversava com ele durante muitas horas, e não o deixava sair da tenda antes de convencê-lo a servir a D'us.

Avraham serve seus convidados

Avraham correu para dentro da tenda e informou alegremente à Sara, "Chegaram visitas! Rápido, asse pães para a refeição!"

(De acordo com algumas opiniões de nossos Sábios, os anjos chegaram à casa de Avraham na véspera de Pêssach de manhã bem cedo, quando ainda era permitido assar pão. Existe uma opinião diferente, de que os anjos chegaram durante Pêssach, e Avraham ordenou a Sara para assar matsot, pão ázimo.)

Enquanto isso, Avraham correu para matar três vitelas tenras. Dificilmente, os três visitantes iriam comer carne de três vitelas inteiras. Isso seria demais para eles! Mas Avraham não fazia economia quando se tratava de servir seus hóspedes. Queria que cada convidado saboreasse a parte mais deliciosa da vitela - a língua. Por isso, matou três animais, para poder servir a cada convidado uma língua inteira.

Avraham chamou seu filho Yishmael. "Apresse-se para preparar a carne." Avraham não queria que as visitas esperassem demais pela refeição.

Os três anjos receberam uma refeição deliciosa. Primeiro saborearam creme e leite, e mais tarde, foi servida a língua tenra com mostarda.

Um dos anjos prediz que Sara terá um filho

Quando os anjos terminaram a refeição, perguntaram a Avraham: "Onde está Sara?"

"Está na tenda", respondeu Avraham.

Sara era uma mulher recatada. Não saía para se mostrar perante estranhos, mas permanecia dentro da tenda.

Um dos anjos anunciou: "Tenho uma mensagem para Sara. No próximo ano, nesta época, Sara terá um filho! Voltarei para celebrar com vocês o berit milá de seu filho."

Sara ouviu a mensagem, de dentro da tenda. Não sabia que o homem que falava era um anjo; parecia um viajante comum. Ela riu consigo mesma. "Avraham e eu somos velhos," pensou. "Como ainda poderemos ter filhos?"

D'us ficou aborrecido por Sara ter rido. D'us falou para Avraham: "Existe algum milagre que seja difícil demais para realizar? No próximo ano, em Pêssach, Sara terá um filho."

Os três anjos se levantaram. Um deles voltou para o céu, e os outros dois dirigiram-se a pé para a cidade de Sodoma.

As leis cruéis de Sodoma

D'us disse: "Destruirei a cidade de Sodoma e suas cidades vizinhas - Gomorra (Amorá), Admá, Tsevoyim e Tsoar. Estão cheias de pessoas perversas."

Os cidadãos de Sodoma e das outras cidades eram orgulhosos e egoístas. Suas leis cruéis demonstravam como eram perversos. Eis aqui algumas de suas leis:

• É proibido alimentar um pobre.

• Os moradores de Sodoma tinham outro costume mesquinho: Quando um pobre chegava a Sodoma, cada cidadão costumava dar-lhe uma moeda, na qual estava gravado o nome do dono. O pobre pegava as moedas com alegria, mas ninguém lhe vendia comida por estas moedas. Assim, o pobre homem morria de fome. Então todos recuperavam suas moedas de volta. Esta era a única "caridade" permitida pelas leis de Sodoma.

• Ninguém pode convidar um desconhecido para sua casa.

• Qualquer desconhecido que passe por Sodoma será maltratado e roubado.

Os habitantes de Sodoma viviam felizes com essas leis horríveis! "Queremos cuidar do nosso dinheiro. Se nós convidarmos hóspedes ou dermos de comer aos pobres, perderemos nosso dinheiro", diziam.

Certa vez, duas moças de Sodoma foram ao poço tirar água.

"Porque você está tão pálida?" - perguntou uma para a outra. A outra sussurrou bem baixo, para que ninguém mais pudesse ouvir: "Não temos comida em casa! Vamos todos morrer."

Quando a amiga ouviu isso, ficou com pena. Correu para casa e encheu um jarro com farinha. Trocaram os jarros, assim uma recebeu o jarro com farinha e a outra levou para casa um jarro com água.

Mas alguém as observou. Informou aos juízes de Sodoma sobre a ação bondosa da moça. E o que fizeram esses juízes? Mataram a moça piedosa, por haver violado as "leis de Sodoma".

O povo de Sodoma costumava roubar seus próprios ricos, da seguinte maneira: levavam o rico para a parede de um pardieiro. Todos se juntavam e derrubavam a parede sobre ele, deste modo ele ficava soterrado sobre os escombros e morria. Depois, dividiam o dinheiro entre si.

Se um homem batia em outro e o fazia sangrar, o juiz decidia que a pessoa ferida devia pagar honorários médicos ao atacante, por prestar o serviço chamado "sangria" que os médicos costumavam executar.

Avraham reza por Sodoma

D'us disse a Avraham: "As almas das pobres pessoas que morreram de fome em Sodoma e das pessoas que foram roubadas pedem-Me para que Eu castigue esta cidade de malvados.

"Descerei junto com meus anjos para ver se o povo de Sodoma merece ou não ser destruído."

Avraham tinha pena de todas as pessoas. Tinha esperanças de poder salvar até mesmo esses perversos.

Rezou, "D'us, o Senhor é o Juiz do mundo inteiro. Se destruir o povo de Sodoma, todos alegarão: 'D'us é um D'us que mata pessoas.' Por favor não seja rigoroso no Seu julgamento! Certamente também há pessoas boas em Sodoma. Pretende destruí-las junto com os perversos?!"

D'us respondeu: "Todos os habitantes de Sodoma e das outras quatro cidades são perversos."

Avraham implorou: "Talvez haja apenas cinqüenta tsadikim (justos) entre eles. Não poderias, D'us, perdoar todo o povo de Sodoma, por causa da retidão dos cinqüenta bons que vivem lá?"

D'us respondeu: "Se lá houvesse cinqüenta tsadikim, salvaria todo povo de Sodoma e das outras quatro cidades, em consideração a eles, mas não há!"

Avraham voltou a suplicar: "Mas talvez haja quarenta e cinco pessoas boas! Não seriam elas suficientes para salvar todas?"

D'us respondeu: "Sim, mas também não há quarenta e cinco pessoas justas!"

Avraham exclamou: "Então talvez haja quarenta tsadikim!"

D'us respondeu: "Não há sequer nem quarenta pessoas boas em Sodoma e nas outras cidades!"

Avraham não desistiu. Continuou rezando para que D'us salvasse as cidades perversas por causa de alguns tsadikim que viviam ali. Finalmente, ouviu de D'us que não havia nem mesmo dez pessoas boas em Sodoma e suas cidades vizinhas. Avraham então parou de rezar, porque compreendeu que "D'us é um Juiz justo." Está destruindo cidades porque todos seus cidadãos são perversos.

Os anjos que D'us enviou para destruir Sodoma e salvar Lot estavam aguardando, para ouvir se Avraham seria ou não capaz de salvar Sodoma com suas orações. Quando Avraham parou de tentar, prosseguiram viagem, para destruir as cidades depravadas.

Lot convida os anjos para sua casa

    Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer. Tinham aparência de homens.

Lot reparou neles na rua, e pediu, "Venham passar a noite em minha casa! Mas cheguem secretamente, por um desvio, porque se as pessoas daqui descobrirem que tenho hóspedes, me matarão. Não passem a noite na rua!"

"Deixe-nos ficar na rua," responderam os anjos. "É muito perigoso para você nos convidar para entrar!"

Mas Lot insistiu. Aprendera com Avraham a ser hospitaleiro. Finalmente, os anjos concordaram em ir para sua casa.

    Lot assou matsot para seus convidados. Depois, disse à sua mulher: "Por favor dê sal aos nossos convidados para que temperem a comida."

    A mulher de Lot estava muito zangada por seu marido ter trazido convidados à sua casa. Pensou: "Basta que lhes dá comida, não precisam de sal para deixá-la saborosa. Podem muito bem passar sem sal!"

    A mulher de Lot queria que suas vizinhas soubessem que Lot havia convidado pessoas, mas tinha medo de seu marido. Então, usou o sal como desculpa. Disse para Lot, "Vou pedir sal emprestado!"

    Foi de uma vizinha a outra dizendo: "Temos hóspedes. Você nos emprestaria um pouco de sal para pôr em sua comida?"

Isso era justamente o que o povo de Sodoma precisava ouvir! Todos correram para a casa de Lot, e cercaram-na por todos os lados.

"Entregue-nos seus hóspedes, Lot!" - gritavam eles. "Queremos fazer com eles o que fazemos com todos os forasteiros!"

Lot apareceu na porta da casa. "Por favor, meus irmãos," implorou para as pessoas: "Não façam mal a meus hóspedes! Em vez disso, dar-lhe-eis minhas duas filhas solteiras!"

"Não, queremos seus hóspedes!" - responderam os moradores de Sodoma.

"Se não os der para nós, arrombaremos a porta e entraremos à força!"

    Os anjos fizeram Lot entrar na casa e fecharam a porta. Então, castigaram todas pessoas ao redor da casa com cegueira. De repente, o povo de Sodoma não conseguia mais achar a porta. Ainda assim, não desistiram de sua busca. Eram tão perversos que continuaram procurando a porta, mesmo cegos! Não desistiram até que caíram de cansaço.

D'us destrói Sodoma

Os anjos revelaram a Lot: "Em breve, D'us vai destruir esta cidade perversa! Pegue sua família e fuja!"

Lot começou a juntar seu dinheiro e seus bens para levá-los consigo. Os anjos o avisaram: "Não há tempo para isso! Se demorar, também morrerá!"

Mas Lot não queria deixar seus haveres para trás. Quando os anjos viram que ele estava se demorando, pegaram-no, com a mulher e as duas filhas solteiras pela mão, e os levaram às pressas para fora da cidade.

Os anjos advertiram: "Não parem! Continuem andando, e jamais olhem para trás!"

Porque não era permitido a Lot e sua família olhar para trás?

Lot não era tão tsadic que merecesse ser salvo. D'us o salvou, e à sua família, somente pelo mérito de Avraham. Como Lot e sua família mereciam ser castigados, não lhes era permitido ver o castigo dos outros.

Logo que Lot e sua família estavam fora da cidade, começou a cair uma chuva do céu. Quando esta alcançou Sodoma e as cidades vizinhas, transformou-se em piche e fogo. O fogo destruiu tudo. Ninguém conseguiu escapar. Quando as pessoas começavam a correr, seus pés ficavam atolados no piche.

A mulher de Lot tinha curiosidade para ver o que tinha acontecido com sua casa e voltou-se para trás. Imediatamente, transformou-se numa estátua de sal. Podemos adivinhar porque D'us a transformou em sal? Esse foi o castigo que ela mereceu por sua maldade, quando fingiu pedir emprestado sal para seus hóspedes.

No sul da Terra de Israel, ainda podemos ver a região onde Sodoma foi destruída. Lá não há nenhuma vegetação. A água do Mar Morto, o Yam Hamelach, é tão cheia de sal que não se pode afundar nela. Nossos Sábios estabeleceram berachot (bênçãos) especiais que se diz quando se vê o pilar de sal em que era a mulher de Lot foi transformada.

Lot e suas filhas

O anjo disse a Lot: "Fuja para a montanha onde vive Avraham." Mas Lot temia voltar à vizinhança de Avraham, pensando: "Quando vivia entre o devasso povo de Sodoma, D'us comparou-me a este, julgando-me relativamente justo, e por isso salvou-me. Porém se mudar-me para as vizinhanças de Avraham, o tsadic, serei considerado perverso, se comparado a ele." Sendo assim, Lot rogou a D'us para que poupasse a cidade de Tsoar, a fim de que pudesse para lá escapar. "Tsoar tem menos pecados que Sodoma," argumentou, "uma vez que foi povoada mais recentemente." D'us concedeu-lhe o pedido e, em sua consideração, não destruiu a cidade de Tsoar. Lot foi assim recompensado por ter-se desviado de seu caminho para convidar os anjos, e por ter se colocado em perigo por causa dos anjos. Em troca, agora D'us o favoreceu, salvando Tsoar.

O anjo ordenou a Lot: "Apresse-se e fuja para Tsoar, pois não posso destruir Sodoma antes que você chegue lá!" Lot e suas filhas apressaram-se para Tsoar, porém não permaneceram. Lot temia estabelecer-se naquela cidade, porque ficava muito perto de Sodoma. Em vez disso, mudou-se com as filhas para uma caverna nas montanhas, desconsiderando, assim, as palavras do anjo que lhe ordenou refugiar-se em Tsoar. Como conseqüência, sucedeu-se a vergonhosa história dos eventos ocorridos na caverna.

Duas grandes mulheres estavam destinadas a descender das filhas de Lot: Rut, a mulher moabita que viria a ser a ancestral da dinastia de David e, em última análise, de Mashiach; e Naama, a mulher amonita que se casaria com o rei Salomão, e tornar-se-ia mãe do rei Rechavam. As filhas de Lot puderam sobreviver à aniquilação em consideração às duas preciosas almas - Rut e Naama - que mais tarde delas viriam a brotar.

Ambas as filhas de Lot eram justas e virtuosas, e aprenderam a amar a D'us na casa de Avraham. Após testemunharem a destruição de quatro grandes cidades, e a terra engolir todos os habitantes de Tsoar (apesar de não ter sido destruída, como Sodoma), as filhas de Lot ficaram com a impressão de que um segundo Dilúvio havia varrido a terra, deixando-as como únicas sobreviventes. "Nosso pai está velho," disse a irmã mais velha para a mais nova, "e poderá morrer. A não ser que um filho varão lhe nasça em breve, a raça humana perecerá! As filhas de Lot agiram por amor ao Céu. Encontraram vinho na caverna, o qual D'us preparara especialmente para essa finalidade, pois queria que ambas as nações, Amon e Moav, viessem a existir. Permitiram que o pai se embriagasse, e seduziram-no. A primeira deu o exemplo, e a mais jovem seguiu-o.

Ao contrário das filhas, Lot sabia, através dos anjos, que a destruição afetaria apenas determinado número de cidades, e não o mundo inteiro. Mais ainda, apesar de estar embriagado e não ter consciência do que fazia na primeira noite, pela manhã percebeu, e soube o que acontecera. Não obstante, permitiu-se embriagar-se novamente, sabendo perfeitamente quais seriam as conseqüências

Ambas engravidaram e deram à luz filhos varões.

A mais velha era tão desavergonhada e impudente que deu ao filho um nome que indica claramente sua ignominiosa paternidade. O nome Moav vem de "Me'av", "do pai." A mais nova, contudo, deu a seu filho o nome de Amon, que significa "filho de meu povo", desta forma, ocultando pudicamente seu pai. Foi recompensada na época de Moshê, quando D'us ordenou que o povo judeu não incitasse guerra contra Amon.

Avimêlech, o rei dos pelishtim leva Sara para seu palácio

Depois que Sodoma foi destruída, Avraham decidiu sair daquela vizinhança. Pensou: "Ali não vai mais haver viajantes a quem eu possa oferecer refeições em minha tenda, e a quem eu possa transmitir ensinamentos."

Avraham e Sara viajaram para a terra dos filisteus (pelishtim). Apesar dos filisteus não serem tão maus como os egípcios, Avraham preveniu Sara: "É melhor dizer a todos que somos irmãos."

O rei Avimêlech ouviu falar de Sara. Ordenou aos soldados que a trouxessem ao seu palácio.

Sara rezou à D'us para enviar um anjo para protegê-la. D'us mandou uma praga para o rei Avimêlech e sua família.

Naquela noite, D'us apareceu em sonho ao rei Avimêlech, e o advertiu "Hei de puni-lo com morte, porque trouxeste Sara para o seu palácio. Ela é uma mulher casada!"

Avimêlech defendeu-se: "O que fiz de errado? Sou um tsadic. Tanto, Avraham como Sara disseram-me que são irmãos. Se me castigar com a morte, Avraham também merece morrer! A culpa é dele."

D'us repreendeu Avimêlech: "É verdade que não sabias que Sara era casada. Porém, não tinha o direito de trazê-la à força para o palácio. Isso foi um sequestro e mereces a morte por isso. Devolve-a para o marido, do contrário morrerás!"

O rei Avimêlech retornou Sara para Avraham. Perguntou: "Não sabias que somos pessoas boas e bem educadas? Por que, em vez de contar-me a verdade, fingiste que Sara era sua irmã?"

Avraham respondeu: "Pode ser que seus cidadãos agem como pessoas boas, mas vi que eles não têm temor a D'us. Pessoas que não temem a D'us são capazes de matar para tomar minha mulher."

O rei Avimêlech deu presentes caros a Avraham para apaziguá-lo.

Avraham rezou a D'us: "Cure Avimêlech e sua família da praga." D'us aceitou a oração de Avraham e curou Avimêlech.

Avraham é hospitaleiro com todos

Avraham mudou-se para Beer Shêva, ao sul da Terra de Israel.

Lá plantou um lindo pomar, repleto de frutas deliciosas como figos, uvas e romãs.

Quando os viajantes passavam, Avraham os convidava para sentarem-se. Perguntava-lhes: "O que você gostaria de comer?" Cada viajante pedia a comida que desejava. Avraham servia a cada hóspede, mas não cobrava nada pela comida e ou serviço que prestava.

Na época de chuva, Avraham oferecia alojamento, onde passantes podiam ficar sem pagar.

Quando um indivíduo havia comido e bebido, Avraham dizia, "Agora, recite uma bênção de agradecimento!"

"O que devo dizer?" - perguntava o convidado. Avraham ensinava: "Diga: 'Abençoado seja D'us, Rei do universo, Cuja comida comemos!.'"

Desta maneira, Avraham fez o Nome de D'us conhecido no mundo todo. Milhares e milhares de pessoas começaram a acreditar em D'us e rezar para Ele.

O nascimento de Yitschac e o banquete que Avraham fez quando Yitschac foi desmamado

Sara deu a luz a um menino em Pêssach, um ano depois que os anjos visitaram a tenda de Avraham. Sara tinha noventa anos e Avraham cem anos quando seu filho veio ao mundo. Era um grande milagre que eles tivessem um filho na velhice.

Avraham e Sara disseram: "Todas as pessoas que ouvirem que tivemos um filho se alegrarão." Deram o nome de Yitschac ao recém-nascido.

Quando Yitschac completou oito dias, Avraham lhe fez a milá (circuncisão).

Sara amamentou Yitschac até os dois anos de idade. Quando o desmamou, Avraham deu uma festa.

Algumas pessoas diziam: "Avraham e Sara nunca tiveram um bebê. São velhos demais. Devem ter levado um bebê estranho para casa e contado a todos que era seu próprio filho!"

Por isso, Avraham instruiu Sara: "Amamente os bebês de todas as mulheres que vierem para a festa! Assim verão que D'us transformou você numa jovem mulher e Yitschac é nosso verdadeiro filho!"

Sara amamentou todos os bebês que foram levados a ela. Agora, todos acreditaram que D'us realizara um maravilhoso milagre para Avraham e Sara.

Avraham manda embora Yishmael e Hagar

O pequeno Yitschac cresceu junto com seu meio-irmão mais velho, Yishmael, filho de Hagar.

Yitschac prestava atenção a tudo que Avraham lhe ensinava. Mas Yishmael zombava do que Avraham lhe ensinava. Trazia ídolos para casa e os cultuava. Avraham não percebeu isso, mas Sara sim.

Um dia Sara observou uma briga entre Yishmael e Yitschac. Yishmael se vangloriou: "Sou o primogênito. Terei uma porção dobrada dos bens de Avraham." Yitschac respondeu: "Mas, eu é que sou o filho de Sara. Mereço herdar tudo o que Avraham possui."

Yishmael e Yitschac correram juntos para o campo. Yishmael sacou seu arco e flecha e disparou contra Yitschac.

Quando Sara o repreendeu, retrucou: "Estava apenas brincando."

Sara falou a Avraham: "Não é bom que Yitschac e Yishmael permaneçam juntos. Yishmael não se comporta como seu filho, mas como filho de uma mulher egípcia! Sua mãe, Hagar, deve ter-lhe ensinado a cultuar ídolos. Mande Yishmael embora junto com ela!"

Avraham ficou muito perturbado. Quem tomaria conta de Yishmael longe de casa? Talvez Yishmael ficasse até pior, longe de sua influência.

Mas D'us disse a Avraham: "Sara tem razão. Ouça tudo o que ela lhe diz. Mande Hagar e Yishmael embora. Somente Yitschac tornar-se-á o patriarca de uma nação sagrada, não Yishmael. Não se preocupe com ele; Eu o protegerei mesmo estando longe de sua casa."

Na manhã seguinte, bem cedo, Avraham fez como D'us havia lhe ordenado. Deu pão e um frasco de água para Hagar e pôs Yishmael sobre seus ombros, porque Yishmael estava com febre. Avraham os mandou embora.

Hagar e Yishmael vagaram pelo deserto. A febre queimava em Yishmael e este tinha tanta sede que logo bebeu toda a água que a mãe havia levado.

Hagar tinha medo de que seu filho morresse de sede, porque não sobrara água no frasco.

Colocou-o sob um dos arbustos que cresciam no deserto, depois afastou-se e começou a chorar.

Hagar rezou a D'us e assim como o doente Yishmael. D'us aceitou a oração do menino doente. Um anjo falou do céu: "Hagar, não temas! D'us está protegendo teu filho. Ele viverá e se tornará o pai de uma grande nação!"

De repente, Hagar viu um poço com água, no meio do deserto. Havia aparecido milagrosamente. Beberam de sua água e Hagar encheu o frasco.

Hagar e Yishmael estabeleceram-se no deserto de Paran. Yishmael tornou-se arqueiro.

 

 

Avraham está pronto para sacrificar seu filho no monte de Moriyá

D'us chamou: "Avraham, Avraham!"

"Estou disposto a fazer qualquer coisa que me peças," respondeu Avraham

"Pegue seu filho Yitschac," disse D'us, "e vá para a terra de Moriyá. Lá deverás ofertá-lo como sacrifício numa das montanhas que eu lhe mostrarei!"

Podemos imaginar como Avraham deve ter ficado chocado!

Todo pai ama seu filho. Avraham sentia um carinho especial por Yitschac, porque havia esperado por um filho até a idade de cem anos. E não tinha outro filho para tomar o lugar de Yitschac.

Avraham também se lembrou da promessa de D'us que Yitschac teria tantos descendentes quanto as estrelas do céu. Agora essa promessa não se cumpriria.

Mas Avraham não fez perguntas a D'us. Pensou: "Qualquer coisa que D'us me pede farei sem questionar."

Avraham não sabia como contar para Sara que D'us queria que Yitschac fosse sacrificado. Ela ficaria tão triste, partiria o seu coração.

Portanto, disse a Sara: "Nosso filho cresceu. É tempo de ele estudar Torá. Amanhã vou levá-lo para a Yeshivá de Shem."

"Faça como você diz," respondeu Sara. "Mas por favor não o deixe lá por muito tempo, pois não posso aguentar a separação. Cuide bem dele no caminho."

Sara preparou bonitas roupas para Yitschac utilizando os trajes que o Rei Avimêlech lhe havia dado. Ela também preparou provisões para a viagem.

Pela manhã bem cedo, Avraham selou pessoalmente seu burro. Ordenou ao filho Yishmael, que estava então de visita na casa de Avraham, e ao seu servo Eliêzer, que os acompanhassem.

Avraham rachou lenha (para tê-la pronta para o sacrifício) e colocou-a sobre o burro. Chamou Yitschac, e partiram juntos.

Durante a jornada, Satan, o anjo que tenta persuadir as pessoas a não obedecer a D'us, apareceu a Avraham e Yitschac.

Primeiro Satan se apresentou a Avraham como um homem velho. Falou um pouco com Avraham, até que este lhe contou aonde estava indo, e por quê.

Depois, perguntou, "Você não está sendo tolo por ir matar um filho que nasceu em sua velhice? Não é possível que D'us lhe tenha ordenado fazer isso. Ele não lhe daria uma ordem tão cruel!"

Mas Avraham compreendeu que essas eram idéias e argumentos de Satan.

"Deixe-me em paz!" - gritou, e o anjo desapareceu.

Satan então apareceu a Yitschac como um rapaz jovem e bonito.

"Você sabe para onde seu velho e tolo pai o está levando?" - perguntou. "Para o sacrifício! Morrerás jovem!"

"Pai!" - Yitschac chamou Avraham. "Você ouviu o que esse rapaz estava me dizendo?"

"Tome cuidado com ele", Avraham preveniu a Yitschac. "Não lhe dê ouvidos! É Satan, o anjo do mal, que quer que desobedeçamos a mitsvá de D'us!" Avraham gritou de novo com Satan, e este se foi.

Satan tentou de outro modo. Transformou-se num grande rio, bloqueando o caminho. Avraham e Yitschac avançaram rio adentro até que a água alcançou seus pescoços e aí ficaram com medo.

Então Avraham compreendeu que tudo aquilo era um teste para eles. "Aqui nunca houve rio algum," disse para Yitschac. "Isso é obra de Satan".

"D'us, tire Satan de nosso caminho", implorou Avraham. "Estamos tentando cumprir a Sua ordem."

Satan foi embora e o rio voltou a ser terra seca.

Depois de caminhar por três dias Avraham avistou a montanha sobre a qual a nuvem da Shechiná (Divindade) pairava, e assim soube para qual montanha dirigir-se com o seu filho.

Avraham disse a Yishmael e Eliêzer: "Fiquem aqui aos pés da montanha. Eu e Yitschac subiremos, prostrar-nos-emos perante D'us e voltaremos para onde vocês estão."

Avraham, sem saber, havia dito a verdade! Tanto ele como Yitschac realmente voltariam da montanha!

Avraham pôs a lenha da fogueira nos ombros de Yitschac, e juntos subiram a montanha.

Yitschac perguntou-se. Havia uma faca e fogo, mas nenhum animal para o sacrifício! Havia suspeitado da verdade antes, mas agora tinha quase certeza.

"Pai," perguntou Yitschac, tremendo, "Vejo o fogo e a madeira, mas onde está o animal para o sacrifício?"

"Já que você me pergunta", respondeu Avraham, "vou lhe contar. D'us escolheu você para o sacrifício, meu filho."

"Eu vou me deixar sacrificar de bom grado," disse Yitschac sem hesitar. "Mas me dói pensar no sofrimento da minha mãe quando souber de minha morte."

Quando chegaram ao local assinalado, Avraham construiu um altar e dispôs a madeira sobre ele. Depois Avraham colocou Yitschac sobre o altar por cima da madeira. Yitschac pediu a ele para amarrar suas mãos e pés firme para não empurrar ou chutar e com isso, estragar o sacrifício. Lágrimas escorreram dos olhos de Avraham, enquanto estendia sua mão empunhando a faca para matar seu filho. Mas em seu coração estava feliz por obedecer a D'us.

No céu, D'us ordenou ao anjo Michael: "Rápido, diga para Avraham parar!"

"Avraham, Avraham," chamou o anjo Michael. "Não mate seu filho!"

Avraham sentiu um súbito desapontamento.

"Vim até aqui, ergui o altar e preparei o sacrifício, tudo em vão?" - perguntou ele. "Permita-me fazer um pequeno corte nele com minha faca, para mostrar que estava disposto a sacrificá-lo."

"Não o machuque!" - ordenou o anjo.

Avraham rezou a D'us: "Por que então me ordenaste oferecer meu filho em sacrifício?"

D'us respondeu, "Somente ordenei, 'leve-o para o monte de Moriyá', porque queria comprovar se você me obedeceria. Passaste no teste. Mostrei a todos povos do mundo que tsadic você é!"

Avraham sentiu um vazio. Viera especialmente para oferecer um sacrifício; e de repente, não tinha nenhum para ofertar a D'us.

Então, D'us fez aparecer um carneiro, a uma pequena distância de Avraham. Seus chifres estavam enredados nos arbustos. Avraham o pegou e o sacrificou sobre o altar.

Ele suplicou a D'us: "Por favor, D'us, aceite este sacrifício como se tivesse sacrificado meu filho!"

Avraham profetizou: "Sobre esta montanha, onde atei Yitschac, um dia será construído o Templo Sagrado (Bet Hamicdash). Aqui a Shechiná será revelada ao povo judeu. Como eu estava disposto a sacrificar Yitschac, D'us aceitará as orações e sacrifícios do Povo de Israel."

D'us sempre recorda o grande mérito do sacrifício de Yitschac.

É quase inacreditável que um homem que teve um filho único em sua velhice, e a quem D'us muitas vezes prometera que teria muitos descendentes deste filho, estivesse disposto a sacrificá-lo para D'us, sem queixas ou perguntas.

Especialmente em Rosh Hashaná, o dia em que D'us nos julga, mencionamos em nossas rezas:

"D'us, por causa do sacrifício de Yitschac, julgue todos os compromissados com a torah com misericórdia. Assim como Avraham atou seu filho ao altar e subjugou a sua piedade para cumprir Tua vontade, assim D'us, sê misericordioso para conosco mesmo se nós O encolerizamos!"

Por que tocamos shofar, um chifre de carneiro, em Rosh Hashaná? Para que D'us tenha misericórdia de nós, pelo mérito de Avraham que estava disposto a sacrificar seu único filho.

 

 

Se fosse feita uma enquete para descobrir qual livro da Torá é o mais popular, não há dúvida que o Livro Bereshit ganharia facilmente. Como a parte conotativa da "Maior História Jamais Contada", as primeiras porções parecem nos proporcionar o pano de fundo necessário para entender como nos tornamos uma nação, e o que somos agora. Entretanto, sabemos que as histórias em Bereshit não são apenas narrativas para entretenimento. Cada um de nossos antepassados representa um atributo específico que devemos nos esforçar para atingir, e cada evento de suas vidas pode nos ensinar algo pertinente, mesmo nos dias de hoje. 

O tema desta porção é obviamente a vida de Avraham, e a porção da Torá conecta muitos dos maiores eventos de sua vida: sua circuncisão, o nascimento de Yitschac, o exílio de Hagar e Yishmael, e finalmente o teste definitivo da akeidá. Entretanto, em meio a todos estes eventos familiares está algo que de certa forma parece não se encaixar, a história da destruição da cidade de Sodoma e as preces de Avraham pelo bem da cidade.

Quanto à história que presumimos ser uma advertência,. não nos foram dados muitos detalhes no texto sobre o que realmente aconteceu em Sodoma, para que a cidade recebesse atenção Divina 
tão espetacular.

A narrativa descreve como os habitantes de Sodoma abordavam os visitantes da cidade. 
Entretanto, entendemos que devia haver ainda mais perversidade, e há na verdade toda uma lista de ofensas que o Midrash e os comentários atribuem aos sodomitas. Uma das mais infames é que eles se opunham ferozmente a qualquer forma de hospitalidade; outra é sua sólida crença no princípio "mesmo se eu não perder, não quero que você ganhe". Mas aquilo que o Ramban nos conta ter selado o destino da cidade foi sua recusa em tomar conta dos pobres. Todas as sociedades daquela época tinham algum sistema para ajudar os menos afortunados. Mas se o comportamento deles era tão mau, por que Hashem decidiu destruí-los naquela ocasião específica? 

Certamente os visitantes e os pobres da cidade tinham estado em sofrimento por muitos anos. E nossa segunda dúvida é: o que isso tem a ver conosco hoje? 

Obviamente podemos sempre doar mais, porém a maioria de nós ajuda o próximo de alguma maneira, seja através da Federação Judaica local, da hospitalidade no Shabat, ou em trocados que se dá aos necessitados.

Talvez uma pergunta responda a outra. A idéia de hospitalidade ou cuidados com os pobres não seja simplesmente "ser bom". Na verdade, atinge a própria razão de nossa existência. Resumindo, a humanidade foi posta nesta terra para santificar o nome de D'us, e a maneira pela qual o fazemos é imitando tantos atributos Divinos quantos pudermos. Quando ajudamos uma pessoa, estamos na verdade manifestando os atributos de chesed de Hashem – bondade e rachamim – misericórdia. Se uma nação, grupo ou cidade se recusa a cumprir suas responsabilidades básicas nesta área, então desistiram de sua razão de existir. Esta mensagem tinha de ser transmitida na história de Avraham, que personificou as características de chesed e rachamim. Desde seu atendimento aos anjos que visitaram sua tenda até o ponto alto da akeidá, Avraham representou tudo aquilo que os sodomitas rejeitaram. Sem o episódio quase irônico do justo Avraham argumentando com Hashem para salvar os pecadores de Sodoma, teríamos omitido boa parte da história.

Estas mensagens não são apenas grandes idéias filosóficas para que pensemos a respeito. Uma das formas pela qual os sodomitas demonstravam sua falta de respeito pela humanidade e por D’us foi sua subversão das regras de "jogo limpo", ao roubarem uns dos outros quantias que eram pequenas demais para serem recuperáveis no tribunal. Na verdade, muitos de nós provavelmente já testemunhamos a seguinte cena: passeando pelos corredores do mercado local, você espiona nosso protagonista David em frente a uma gôndola de uvas com aparência deliciosa. São grandes e suculentas. Porém, David está pensando que não vai levar alguns cachos para casa sem primeiro saber se são tão boas quanto aparentam, então arranca duas uvas para "testar". 
Certamente há um aviso advertindo os fregueses a não cometer este furto gastronômico, mas, reflete David: "O que podem fazer – processar-me por causa de uma uva?"

Bem, David, é aí que queremos chegar. Aprendemos de Avraham o quanto ganhamos por pensar nas necessidades dos outros e não querer tudo para nós mesmos. Em total contraste, Sodoma nos ensina que, ao usarmos nossa criatividade para tirar algo que não nos pertence, estamos apenas embarcando na funesta rota da destruição

 

 

Nesta Porção, lemos sobre os grandes líderes do povo judeu, Moshê e seu irmão Aharon.
Os comentaristas observam que Moshê e Aharon permaneceram resolutos e dedicados à sua missão, do início ao fim. O que mais se podia esperar de homens tão ilustres?

Talvez a intenção seja nos dar uma lição significativa. Muitos líderes de grandes causas iniciam suas atividades com ardor, sinceridade e devoção. Com o passar do tempo, porém, impressionam-se com a grandeza da própria posição e começam a mudar; sua sinceridade se perde. 

Hoje, é muito freqüente encontrar pessoas que começam uma tarefa com imensa dedicação e idealismo. Porém, agem do mesmo modo que os líderes históricos: detêm as rédeas do poder com arrogância e orgulho, deixando para trás a dedicação, humildade e sinceridade iniciais.
Isso não ocorreu com Moshê e Aharon. Permaneceram fiéis, justos e dedicados do início ao fim – o poder não lhes subiu à cabeça. Eram verdadeiros homens de D’us, dignos da posição de liderança que lhes foi conferida.

Moshê e Aharon são exemplos de líderes com os quais temos muito a aprender e nos quais os dirigentes deveriam se espelhar.

 

 

Há uma história que o Lubavitcher Rebe gostava de contar, sobre um menino de cinco anos e um homem de 99. A

criança era Rabi Sholom Dovber Schneerson, nascido a 20 de Cheshvan de 5621 (1860), que serviu como o 5¼ Rebe de

Lubavitch, de 1882 até seu falecimento em 1920. O homem de 99 anos de idade viveu 36 séculos antes; seu nome era Avraham e foi o primeiro judeu.

A história é assim:

Por ocasião de seu quarto ou quinto aniversário, Rabi Sholom Dovber visitou seu avô, Rabi Menachem Mendel de Lubavitch. Ao entrar na sala do avô, a criança desatou a chorar. Seu professor havia ensinado a leitura da Torá daquela semana, Vayerá, que começa: "E D'us revelou-Se a Avraham..." "Por que," soluçou a criança, "D'us não Se revelou para mim?"

Rabi Menachem Mendel replicou: "Quando um judeu, um justo, percebe aos 99 anos de idade que deve circuncidar a si mesmo - que deve continuar a aperfeiçoar-se - merece que D'us Se revele a ele."

O Rebe deve ter contado esta história dezenas de vezes. A história, seguida por uma discussão dos múltiplos significados e lições que o Rebe enxergava nela, era uma característica freqüente das reuniões chassídicas que promovia todos os anos por ocasião do aniversário de Rabi Sholom Dovber, que muitas vezes coincide (como neste ano) com o Shabat no qual Vayerá - que começa com a narrativa de D'us revelando-Se a Avraham, seguida pela circuncisão de Avraham aos 99 anos de idade - é lida.

Acho que sei por que o Rebe gostava tanto desta história. A pergunta da criança e a explicação do avô expressam dois extremos, cujo contraste e síntese são uma característica da atitude do Rebe para com a vida.

Imagine: um menino de cinco anos soluçando porque D'us não Se revelou a ele! "Ver" D'us - para atingir uma visão consumada da Verdade das Verdades - é o propósito supremo de cada busca espiritual. É um objetivo que demora ao mais notável dos notáveis pelo menos uma vida para conseguir. No entanto aqui temos uma criança - uma criança muito especial, mas de qualquer forma uma criança que ainda está no início de sua jornada espiritual - que se preocupa, a ponto de chorar, pelo fato de que ainda não conseguiu seu objetivo!

E por outro lado temos um homem que tem 99 anos das mais extraordinárias conquistas espirituais a seu favor, que reconhece ainda não ser perfeito - que deve continuar a mudar, crescer e aperfeiçoar-se.

O Rebe viu estes dois protótipos não como visões de vida conflitantes, mas como complementares e indispensáveis um ao outro. Lutar pelo definitivo, e ao mesmo tempo nunca sentir que chegou. Ter imensas aspirações, e mesmo assim permanecer humilde e despretensioso. Dizer: eu quero, e posso, fazê-lo - e no entanto, não importa quanto conseguiu, saber que ainda há mais para fazer

O Livro do Gênesis (nos capítulos 13-14 e 18-19) nos relata sobre a perversa cidade de Sodoma (Sedom).

Primeiro lemos como Lot, sobrinho de Avraham, instalou-se em Sodoma apesar do fato de que seus habitantes eram "maus e pecadores para com D'us"; Sodoma é assolada pelos exércitos de Kedarlaomer, e Avraham vem para resgatar seu sobrinho capturado; encontramos então Avraham suplicando a D'us para poupar a cidade pecaminosa pelo mérito dos residentes justos que lá possam viver, mas acontece que nem ao menos dez pessoas assim podem ser encontradas; dois anjos, disfarçados de homens,. visitam a cidade, mas somente Lot lhes oferece hospitalidade; Lot os salva da ralé sodomita, e eles, por sua vez, resgatam a ele e suas duas filhas antes de destruir a cidade.

Quais eram os pecados de Sodoma? Em diversos idiomas, o nome da cidade é sinônimo de perversão sexual. Isso deriva da narrativa da Torá de como a ralé que cercava a casa de Lot exigia que este entregasse seus dois hóspedes a eles "para que possamos violentá-los." Mas as tradicionais fontes judaicas - o Talmud, Midrashim e os Comentários - têm um ângulo diferente sobre a história de Sodoma. Lá, a ênfase não está em seus pecados sexuais, mas na sua falta de hospitalidade e sua violenta oposição a quem quer que ouse compartilhar qualquer bem da cidade com um estranho.

Nas palavras do Talmud: "Os homens de Sodoma foram corrompidos somente por causa do bem que D'us havia lhes prodigalizado... Disseram: 'Como a terra nos fornece o pão, e o solo tem ouro em pó, porque devemos receber viajantes, que vêm a nós somente para se aproveitar de nossa riqueza? Ora, vamos abolir a prática de alojar viandantes em nossa terra...'"

Eles até encontraram uma forma de ser caridosos enquanto se asseguravam de que nenhum estrangeiro se beneficiaria de sua caridade: "Se um pobre por acaso fosse para lá, cada morador lhe daria um dinar, sobre o qual haveria seu nome escrito, mas nenhum pão era vendido a ele. Quando morria, cada um vinha e recolhia de volta seu dinar." Chegaram ao ponto de decretar: "Aquele que der um pedaço de pão a um mendigo ou estranho será queimado numa estaca."

A história de Sodoma aparece na Torá contra o pano de fundo da vida de Avraham. De fato, Sodoma é a antítese de Avraham, retratado pela Torá como a própria personificação de chessed(benevolência). Avraham dá muito de si, tanto materialmente (fornecendo comida e alojamento aos caminhantes) quanto espiritualmente (compartilhando as verdades que descobriu, rezando por Sodoma); o sodomita pretende guardar para si mesmo aquilo que é.

O que é notável sobre os habitantes de Sodoma é que não são ladrões (como a geração do Dilúvio). Mesmo quando privavam um intruso de seus pertences, eram cuidadosos em fazê-lo de forma "legal." De fato, sua filosofia básica parece até benigna. Nas palavras de Ética dos Pais:

Aquele que diz: "O que é meu, é meu, e o que é seu é seu" - esta é a característica de Sodoma.

O que pode ser mais justo? Certo, o povo de Sodoma levou isso a extremos repulsivos. Mas todapessoa que declara: "O que é meu é meu, e o que é seu é seu" é um sodomita? Tudo que está declarando é: "Não tocarei naquilo que é seu, mas não espere que eu lhe  alguma coisa."

Para o judeu, esta justiça é a essência do mal.

O Livro do Gênesis (nos capítulos 13-14 e 18-19) nos relata sobre a perversa cidade de Sodoma (Sedom).

Primeiro lemos como Lot, sobrinho de Avraham, instalou-se em Sodoma apesar do fato de que seus habitantes eram "maus e pecadores para com D'us"; Sodoma é assolada pelos exércitos de Kedarlaomer, e Avraham vem para resgatar seu sobrinho capturado; encontramos então Avraham suplicando a D'us para poupar a cidade pecaminosa pelo mérito dos residentes justos que lá possam viver, mas acontece que nem ao menos dez pessoas assim podem ser encontradas; dois anjos, disfarçados de homens,. visitam a cidade, mas somente Lot lhes oferece hospitalidade; Lot os salva da ralé sodomita, e eles, por sua vez, resgatam a ele e suas duas filhas antes de destruir a cidade.

Quais eram os pecados de Sodoma? Em diversos idiomas, o nome da cidade é sinônimo de perversão sexual. Isso deriva da narrativa da Torá de como a ralé que cercava a casa de Lot exigia que este entregasse seus dois hóspedes a eles "para que possamos violentá-los." Mas as tradicionais fontes judaicas - o Talmud, Midrashim e os Comentários - têm um ângulo diferente sobre a história de Sodoma. Lá, a ênfase não está em seus pecados sexuais, mas na sua falta de hospitalidade e sua violenta oposição a quem quer que ouse compartilhar qualquer bem da cidade com um estranho.

Nas palavras do Talmud: "Os homens de Sodoma foram corrompidos somente por causa do bem que D'us havia lhes prodigalizado... Disseram: 'Como a terra nos fornece o pão, e o solo tem ouro em pó, porque devemos receber viajantes, que vêm a nós somente para se aproveitar de nossa riqueza? Ora, vamos abolir a prática de alojar viandantes em nossa terra...'"

Eles até encontraram uma forma de ser caridosos enquanto se asseguravam de que nenhum estrangeiro se beneficiaria de sua caridade: "Se um pobre por acaso fosse para lá, cada morador lhe daria um dinar, sobre o qual haveria seu nome escrito, mas nenhum pão era vendido a ele. Quando morria, cada um vinha e recolhia de volta seu dinar." Chegaram ao ponto de decretar: "Aquele que der um pedaço de pão a um mendigo ou estranho será queimado numa estaca."

A história de Sodoma aparece na Torá contra o pano de fundo da vida de Avraham. De fato, Sodoma é a antítese de Avraham, retratado pela Torá como a própria personificação de chessed(benevolência). Avraham dá muito de si, tanto materialmente (fornecendo comida e alojamento aos caminhantes) quanto espiritualmente (compartilhando as verdades que descobriu, rezando por Sodoma); o sodomita pretende guardar para si mesmo aquilo que é.

O que é notável sobre os habitantes de Sodoma é que não são ladrões (como a geração do Dilúvio). Mesmo quando privavam um intruso de seus pertences, eram cuidadosos em fazê-lo de forma "legal." De fato, sua filosofia básica parece até benigna. Nas palavras de Ética dos Pais:

Aquele que diz: "O que é meu, é meu, e o que é seu é seu" - esta é a característica de Sodoma.

O que pode ser mais justo? Certo, o povo de Sodoma levou isso a extremos repulsivos. Mas todapessoa que declara: "O que é meu é meu, e o que é seu é seu" é um sodomita? Tudo que está declarando é: "Não tocarei naquilo que é seu, mas não espere que eu lhe  alguma coisa."

Para o judeu, esta justiça é a essência do mal.

 

 

 

Versículo 18:1
 

E D'us revelou-Se a ele (Avraham).

As lágrimas de uma criança

Quando Rabi Sholom Dovber de Lubavitch era uma criança de quatro ou cinco anos, entrou no quarto de seu avô, Rabi Menachem Mendel, e explodiu em lágrimas. Seu professor no Chêder havia ensinado o versículo "E D'us revelou-Se a Avraham...".

"Por que," soluçou o menino, "D'us não Se revela a mim?!"

Rabi Menachem Mendel replicou: "Quando um judeu, um tsadic, percebe, com a idade de 99 anos, que deve circuncidar a si mesmo, que deve aperfeiçoar-se, é merecedor de que D'us Se revele para ele."

 

Versículo 18::19

Porque o conheci, e sei que ordenará a seus filhos e à sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Eterno, para fazer caridade e justiça.

 

"Assim como é obrigatório a cada judeu, do mais notável erudito até o homem mais simples, colocar tefilin todos os dias, do mesmo modo há um dever inequívoco que paira sobre todo indivíduo: o de separar meia hora todos os dias para pensar sobre a educação de seus filhos." (Rabi Sholom Dovber de Lubavitch)

 

Educação

Rabi Yossef Yitschac de Lubavitch relatou certa vez:

"Em Rosh Hashaná de 5649, quando eu contava sete anos e vários meses, visitei minha avó e ela deu-me um melão. Saí até o quintal e sentei com meus amigos em um banco exatamente em frente à janela de meu pai, e dividi o melão com os meninos.

"Papai chamou-me e disse: 'Percebi que você de fato compartilhou o melão com seus amigos, mas não o fez de todo o coração.'
Explicou-me então longamente a idéia de um 'olho generoso' e de um 'olho maldoso'.

"Fui tão profundamente afetado pelas palavras de meu pai que fui incapaz de me recobrar por meia hora. Chorei amargamente e vomitei o melão que havia comido.

"'O que deseja do menino?', perguntou minha mãe.

"Papai replicou: 'É bom assim. Agora esta qualidade ficará gravada em seu caráter.'"

Concluiu Rabi Yossef Yitschac: "Isto é educação."

 

Fonte: Chabad
            Talmud
            Midrash
            Pirke avot
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