Vayigash (ויגש )

17/01/2014 16:47

Aspectos da 11ª

O texto desta Parashá é:

Vayigash (ויגש ) - (Gênesis 44:18 - 47:27>>Sigf.Suplica

 

 

 

 

 

O texto da Haftará é:

A haftará que acompanha esta porção é:

 

 

 

Salmo 48

Vayigash (ויגש )

 

 

 

  Leitura da Torá: Vayigash (ויגש ) 

Vayigash

 

 

        A Parashat Vayigash começa com a súplica ardorosa de Yehudá ao poderoso governante egípcio (Yossef ainda disfarçado) pela vida de Binyamin, alegando que Yaacov certamente morreria de dor se perdesse seu filho mais jovem. Yehudá se oferece para permanecer no Egito como escravo no lugar do irmão mais novo.

        Yossef, incapaz de se segurar por mais tempo, revela sua identidade a seus atônitos irmãos, perdoando-os por vendê-lo como escravo tantos anos antes, declarando que enviá-lo ao Egito era parte do plano Divino de preparar a sobrevivência da escassez.

        Yossef então os envia de volta para a Terra de Israel carregados de presentes pedindo que tragam Yaacov e sua família de volta ao Egito onde viverão na província de Goshen. Antes que Yaacov saia de casa, D'us aparece a ele reafirmando-lhe que Ele estará com eles e que ao final retornarão à Terra de Israel como uma grande nação. Após vinte e dois anos de separação, Yaacov finalmente se reúne com seu amado filho Yossef, e são levados ao encontro do Faraó.

        A porção termina descrevendo como Yossef usou seus vastos poderes para amealhar quase toda a riqueza do Egito para o tesouro do Faraó.

 

 

        Conta a história que Aristóteles foi certa vez apanhado em flagrante por alguns de seus alunos, cometendo um ato degradante que não condizia com sua posição. Os discípulos ficaram atônitos. Afinal, pensaram eles, estamos tratando com um dos maiores pensadores de todos os tempos, e conseqüentemente, ele deveria personificar alguém extremamente elevado. Como poderia cair a tal nível?

        Sentindo a necessidade de reparar o dano, Aristóteles declarou: "Qual é o problema? Aristóteles não mudou. A palestra de amanhã ainda terá lugar às 9 horas. Mas agora estou me comportando como um ser humano comum, como qualquer um de vocês o faria!"

        A reação à história acima é previsível. Que hipocrisia! Como pode uma pessoa com tal profundidade de pensamento chegar a este nível de degradação?         A história não registra a reação dos alunos de Aristóteles à essa declaração; entretanto, bem pode-se imaginar que aqueles estudantes que testemunharam este comportamento foram provavelmente incapazes de assistir a palestra do dia seguinte.

        A separação entre a teoria e a prática é muito comum. Todos estudamos e temos conhecimento de várias e virtuosas formas de comportamento, mesmo assim quando se trata de implementar estas maravilhosas filosofias, parece haver certa dificuldade. O que está faltando? Como podemos infundir em nossas ações os valores que tão facilmente entendemos?

        A habilidade de conectar as conclusões lógicas da mente com sua execução em ação é uma faculdade conhecida em hebraico como "da'at". A palavra da'at literalmente significa conhecimento. Entretanto, a Torá também usa esta palavra referindo-se ao vínculo entre marido e mulher, indicando que da'at implica um grau de conhecimento que conecta e aproxima. Isto significa que não é o bastante simplesmente chegar a conclusões elevadas; a pessoa deve também comprometer-se com aquela conclusão, unificando a mente e o coração, órgão que controla as ações, dessa maneira obrigando-se a cumprir aquilo que foi tão claramente entendido.

         Isto explica uma expressão inusitada que a Torá utiliza na Porção desta semana. Após a dramática descrição da revelação de Yossef aos irmãos, a Torá relata que Yossef "caiu sobre o pescoço de Binyamin e chorou, e Binyamin chorou em seu pescoço". Nossos Sábios explicam que Binyamin chorou porque percebeu a destruição definitiva do Mishcan, o Tabernáculo que ao final estaria localizado no quinhão de Yossef em Israel, e Yossef chorou porque percebeu a destruição do Bet Hamicdash, o Templo Sagrado, que estaria na porção de terra de Binyamin.

        Deixando de lado a questão de que estavam chorando pela futura destruição nesta época, ainda precisa ser esclarecido por que estavam chorando especificamente no pescoço um do outro. Não faria mais sentido que o encontro acontecesse sobre a cabeça, ou perto dela, a parte mais elevada do corpo?

        Na verdade, a função do pescoço é única, pois numa situação saudável ele age como um condutor entre a cabeça e o coração (e portanto o restante do corpo). Como o intelecto está situado fisicamente na cabeça, diz-se que nossos pensamentos podem também ser canalizados através do pescoço. Um bloqueio no pescoço, obstruindo a livre passagem do fluxo de pensamentos, é obviamente uma condição doentia. A função do pescoço é por isso, análoga à função do da'at. Ambos existem para forjar a conexão entre os pensamentos da mente que se traduzem em ações controladas pelo coração. Eis por que os irmãos choraram no pescoço um do outro.

        Os Templos foram destruídos em conseqüência dos pecados. Em outras palavras, não pôs em ação aquilo que sabiam em suas mentes. Existia um bloqueio. Ao prantear a destruição, portanto, os irmãos choraram especificamente sobre o pescoço, ensinando-nos que apenas o entendimento intelectual não é suficiente. Os atos são o supremo e mais importante objetivo.

 

 

 

Yehudá se oferece para ser escravo no lugar de Binyamin

        Quando Yehudá ouviu o governante egípcio dizer: "Binyamin será meu escravo!", ele ficou com muito medo.

"Prometi a meu pai devolver-lhe Binyamin," pensou. "Tenho que cumprir minha promessa." Yehudá avançou corajosamente para o trono de Yossef.

"Ouça-me, meu senhor," gritou zangado. "Se ousares reter meu irmão aqui, puxarei minha espada! Sabes o que acontecerá então? Vai haver muita gente morta no Egito, incluindo tu e o Faraó."

        Yossef percebeu que Yehudá estava muito alterado. Ele poderia atacar a ele e a todos os habitantes da capital do Egito. Yossef acenou rapidamente para seu filho Menashê.

        "Mostra a este homem que és tão forte quanto ele," ordenou Yossef a seu filho.

        Menashê começou a dar pontapés nas paredes do palácio. Os golpes eram tão fortes que o palácio de Yossef começou a tremer!

        Yehudá ficou assombrado e pensou: "Quem será este homem forte? Ele deve ser da família de Yaacov, pois não conheço ninguém que tenha força tão tremenda. É melhor não começar uma luta. Vou implorar ao governante para libertar Binyamin."

        Yehudá começou com palavras gentis:

"Por favor, deixe ir nosso irmão Binyamin. Tu nos forçaste a trazê-lo. Veja, nosso pai foi contra isso, porque a sua querida esposa Rachel tinha só dois filhos e o mais velho morreu." (Yehudá ficou temeroso de dizer que Yossef ainda estava vivo, senão o governante poderia dizer, "Traga-o também.")

"Agora só resta Binyamin. Nosso pai tem tanta afeição por ele que morrerá de tristeza se Binyamin não voltar. Prometi a meu pai que levaria Binyamin de volta.

"Sou mais forte que Binyamin e mais eficiente. Por favor, fique comigo como escravo no lugar dele. Como posso suportar ver a dor de meu pai se voltarmos sem Binyamin! Tenha pena de nosso pai."

 

Yossef se revela

        Yossef não pôde agüentar quando Yehudá falou na dor de seu pai.

"Rápido! Que todos os egípcios deixem a sala," ordenou Yossef. "Que apenas fiquem os dez irmãos."

Quando ficou a sós com seus irmãos, ele disse:

"Sei onde está seu irmão perdido. Ele está bem aqui."

Os irmãos o olharam. Do que ele estava falando? Onde estava Yossef?

"Sou seu irmão Yossef!" - exclamou ele e acrescentou em voz baixa : "Eu sou Yossef, a quem vocês venderam aos egípcios!" (Yossef não queria que os egípcios que estavam do lado de fora ouvissem estas palavras, senão os irmãos ficariam envergonhados).

        Os irmãos estavam por demais apavorados e envergonhados para falar com Yossef. Eles tinham medo que ele agora os castigasse por tê-lo vendido. O choque da notícia repentina foi muito grande para eles, mas Yossef começou gentilmente a acalmá-los, dizendo:

        "Não tenham medo! Vocês não precisam se sentir mal por terem me vendido aos egípcios. Na realidade, isso foi uma ordem de D'us. D'us queria que me tornasse um governante no Egito para que eu pudesse supri-los com comida durante os anos de fome."

        Yossef abraçou todos os seus irmãos. Lentamente, eles se recuperaram do choque.

 

Yossef, um verdadeiro tsadic (justo)

        Mesmo sendo um dirigente poderoso, ele não se vingou de seus irmãos por terem-no vendido e humilhado. Ao contrário, ele os confortou com palavras amáveis. Não tinha ressentimento algum contra eles, mesmo tendo sofrido tantos anos depois de ser vendido.

Yossef concluiu:

"Voltem rápido para casa e façam o pai saber que estou vivo. Contem-lhe também que sou um respeitado governante no Egito e tragam-no aqui e voltem todos vocês com suas famílias. Vou alimentá-los e cuidarei para que nada lhes falte."

 

 

 

Os irmãos contam a Yaacov que Yossef está vivo

        Yossef carregou as sacolas dos irmãos com trigo. Deu aos irmãos roupas novas para substituir as rasgadas quando souberam que a taça de Yossef estava no saco de Binyamin. E mandou também um presente para seu pai.

        Os irmão voltaram e mandaram um mensageiro para Yaacov com a notícia: "Yossef está vivo. Ele é governante no Egito."

        O coração de Yaacov quase parou de bater. "Não pode ser verdade," pensou. "A notícia é maravilhosa demais."

Mas Yaacov viu as carroças carregadas com trigo e os presentes que os irmãos trouxeram.

        "Somente um governante tem permissão para mandar carroças para fora do Egito," pensou Yaacov. Os irmãos também lhe disseram:

        "Yossef nos deu um sinal para ti, para que acredites na notícia. Ele o faz lembrar o último capítulo da Torá que o ensinaste; disseste sobre as leis da Egla Arufa (bezerro com o pescoço quebrado).

        Agora Yaacov realmente acreditava que Yossef estava vivo:

"Como estou feliz!", exclamou. "Quero ir já para o Egito para vê-lo."

 

O Midrash explica: Quem deu para Yaacov a notícia de que Yossef ainda estava vivo

 

        Vocês sabem quem foi o mensageiro que primeiro deu a notícia para Yaacov de que seu filho Yossef estava vivo?

        Vocês devem ter ouvido que foi a neta de Yaacov, Serach, filha de Asher.

        Os irmãos a escolheram porque eles precisavam de um mensageiro inteligente para dar a notícia. Mesmo que fosse uma notícia maravilhosa, ao descobrir que seu filho ainda estava vivo, o choque repentino de uma notícia tão inesperada poderia prejudicar a saúde de Yaacov. Vocês devem se lembrar de Yaacov era um homem velho, tinha 130 anos de idade. E Yossef estivera ausente por 22 anos.

        Por esta razão, os irmãos escolheram Serach que sabiam ser uma moça inteligente e que tocava harpa muito bem.

Serach começou a tocar música para seu avô e murmurar as palavras "Meu tio Yossef ainda está vivo; ele é um governante no Egito." Ela repetiu estas palavras sem parar até que o avô começou a sorrir.

        "O que você está cantando, Serach, é muito bonito!" - disse o avô. "Parece uma boa notícia. Que você seja abençoada com uma vida longa por animar-me com tão esperançosas notícias!"

        Apesar disso, na realidade Yaacov não acreditou em sua neta até que os irmãos confirmaram a notícia e ele viu as carroças que Yossef tinha mandado.

        Há uma opinião diferente de que foi Naftali quem primeiro deu a notícia a Yaacov de que Yossef estava vivo. Naftali corria rápido e sempre levava recados para os irmãos e para o pai. Por isso, os irmãos o mandaram na frente para fazer Yaacov saber as boas novas o mais rápido possível.

        Porém, antes disso, todos os irmãos se reuniram e anularam o juramento que fizeram de não contar a ninguém que Yossef estava vivo.

 

 

Yaacov, seus filhos e suas famílias viajam para o Egito

        Ainda que o mais caro desejo de Yaacov fosse rever Yossef, ele não se atreveu a ir para o Egito sem pedir permissão a D'us.

"Será que tenho permissão para deixar a Terra de Israel," questionou, "a terra de meus pais, onde D'us se revelou para mim? Talvez eu não possa ir viver entre os egípcios que não temem D'us."

        Yaacov foi até Be'er Shêva para perguntar a D'us.

        D'us lhe assegurou: "Não tenhas medo de ir para o Egito. Irei acompanhá-lo e protegê-lo. Farei com que seus filhos não fiquem lá para sempre. Vou resgatá-los e trazê-los de volta para Israel."

        Então, Yaacov, seus filhos, suas famílias pegaram todos os seus pertences e seu gado e começaram sua jornada para o Egito.

        D'us mandou seiscentos mil anjos para acompanhá-los a este país estranho e protegê-los. Yaacov disse para seu filho Yehudá:

        "Vá na frente para preparar casas no Egito onde possamos viver. Prepare também um Bet Hamidrash, Casa de Estudos, onde eu possa ensinar a Torá a todos vocês e onde possam estudar."

 

Yaacov e Yossef se encontram

        Quando Yossef soube que seu pai estava chegando, ele preparou sua carruagem e foi ao seu encontro para lhe dar boas-vindas e cumprimentá-lo.

Yaacov não reconheceu Yossef de imediato. Tinha certeza que um nobre egípcio estava cavalgando a sua frente e se curvou em respeito.

Yossef começou a chorar porque seu pai se curvou perante ele. Disse a seu pai quem era, abraçou-o e beijou-o. Neste momento, Yaacov rezava o Shemá.         Ele queria tanto beijar Yossef a quem não via há vinte e dois anos! Mas ele se conteve e primeiro completou o Shemá, em agradecimento a D'us.

        Quando Yaacov olhou para o rosto de Yossef, ele pôde ver que seu filho ainda era um Tsadic. A felicidade de Yaacov não teve limites.

 

Yossef apresenta seu pai e seus irmãos ao Faraó

 

        Logo, Yossef apresentou alguns dos seus irmãos ao Faraó.

"Qual seu trabalho?" - perguntou-lhes o Faraó.

"Somos pastores," responderam os irmãos. "Por favor, permita que vivamos no distrito de Goshen onde há muitos campos bons para nosso rebanho."

        O Faraó concordou. E os irmãos de Yossef ficaram contentes. Eles não queriam viver na capital, perto da corte, onde o Faraó poderia dar-lhes altas posições ou engajá-los no exército. Eles desejavam levar uma vida calma como pastores para ter tempo de servir a D'us e estudar a Torá.

        Yossef também levou seu pai Yaacov até o trono do Faraó. Yaacov cumprimentou o Faraó e o abençoou:

        "Que o rio Nilo inundar a terra para que ela possa produzir de novo!"

        D'us realizou a bênção de Yaacov. Após dois anos de fome, as águas do Nilo inundaram de novo a terra e os cereais começaram a crescer. A fome então terminou.

    Yaacov e sua família se instalaram em Goshen. Yossef cuidou para que todos recebessem comida suficiente.

 

 

 

 

Yossef reúne riquezas para o Faraó durante os anos de fome

 

        O que os egípcios comiam durante os anos da fome (antes de Yaacov chegar ao Egito)?

        Eles compravam mais e mais cereais de Yossef e depois de certo tempo haviam gasto todo seu dinheiro.

"Como compraremos comida agora?" - pensavam eles. E decidiram: "Vamos vender nosso gado e dar o dinheiro para Yossef em troca de comida."

        No segundo ano da carestia, o dinheiro que os egípcios receberam de seu gado também terminou. Em desespero, os egípcios foram até Yossef e disseram:

        "Não temos mais dinheiro para comprar comida. Estamos prontos para dar ao Faraó nossa terra e nos tornarmos seus escravos se continuares a nos dar comida."

Yossef concordou.

        O que Yossef fez com a enorme quantidade de ouro e prata que as pessoas lhe trouxeram em troca de cereais?

Yossef colocou tudo no tesouro do Faraó. Poderia facilmente ter guardado algum dinheiro para si e ficado rico, mas não o fez. Yossef era tão honesto que não ficaria com dinheiro algum. E também não deu dinheiro algum para seu pai ou seus irmãos.

 

Uma história: Colírio contra Olho Gordo

      

        "Uma mulher certa vez contratou um renomado artista para pintar o seu retrato. Antes de começar o trabalho, ela instruiu ao artista:
 
- Quando você for fazer a pintura, inclua brincos de ouro, um colar de diamantes, braceletes de esmeralda, um broche de rubi e um Rolex.
 
- Mas se a senhora não está usando nenhuma destas jóias - perguntou o artista, curioso - então por que quer que eu as pinte no quadro?
 
        A mulher abriu um sorriso e explicou:
 
- É para se um dia meu marido resolver se divorciar de mim e se casar com outra mulher. Vai ser incrível ver a cara da nova esposa dele quando ela olhar este quadro e pensar que eu ganhei dele todas estas jóias e ela não ganhou nenhuma. A vida dele vai se tornar um verdadeiro inferno!"
 
        A inveja é um dos sentimentos mais destruidores, desviando o ser humano do caminho correto.
 
 
                   Na continuação da Parashá vemos que realmente Yossef não havia sido escolhido para ser o líder espiritual do povo judeu, este cargo coube a Yehuda. Quando Yaacov se preparava para ir ao Egito reencontrar-se com Yossef, ele enviou antes seu filho Yehuda. Yehuda foi na frente de seus irmãos para preparar centros de estudo de Torá no Egito. Resumindo, Yossef teve apenas o papel de "preparar o terreno", mas Yehuda foi o verdadeiro líder, e dele saíram futuramente os reis de Israel. É como se Yossef fosse o "segundo mais importante". Será que Yossef não sentiu inveja? Será que ele não se sentiu inferior?
 
        Observando a vida de Yossef, percebemos que sempre foi um padrão ele ser o "segundo mais importante". Na casa de Potifar ele era muito importante, a casa inteira estava sob seu comando, mas ele era apenas o segundo, estava abaixo de Potifar. Na prisão, todos os prisioneiros foram entregues na sua mão, mas ele era o segundo, estava abaixo do chefe da prisão. E finalmente Yossef governou sobre todo o Egito, teve um imenso poder, mas estava abaixo do faraó, era sempre o segundo. Que lição aprendemos de Yossef?
 
        Explica o rabino Yonathan Guefen que o ensinamento da Parashá não é que Yossef era uma pessoa conformista, ao contrário, a Torá está nos ensinando uma grande qualidade de Yossef: a de saber que todo o sucesso vem de D'us e que não há sentido em lutar contra o que Ele decretou, pois tudo o que Ele faz é com precisão e com cálculos que nosso intelecto não compreende. O teste de Yossef foi um teste muito difícil, mas ele conseguiu vencer. Todos querem ser os melhores. Todos querem ser medalha de ouro. Ninguém se contenta com a medalha de prata. Yossef também queria ser o primeiro, mas ele viu a Mão Divina colocando-o sempre como segundo. Yossef entendeu que este era o seu papel e que desta maneira ele estaria contribuindo da melhor maneira para o futuro do povo judeu. Para ele ser o segundo era receber a medalha de ouro, pois entendeu que este era o seu papel. Em nenhum momento ele se sentiu inferior. Por isso ele estava contente e não sentiu inveja de Yehuda.
        Nem todos passam neste difícil teste. A Torá nos conta que dois descendentes de Yossef também foram submetidos ao mesmo teste.         Um deles foi Yoshua Bin Nun, o ajudante de Moshé, que passou no teste com louvor. O outro foi o rei Yeravam, que infelizmente fracassou.
 
        Yoshua foi, durante todo o tempo em que o povo judeu permaneceu no deserto, o número dois, o fiel servidor de Moshé. Ele poderia ter sentido inveja, poderia ter almejado estar no lugar de destaque de Moshé, como Korach, que dominado pela inveja, mobilizou uma rebelião contra Moshé. Mas Yoshua estava contente em ser o segundo, em preparar as coisas para Moshé, em aprender de seu mestre preciosos ensinamentos. Ele não achava que se diminuía com isso, pois entendeu que esta era a sua função no mundo, esta seria a sua maior contribuição, para isto ele tinha vindo. Por sua humildade e submissão ele foi escolhido como o sucessor de Moshé.
 
        Já Yeravam não conseguiu passar no mesmo teste. Houve um momento na história em que o reinado de Israel foi dividido em dois. Yeravam, que era inicialmente uma pessoa justa e correta, recebeu do profeta Achiya o governo do Reino do Norte, que compreendia 10 das 12 tribos, a maior parte do povo judeu. Porém, Yeravam também recebeu do profeta Achiya o comunicado de que seu reinado seria apenas temporário e que, no futuro, o trono novamente se reunificaria e continuaria nas mãos dos descendentes do rei David. Se ele tivesse aceitado seu papel secundário, teria sido um dos grandes Tzadikim (Justos) da nossa história e teria trazido muita prosperidade para o povo judeu. Porém, apesar de saber que esta era a vontade de D'us, Yeravam decidiu que ele não seria o segundo. Na festa de Hakel, quando todo o povo se reunia no Beit-Hamikdash (Templo Sagrado), ele sabia que o rei do Reino do Sul ficaria sentado e ele teria que permanecer de pé. Para evitar que isto acontecesse, ele colocou idolatrias nas estradas que levavam a Jerusalém e proibiu que as pessoas fossem para o Beit-Hamikdash. No final, durante seu reinado a idolatria se espalhou entre os judeus e ele foi considerado um dos piores reis de todos os tempos, responsável pelo grande afastamento de parte do povo judeu das leis da Torá.
 
        De Yeravam aprendemos a gravidade da inveja e a destruição que ela pode causar. Mesmo depois de ter pecado muito, D'us deu a Yeravam a oportunidade de se arrepender. O Talmud conta que D'us apareceu para ele e disse: "Se arrependa, e então Eu, você e o rei David passearemos juntos no Gan Éden (paraíso)". A primeira pergunta que Yeravam fez para D'us foi "Quem andará na frente?". Quando D'us respondeu que o rei David estaria à frente, Yeravam decidiu nunca se arrepender de seus maus atos, pois ele não podia aceitar ser o segundo. Sua arrogância o destruiu, e o Talmud (Torá Oral) lista-o entre as pessoas que não receberão nenhuma porção no Mundo Vindouro.
 
         Um dos piores sentimentos do ser humano é a inveja. Então para que D'us criou a inveja? Para que possamos utilizá-la de maneira positiva, tendo uma inveja construtiva, olhando a grandeza espiritual dos outros e desejando também atingir altos níveis espirituais. Porém, quando utilizamos a inveja de maneira negativa, querendo tomar o lugar ou as posses dos outros, querendo passar por cima do que D'us nos decretou, ela pode destruir nossa vida, como ensina o Pirkei Avót: "Três coisas tiram o homem do mundo: a inveja, a honra e a busca pelos desejos".
 
        Esta é a grande lição que aprendemos de Yossef ter sido o "número dois". Devemos desejar e lutar para ser grandes, devemos ter o desejo de chegar ao topo, porém há momentos em que D'us nos mostra claramente que determinadas realizações não são o melhor para nós. Por exemplo, uma pessoa pode se esforçar no estudo de Torá e mesmo assim não atingir o cargo que gostaria. Podemos e devemos nos esforçar, mas não há sentido em tentar ir contra a vontade de D'us. Não devemos nos comparar com os outros, cada um tem um papel único e especial. Sem a ajuda de Yossef, de nada adiantaria a força espiritual de Yehuda. A inveja é uma grande tolice, que nos faz tropeçar justamente no trampolim que poderia nos levar para o alto.
 
    "Pedi para D'us força para mudar o que eu posso mudar, paciência para agüentar o que eu não posso mudar, e sabedoria para saber distinguir entre os dois"
 

Logo:

        Um dia José fora um jovem sonhador, mas seus sonhos foram rasgados pelos próprios irmãos, que o jogaram em um poço seco e escuro. No fundo do poço, a decepção, a dor e a raiva, presumem-se, eram grandes.

 

        O tempo passou para José. Aliás, José não: Senhor Tsafnat Panêach, casado com a aristocrática Asnat bat Potifera e pai de dois meninos: Menashe, que o faz esquecer do sofrimento nas mãos dos irmãos; e Efraim, que o faz se orgulhar do presente bem sucedido na terra em que chegara como escravo.

 

        Do poço seco aos anos de seca. José não sonha mais. Ele domina o povo do Egito e exige elevados impostos em troca de comida. Quando não há mais o que tirar, o tirano faz com que as pessoas entreguem suas terras e vendam o único bem que lhes resta: a força de trabalho. O Egito depende das decisões e humores de um homem amargurado: José.

 

        É este o contexto que espera pelos filhos de Jacob quando vão ao Egito para comprar alimentos. Eles chegam e se prostram. José os reconhece, faz-se de estranho e pega pesado com eles. Há anos parece esperar por este momento. Acusa-os de espiões e os prende por três dias, enquanto escuta como estão angustiados e assustados – sem que eles saibam, pois nem imaginam que o senhor do Egito entende a língua deles. Por três vezes José se esconde para chorar, mas em público acusa, prende, bate, exige. Uma hora dissimula bondade com aquela gente, mas manda esconderem um cálice na bolsa de Benjamin e o acusa de roubo. Pasmo com a armação, Judá lhe diz: “O que dizer ao meu senhor? O que falar? Como justificar?” Não há o que dizer. Todos sabem da farsa. Mas o poder está com José.

 

        O passado volta a assombrar Judá. Eles largaram José num poço no meio do deserto. Não sujariam as mãos de sangue – ele morreria sozinho e ninguém escutaria seus gritos. Os irmãos inventam a sua versão a Jacob: “Pai, que desgraça, José foi devorado por um animal selvagem!” Oxalá ninguém saberá o que realmente aconteceu. Mas Judá não suporta e propõe aos irmãos: “Que proveito teremos em matar nosso irmão? Vamos vendê-lo…” E eles o escutaram. Graças a Judá, a raiva dos demais é aplacada e José sobrevive.

 

        Agora Judá se encontra na situação inversa. José tem o controle da situação e coloca os irmãos numa espécie de poço sem saída. Judá também não suporta ver isso. Como reagir? Como você reagiria?

 

        Nos é  apresenta uma possível reação de Judá: quando José pegou Benjamin no Egito, Judá deu um grito tão alto e raivoso que sua voz foi escutada até em Canaã. Grito de guerra. Uma revolta dos irmãos liderada por Judá contra o tirano egípcio – José – iria explodir.

 

        No entanto, não foi esta a reação de Judá. Eu o imagino respirando fundo. Judá contém a raiva, segura as mãos, olha nos olhos de José e o aborda em voz baixa: “Eu te peço, meu senhor, deixe-me dizer uma palavra no seu ouvido…” Diante das palavras pesadas e da humilhação à qual aquele poderoso egípcio os submetia, Judá escolhe não devolver na mesma moeda, mas sim falar ao coração: “Temos um pai idoso que ao seu lado tem apenas o filho mais novo de sua segunda esposa. Eram dois, sabe? Mas o mais velho morreu. Nosso pai morrerá se perder também este filho. Meu senhor, façamos assim: eu fico como escravo no lugar do meu irmão. Assim você nos punirá, mas nosso pai não morrerá de desgosto.”

 

      O suposto grito de raiva de Judá que toda Israel escutou existe somente na imaginação dos comentaristas da Torá. Porém, ao ser abordado delicadamente por Judá, em voz baixa e ao pé do ouvido, José não pôde mais se conter. Seus gritos de choro foram tão altos que todo o Egito escutou. Como José reagiu? Como você reagiria? Pela primeira vez, José abordou os irmãos em tom conciliatório: “Aproximem-se”. E eles se aproximaram. “Eu sou José, o irmão de vocês.” Eles se abraçaram e se beijaram – “e seus irmãos falaram com ele”.

 

        Diante das duras palavras do homem forte do Egito, Judá tinha duas escolhas: reagir na mesma altura e partir para a guerra; ou conter-se e abordar o outro com delicadeza, direto ao coração. Judá optou pelo segundo caminho.

 

Uma resposta delicada acalma a ira. (Provérbios 15:1)

 
 
 
Fonte: Chabad
            Talmud
            Midrash
            Pirke avot
            Torah
            Bíblia